Mário Magalhães, um dos poucos bons jornalistas deste país, não é mais ombudsman da Folha de S. Paulo. Seu mandato de um ano não foi renovado, sob a simplória alegação de que sua crítica interna diária estava sendo usada pela concorrência e "instrumentalizada por jornalistas ligados ao governo federal", segundo as palavras do todo-poderoso diretor de redação da Folha, o iluminado Otávio Frias Filho.
No seu lugar entra Carlos Eduardo Lins da Silva, certamente mais afinado com os oráculos da Alameda Barão de Limeira.
Lembro-me que, algum tempo antes da eleição de 1989, Lins da Silva comparou a oratória de Collor à de um pastor batista do interior, isso numa época em que ser evangélico no Brasil ainda não era fashion.
Pelo contrário, como a própria idéia absurda mostra, o atual ombudsman da Folha nem tinha idéia do que era ser pastor batista em qualquer lugar do Brasil ou do mundo.
Manifestava, apenas, seu preconceito contra os evangélicos.
Numa época em que não havia Internet, enviei-lhe uma carta (pelo correio, acredite, este hábito já existiu) expondo a ofensa que ele fazia aos batistas comparando-os com Collor, à qual, por sinal, ele respondeu educadamente dizendo que não tinha sido aquela a sua intenção.
Vinte anos se passaram, quem sabe o Carlos Eduardo tenha melhorado um pouquinho nas suas análises.
Entretanto, a Folha perde um grande ombudsman, e temo que tenha perdido também o melhor jornalista que ainda tinha nos seus quadros e os poucos leitores que ainda acreditavam na alardeada isenção do jornal.
Mário Magalhães vai fazer falta.
Usando a frase antológica de sir Frias Filho, o caminho está aberto para que a Folha toda seja "instrumentalizada por jornalistas ligados ao governo (desde que este seja do PSDB)".
Prevaleceu a certeza de que a imprensa está cada vez mais enredada com o projeto aristocrático tucano de democracia: críticas e denúncias, só envolvendo os outros, please!
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