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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O intrincado arranjo político-religioso que garante a governabilidade do Líbano


Guga Chacra, em seu blog no Estadão, conta como as facções político-religiosas conseguem entrar em acordo para garantir a paz e a governabilidade do Líbano, em constante risco desde a guerra civil que devastou o país de 1975 a 1990:

Michel Aoun, maior líder cristão do Oriente Médio, deve ser presidente do Líbano

O ex-general Michel Aoun, principal líder político dos cristãos libaneses em décadas e aliado do Hezbollah, deve ser eleito presidente do Líbano, se tornando a mais importante liderança política cristã de todo o Oriente Médio, onde os demais países são governados por muçulmanos ou, no caso de Israel, um judeu.

Samir Geagea, também cristão e seu inimigo desde os tempos da Guerra Civil Libanesa (1975-90), anunciou que abandonará a sua candidatura para apoiar Aoun. Desta forma, está aberto o espaço para a eleição do ex-general. E o Líbano se consolida mais uma vez como a nação onde os cristãos possuem mais força em todo o Oriente Médio.

O presidente do Líbano, por lei, tem de ser cristão maronita, assim como o premiê precisa ser muçulmano sunita e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita e o chefe das Forças Armadas também cristão maronita. Cabe aos parlamentares, eleitos democraticamente, o elegerem – metade do Parlamento é cristão, com subdivisões entre maronitas, ortodoxos, melquitas, armênios e outras, e metade muçulmana, com subdivisões entre sunitas, xiitas, alauítas e drusos.

O Líbano, nos últimos anos, é dividido em duas principais coalizões. A primeira, chamada 8 de Março comandada pelo partido cristão Frente Patriótica Nacional, de Michel Aoun, com o apoio de outros partidos cristãos e dos grupos xiitas Hezbollah e Amal, conta com o suporte do Irã e do regime de Bashar al Assad. A outra, chamada 14 de Março, comandada por Saad Hariri e com o apoio da Arábia Saudita, conta com os principais partidos sunitas e de alguns partidos cristãos, como o de Gegea. Os drusos mantinham neutralidade.

Há quase dois anos, os libaneses estão sem presidente, desde o fim do mandato de Michel Suleiman. Tanto Aouns quanto Geagea insistiam em ser candidatos, mas nenhum conseguia 50% porque dependiam do líder druso Walid Jumblatt.

O temor de Geagea era de um acordo para que um terceiro candidato, chamado Suleiman Frangieh e também cristão, fosse eleito. Geagea é acusado de líder operação que matou o pai, a mãe, a irmã e o cachorro de Frangieh durante a Guerra Civil e os dois se odeiam.

A escolha de Aoun, se concretizada, fortalece, primeiro, os cristãos libaneses, que terão talvez o seu presidente mais poderoso em 40 anos. Em segundo lugar, o Hezbollah, que sempre foi um aliado de Aoun. Já no caso de Assad é um pouco mais complexo. Aoun ficou 15 anos no exílio por ser contra a presença síria no Líbano. Mas se aliou ao regime quando voltou por questões políticas, não ideológicas.



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