Implicações religiosas também atuaram no "golpe branco" contra o presidente paraguaio, o ex-bispo católico Fernando Lugo, segundo artigo do Brasil 247:
Como elite, mídia e Igreja católica jantaram Lugo
Leonardo Attuch _247 – Ainda que a constituição paraguaia permita o juízo político de seus governantes, um processo de impeachment que se desenrola em apenas dois dias só pode ser definido com uma única palavra: golpe. Foi isso o que aconteceu no Paraguai, por mais que vozes conservadoras, daqui e de lá, defendam a legalidade do processo. Ponto.
Até aí, não há muita surpresa, uma vez que a história paraguaia é marcada por golpes, ditaduras e quarteladas. A diferença, desta vez, foi a sutileza de um “golpe parlamentar”, um “golpe democrático”. Em resumo, um golpe branco, imposto pela elite oligárquica do país.
Surpresa em si foi a reação do presidente Fernando Lugo, que não opôs resistência alguma e se ofereceu passivamente ao martírio. A que se deve essa atitude? Talvez seja fruto da sua formação católica. Ex-padre, e achincalhado por muitos pelas dezenas de filhos que fez, Lugo tem alma cristã. Ao deixar o poder, ele ofereceu a outra face. “Saio pela porta maior, a do coração”, disse o ex-presidente. Lugo ainda tentará – em vão – recuperar seus direitos políticos, mas essa é uma batalha perdida.
No Paraguai, tudo parece estar dominado: Congresso, meios de comunicação e a própria Igreja Católica. Nos jornais paraguaios de hoje, não se encontrará uma única referência ao golpe. Periódicos como "ABC Color" e "Cronica" tratam a deposição de um presidente eleito como um fato corriqueiro, tal qual uma partida de futebol do Cerro Porteño. O ABC, por sinal, trouxe a seguinte manchete no dia de ontem, que já antecipava a decisão do Congresso: "Se não renunciar, Lugo será cassado".
Assim como os meios de comunicação, a Igreja Católica paraguaia também se uniu à elite conservadora na trama do golpe de Estado. Horas antes do “juízo político”, Lugo recebeu, na residência oficial do país, um grupo de bispos da Conferência Episcopal, que equivale à CNBB no Brasil. Um deles, Claudio Giménez saiu afirmando à imprensa que os padres pediram a Lugo que renunciasse para “evitar enfrentamentos”.
Passivo, Lugo assim resumiu sua queda: “Não é Lugo o destituído, é a história paraguaia”. Errado. A história paraguaia não foi destituída. Ela foi restituída.
Corrobora a versão acima noticiada a informação do Ultima Hora de que o núncio apostólico (embaixador do Vaticano) em Asunción, D. Eliseo Ariotti, foi a primeira autoridade diplomática a reconhecer o novo governo paraguaio.
Alegando que "me agrada muito que o povo simples e todas as autoridades tenham pensado no bem do país", o núncio apostólico se apressou em ter uma reunião com Federico Franco, o novo presidente do país.
Como não bastasse o apoio eufórico do Vaticano ao golpe parlamentar, D. Ariotti ainda convocou uma missa para as 4 da tarde de hoje, a pretexto de "rezar pela paz no Paraguai".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por visitar O Contorno da Sombra!
A sua opinião é bem-vinda. Comentários anônimos serão aprovados desde que não apelem para palavras chulas ou calúnias contra quem quer que seja.
Como você já deve ter percebido, nosso blog encerrou suas atividades em fevereiro de 2018, por isso não estranhe se o seu comentário demorar um pouquinho só para ser publicado, ok!
Esforçaremo-nos ao máximo para passar por aqui e aprovar os seus comentários com a brevidade possível.