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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Papa rejeita doação de 16.666.000 pesos do governo argentino

Que as relações entre o papa Francisco e o atual presidente argentino, Mauricio Macri, não são nada boas, isso já se sabia, sobretudo em razão da prisão - desde janeiro de 2016 - da líder popular Milagro Sala, na província de Jujuy, no Norte do país.

Apesar de ser parlamentar do Mercosul e da Legislatura jujeña, a ativista peronista Milagro Sala continua presa, malgrado os protestos papais e internacionais que a consideram uma presa política e exigem a sua liberação.

Agora, não se sabe a razão exata pela qual caiu muito mal a iniciativa de Macri em doar 16.666.000 pesos à Fundação Pontifícia Scholas Occurrentes, instituição com responsabilidades educacionais e ligada à Igreja Católica.

Seria o cabalístico número 666 uma provocação subliminar introduzida no meio da cifra milionária? Teria sido a pressa do governo argentino em demonstrar - com a doação - que está tudo às mil maravilhas entre Francisco e Macri?

A quantia equivale hoje, pelo câmbio oficial, a 4.124.162 reais brasileiros, cá entre nós, uma soma nada fácil de ser rejeitada, mas o papa não se deu por logrado e bateu a porta na cara do presidente argentino. Com gosto, pelo jeito...

Já pensou se Michel Temer resolve doar uns milhõezinhos às denominações ditas "evangélicas" lideradas por certos "pastores" que o ajudaram a tomar o poder?

Como se comportariam certas celebridades "góspeis" ao ouvir milhões de moedas originárias de dinheiro público tilintando no cofre do Tio Patinhas?

Você acha que eles rejeitariam? (risos sarcásticos)

A matéria é do IHU:

Quando a esmola é grande, até o Papa desconfia

Bergoglio ordenou não aceitar os 16 milhões e 666 mil pesos que o Governo doou à Fundação Scholas Occurrentes. A decisão aumentou novamente a tensão na relação entre o Governo e o Papa Francisco.

A reportagem é de Washington Uranga e publicada por Página/12, 12-06-2016. A tradução é de André Langer.

Em um gesto de indubitável repercussão política, o Papa Francisco ordenou aos responsáveis da Fundação Pontifícia Scholas Occurrentes para que não aceitem a doação de 16 milhões e 666 mil pesos que lhe foram outorgados há 10 dias pelo governo de Mauricio Macri com a finalidade de contribuir para a “manutenção da equipe profissional, da infraestrutura e do equipamento da sede central” da organização impulsionada por Bergoglio.

De maneira extra-oficial, sabia-se que a decisão tornada pública pelo Governo como um gesto de aproximação com Francisco caiu muito mal no Vaticano e deixou o Papa chateado. O sítio italiano Vatican Insider refletiu isso em uma nota que deu conta da perplexidade que a doação causou em Bergoglio e que mesmo no Vaticano pareceu uma brincadeira de mau gosto o fato de que a doação fosse de 16 milhões e 666 mil pesos, quando se sabe que “666” é “o número da besta”.

Agora, em uma carta com data de 09 de junho e dirigida a Marcos Peña, na sua condição de Chefe de Gabinete, os responsáveis pela Scholas Occurrentes, José María del Corral (presidente) e Enrique Palmeyro (secretário), comunicaram ao governo de Mauricio Macri que “considerando que há quem queira desvirtuar este gesto institucional feito no marco da Lei 16.698, com a finalidade de provocar confusão e divisão entre os argentinos, e de acordo com os comentários compartilhados por telefone, achamos por bem suspender a contribuição econômica não reembolsável destinada a cobrir os gastos com pessoal, infraestrutura e equipamento da sede central em nosso país”.

Colocando em relevo, no entanto, a necessidade de recursos que a fundação tem, os assinantes assinalam na mesma carta que “procuraremos obter este aporte necessário no imediato através dos organismos multilaterais de crédito e da ajuda de privados”.

A Fundação Scholas Occurrentes é uma rede mundial educativa que pretende promover a vinculação entre escolas de todo o mundo, compartilhar projetos, estabelecer alianças e cooperação, com a intenção de favorecer as escolas de recursos mais baixos propiciando uma educação sem excluídos. Os antecedentes da iniciativa remontam ao tempo em que Bergoglio era arcebispo de Buenos Aires, e sob o lema de “Escolas irmãs” impulsionou uma linha de ação que denominou “unir escolas, esportes populares e solidariedade”.

Por decisão e impulso do Papa, desde agosto de 2015 a fundação tem reconhecimento legal por parte do Vaticano e conta com uma direção formada por três argentinos: o bispo Marcelo Sánchez Sorondo e dois colaboradores próximos a Francisco: José María del Corral e Enrique Palmeyro.

Em 2014, por solicitação da hoje ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, o Congresso aprovou a Lei 26.985 declarando de “interesse nacional” o projeto Scholas Occurrentes.

Um dos pontos que mais chateou o Papa sobre a doação foi que a determinação não lhe foi comunicada oficialmente, mas que tomou conhecimento do decreto assinado por Macri através da imprensa. Por esse mesmo motivo, Bergoglio fez saber também seu descontentamento a Palmeyro e del Corral, a quem teria reprovado o gesto assinalando que a Argentina tem outras necessidades mais urgentes e às quais o Governo deve atender.

O chefe de Gabinete, Marcos Peña, aceitou o pedido dos diretores da Scholas para anular a doação e respondeu com outro texto no qual assinalou que “sem prejuízo de tomar nota da suspensão proposta, ratificamos o compromisso do nosso Governo de acompanhar a Fundação na importante tarefa de impulsionar e defender os valores da paz, da inclusão e do encontro dos jovens de todo o mundo”.

A contrariedade de Francisco com a doação oficial aumentou após perceber que diversos porta-vozes da Aliança Mudemos procuraram apresentar o subsídio como uma forma de “reconciliação” com o Papa depois que a máxima autoridade da Igreja católica fez manifestações muito claras de distanciamento com o governo de Macri, incluindo seu gesto adusto nos apenas 22 minutos de audiência que lhe concedeu em 27 de fevereiro passado no Vaticano.

Sobre a doação à Scholas, Juan Grabois, um dirigente social muito próximo ao Papa, disse ao Vatican Insider que quem “pensa que por dar dinheiro, especialmente recursos públicos, a uma fundação, escola, ONG, cooperativa ou movimento popular pelo simples fato de estar direta ou indiretamente vinculado ao Papa, está fazendo um ‘gesto a Francisco’ é realmente um imbecil, além de corrupto e prevaricador”.

No sábado, foi divulgada a notícia de que Grabois, líder da Confederação da Economia Popular e do Movimento de Trabalhadores Excluídos (TEM), foi nomeado pelo Papa como consultor do Pontifício Conselho da Justiça e Paz. Este organismo vaticano, integrado majoritariamente por leigos, trabalha para “a formação entre os povos de uma sensibilidade sobre o dever de promover a paz” e desenvolver ações pela justiça no mundo.

Uma vez conhecida a sua nomeação, Grabois disse que “este é um reconhecimento para a tarefa dos movimentos populares e um estímulo para continuar trabalhando, como fiz até agora, pelos direitos dos mais pobres”.

O dirigente é uma pessoa da confiança de Bergoglio desde quando o agora Papa era arcebispo de Buenos Aires e tem uma ativa presença em organizações sociais de favelas e bairros pobres da Grande Buenos Aires, trabalhando com carrinheiros, vendedores ambulantes, camponeses, costureiros, artesãos e operários de empresas recuperadas.

Já em Roma, Francisco confiou a Grabois a organização dos encontros de movimentos populares que o Papa presidiu em Roma em outubro de 2014 e em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, em julho de 2015. O agora consultor da Justiça e Paz é também professor de Teoria do Estado na Universidade de Buenos Aires (UBA) e de prática profissional na Universidade Católica Argentina (UCA).



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