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sábado, 21 de outubro de 2017

Celebrando os 500 anos da Reforma com Lutero - parte 21


ENCARNAÇÃO: A REDENÇÃO

(para ler o texto anterior, clique aqui)

Ademais, como os anjos no céu o adoram e o chamam de seu Senhor, enquanto jaz na manjedoura, e dizem aos pastores, Lc 2[.11]: “Eis que vos nasceu o Salvador, Cristo, o Senhor”, etc., ele deve ser verdadeiro /Deus. Pois os anjos não adoram mera carne ou natureza humana. Por isso, deve haver tanto Deus quanto ser humano, lado a lado, nessa pessoa. E, ao falar de Cristo, fala-se de uma pessoa indivisa, que é Deus assim como homem. Aquele que vê, ouve ou encontra Cristo com a fé do coração, certamente não encontra apenas o homem, mas, também, o verdadeiro Deus. Assim, não deixamos Deus sentado ocioso no céu entre os anjos, mas o encontramos aqui embaixo, deitado na manjedoura e no colo da mãe. Resumimos dizendo: “Onde encontramos essa pessoa, certamente encontramos a Majestade Divina”.

Como se disse frequentemente, isso nos possibilita resistir ao diabo e derrotá-lo na agonia da morte e em outras necessidades, quando nos aterroriza com o pecado e o inferno. Pois, se ele lograsse fazer com que eu considerasse Cristo como mero homem que foi crucificado e morreu por mim, então eu estaria perdido. Porém, se atribuo toda a importância ao fato de Cristo, verdadeiro Deus assim como verdadeiro homem, ter morrido por mim, isso excede e eclipsa em muito todo pecado, morte, inferno e qualquer miséria e aflição. Pois, se sei que aquele que é verdadeiro Deus sofreu e morreu por mim e que, por outro lado, este mesmo verdadeiro homem ressuscitou dos mortos, ascendeu ao céu, etc., então posso concluir, com certeza, que meu pecado e minha morte foram abolidos e superados por este e que Deus não mais me vê com ira e desfavor, porque vejo e ouço nessa pessoa nada além de sinais e obras de pura graça.

Cuida, portanto, para que compreendas essa doutrina de tal maneira que preserves a pessoa de Cristo por inteiro e lhe atribuas as funções de ambas as naturezas, embora estas sejam distintas. Pois, de acordo com a natureza divina, ele não nasceu de um ser humano, nem assumiu coisa alguma da Virgem. É verdade que Deus é Criador e que o homem é criatura. Mas, aqui, os dois se reuniram em uma única pessoa, e, agora, Deus e homem são um Cristo. Maria deu à luz um filho, e os judeus crucificaram uma pessoa que é Deus e homem. Caso contrário, se ele fosse somente homem, como o são outros santos, não seria capaz de nos livrar de um só pecado ou de apagar um tiquinho do fogo do inferno com toda sua santidade, sangue e morte.

Este é o conhecimento, a doutrina e o consolo que temos de Cristo com base na Escritura, embora o mundo e a esperta razão os considerem pura tolice. Mas deixemos que outros sejam perspicazes em nome de seu deus, o diabo, e se danem com sua inútil gramática e retórica, com que pretendem corrigir a Escritura, rasgá-la ou, pelo menos, anulá-la. São uns pobres gramáticos, ou seja, pessoas que, repetidamente, lutaram e se atormentaram com o pecado e a morte ou que brigaram e porfiaram com o diabo. Deixemos que ensinem as regras de como falar latim corretamente, que interpretem seus poetas, seus juristas e seus médicos e que sejam espertos e instruídos em seu próprio ofício. Nessas questões, porém, não queremos ter outros árbitros senão aqueles que provaram e experimentaram o poder dessa doutrina.

São espíritos importunos e nocivos que jamais estiveram em uma batalha ou experimentaram algo em questões espirituais. No entanto, imediatamente, querem colocar-se, baseados em sua razão, como mestres da Escritura e julgar sobre questões tão sublimes. Eles fazem o mesmo em relação a outros assuntos, como o Batismo, o Evangelho e o Sacramento. “Água é água” (dizem eles) “e pão é pão. Em que isso pode ajudar a alma? Por acaso, as palavras do pregador são mais do que um hálito passageiro?”, etc. Imaginam que deram uma grande contribuição quando apresentam o que aprenderam no jardim-de-infância e declaram que água não é fogo. Mas, se estivessem experimentado, alguma vez, o poder e o efeito do Batismo, do Sacramento e da Palavra oral, certamente ficariam de boca fechada.

Experimentei, louvado seja Deus, um pouco do que é essa doutrina e do que ela é capaz e a sustentei diante de outros espíritos cujo dedo mínimo é mais instruído e inteligente do que todos esses gramáticos. E também vi que essa doutrina foi preservada durante mais de mil anos contra todas as cabeças espertas e diabos no inferno que se opuseram a ela. Certamente, sobreviverá a todos eles. Por isso, honremos o Espírito Santo, admitindo que ele sabe mais e é mais inteligente do que nós e nosso conhecimento infantil e preservemos essa doutrina em sua pureza de acordo com a Escritura.

(LUTERO, Martinho. Os capítulos 14 e 15 de S. João, pregados e interpretados pelo Dr. Martinho Lutero e Capítulo 16 de S. João, pregado e explicado, 1537-1538. Tradução de Hugo S. Westphal e Geraldo Korndörfer, in MARTINHO LUTERO. Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal. Porto Alegre: Concórdia. Canoas: Ulbra, 2010, vol. 11, págs. 144-146)

(aqui termina o comentário de Lutero sobre João 14:6a)



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