No seu blog no Estadão, Guga Chacra tenta explicar como funciona a complicada matemática político-religiosa que conseguiu, pelo menos temporariamente, acabar com a guerra civil no Líbano, que devastou o país de 1975 a 1990:
A mágica matemática libanesa para colocar inimigos mortais em um governo de união nacional
Como única nação do mundo sem maioria religiosa, tendo diferentes pluralidades (cristãos maronitas, muçulmanos xiitas e sunitas), os libaneses precisaram resolver suas diferenças com um acordo sectário para atingir uma balança de poder. Desta forma, o presidente é cristão maronita, o premiê, muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Drusos, cristãos ortodoxos, armênios, melquitas e outras minorias possuem seus cargos. O Parlamento é metade cristão, metade muçulmano (e druso), com suas subdivisões.
Para complicar, as facções políticas se dividem em duas, com nomes de datas. Uma, a 8 de Março, conta com xiitas e cristãos. A outra, 14 de Março, com sunitas e cristãos. Os primeiros são aliados do Irã e de Assad. Os seguintes, dos EUA, Arábia Saudita e da oposição síria.
Eles divergem em praticamente tudo e têm um apoio quase idêntico da população libanesa. Você acha que democratas e republicanos nos EUA ou tucanos e petistas no Brasil divergem? Visite o Líbano e veja a que ponto chega o antagonismo.
Ainda assim, depois de 11 meses de governo interino, o premiê Tammam Salam conseguiu formar um governo de união nacional, levando em consideração todas as divisões religiosas e políticas, no esquema 8-8-8 – oito da 14 de Março, 8 da 8 de Março e 8 centristas (drusos ou ligados ao presidente Michel Suleiman e ao premiê). Antes que os desinformados venham dizer que o Hezbollah controla o governo libanês, vamos ver cada um dos ministros pela sua religião e seu grupo político.
Ministros Centristas
Primeiro Ministro, Tammam Salam, muçulmano sunita
Vice-premiê e ministro da Defesa, Samir Moqbel, – cristão grego-ortodoxo
Ministro da Saúde, Wael Abu Faour – druso
Ministro da Agricultura, Akram Shehayyeb – druso
Ministro do Meio-Ambiente, Mohammad Mashnouq – sunita
Ministro dos Deslocados, Alice Shabtini – cristã maronita
Ministro dos Assuntos Sociais, Rashid Derbas – muçulmano sunita
Ministro dos Esportes e da Juventude, Abdul Muttaleb Al-Hinawi – Muçulmano xiita
Ministros da 14 de Março (sunitas e cristãos)
Ministro do Interior, Nuhad Mashnouq – muçulmano sunita
Ministro das Telecomunicações, Boutros Harb – cristão maronita
Ministro do Trabalho, Sejaan Azzi – cristão maronita
Ministro do Turismo, Michel Pharaon – cristão melquita (grego-católico)
Ministro da Informação, Ramzi Joreige – cristão grego-ortodoxo
Ministro da Justiça, Ashraf Rifi – muçulmano sunita
Ministro da Economia, Alain Haim – católico romano
Ministro de Estado, Nabil De Freij – protestante
Ministros da 8 de Março (xiitas e cristãos)
Ministro da Energia, Artur Nazarian – cristão Armênio-Ortodoxo
Ministro da Cultura, Remon Areiji – cristão maronita
Ministro da Educação, Elias Abu Saab – cristão maronita
Ministro das Relações Exteriores, Gebran Bassil – cristão maronita
Ministro de Estado, Mohammed Fneish – muçulmano xiita
Ministro da Indústria, Hajj Hasan – muçulmano xiita
Ministro das Finanças, Ali Hassan Khalil – muçulmano xiita
Ministro dos Transportes, Ghazi Zeaiter – muçulmano xiita
Agora, a matemática
Número de ministros cristãos (independentemente da denominação) – 12
Número de ministros muçulmanos e drusos (independentemente da denominação) – 12
Número de ministros cristãos maronitas – 6
Número de ministros muçulmanos sunitas – 5
Número de ministros muçulmanos xiitas – 5
Número de ministros drusos – 2
Número de ministros cristãos grego-ortodoxos – 2
Número de ministros cristãos grego-católicos (melquitas) – 1
Número de ministros cristãos armênio-ortodoxos – 1
Número de ministros protestantes – 1
Número de ministros católico-romanos – 1
Número de ministros homens – 23
Número de ministras mulheres – 1
Número de ministros do Hezbollah – 2
Número de ministros pró-Assad – 8
Número de ministros anti-Assad – 8
Conclusão – O Ministério libanês favorece os cristãos em detrimento dos muçulmanos. Isso é aceito por todos os lados. O Hezbollah tem 1/12 do governo, sendo completamente equivocado dizer que controlam o gabinete. Um terço dos ministros é anti-Hezbollah. As mulheres lamentavelmente quase não são representadas no Ministério, apesar de o Líbano ser disparado o país árabe mais liberal
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