Páginas

sexta-feira, 16 de março de 2012

Bispos católicos italianos: pode cremar o corpo mas sem espalhar cinzas

Nesses tempos ecológicos em que está mais que comprovada a contaminação do solo e do lençol freático pelo antigo e reiterado costume de sepultamento de corpos em cemitérios sem os devidos cuidados, a cremação deveria ser incentivada por políticas públicas que ampliassem o número de crematórios e facilitassem - em todos os sentidos - a vida dos que ficam. A igreja católica italiana, através dos seus bispos, diz permitir a cremação dos corpos, mas ao mesmo tempo elenca uma série de razões esquisitas e interpretações saudosistas para restringir a disposição final das cinzas e incentivar o sepultamento em terra. A notícia vem do IHU:

Bispos italianos dizem ''sim'' à cremação, mas sem espalhar as cinzas

A frase-chave é quando se diz: "A cremação é considerada concluída com a deposição da urna no cemitério". A CEI [Conferência dos Bispos da Itália] apresentou na última sexta-feira, 2 de março, a segunda edição italiana do Livro das exéquias, que sanciona um "sim" condicional à prática de cremar os defuntos: as cinzas, para a Igreja, não devem ser espalhadas no mar ou em outro lugar na natureza, nem conservadas em casa ou no jardim, ou "em outros lugares do que o cemitério".

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 03-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A dispersão, de fato, "levanta muita perplexidade sobre a sua plena coerência com a fé cristã, principalmente quando se subentendem concepções panteístas ou naturalistas". A indicação é explícita, mesmo que "o ritual não tome posição clara sobre o âmbito disciplinar".

O texto aprovado pelos bispos será obrigatório a partir do dia 2 de novembro deste ano. Com relação à edição de 1974, foi cancelado o capítulo Exéquias na casa do defunto, porque "os bispos consideraram essa possibilidade estranha aos costumes italianos" e com o risco de "privatização" do rito. Mas a maior novidade reside no Apêndice, com os textos e os ritos que acompanham a cremação. A colocação como "apêndice" não é casual: "Quer-se chamar a atenção para o fato de que a Igreja, embora não se oponha à cremação dos corpos quando é feita em odium fidei, continua considerando a sepultura do corpo dos defuntos como a forma mais idônea para expressar a fé na ressurreição da carne, para alimentar a piedade dos fiéis com relação àqueles que já passaram deste mundo para o Pai, e para favorecer a recordação e a oração de sufrágio por parte de familiares e amigos".

Em si, o novo texto reconhece as práticas e as regras da Igreja já previstas no Catecismo de 1992 (número 2301: "A Igreja permite a cremação a não ser que esta ponha em causa a fé na ressurreição dos corpos") e antes ainda no cânone 1176 do Código de Direito Canônico ("A Igreja recomenda vivamente que se conserve o piedoso costume de sepultar os corpos dos defuntos; mas não proíbe a cremação, a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã") .

Mas as regras foram esclarecidas no texto da Igreja italiana, até porque a cremação está cada vez mais difundida (cerca de 10% em crescimento). Os bispos tinham discutido a questão durante a assembleia de Assis em 2009. Entre outras disposições, "a celebração das exéquias precede de norma a cremação". Certamente, "a opção fundamental da cultura cristã é o enterro, mais conveniente com relação à fé na ressurreição", explica o bispo Alceste Catella, responsável de liturgia da CEI: "Embora isso não signifique que Deus não seja capaz de ressuscitar das cinzas também...".



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por visitar O Contorno da Sombra!
A sua opinião é bem-vinda. Comentários anônimos serão aprovados desde que não apelem para palavras chulas ou calúnias contra quem quer que seja.
Como você já deve ter percebido, nosso blog encerrou suas atividades em fevereiro de 2018, por isso não estranhe se o seu comentário demorar um pouquinho só para ser publicado, ok!
Esforçaremo-nos ao máximo para passar por aqui e aprovar os seus comentários com a brevidade possível.