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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Enfrentando a solidão do fim de ano

Matéria publicada na Folha de S. Paulo de 27/12/11:

Solidão de fim de ano congestiona serviço de prevenção ao suicídio

FILIPE OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A procura por atendimento no CVV (Centro de Valorização da Vida) aumenta 20% durante as festas de fim de ano, de acordo com estimativas da entidade. O objetivo da instituição é atender gratuitamente pessoas que precisam de apoio emocional imediato.

Nesta época, a maior queixa das pessoas é a solidão de não ter com quem passar o Natal e o Ano-Novo, segundo a voluntária do CVV Adriana Rizzo, 41. Para ela, muitos sofrem ao ver que o mundo inteiro está em festa enquanto eles não conseguem aproveitar. "Quero que esta época passe logo para eu voltar à rotina" é um comentário feito por vários dos que ligam anonimamente à entidade em busca de ajuda.

A maior procura acontece durante a noite e aos finais de semana e o atendimento não é interrompido na véspera de Natal ou no Réveillon. Em muitos momentos, as linhas ficam congestionadas. A Folha tentou entrar em contato entre as 10h e 11h da manhã de quinta-feira (22) e por quatro vezes recebeu a informação de que todas as linhas estavam ocupadas. O mesmo fato se repetiu três vezes na noite de sábado (24).

Adriana, que é voluntária do CVV há 13 anos, conta que já foi escalada para passar uma noite de Natal atendendo ligações. Ela diz que foi gratificante passar o momento comemorativo trabalhando: "Foi interessante. Muitas pessoas ligavam para desabafar e outras que foram ajudadas por nós queriam agradecer e desejar feliz Ano-Novo".

Para ela, não existe um conselho único para ser dado às pessoas que se sentem mal nesta época. O que ela costuma fazer é ficar aberta para ouvir tudo o que a pessoa quer e precisa falar. "O momento é dela", diz.

As conversas não tem tempo predeterminado. A duração pode variar entre cinco minutos e uma hora, de acordo com a necessidade.

Anualmente o CVV recebe aproximadamente 1,2 milhões de ligações telefônicas, o principal canal de atendimento. Dentre elas, pouco mais da metade são pedidos de ajuda (excluindo enganos e procura por informações).

Como o anonimato é preservado, não é possivel identificar qual a faixa etária ou sexo predominante entre os que procuram o serviço.

SUICÍDIO

Desde 1962, quando a entidade foi criada, o foco do atendimento mudou. Inicialmente, o objetivo era a intervenção com pessoas que estavam prestes a se matar. Atualmente, a filosofia do grupo é dar oportunidade para que as pessoas precisando de ajuda possam desabafar e falar de seus sofrimentos antes de pensarem em suicídio.

Adriana já atendeu pessoas que falavam em suicídio. Segundo ela, após alguns minutos de conversa a pessoa costuma se acalmar. Nesse momento, cabe ao voluntário tentar entender qual o motivo do sofrimento. Mesmo assim, em muitos casos é impossível saber qual foi a decisão da pessoa e o que aconteceu depois.

Alessandro (nome fictício), 55, nunca conversou com alguém que dizia explicitamente estar disposto a se matar, apesar de algumas pessoas atendidas contarem que já tinham pensado nisso. Voluntário há um ano, ele conta que é comum que as pessoas digam que se sentem melhor ao final da ligação, após conseguir verbalizar seus problemas.

SERVIÇO

Os atendimentos do CVV são feitos 24 horas, a partir da central telefônica 141, por e-mail, Voip, por correspondência ou pessoalmente em uma das 71 unidades espalhadas pelo Brasil. O site também oferece um serviço de chat em que se pode conversar com um voluntário reservadamente.

Os atendentes são voluntários que passam por uma seleção e por um treinamento de três meses.



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