Artigo interessante de Clemir Fernandes no portal Novos Diálogos:
Opostos que se atraem:
Marco Wyllys e Jean Feliciano
Um se arvora defensor da “família brasileira”; o outro, paladino da “liberdade individual”.
Um diz enfrentar o perigo da “ditadura gay”; o outro afirma lutar contra o “fundamentalismo religioso”.
Um cria pânico moral: Eles vão destruir os valores familiares que sustentam a sociedade brasileira; o outro, pânico cultural: Eles vão num crescente de intolerância e chegarão a proibir até mesmo o futebol!
O que ambos não dizem claramente é que precisam desesperadamente do radicalismo um do outro. Que estão fazendo coreografia, jogando para os interesses de suas respectivas plateias.
O que ambos não dizem verdadeiramente é que esse conflito produz capital político e econômico. Um único exemplo: o Estado e também setores privados financiam tanto a “Marcha para Jesus” como a “Marcha do orgulho gay”. Um nicho de poder alimentado por seu contraponto e vice-versa.
Essa atração fatal de Marco Wyllys e Jean Feliciano não contribui, efetivamente, para a democracia, para a defesa de um amplo estado de direito, para a produção de leis justas nem ainda para a construção de políticas públicas em prol dos direitos de todos os diferentes segmentos, especialmente dos mais explorados, da sociedade brasileira.
Resumo dessa ópera-bufa: Tal conflito público serve mais — muito mais — aos interesses eleitoreiros dos deputados protagonistas do que efetivamente às causas que dizem defender.
Parafraseando D. Hélder Câmara digo que o “escravo” de ontem (evangélico: minoria) quer ser senhor de escravos hoje (impor suas verdades para todos); e o “escravo” de hoje (LGBTs e outras minorias) quer ser senhor de escravos amanhã (impor também suas verdades). Como diz esse “santo humano”: Basta dessa lógica de dominação!
Na guerra insana de todos contra todos não existe espaço para a sociedade politica da inclusão e respeitadora dos direitos de todos, que devemos e precisamos aprofundar e avançar.
Construamos um caminho do meio: de tolerância PARA TODOS, de respeito de direitos PARA TODOS, de justiça PARA TODOS.
Embora possa parcer ingênua ou ignorante quanto às disputas do mundo real, tal posição é uma possibilidade exequível e não é novidade, afinal temos lastro histórico para isso. A luta de Gandhi, de Luther King e, sobretudo, de Mandela, nosso contemporâneo, dão provas cabais da plausibilidade desse caminho. Não preciso eliminar o outro para ter meus direitos reconhecidos. Antes o contrário, como mostra teoricamente Rousseau no célebre texto sobre a origem da desigualdade entre os seres humanos. Somente manterei meus direitos se respeitar o direito dos outros. Simples assim!
Em suma, sigo com Jesus, que não discrimina nem exclui ninguém, antes nos desafia a amar — existencialmente, não platonicamente — todas as pessoas. E ele ensina: Tudo quanto quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também a eles.
Sabedoria divina para nós humanos aprendizes. Pratiquemos!
Clemir FernandesTeólogo pelo Seminário Teológico Batista do Sul, formado em Ciências Sociais (UFF), mestre em Sociologia (UERJ) e doutorando em Ciências Sociais (UERJ). É pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (ISER), redator da revista de estudos bíblicos Compromisso (Juerp/Convenção Batista Brasileira), integrante do grupo gestor da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS), e o atual coordenador do núcleo do Rio de Janeiro da Fraternidade Teológica Latino Americana-Brasil. É editor-adjunto da revista Novos Diálogos.
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