Páginas

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Diário gospel de Sinop



Este que vos escreve está passando alguns dias aqui em Sinop, no Nortão do Mato Grosso, a 500 km da capital Cuiabá, visitando amigos e parentes, e aproveitando para rever essa bela e progressista cidade que tem hoje cerca de 120 mil habitantes.

Apesar de "progressista" ser um termo que se encaixa melhor em discursos de políticos como Odorico Paraguaçu, Sinop não é nenhuma Sucupira. O adjetivo "progressista" lhe cai bem.

Estive aqui pela última vez há 4 anos, e neste pouco tempo houve um crescimento gigantesco, facilmente constatável quando se percebe que bairros novos surgiram do nada, antigos carreadores são hoje avenidas asfaltadas e iluminadas, assim como nasceram novas crianças e aquelas de alguns anos atrás já são adolescentes e jovens universitários.

Claro que o crescimento desordenado deixa cicatrizes visíveis, seja na falta de planejamento dos bairros populares, com esgoto a céu aberto, seja na exclusão dessa mesma população para regiões mais afastadas do centro da cidade.

Existe no ar, entretanto, um sentimento de que esta é uma cidade viável, de que há trabalho para todo mundo, e as pessoas em geral estão otimistas com relação ao seu futuro.

Sinop cresceu muito rápido.

O desbravamento das terras virgens começou em 1972, e o povoado foi crescendo até ser elevado à condição de município em 17 de dezembro de 1979.

O então general-ditador de plantão, João Figueiredo, gostava muito do local e, segundo dizem, sempre desembarcava de avião no aeroporto local, que hoje leva seu nome, numa dessas tolas e injustas homenagens que se prestam a militares sem voto que pisaram na democracia.

Claro que todo esse progresso se deu às custas do desmatamento desenfreado da floresta amazônica, que cobria o território onde hoje está a cidade e as muitas plantações de soja, a grande riqueza local.

A década de 70 era outra época, de grave crise econômica causada pela alta do preço do petróleo em 1973, e o governo militar vivia a paranoia da ameaça de ocupação da Amazônia pelos gringos, da construção da rodovia Transamazônica (que terminou engolida de volta pela floresta), do slogan "integrar para não entregar", e famílias inteiras - sobretudo do Sul do Brasil - foram incentivadas a "civilizar", sem qualquer planejamento ambiental, o enorme deserto populacional que era o Norte do Estado do Mato Grosso (que então fazia jus ao nome).

Havia milhares de bocas para sustentar e não se pode culpá-los gratuitamente, portanto, pela tragédia florestal que se seguiu.

Esquizofrenicamente, entretanto, a cidade hoje relembra suas árvores tombadas, dando o nome de cada espécie delas às suas belas ruas e avenidas, como se quisesse pedir perdão por tê-las dizimado.

Como era de se esperar, a presença evangélica em Sinop é significativa. Apesar do cartão postal da cidade ser a bela Catedral do Sagrado Coração de Jesus, facilmente se percebem muitos templos de igrejas evangélicas.



Pra não ficar atrás no gigantismo que caracteriza Sinop (e envergonha Itu), a Assembleia de Deus também inaugura nesta semana um novo templo seu que mais parece um ginásio de esportes (daqueles bem grandes):



Há vários outdoors evangélicos em Sinop, a maioria é da igreja de Valdemiro Santiago, que apresenta o seu "apóstolo", com a bispa-esposa, numa montagem tosca, em que o casal que manda na organização está à frente de uma mansão, ao lado do versículo "eu e a minha casa serviremos ao Senhor".

Parece-se mais com "eu e o meu castelo serviremos ao Senhor", o que deve atrair pessoas mais preocupadas com a prosperidade que eles pregam, dando a devida contribuição, obviamente.

Deve ser por isso que os criadores do painel, deliberadamente, trocaram a referência do versículo, originalmente em Josué 24:15, para Efésios 3:14-15. Como ler a Bíblia não é o forte deles, alguém deve ter copiado errado:



Agora, não basta querer ter um castelo igual ao do Valdemiro Santiago, ainda mais se tudo o que você tem é um terreno baldio, mesmo que o "apóstolo" patrocine o "domingo do Haja Luz".

É preciso ir chique à igreja dele. Nos trinques. Para que o irmão e a irmã não passem vergonha na frente dos outros irmãos, Sinop está bem servida.

Na avenida principal, os varões e as varoas poderão contar com uma loja só de moda evangélica. Aquilo que em outros lugares é apenas sonho, aqui em Sinop já é realidade:



Crente não passa sufoco em Sinop, a não ser pelo calor que faz nessa terra abençoada por Deus...



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por visitar O Contorno da Sombra!
A sua opinião é bem-vinda. Comentários anônimos serão aprovados desde que não apelem para palavras chulas ou calúnias contra quem quer que seja.
Como você já deve ter percebido, nosso blog encerrou suas atividades em fevereiro de 2018, por isso não estranhe se o seu comentário demorar um pouquinho só para ser publicado, ok!
Esforçaremo-nos ao máximo para passar por aqui e aprovar os seus comentários com a brevidade possível.