quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Band condenada por ataques de Datena a ateus

A notícia é da Rede Brasil Atual:

TV Bandeirantes é condenada por ataques de Datena a ateus

Emissora terá que exibir programas explicando a importância da liberdade religiosa com mesma duração das ofensas feitas pelo apresentador do 'Brasil Urgente'

São Paulo – A Justiça federal de São Paulo condenou hoje (31) a TV Bandeirantes a prestar esclarecimentos à população sobre a diversidade religiosa e a liberdade de consciência e de crença no Brasil. Isso porque, em julho de 2010, durante a transmissão do telejornal diário Brasil Urgente, o apresentador José Luiz Datena, que tem a palavra "Cristo" tatuada no antebraço esquerdo, relacionou a ocorrência de um crime bárbaro à "ausência de Deus" na vida do criminoso. "Um sujeito que é ateu não tem limites, e é por isso que a gente vê esses crimes aí", afirmou na ocasião.

Os comentários de Datena complementavam as informações prestadas pelo repórter Márcio Campos sobre o fuzilamento de um garoto. Por cinquenta minutos, os dois relacionaram crimes às pessoas que não acreditam em Deus. "Esse é o garoto que foi fuzilado. Então, Márcio Campos, é inadmissível; você também que é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus, porque nada justifica um crime como esse, não Márcio?" A condenação da TV Bandeirantes é resultante de uma ação civil movida pelo Ministério Público Federal em São Paulo em dezembro de 2010. O autor da ação é o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias.

Essa é a segunda condenação judicial da Band em dois meses. Em novembro do ano passado, a emissora e o apresentador Boris Casoy foram condenados a pagar R$ 21 mil de indenização ao gari Francisco Gabriel de Lima, por danos morais. Em dezembro de 2009, no encerramento do Jornal da Band, Lima apareceu numa vinheta desejando feliz natal aos telespectadores. Uma falha técnica fez vazar o áudio do comentário de Casoy no estúdio: ""Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho".

No caso de Datena, a promotoria entendeu que, ao veicular declarações preconceituosas contra pessoas que não compartilham o mesmo modo de pensar do apresentador, a TV Bandeirantes ignorou a função social do serviço público de telecomunicações, bem como sua finalidade educativa e informativa no que diz respeito aos valores éticos e sociais das pessoas.

Aparecido Dias afirma que a emissora prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que se portou de forma a encorajar a atuação de grupos radicais de perseguição a minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus.

"Evidentemente, houve atitudes extremamente preconceituosas, uma vez que as declarações do apresentador e do repórter ofenderam a honra e a imagem das pessoas ateias", argumenta o procurador. "O apresentador e o repórter ironizaram, inferiorizaram, imputaram crimes, 'responsabilizaram' os ateus por todas as 'desgraças do mundo'."

Com a condenação, a TV Bandeirantes terá que exibir em rede nacional, durante o programa Brasil Urgente, quadros veiculando esclarecimentos à população sobre a diversidade religiosa e a liberdade de consciência e de crença no Brasil, com duração idêntica ao do tempo utilizado para a exibição das informações equivocadas. Em caso de descumprimento da determinação judicial, a emissora terá que pagar multa diária de R$ 10 mil. Em seu despacho, o promotor determinou que a União, por meio da Secretaria de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, terá de fiscalizar o Brasil Urgente e a exibição dos esclarecimentos.

Com informações da assessoria da Procuradoria da República no Estado de São Paulo



Revisitando Eclesiastes - uma introdução

Eclesiastes é um livro cuja autoria é geralmente atribuída a Salomão, conforme indica o seu primeiro versículo ("filho de Davi, rei de Jerusalém"), além de repetir que "vem sendo rei de Israel em Jerusalém" (1:12) e "sobrepujei em sabedoria a todos os que antes de mim existiram em Jerusalém" (1:16). 

Se esta autoria é confirmada, o livro foi composto por volta do século X a. C., havendo estudiosos, entretanto, que consideram que o hebraico utilizado no livro e a visão negativa dos governantes, imprópria para um rei (4:13; 7:19; 8:2-4 e 10:4-7), indicam que a obra foi composta no período posterior ao exílio babilônico, o que dataria o livro para o século VI a. C. 

Deve-se entender por "composta" aqui não exatamente "escrita" como as cartas de Paulo, por exemplo, pois, no Antigo Testamento, muitas vezes a tradição oral se impunha por absoluta necessidade, já que não havia uma escrita organizada, ou uma padronização dela que justificasse a sua cópia manuscrita. 

A primeira evidência de um primitivo hebraico escrito, o calendário de Gezer, data do século X a. C., logo, contemporâneo à versão de que teria sido Salomão o autor de Eclesiastes. 

De qualquer maneira, a tradição oral se encarregava de recitar - e transmitir às gerações seguintes - o teor dos livros tidos como sagrados, além de haver algum tipo de escrita rústica, conforme Deus já ordenara por intermédio de Moisés em Deuteronômio 6:

6 E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
7 e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.
8 Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos;
9 e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.


Nas versões corrigida e atualizada de Almeida, o livro começa com "Palavras do pregador", sendo que a palavra hebraica traduzida por "pregador"- קהלת - qôheleth - é intraduzível nas línguas ocidentais. A NVI traduz por "mestre". 

As melhores versões católicas preferem não traduzir o termo hebraico. A Bíblia do Peregrino e a de Jerusalém colocam o nome Coélet e a Tradução Ecumênica prefere Qohélet. Trata-se de uma palavra feminina que significava, basicamente, o ato de uma pessoa que convocava uma assembléia, uma reunião popular nas vilas e cidades, com a intenção de se dirigir aos demais mediante um discurso ou uma espécie de aula pública. 

Podemos imaginar, portanto, que a ideia por trás da palavra qôheleth está ligada à Sabedoria, que convocaria os leitores a ouvir as suas lições numa "assembléia" (קהל - qahal, em hebraico; εκκλησία - ekklēsia - em grego), segundo a imagem que Provérbios 1:20-21 mostra, ou seja, que "grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras". 

Quando o Velho Testamento foi traduzido do hebraico para o grego, pelos 70 sábios judeus de Alexandria, formando a versão conhecida por Septuaginta, do século II ao I a. C., a palavra qôheleth, na falta de equivalente em grego (e com base em ekklēsia) foi traduzida por Ἐκκλησιαστοῦ - ekklesiasthv – que chegou até nós como Eclesiastes

Naquele tempo ainda não existia a palavra (ou pelo menos a ideia de) "igreja", outra tradução possível para ekklēsia a partir do início do cristianismo. 

Entretanto, não se deve confundir Eclesiastes com dois livros deuterocanônicos (ou apócrifos) que constam da Bíblia católica: o Eclesiástico e a Sabedoria de Salomão. 

Este último foi escrito originalmente em grego por judeus que moravam em Alexandria, no Egito, no século I a. C., sendo a referência a Salomão um mero recurso literário para dar autoridade aos provérbios colecionados no livro. 

Já o Eclesiástico (ou Sirácida) foi escrito por um judeu chamado Jesus, filho de Sirach (ou Siraque), por volta do ano 185 a. C., sendo traduzido para o grego por seu neto e incorporada na Septuaginta no século seguinte. 

O fato de ter sido bastante usado no começo da igreja cristã fez com que recebesse o nome de Eclesiástico, aí já com ekklēsia no sentido de "igreja". Esses dois livros não foram aceitos como canônicos pelos judeus e pelos protestantes.

Nunca houve discussão em relação à canonicidade do livro de Eclesiastes. Houve, sim, em relação ao livro de Eclesiástico, que consta apenas da Bíblia católica, e não tem nada a ver com Salomão. 

Mesmo os católicos consideram Eclesiástico um livro "deutero-canônico". "Deutero" é um prefixo que quer dizer "segundo", ou seja, só numa segunda época da História é que alguns livros, como o Eclesiástico, foram considerados canônicos por uma determinada igreja, no caso a católica, já que os judeus não os consideravam assim, e nem os protestantes a partir do século XVI. 

É importante destacar que, mesmo no início da igreja cristã, muitos pais da igreja não consideravam esses livros canônicos. Por isso, a própria igreja católica faz esta distinção.

Considerando as fases da vida de Salomão, tudo indica que a sequência tenha sido: Cantares na juventude, Provérbios na maturidade e Eclesiastes na velhice. Há uma evidência interna da Bíblia neste sentido, inclusive: 1ª Reis 4:32 diz que Salomão compôs 3.000 provérbios e 1.005 cânticos. 

Entretanto, o livro de Provérbios contém algo entre 900 e 923 provérbios de Salomão. Muitos se perderam pelo caminho, na poeira dos séculos, e outros foram compostos por terceiros, como Agur (cap. 30) e Lemuel (cap. 31). 

De fato, foi Salomão que compôs a maioria dos provérbios, mas eles foram coletados e reunidos sistematicamente num livro apenas após o retorno do cativeiro babilônico, no século VI a. C., sendo impossível no momento saber em que data ele chegou à conformação atual. 

Cantares, aparentemente, manteve o mesmo formato desde o século X a. C., ou seja, tudo indica que guarde as mesmas palavras que Salomão proferiu ou registrou. 

Tudo isto, entretanto, não pode tirar de nós a convicção de que o Espírito Santo realmente inspirou tanto os escritores como os compiladores desses livros, pois Deus age na História, no meio dos fragmentos das intervenções humanas, juntando os cacos das guerras e catástrofes naturais, para trazer esses textos até nós, tais quais os recebemos.



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Nietzche x Eclesiastes

No próximo domingo, dia 2 de fevereiro de 2013, comemoraremos o 5º aniversário do blog, e resolvemos fazê-lo de uma maneira um pouco diferente.

É que em 2008, publicamos aqui uma série de estudos sobre o livro de Eclesiastes, que - apesar de não termos naquela época a grande frequência diária que temos hoje - continuam tendo uma visitação bem significativa e comentada.

Decidimos, portanto, revisitar o livro de Eclesiastes nos próximos dias e semanas, para inclusive reavaliar o que escrevemos e - se for o caso - reformular alguns conceitos e interpretações, também com o objetivo de que os novos leitores assíduos possam contribuir com suas críticas e sugestões. Eclesiastes nunca é demais.

Começamos, entretanto, com o texto bastante estimulante e provocativo de outro autor, o Justin do blog Wine, Cheese and Theology, que gentilmente autorizou a tradução do seu artigo para ser publicada aqui:




Eu tenho escrito e pensado bastante sobre alguns temas nietzcheanos na arte e no livro de Eclesiastes.

Ambos dizem que nós deveríamos desfrutar a vida aqui e agora. Ambos apontam contradições e dilemas na vida.

Nietzche propõe uma experimentação intelectual na sua doutrina do Eterno Retorno.

E se - ele especula - o conjunto da história é cíclico, e você fosse destinado a viver a sua vida repetitiva e exatamente da mesma maneira? Ele diz o seguinte:

E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela? [1]

Trevor Hart explica a doutrina de Nietzche desta maneira:

A idéia do eterno retorno funciona como um tipo de iluminação daquilo que realmente significaria aceitar completamente a falta de sentido e propósito no mundo. Viver sem uma metanarrativa , liberado do sonho moderno e cristão de uma realidade diferente daquela que de fato aí está, deveria significar, por outro lado, ser capaz de afirmar a totalidade da vida tal qual ela é.

Nietzche não está atrás de uma saída, um escape, para aquilo que seria uma maldição na vida. Ele busca um tipo de aceitação, ou afirmação desta vida, por amor ao destino.

O livro de Eclesiastes abre com o Professor, Qohelet, anunciando que tudo é hebel. Esta palavra pode ser traduzida como "vaidade", "vapor", ou "inútil". O erudito Michael Fox a traduz como "absurdo". Fox trabalha sobre a definição de absurdo dada pelo filósofo existencialista Albert Camus. Para Camus, o Absurdo é a desconexão entre pretensão e realidade, entre aquilo que nós esperamos ser o caso, e o que ele realmente é. Para Camus, é um fato empírico que nós esperamos certas coisas do mundo. Nós temos um desejo, ou uma aspiração por justiça, para dar um aspecto pessoal ao universo, e para que as coisas façam sentido. Mas não é isso que nós constatamos. Em vez disso, nós encontramos um mundo cheio de injustiça, e o universo é profundamente indiferente à nossa presença.

Da mesma maneira, em Eclesiastes, Qohelet explora as áreas da vida em que a pretensão se desliga da realidade. Nós pensamos que o conhecimento e a sabedoria deveriam levar à felicidade, mas, em vez disso, eles geralmente terminam em tristeza (1:16-18). O prazer deveria levar à felicidade, mas ele é passageiro e, em última instância, descartável (2:1-3, 2:10-11). O trabalho deveria levar à plena satisfação, mas, em vez disso, nós descobrimos que as suas recompensas são passageiras quando comparadas ao esforço que colocamos para ganhá-las (2:4-8, 18-19, 21). Não somente o nosso trabalho é passageiro e temporário, mas nós também somos; a morte é inescapável (2:16, 3:21). A justiça deveria ser recompensada e a maldade punida (8:12-13), ainda que freqüentemente parece que as coisas funcionam da maneira contrária (3:16-21, 4:1-3, 7:15, 10:7). Talvez a desconexão última resida no fato de que "[Deus] colocou a eternidade no coração do homem, ainda que ele não possa descobrir a obra que Deus fez do início até o final" (3:11). De alguma maneira, nós ansiamos ou esperamos "eternidade" dentro desta vida. Nós não conseguimos, como Camus diz, "reduzir o mundo a um princípio racional" ou explicar todos os meandros aleatórios da vida (as suas injustiças, dúvidas, opressões e sofrimentos). O mundo é simplesmente muito grande para nós organizarmos tudo e somos finitos por natureza (3:1-8, 8:6-7, 8:16-17, 9:11-12).

Entretanto, antes de se desesperar, Qohelet conclui que Deus, no meio de tantos absurdos, em tempos finites, concede alegrias temporárias. Esses prazeres passageiros existem para serem desfrutados como dons (2:24-25, 3:12-13, 22, 5:18-20, 8:15, 9:7-9). Desta maneira, podemos abraçar a nossa humanidade com a sua temporalidade, finitude e mesmo o sofrimento. E nós fazemos isso quando desfrutamos esses dons com gratidão e esperança.No fundo, nós encontramos uma fé fundamental nos escritos de Qohelet, apesar dos absurdos da vida. Nós somos capazes de desfrutar os prazeres temporais da vida precisamente porque nós sabemos que eles vêm de Deus. Além disso, ainda que seja verdade que, da nossa perspectiva, o mundo é absurdo, Qohelet advoga uma fé no Deus que tem uma visão muito mais abrangente (5:1-7, 12:13-14). Dons que se evaporam, prazeres fugitivos e belezas que se desvanecem são vista como apropriadas para o nosso "quinhão" na vida em virtude da distinção entre Criador e criatura.

Assim é quando Qohelet focaliza a natureza cíclica da vida (1:4-11, 12:7, 3:15). Ele ao mesmo tempo abraça um elemento prospectivo e esperançoso. Mesmo que seja verdade que, do nosso ponto de vista, a injustiça reina, o prazer seja uma ilusão, e os paradoxos abundem, nós temos a idéia de que Deus está sempre disposto a algo muito maior do que nós possamos conceber. "Então contemplei toda obra de Deus, e vi que o homem não pode compreender a obra que se faz debaixo do sol; pois por mais que o homem trabalhe para a descobrir, não a achará; embora o sábio queira conhecê-la, nem por isso a poderá compreender" (8:17). "Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma goze do bem do seu trabalho. Vi que também isso vem da mão de Deus" (2:24). De novo, Qohelet justapõe essas duas realidades, frisando os absurdos da vida e então nos aconselha a desfrutar o nosso quinhão na vida (não menos que seis vezes, pelas minhas contas, nos capítulos 2 a 9). Finalmente, ele finaliza o livro com a admoestação de temer a Deus e uma referência ao juízo final (12:13-14). Peter Leithart coloca as coisas da seguinte maneira:


Como acontece nos capítulos finais de Jó, Eclesiastes ensina que há mais coisas no céu e na terra do que aquilo que é sonhado na nossa filosofia ou teologia, que Deus se propõe a muito mais do que nós possamos conceber e que, limitados e finitos como somos, é tão-somente natural que o nosso entendimento do padrão a história é parcial e o nosso controle da vida é limitado... a alegria salomônica é um hedonismo que nasce da confiança de que o mundo está sempre debaixo do controle de Yahweh.... em vez de se impacientar com a nossa finitude e ansiedade por sermos deuses, Salomão aconselha que nós devemos nos regozijar no nossos limites e em toda a efêmera vida que nos foi dada.

Então, qual é a diferença fundamental entre Nietzche e Qohelet? Nesses dois pensadores nós encontramos imperativos idênticos com indicativos opostos. Para Nietzche, nós devemos desfrutar a vida (imperativo) porque ela é tudo que existe (indicativo). Para Qohelet, nós devemos desfrutar a vida (imperativo) precisamente porque aquilo que nós vemos não é tudo o que existe (indicativo).


[1] NIETZCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Nova Cultural, Círculo do Livro, 1996. Coleção "Os Pensadores", p. 193




terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Justiça alemã mantém jogador Breno na cadeia

Depois da condenação em 1ª instância por ter ateado fogo à própria casa, o jogador brasileiro Breno, do Bayern de Munique, teve negado o recurso interposto junto ao Supremo Tribunal Federal da Alemanha (Bundesgrichtshof).

A sentença originária condenou o jogador evangélico a 3 anos e 9 meses de prisão e o seu advogado, Stefen Ufer, tinha esperanças de vê-la revertida pela Corte Suprema alemã.

Para tanto, alegou que Breno estava, na ocasião do incêndio, sob o efeito de álcool e medicamentos controlados, razão pela qual seria inimputável.

A tese, entretanto, não foi aceita em nenhuma instância da Justiça alemã, que considerou que, mesmo sob efeito etílico e medicamentoso, o jogador não estava isento de responsabilidade pelo crime.

Os tribunais alemães também não levaram em conta as declarações de Renata, esposa de Breno, que teria dito em juízo que "ele era outra pessoa naquele dia. Satanás já havia tomado posse de seu corpo".

A decisão pega nem tão de surpresa assim o São Paulo F. C., que contratou Breno em dezembro de 2012, na (agora vã) esperança de que o mesmo conseguisse se desenrolar dos laços criminais que o embaraçam em terras germânicas.

Desta maneira, Breno continuará encarcerado por todo o tempo da pena que lhe foi imposta, o que certamente trará profundos prejuízos à sua carreira profissional.

Não deixa de ser um tempo mais que suficiente para que ele e sua esposa repensem o que entendem de cristianismo, sobretudo de conversão e possessão demoníaca.

Que Deus tenha misericórdia de todos eles.

Fontes: ESPN Brasil e Globo Esporte.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O dia dos abutres

Tragédias que nos tocam a todos, independentemente do grau de parentesco ou relacionamento, como a ocorrida ontem na boate Kiss em Santa Maria (RS), são ocasiões que revelam o que existe de melhor e pior na natureza humana.

Costumo dizer que são três as certezas que todo ser humano tem ao nascer, e com elas indefectivelmente se deparará em algum ponto de sua existência neste mundo: a morte, a miséria e a bondade.

A primeira certeza - e a mais óbvia - é a morte, que tem uma peculiaridade que nos passa despercebida: ela sempre é vista como a morte do outro, nunca como a nossa própria, mesmo quando sabemos que o desenlace final está próximo e é inexorável.

A segunda certeza é a miséria humana. Estamos sempre em contato com ela, mesmo contra a nossa vontade, e ainda que ela não aconteça conosco ou com alguém conhecido. A miséria humana é inevitável.

A terceira certeza é a bondade. Apesar de todas as desgraças do mundo, sempre haverá alguém capaz de um gesto de bondade, que dê um copo d'água fria quando tudo parece se derreter à nossa volta.

Todos esses três componentes estão presentes no incêndio de Santa Maria. A morte de tantos jovens na flor da idade é o fator que mais chama a atenção, mas lá está presente também a miséria humana, na forma de pessoas que não só deram causa à tragédia por sua negligência, como pioraram as suas consequências através de suas atitudes dolosas.

A bondade também deu as caras em Santa Maria, seja pelos primeiros socorros das equipes de resgate e pelo apoio de toda a comunidade local, seja pela comoção nacional em torno do fato, o que torna todos nós muito mais próximos, muito mais humanos.

Entretanto, os abutres também revoam a calamidade. A imprensa faz uma cobertura grotesca, sentimentaloide e sensacionalista, explorando os cadáveres e os choros até as últimas consequências.

Por outro lado, indivíduos que se dizem religiosos aproveitam o momento para apontar o erro dos outros e chamar a atenção à sua autoimputada "santidade", como se as vítimas da tragédia estão mortas ou feridas apenas porque não seguiram a religião do outro.

Curiosamente, esses "religiosos", cujos nomes nem merecem ser pronunciados, se calam quando o teto de uma igreja desaba sobre as cabeças dos seus fieis, ou dezenas são pisoteados numa concentração qualquer num estádio de futebol.

Essa exploração barata da tragédia só expõe as vísceras das más intenções daqueles que se dizem autorizados a falar em nome de um "deus", uma religião, ou da falta de ambos, como aqueles que perguntam "onde está Deus?" nessa hora. São incapazes de sentir compaixão.

E compaixão é o mínimo que se espera num momento de dor e luto como esses. Se não for possível sentir compaixão, que pelo menos prefiram o silêncio aqueles que queiram respeitar os milhares de pais, avós, amigos e parentes dos jovens que morreram.



domingo, 27 de janeiro de 2013

Jornal diz que igrejas arrecadaram R$ 20 bilhões em 2011


Três artigos muito interessantes, essenciais para se entender o atual fenômeno econômico e religioso brasileiro, publicados na Folha de S. Paulo de hoje, 27/01/13:


FLÁVIA FOREQUE

Em um país onde só 8% da população declaram não seguir uma religião, os templos dos mais variados cultos registraram uma arrecadação bilionária nos últimos anos.

Apenas em 2011, arrecadaram R$ 20,6 bilhões, valor superior ao orçamento de 15 dos 24 ministérios da Esplanada --ou 90% do disponível neste ano para o Bolsa Família.

A soma (que inclui igrejas católicas, evangélicas e demais) foi obtida pela Folha junto à Receita Federal por meio da Lei de Acesso à Informação. Ela equivale a metade do Orçamento da cidade de São Paulo e fica próxima da receita líquida de uma empresa como a TIM.

A maior parte da arrecadação tem como origem a fé dos brasileiros: R$ 39,1 milhões foram entregues diariamente às igrejas, totalizando R$ 14,2 bilhões no ano.

Além do dinheiro recebido diretamente dos fiéis (dos quais R$ 3,47 bilhões por dízimo e R$ 10,8 bilhões por doações aleatórias), também estão entre as fontes de receita, por exemplo, a venda de bens e serviços (R$ 3 bilhões) e os rendimentos com ações e aplicações (R$ 460 milhões).

"A igreja não é uma empresa, que vende produtos para adquirir recursos. Vive sobretudo da doação espontânea, que decorre da consciência de cristão", diz dom Raymundo Damasceno, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Entre 2006 e 2011 (último dado disponível), a arrecadação anual dos templos apresentou um crescimento real de 11,9%, segundo informações declaradas à Receita e corrigidas pela inflação.

A tendência de alta foi interrompida apenas em 2009, quando, na esteira da crise financeira internacional, a economia brasileira encolheu 0,3% e a entrega de doações pesou no bolso dos fiéis. Mas, desde então, a trajetória de crescimento foi retomada.



IMPOSTOS

Assim como partidos políticos e sindicatos, os templos têm imunidade tributária garantida pela Constituição.

"O temor é de que por meio de impostos você impeça o livre exercício das religiões", explica Luís Eduardo Schoueri, professor de direito tributário na USP. "Mas essa imunidade não afasta o poder de fiscalização do Estado."

As igrejas precisam declarar anualmente a quantidade e a origem dos recursos à Receita (que mantém sob sigilo os dados de cada declarante; por isso não é possível saber números por religião).

Diferentemente de uma empresa, uma organização religiosa não precisa pagar impostos sobre os ganhos ligados à sua atividade. Isso vale não só para o espaço do templo, mas para bens da igreja (como carros) e imóveis associados a suas atividades.

Os recursos arrecadados são apresentados ao governo pelas igrejas identificadas como matrizes. Cada uma delas tem um CNPJ próprio e pode reunir diversas filiais. Em 2010, a Receita Federal recebeu a declaração de 41.753 matrizes ou pessoas jurídicas.

PENTECOSTAIS

Pelo Censo de 2010, 64,6% da população brasileira são católicos, enquanto 22,2% pertencem a religiões evangélicas. Esse segmento conquistou 16,1 milhões de fiéis em uma década. As que tiveram maior expansão foram as de origem pentecostal, como a Assembleia de Deus.

"Nunca deixei de ajudar a igreja, e Deus foi só abrindo as portas para mim", diz Lucilda da Veiga, 56, resumindo os mais de 30 anos de dízimo (10% de seu salário bruto) à Assembleia de Deus que frequenta, em Brasília.

"Esse dinheiro não me pertence. Eu pratico o que a Bíblia manda", justifica.






RICARDO MARIANO

Desde a separação republicana entre Estado e igreja no Brasil, toda organização religiosa depende da contribuição financeira de seus adeptos para se sustentar.

A Igreja Católica obtém recursos com empresários, festas e quermesses, cobra pela realização dos rituais encomendados e, cada vez mais, exorta os fiéis a contribuir.

No kardecismo, espera-se que a clientela dos médiuns, após receber gratuitamente mensagens, passes e curas, doe alimentos, roupas e dinheiro para obras assistenciais.

As religiões afro-brasileiras são geridas por microempreendedores que, em troca de remuneração, ofertam bens e serviços mágico-religiosos: despachos, descarregos, amarrações, patuás, consultas aos búzios e ritos iniciáticos.

O inciso VI do artigo 150 da Constituição Federal veda ao Estado instituir impostos sobre "templos de qualquer culto", veto que, conforme o parágrafo 4º, compreende "o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais" das entidades religiosas.

Fins que se referem normalmente a templos, cultos, assistência religiosa, atividades filantrópicas e de formação teológica.

A imunidade tributária, avalia-se, protege a liberdade religiosa ao impedir o Estado de obstruir economicamente o funcionamento dos cultos.

Já o artigo 19 prevê que, em caso de "colaboração de interesse público", cultos podem auferir subsídios do Estado.

Nossa legislação, porém, parece despreparada para lidar com a proliferação de igrejas-empresas, conglomerados cujos líderes fazem fortuna, adquirindo jatinhos, helicópteros, mansões, fazendas, gravadoras, editoras, emissoras e redes de TV. Sempre à custa de rebanhos esmagadoramente pobres e socialmente vulneráveis.

Tanto que igrejas neopentecostais e suas controversas técnicas de arrecadação baseadas na teologia da prosperidade ensejaram a popularização dos trocadilhos "templo é dinheiro" e "templo de vendilhões".

Nelas, a adesão religiosa, embora opcional e voluntária, implica o compromisso de fazer doações financeiras polpudas e sistemáticas para garantir a propagandeada retribuição divina aqui e agora.

A religião tocada como negócio ou atividade econômica está a demandar uma nova regulação pública do religioso, seja para privá-la de privilégios fiscais ou para obstar sua mercantilização, prática em tudo avessa aos fins visados e resguardados pela dispendiosa concessão estatal de isenção tributária.






A arrecadação das igrejas em Estados do Nordeste cresceu quase o triplo da média nacional nos últimos anos.

No período de 2006 a 2011, o volume declarado pelos templos religiosos de todas as denominações religiosas nessa região aumentou 35,3% --um salto de R$ 1,45 bilhão para quase R$ 2 bilhões.

Ao mesmo tempo, o crescimento da arrecadação em todos os Estados da Federação se limitou a 11,9%.

O ritmo mais acelerado foi impulsionado, principalmente, pelos Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba --que registraram evolução de receita de 130% e 60,3% nesse período, respectivamente.

De acordo com o Censo de 2010, a região Nordeste é a mais católica do país: 72,2% da população diz seguir a religião. No Brasil, esse percentual é de 64,6%. Ao mesmo tempo, porém, a região segue o movimento de queda de católicos de outras áreas --e de crescimento evangélico.

Em 2000, 10,3% da população do Nordeste declararam ser evangélicos. Em 2010, o índice subiu para 16,4%.



O total arrecadado pelos nove Estados do Nordeste, no entanto, é modesto se comparado ao volume de recursos declarados à Receita Federal pelas organizações religiosas do Sudeste.

Os quatro Estados da região concentraram quase R$ 14 bilhões do montante de R$ 20,6 bilhões informado à Receita Federal em 2011.

Somente São Paulo responde por praticamente metade de toda a arrecadação do segmento religioso no Brasil --R$ 10,2 bilhões.

É no Estado, aliás, que estão alguns dos maiores templos religiosos e onde se concentram as principais obras de expansão das igrejas.

No final do ano passado, por exemplo, o padre Marcelo Rossi inaugurou o Santuário Theotokos - Mãe de Deus na região de Interlagos, na zona sul da capital paulista.

Ele poderá abrigar 100 mil fiéis quando estiver totalmente pronto --sendo considerado o maior espaço católico no país. Na abertura, ainda incompleto, reuniu em uma missa 50 mil pessoas, de acordo com estimativa da Guarda Civil Metropolitana.

Também é na capital paulista que a Igreja Universal do Reino de Deus planeja construir uma réplica do Templo de Salomão, na zona leste.

A previsão é que a igreja ocupe 70 mil metros quadrados de área construída. O espaço poderá abrigar 10 mil pessoas sentadas.

Depois do Estado de São Paulo, as maiores arrecadações das igrejas no país estão no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná.

O Centro-Oeste também registrou crescimento expressivo de arrecadação religiosa --o volume subiu de R$ 1 bilhão para R$ 1,3 bilhão (variação de 32,89%).

Entre 2006 e 2011, apenas as organizações religiosas da região Sul tiveram queda no valor arrecadado --de pouco menos de 19%.

CENSO

Os números do último Censo do IBGE mostraram que o catolicismo perdeu 1,7 milhão de adeptos no Brasil entre os anos de 2000 e 2010.

O movimento foi seguido pela expansão das religiões evangélicas --que conquistaram 16,1 milhões de fiéis no período e passaram a representar 22,2% da população.

Os grupos de sem religião e espíritas também tiveram crescimento no Brasil ao longo da última década.

O peso deles no cenário nacional, no entanto, é bem menor --de 8% e 2%, respectivamente. (FLÁVIA FOREQUE)



sábado, 26 de janeiro de 2013

Abraçar faz bem

Manja aquele abraço gostoso e desinteressado que você reparte com pessoas queridas? 

Pois é, ele é muito bom, mas seus efeitos positivos só são sentidos se o abraço é desejado por ambas as partes e desfrutado mutuamente no contexto de uma relação de confiança.

A mais nova redenção da já conhecida "terapia do abraço" está na compilação de artigos feita por Natasha Romanzoti e publicada no HypeScience:

Abraços fazem bem para a saúde, dependendo de quem nos abraça

Segundo um estudo da Universidade Médica de Viena (Áustria), abraçar alguém pode ajudar a reduzir o estresse, o medo e a ansiedade, além de reduzir a pressão arterial, promover o bem-estar e melhorar a memória.

Estes efeitos positivos são causados pela secreção de ocitocina (ou oxitocina) no organismo – mas isso só ocorre quando abraçamos alguém que gostamos, confiamos ou conhecemos muito bem.

De acordo o neurofisiologista Jürgen Sandkühler, autor do estudo, abraçar estranhos pode ter o efeito oposto, nos estressando ao invés de acalmando.

O hormônio

A ocitocina, também chamada de “hormônio do amor”, é produzida pela glândula pituitária e conhecida principalmente por influenciar nas nossas ligações emocionais, comportamento social e aproximação entre pais, filhos e casais.

Nas mulheres, o hormônio é produzido durante o processo de parto e amamentação, a fim de aumentar a ligação da mãe com o bebê.

A ocitocina pode ser tomada na forma de comprimidos ou como spray nasal, e, uma vez que pode provocar contrações, também é usada em obstetrícia. Pode até estimular a produção de leite nas mulheres, aumentando o fluxo de leite durante a amamentação.

A pesquisa

O estudo chegou à conclusão de que abraçar alguém com quem temos intimidade libera ocitocina em nossa corrente sanguínea, o que reduz a pressão arterial, o estresse e a ansiedade, e pode até mesmo melhorar a memória.

“O efeito positivo só ocorre, no entanto, se as pessoas confiam umas nas outras, se os sentimentos estão presentes mutuamente e se os sinais correspondentes são enviados para fora”, explica Sandkühler. “Se as pessoas não se conhecem, ou se o abraço não é desejado por ambas as partes, seus efeitos são perdidos”.

O mesmo aplica-se ao comprimento do abraço. “Abraçar é bom, mas não importa quanto tempo ou quantas vezes você abraça alguém, é a confiança que é mais importante”, afirma o pesquisador.

Uma vez que a confiança exista entre os “abraçadores”, os efeitos positivos sobre o nível de ocitocina podem ser conseguidos simplesmente como resultado do comportamento empático. “Estudos têm mostrado que crianças cujas mães receberam ocitocina extra têm maiores níveis do hormônio, apenas como resultado do comportamento da mãe”, conta Sandkühler.

Já quando recebemos abraços indesejados de estranhos ou mesmo de pessoas que conhecemos, mas não confiamos, o hormônio não é liberado. “Isso pode levar a um estresse puro, porque o nosso comportamento de manutenção de distância normal é desconsiderado. Nestas situações, nós secretamos cortisol, o hormônio do estresse”, diz Sandkühler.

Abraços não desejados podem ser percebidos como um fardo emocional. “Todo mundo está familiarizado com tais sentimentos em nossas vidas cotidianas, por exemplo, se alguém que não conhecemos chega muito perto de nós sem motivo aparente. Esta violação do nosso ‘espaço pessoal’ é geralmente percebida como desconcertante ou mesmo ameaçadora”, conclui.

Outro estudo recente, da Universidade da Carolina do Norte (EUA), chegou a conclusões parecidas sobre o abraço. A pesquisa descobriu que as mulheres têm maiores reduções na pressão sanguínea do que os homens depois de abraços com seus parceiros. Elas também tinham níveis mais baixos do hormônio do estresse, cortisol.

“O apoio do parceiro está associado a níveis mais altos de ocitocina, tanto para homens quanto para mulheres. No entanto, o efeito potencialmente cardioprotetor da ocitocina pode ser maior para as mulheres”, disse a psicóloga e principal autora do estudo, Karen Grewen.



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A culpa é do facebook

Essa música é dedicada a você que ficou no facebook o ano inteiro e terminou reprovado na escola:




quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O mundo quase acabou no século VIII e ninguém percebeu

Nem tinha percebido até agora. Por isso, antes de você seguir o próximo "profeta do apocalipse" com sua data marcada para o fim do mundo, dê uma lida na notícia abaixo, pesquisada, traduzida e compilada por Natasha Romanzoti para o HypeScience:

Terra foi atingida por explosão de raios gama e ninguém percebeu

No século VIII, uma colisão de estrelas de nêutrons pode ter criado uma enorme explosão de raios gama – a mais poderosa explosão conhecida no universo – no nosso quintal, que passou totalmente despercebida e não documentada na Terra. Isso significa que uma explosão súbita de energia de alta intensidade (cerca de 10.000 vezes a energia da bomba atômica lançada sobre Hiroshima) simplesmente foi ignorada pelos seres humanos.

Mistério

No ano passado, cientistas japoneses descobriram evidências de que, em 775 dC, a Terra foi atingida por uma explosão gigantesca. Claramente, algo catastrófico ocorreu na região cósmica próxima a Terra, mas, o que quer que fosse, aparentemente não foi detectado pelas 350 milhões de pessoas que viviam em nosso planeta na época. Os registros históricos não mencionam estranhos eventos celestiais, catastróficos ou de qualquer outra natureza naquele ano.

Então como ficamos sabendo que isso realmente aconteceu?

O evento ficou gravado na quantidade de carbono radioativo presa nos anéis de crescimento anuais de algumas das árvores mais antigas do mundo.

A descoberta

O principal isótopo radioativo do carbono, o carbono-14, forma-se quando partículas energéticas entram na atmosfera da Terra e colidem com átomos de nitrogênio. Como as árvores absorvem tanto carbono-14 quanto o mais estável carbono-12, os níveis relativos de carbono-14 em seus anéis de crescimento dão aos cientistas uma forma de medir a quantidade de partículas de alta energia que entraram na atmosfera da Terra em um determinado ano.

Ao analisar dois antigos cedros japoneses no ano passado, os cientistas descobriram quantidades surpreendentemente grandes de carbono-14 em seus anéis de crescimento. Também encontraram picos de berílio-10 no gelo antártico. Os pesquisadores fixaram a presença de ambos os conjuntos de radiação para os anos entre 774 e 775.

É normal que os níveis de carbono-14 flutuem; eles sobem e descem em um ciclo de 11 anos, com o aumento e a diminuição das erupções solares. Porém, nos 3.000 anos de registro dos anéis, não houve picos tão grandes quanto o do ano 775.

Então, o que poderia ter causado a explosão maciça de radiação e o elevado fluxo de partículas energéticas que levaram aos grandes níveis de carbono-14 na atmosfera?

Possibilidades

No início, duas possibilidades pareciam mais prováveis: a radiação tinha vindo de uma erupção solar especialmente intensa, ou da explosão de uma estrela próxima.

Os cientistas descartaram a hipótese de erupção solar por duas razões. Primeiro, uma explosão desta magnitude teria provocado um espetáculo de luzes inesquecível no norte, enquanto tal fenômeno nunca foi registrado. Segundo e mais importante, tais chamas também teriam destruído a camada de ozônio da Terra, expondo toda a vida no planeta a uma radiação intensa e iniciando um evento de extinção em massa.

Já a morte de uma estrela, ou seja, uma supernova nas proximidades, teria enviado raios gama em todas as direções, que poderiam ter criado partículas de alta energia em nossa atmosfera, formando o carbono-14 presente em abundância nos cedros japoneses.

Mas, a fim de enviar raios gama suficientes para tanto, a supernova teria que ser maior e mais brilhante do que qualquer outra já documentada. No entanto, mais uma vez, não há registro de uma supernova em 775.

E, mesmo que as pessoas de alguma forma tenham perdido uma estrela explodindo, seus restos deveriam estar lá fora até hoje, lançando um brilho fraco que poderia ser pego por telescópios. Os cientistas já identificaram 11 estrelas remanescentes em nossa vizinhança galáctica, e nenhuma delas tem a idade certa para ter causado o pico de 775.

Isso tudo significa que nem erupções solares, nem supernovas podem explicar a anomalia de carbono-14 de 775 dC.

Colisão de estrelas de nêutrons

Agora, um segundo grupo de pesquisadores da Alemanha sugeriu que uma explosão de raios gama de curta duração produzida pela colisão de duas estrelas de nêutrons próximas pode ter sido a causa da anomalia.

Somente a colisão de dois “remanescentes estelares compactos”, como buracos negros, estrelas de nêutrons ou anãs brancas geraria uma explosão intensa de energia liberada na forma de raios gama, que são a parte mais energética do espectro eletromagnético, que inclui luz visível.

Embora imensamente poderosa, essas grandes explosões de energia duram menos de dois segundos. Isso significa que, no momento em que a radiação chegou ao nosso planeta, teria sido absorvida pela nossa atmosfera, e não haveria sinais evidentes do grande evento que aconteceu longe no universo.

Ou então, a maior parte da radiação foi absorvida pela atmosfera e, em seguida, fez o seu caminho para a superfície do planeta por um longo período de tempo. Infelizmente, pode não ter havido nenhum flash ofuscante de luz visível intensa para sinalizar o estouro.

Isso pode explicar por que o evento não foi registrado e nossos antepassados medievais não o perceberam.

“Nós olhamos nos espectros de curtas explosões de raios gama para estimar se seriam consistentes com a taxa de produção do carbono-14 e berílio-10 que observamos, e achamos que é totalmente coerente. Explosões de raios gama são eventos muito energéticos, e a partir desta energia, nossa conclusão foi de que o fenômeno ocorreu a 3.000 a 12.000 anos-luz de distância, e isso é dentro de nossa galáxia”, explica o professor Ralph Neuhauser, do Instituto de Astrofísica da Universidade de Jena (Alemanha).

Se tivesse ocorrido mais perto da Terra, essa explosão teria causado danos significativos para a nossa biosfera.

Os cientistas já identificaram cinco estrelas de nêutrons que poderiam ter causado a enorme explosão, e o próximo passo da pesquisa é observar detalhadamente as candidatas.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O estranho caso do aborto da filha da cantora portuguesa em Cuiabá

Portugal, Brasil, Holanda, Áustria, Índia. Como é que esses cinco lugares tão distintos conseguem se misturar num fato pra lá de esquisito ocorrido em Cuiabá?

Será que só a globalização explica essa notícia do G1?

Cantora portuguesa é indiciada em MT por filha de 14 anos fazer aborto

Mãe tentou acobertar aborto cometido pela filha em Cuiabá, diz delegado.
Adolescente estava grávida de 3 meses de um brasileiro, também indiciado.

Uma cantora portuguesa foi indiciada pela Polícia Civil de Mato Grosso por suspeita de tentar acobertar o aborto da filha, de 14 anos, cometido em Cuiabá, no dia 4 deste mês. Maria Adelaide Mengas Matafome, de 54 anos, deve prestar depoimento em Portugal e o caso será acompanhado pela Interpol.

A garota, que estava grávida de três meses, encontra-se em uma casa de internação para menores. Além da mãe portuguesa, a polícia indiciou o namorado brasileiro, de 21 anos, e a mãe dele, por também tentarem esconder o crime. A adolescente deverá cumprir medida socioeducativo pelo aborto provocado.

O caso foi descoberto na madrugada do dia 4 de janeiro quando a garota deu entrada no Hospital Universitário Júlio Müller. Ela apresentava um quadro grave de hemorragia provocado pela ingestão de quatro comprimidos contendo substância altamente abortiva. Três horas depois de tomar o medicamento, ela entrou em trabalho de parto que só foi concluído quando o feto foi expelido no vaso sanitário da unidade hospitalar.

As investigações apontaram que a adolescente comprou os remédios proibidos pela legislação brasileira por meio de um site holandês. Um médico austríaco emitiu uma receita e os 10 comprimidos remetidos pela Índia foram encaminhados à casa do namorado da adolescente, em Cuiabá, ao custo de R$ 88.

De acordo com o delegado que investiga o caso, Paulo Alberto Araújo, da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), a cantora foi indiciada indiretamente por tentar forjar uma falsa história em relação à gravidez da filha. "A mãe da adolescente em Portugal foi contatada por e-mail e essa ligou ainda por volta de 5h [ do dia 4] no telefone fixo da casa do rapaz falando com cada um em separado para não dizer quem era o pai e que a adolescente já veio grávida de Portugal para o Brasil”, afirmou o delegado.

A garota de 14 anos conheceu o rapaz brasileiro na região de Vila Caiscais, em Portugal. O casal passou a morar na casa da mãe da adolescente desde fevereiro de 2012 e, no dia 28 de setembro do ano passado, ambos foram a Cuiabá para a menina conhecer a família dele. Na capital, a menina descobriu que estava grávida ao fazer dois testes de farmácia.

De acordo com a gerente da Casa de Retaguarda Paulo Prado, Flávia Alessandra Guedes Silva Saldanha, a adolescente estava com passagem de retorno marcada para o mês de novembro, porém, “não retornou porque passou mal ao descobrir estar com dengue”. Em depoimento à polícia, a menina disse que tomou a decisão de abortar e, mesmo o namorado tendo se mostrado contrário à decisão dela, foi auxiliada por ele a fazer pesquisas na internet para localizar abortivos, quando resolveram adquirir o medicamento de uma organização internacional que auxilia mulheres em dificuldade para manter uma gravidez. O delegado que investiga o caso também solicitou à Justiça a proibição de veiculação do site por meio do qual a portuguesa adquiriu os medicamentos.

Internação

Em entrevista ao G1, a gerente da casa de internação informou que os primeiros dias da adolescente portuguesa no local não foram fáceis. Recolhida e indiferente, a menina “chorava o tempo todo”.

O alívio só chegou quando a adolescente confessou ter praticado o aborto em depoimento prestado à polícia. “Quando ela contou a verdade isso deu mais tranquilidade emocional, passou a se alimentar melhor e também a cantar. Ela disse quer ser cantora, como a mãe”, enfatizou.

Saldanha informou ainda que a mãe da menina mantém contato diário com ela por telefone e, inclusive, contratou uma advogada em Cuiabá para atuar em defesa dela e da filha. A escolhida foi a advogada Benedita Rosarinha Bastos, que também é presidente da Comissão da Infância e Juventude da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT). Ela não respondeu às ligações até o fechamento da reportagem do G1.

O G1 apurou que Bastos compareceu à primeira audiência que responsabiliza a artista no caso realizada na semana passada na Vara de Infância e Juventude de Cuiabá. A Justiça também deverá decidir o futuro da portuguesa no Brasil.



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

As "fortunas" de Malafaia, Lula e Calvino

A coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo de hoje, 22/01/13, traz a informação de que a jornalista consultou Silas Malafaia a respeito do seu patrimônio de supostos 150 milhões de dólares, conforme noticiado pela última edição da revista Forbes.

Não sem antes recorrer às suas rotineiras, nauseantes e já esperadas bravatas de que vai processar a revista para "ferrar esses caras", Malafaia frisou que seu patrimônio real está avaliado em 6 milhões de reais, míseros 2% do total estimado pela Forbes.

O telepastor amigo de Mike Murdoch declarou possuir nove imóveis, sendo um em Boca Raton, na Flórida (EUA), a Meca dos televangelistas e cantores gospel brasileiros, lugar onde provavelmente existe a maior necessidade missionária de todos os tempos na história do cristianismo mundial. Há mais caciques e pajés do que índios por lá...

O vizinho de Ary Fontoura e Fernanda Lima em um condomínio de luxo no Rio de Janeiro (segundo também informa Mônica Bergamo) e metido a sabe-tudo deveria se informar melhor sobre as leis e o sistema judicial norteamericano.

Primeiro, a liberdade de expressão, aquela mesma que o Malafaia diz lutar tanto no Brasil (veja aqui ele defendendo o que agora quer condenar), é muito mais que sagrada em terras yankees e raramente a opinião de um órgão da imprensa é punida.

Além disso, é preciso muita grana só para contratar um bom escritório de advocacia nos Estados Unidos (as famosas "law firms"), ainda mais um que queira se aventurar a processar a revista Forbes. Teria Malafaia bala para tanto na agulha?

A não ser que ele recorra aos advogados de Boca Raton especialistas em atender alguns caciques e pajés que são presos com dólares dentro da Bíblia, como já aconteceu por lá...

O novo imbroglio malafaiano surge num momento em que outro veículo estrangeiro, no caso o jornal inglês Financial Times, divulgou recentemente os dados do patrimônio declarado do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que foram vazados por um hacker, e se revelaram bem menores do que se aquilo que se anunciava há anos.

Malafaia, que sempre faz campanhas desinteressadas para José Serra, arqui-inimigo de Lula, não deve ter gostado de saber que o patrimônio do ex-presidente é menor do que o dele, apesar - cá entre nós - da íntima empáfia que deve tê-lo acometido ao saber que conseguiu amealhar bens mais valiosos do que o de seu desafeto político.

Outro desafeto do telepastor, agora no campo teológico, é o reformador João Calvino, a quem, vez ou outra em suas preleções, acusa de ter pregado a "demoníaca" doutrina da predestinação.

Curioso é perceber o que tem de calvinista que segue Silas Malafaia de olhos fechados, mesmo depois dele tê-los chamados de "demoníacos". Se não a teologia, a ideologia deve explicar...

Ocorre que Calvino, esse "mala" (para Malafaia, obviamente) era um pastor de verdade que ousou ser pobre, apesar de ter sido uma das pessoas que mudaram a história do mundo tal como o conhecemos hoje.

Segundo informa o e-cristianismo, Calvino, este "fracassado demoníaco" (para Malafaia, é claro) vivia com um módico salário pago pelo Conselho de Genebra, que - envergonhado com a situação - insistia em aumentar o soldo do reformador tal era a ninharia que lhes pagavam, mas este se recusava terminantemente a abusar da boa fé, da boa vontade e dos cofres de seu povo.

Enquanto Malafaia, na entrevista acima dada à Folha de S. Paulo, afirma que doou à igreja um Mercedes blindado que havia recebido de presente de um empresário rico amigo seu (embora não revele o destino dela), Calvino recusou até o auxílio-doença mínimo que sua igreja queria lhe pagar.

Muito provavelmente, ninguém jamais pensou em dar a Calvino um cavalo blindado e uma armadura inexpugnável. Afinal, ele era verdadeiramente crente e sabia muito bem Quem o sustentava e o defendeu até o final. 

A fortuna dele era outra, muito diferente...



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