No último sábado, comentamos aqui a decisão do patriarca da Igreja Ortodoxa Grega em apoiar o voto no "sim" para que o governo grego aceitasse as condições impostas pelo FMI, pelo Banco Central Europeu e pelos bancos credores do país.
Realizado o plebiscito ontem, 5 de julho de 2015, mais de 60% dos gregos seguiram a direção contrária, preferindo o "não", apesar da intensa campanha midiática que insistia em que o país se sujeitasse às condições da troica financeira que quer ver a dívida paga.
Algumas observações merecem ser feitas de imediato.
Em primeiro lugar, todo mundo sabe que a dívida grega é impagável. O país já sofre as consequências de um alto custo social das medidas econômicas visando satisfazer os credores.
Todos também sabiam que, ganhando o "sim" ou o "não", o cenário continuaria sendo o de uma catástrofe, uma terra arrasada sem fim.
Ao que parece, a população grega preferiu o caos de uma economia em frangalhos na qual ela ainda tivesse algum poder de decisão sobre a própria desgraça, embora ninguém saiba dizer como isso acontecerá.
A democracia grega, mãe eterna de todas as formas de participação popular que o mundo conhece, foi mais uma vez pioneira ao dizer "não" à elite financeira que comanda o mundo.
Os gregos preferiram o exemplo de Leônidas e seus 300 de Esparta para resistir ao avassalador exército persa de Xerxes, que hoje fala alemão.
Tudo muito helenicamente romântico e trágico ao mesmo tempo, mas tudo indica que a dialética ateniense prevalecerá já no curto prazo.
É muito provável que a insurreição grega venha a ser sufocada o quanto antes. O "mau exemplo" que eles deram ao mundo, ao resistir à ocupação financeira, tem que ser derrotado sem demora.
Não se surpreenda, portanto, se as (antes) rigorosíssimas autoridades financeiras europeias tratarem de - rapidamente - conseguirem um acordo com o governo grego.
Quem conhece os intestinos do sistema econômico-financeiro mundial, algo que este que vos escreve já teve o desprazer de conhecer, sabe que os governos - de qualquer orientação ideológica - existem para satisfazer os desejos vorazes de uma ínfima elite biliardária que manipula a política e a imprensa a seu bel prazer.
Suspeitamos, portanto, que - apesar da grandeza do gesto de Esparta - nada mudará no establishment econômico europeu e mundial.
Para essa gente, a crise grega foi, e continuará sendo, apenas um acidente de percurso que precisa ser esquecido o mais rápido possível.
Não se iludam, Termópilas cairá!
Não se iludam, Termópilas cairá!
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