
6 Tens, porém, isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço.
15 Assim tens também alguns que de igual modo seguem a doutrina dos nicolaítas.
Os dados do Ap 2.6.14.16.20 não permitem identificar a seita nem de fixar-lhe, mesmo aproximativamente, as origens. Provavelmente trata-se de um movimento de cunho doutrinal e ético. Se se deve reconhecê-los nos “falsos apóstolos” (Ap 2.2), corresponderiam àqueles pregadores itinerantes, que se faziam passar por profetas e apóstolos sem sê-lo (cf. 1 Ts 5,20-21; 1 Jo 4,1), que deixaram vestígios também nos inícios do séc. II (In., Eph. 9,1; Did. 11.8-10). Remonta-se à sua doutrina através do exame da conduta. Os nicolaítas não tinham escrúpulos em participar dos banquetes sacros dos pagãos (Ap 2,14-15), que muitas vezes eram acompanhados de práticas imorais. Arquétipos de tal conduta são Balaão (Nm 31,16s), que, segundo a exegese rabínica, teria aconselhado o rei Balac de Moab a oferecer aos israelitas mulheres moabitas para fazê-los prevaricar o monoteísmo e convertê-los à idolatria, fazendo-os comer carne de animais imundos, e Jezabel, nome certamente simbólico, correspondente a uma pessoa real, que se liga à fenícia rainha homônima de Israel, que induziu o marido Acab, seguido por boa parte do povo, aos cultos idolátricos (1 Reis 16,31; 2 Reis 9,22). Esta mulher, fazendo-se passar por profetiza, reunia em volta de si um grande grupo de fiéis, os quais desencaminhava com profecias e seduções (Ap 2,20-23). As indicações do Apocalipse induziriam a crer que nos encontramos diante de uma espécie de pré-gnósticos, que em nome de uma sabedoria superior (Ap 2,24) professavam e praticavam um certo laxismo teórico e prático, levando às últimas consequências os ensinamentos de Paulo sobre a liberdade dos cristãos (1 Cor 8; Rom 14). As consequências seriam a participação nos banquetes sacros dos pagãos, já que o ídolo não é nada, e uma certa complacência em relação ao culto imperial, pois no ato cultual não se adorava a pessoa do imperador, mas seu gênio protetor. A linguagem simbólica do Apocalipse (idolotitos – fornicação) parece encerrar esta doutrina. À exceção do nome, não existem provas para se considerar como fundador do movimento o prosélito de Antioquia, o diácono Nicolau (At 6,5). A tradição patrística está dividida: Ireneu (Adv. Haer. I, 26,3; III, 11,1), Hipólito (Refut. VII, 36) e Epifânio (Pan. 25) repetem e ampliam os dados do Apocalipse. Sua credibilidade é bem pouca no que concerne ao 20; III, 4), seguido por Eusébio (HE III, 29) e por Teodoreto (Haer. fab. III, 1), rejeita a identificação com o diácono de Atos 6,5 e explica que homens perversos mudaram seu dito “é preciso negligenciar a carne” de seu significado autêntico para dele fazer um princípio de libertinagem. Na Idade Média, sob o nome de nicolaítas foram compreendidos todos quantos se opunham ao celibato eclesiástico.
(“Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs”, Ed. Vozes e Ed. Paulinas, 2002, pp.998-9)
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