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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Réplica em cera de João Paulo II faz sucesso no México



Uma réplica em cera do falecido papa João Paulo II causa comoção e histeria no México, revelando essa estranha relação que muitos católicos têm para com a morte, venerada nas mais bizarras formas, o que até faz um certo sentido naquele país, já que os mexicanos têm uma mórbida fascinação pela morte, o que faz do dia de Finados (o 2 de novembro que se aproxima) uma espécie de "carnaval fúnebre" particular.

Talvez isso também faça parte da nossa penada alma latinoamericana, já que - na Argentina - o cadáver embalsamado de Evita Perón teve duas réplicas de cera, todos eles (o cadáver e as réplicas) envolvidos numa trama macabra de trocas, furtos e desaparições, cujos episódios (incrivelmente verídicos) são relatados no ótimo livro "Santa Evita" de Tomás Eloy Martínez.

A matéria do Bob Fernandes é bastante extensa e detalhada, e abaixo reproduzimos a primeira parte, dando o link para a íntegra do artigo no final:

Milhões veneram réplica de João Paulo II morto, e seu sangue

Bob Fernandes
Direto de Guadalajara

Abre-se o portão do Santuário de los Mártires. Do lado de fora, a multidão em êxtase.

Sob escaldante sol de 32 graus à uma da tarde, se acotovelam velhos, crianças, deficientes em cadeiras de rodas, casais com recém-nascidos, jovens, vítimas de paralisia… Quando sete homens com emblema do Vaticano no uniforme cruzam o portão com o esquife, o empurra-empurra, os gritos, as súplicas e os cânticos que se elevam, criam uma atmosfera de transe. Os coros se misturam e ecoam Cerro del Tesoro abaixo:

-Se ve, se siente, Juan Pablo está presente… Se ve, se siente, Juan Pablo está presente…

-Juan Pablo, Segundo, te quiere todo el mundo…Juan Pablo, Segundo, te quiere todo el mundo…

No esquife de acrílico, a réplica em cera do Papa João Paulo II morto.

A imagem, em tamanho natural, vestida com batina branca e coberta por ornamentos sacerdotais; sobre os ombros e tórax, a escarlate Mozzetta Papal e, descendo até a altura do joelho, a estola em negro e dourado com símbolos do Vaticano.

Nas mãos cruzadas sobre o peito, o crucifixo. Num relicário pouco acima, a ampulheta com uma porção do sangue de João Paulo II.

O travesseiro ergue um pouco a cabeça do Papa. Quem a cotovelaços e empurrões consegue chegar perto da réplica se depara com um rosto sereno. Na lateral da urna, a inscrição “Beato Juan Pablo”.

Pregado na parte inferior da urna de acrílico, pouco além das solas dos sapatos do Papa, o brasão do seu pontificado.

Não há espaço para todos. A multidão não estava convidada para a missa na sede provisória do Santuário de Los Mártires. Ali deveriam estar apenas 90 sacerdotes, membros da cúpula da Arquidiocese, e próximos do Cardeal Juan Sandoval Iñiguez.

Mas a multidão de fiéis subiu o Cerro, a pé ou de carro, e suplica em coro:

-Queremos ver al Papa! …Queremos ver al Papa!…

Por entre os fiéis, ambulantes sacodem bandeirolas, cartazes e fotos de João Paulo II, e apregoam:

-El Santo Padre Juan Pablo, dez pesos! Dez pesos por El Santo Padre Juan Pablo!

Ao fundo da tenda que abriga a Sede Provisória, ergue-se um esqueleto de aço em forma de arcos. São as fundações do Santuário dedicado a 26 Santos e 24 Beatos martirizados no México. Em construção já há quatro anos, numa área de 14 hectares, a igreja para 12 mil fiéis –mais 40 mil no adro-, um hospital e um escola de enfermagem.

Aos pés do Cerro del Tesoro e do Santuário, Guadalajara.

Desde 25 de agosto, até 15 de dezembro, a réplica de João Paulo II morto percorrerá 94 dioceses do México. Metade do périplo foi feito e a Conferência Episcopal avalia que mais de 8 milhões de fiéis já viram e tocaram no esquife.

Estima a igreja que somente entre esta quarta e sexta-feiras na Región Valles (Cocula, Ameca, Tala e San Martín Hidalgo), nas filas da Basílica de Zapopan, da comoção no Santuário de Los Mártires e na Catedral Metropolitana, mais de 300 mil mexicanos foram ver João Paulo II em cera. E o relicário com seu sangue.

Carregada pelos sete homens, a urna ultrapassa o portão. Policiais militares se dão as mãos, formam um corredor a caminho da Van onde será depositada a imagem. A cobertura de acrílico viaja numa segunda Van.

Moldada com um cera especial, a réplica resiste a temperaturas de até 45 graus. Só assim não sofreu danos, salvo uma ou outra pequena trinca, em fornalhas como são as regiões de Oaxaca, Chiapas e Veracruz.

Para compensar, quando o calor é tanto o ar condicionado dentro da Van baixa até os 12 graus.

Luiza, 50 anos, conhecida por “Lula”, está colada à Van que transportará João Paulo II. Agarrado à mãe, quase sem conseguir manter-se em pé, Henrique, 14 anos. Enquanto enxuga com as mãos a saliva que escorre dos lábios do filho vitimado por paralisia cerebral, a mãe faz coro com a multidão. Que se espreme, se empurra e suplica:

-…Queremos ver al Papa!… Queremos ver al Papa!

Dentro da Van que transporta o João Paulo II em cera, Javier Cinta, 45 anos, e Mike Berni, 46. Trajam calças pretas e camisetas polo, brancas, com símbolo do Vaticano à altura do peito. Camisetas com código de barra em metal; para que não se extraviem.

leia a matéria na íntegra no Blog do Bob Fernandes



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