O massacre de inocentes na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, por mais inexplicável e injustificável que pareça (e seja) aos nossos olhos, desperta em nós os instintos mais primitivos, como diria um ex-deputado cassado, também carioca. À medida em que as horas e os dias passam, tentamos, entretanto, procurar explicações e nos deparamos com a gigantesca miséria humana à qual julgávamos estar imunes, e que nos afeta a todos, democrática e lamentavelmente. A notícia do jornal O Globo, de que o corpo do responsável pela barbárie, Wellington Menezes de Oliveira, permanece no Instituto Médico Legal sem que ninguém o reclame, acrescenta uma pitada de indigência ao enredo macabro, que mesmo assim não deixa de ter relevância.
Segundo os primeiros relatos, ao que tudo indica, Wellington era um rapaz tímido e desajustado socialmente embora este desajuste não se traduzisse em atos de rebeldia ou violência perceptíveis a olho nu. Filho adotivo de uma família humilde do subúrbio carioca, cuja mãe biológica já era esquizofrênica, foi criado e educado aparentemente com todo o carinho e cuidado possíveis a uma família nessas condições. ¡Que estranho desajuste emocional e social que é este que fica cozinhando em fogo brando por mais de 20 anos! As informações são desencontradas ainda, já que os familiares e amigos próximos, compreensivelmente, evitam aparecer e dar declarações sobre a história pregressa do hoje facínora. Fica difícil, portanto, traçar um perfil psicológico detalhado de Wellington, mas, a julgar pela carta que deixou (vide abaixo), ele teria tido sérios problemas de sexualidade e misticismo religioso que se juntaram no caldeirão de desgraças estruturais da sua personalidade, e resultaram no massacre do último dia 7 de abril.
O corpo de Wellington permanece no IML e, se ninguém reclamá-lo nos 15 dias seguintes à sua morte, ele será enterrado como indigente. O desejo de muitos hoje seria matá-lo tantas vezes quantas fosse possível antes de enterrá-lo, mas temos que aproveitar o momento para refletir sobre que tipo de sociedade estamos vivendo, com todas nossas carências e omissões. Muitos Wellingtons vivem à nossa volta sem que nós percebamos que são pessoas doentes que precisam de tratamento especializado. É claro que 99,9999% desses Wellingtons que conhecemos ou trombamos na rua jamais farão uma loucura como a do Wellington de Realengo, mas precisamos desenvolver uma maneira coletiva de identificar possíveis Wellingtons e cuidadosamente orientá-los e encaminhá-los a pessoas, psicólogos, psiquiatras, instituições, etc., que possam dar um pouco de coesão a essas personalidades tão fragmentadas e dissociadas de um sentimento comunitário razoavelmente solidário e significativo.
Ainda que as invocações cerimoniais religiosas de Wellington quanto ao seu sepultamento sejam apenas um fruto diletante dos seus delírios automistificadores - e agradasse ao nosso íntimo a ideia de que seu corpo fosse atirado num lixão qualquer -, a sociedade não pode permitir que ele seja enterrado como indigente. Ainda que nos cause náusea a sua figura, ele tem rosto, nome, RG, CPF e - principalmente - uma triste história de vida empanada pela morte inútil e trágica. Podia ter ido embora sozinho e anônimo, é o que todos nós pensamos agora, mas na sua insana busca de fama (e infâmia) levou crianças inocentes e traumatizou todo um país. Ao conceder a Wellington um enterro de gente, não só promovemos um ritual e a catarse de sua descida ao inferno (que começou em vida) como estamos nos comprometendo conosco mesmos, coletivamente, de que também somos gente e vamos tratar os muitos desajustados à nossa volta como gente, dentro do possível que cada um pode fazer, para evitar que tenhamos que descer a novos infernos como este. O momento exige coragem para enfrentarmos os novos fantasmas e exorcizarmos os nossos medos. Coragem para, apesar da dor, ainda cantar o refrão de "Divino, Maravilhoso", letra de Caetano Veloso e Gilberto Gil, na interpretação de Gal Costa: "é preciso estar atento e forte, não temos que temer a morte".
Segundo os primeiros relatos, ao que tudo indica, Wellington era um rapaz tímido e desajustado socialmente embora este desajuste não se traduzisse em atos de rebeldia ou violência perceptíveis a olho nu. Filho adotivo de uma família humilde do subúrbio carioca, cuja mãe biológica já era esquizofrênica, foi criado e educado aparentemente com todo o carinho e cuidado possíveis a uma família nessas condições. ¡Que estranho desajuste emocional e social que é este que fica cozinhando em fogo brando por mais de 20 anos! As informações são desencontradas ainda, já que os familiares e amigos próximos, compreensivelmente, evitam aparecer e dar declarações sobre a história pregressa do hoje facínora. Fica difícil, portanto, traçar um perfil psicológico detalhado de Wellington, mas, a julgar pela carta que deixou (vide abaixo), ele teria tido sérios problemas de sexualidade e misticismo religioso que se juntaram no caldeirão de desgraças estruturais da sua personalidade, e resultaram no massacre do último dia 7 de abril.
O corpo de Wellington permanece no IML e, se ninguém reclamá-lo nos 15 dias seguintes à sua morte, ele será enterrado como indigente. O desejo de muitos hoje seria matá-lo tantas vezes quantas fosse possível antes de enterrá-lo, mas temos que aproveitar o momento para refletir sobre que tipo de sociedade estamos vivendo, com todas nossas carências e omissões. Muitos Wellingtons vivem à nossa volta sem que nós percebamos que são pessoas doentes que precisam de tratamento especializado. É claro que 99,9999% desses Wellingtons que conhecemos ou trombamos na rua jamais farão uma loucura como a do Wellington de Realengo, mas precisamos desenvolver uma maneira coletiva de identificar possíveis Wellingtons e cuidadosamente orientá-los e encaminhá-los a pessoas, psicólogos, psiquiatras, instituições, etc., que possam dar um pouco de coesão a essas personalidades tão fragmentadas e dissociadas de um sentimento comunitário razoavelmente solidário e significativo.
Ainda que as invocações cerimoniais religiosas de Wellington quanto ao seu sepultamento sejam apenas um fruto diletante dos seus delírios automistificadores - e agradasse ao nosso íntimo a ideia de que seu corpo fosse atirado num lixão qualquer -, a sociedade não pode permitir que ele seja enterrado como indigente. Ainda que nos cause náusea a sua figura, ele tem rosto, nome, RG, CPF e - principalmente - uma triste história de vida empanada pela morte inútil e trágica. Podia ter ido embora sozinho e anônimo, é o que todos nós pensamos agora, mas na sua insana busca de fama (e infâmia) levou crianças inocentes e traumatizou todo um país. Ao conceder a Wellington um enterro de gente, não só promovemos um ritual e a catarse de sua descida ao inferno (que começou em vida) como estamos nos comprometendo conosco mesmos, coletivamente, de que também somos gente e vamos tratar os muitos desajustados à nossa volta como gente, dentro do possível que cada um pode fazer, para evitar que tenhamos que descer a novos infernos como este. O momento exige coragem para enfrentarmos os novos fantasmas e exorcizarmos os nossos medos. Coragem para, apesar da dor, ainda cantar o refrão de "Divino, Maravilhoso", letra de Caetano Veloso e Gilberto Gil, na interpretação de Gal Costa: "é preciso estar atento e forte, não temos que temer a morte".
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