Este blog não tem nem usa bola de cristal, mas há tempos vem constatando o óbvio: na verdade, o neoateísmo é uma antiga religião.
Comprova - mais uma vez - essa tese a notícia que circulou ontem, de que construir uma rede de templos ateus é o novo projeto do filósofo suíço Alain de Botton, autor do livro "Religião para Ateus" (que eu até já comprei baratinho na promoção, prometo ler e comentar...), que segue a linha ateísta menos radical, como já demonstrou numa entrevista a Dan Stulbach no canal GNT da Globosat. Os templos ateus seriam construído por toda a Grã-Bretanha, e o primeiro deles já tem planta assinada pelo escritório de arquitetura de Tom Greenall, e consistiria numa enorme torre negra de 46 metros de altura aninhada entre os edifícios do centro financeiro de Londres, a famosa "City" londrina. A proposta arquitetônica é lançar um olhar em perspectiva sobre o centro da capital britânica (e simbolicamente sobre o mundo, é claro!) e os 46 metros não são despropositados, apesar de que os ateus - até outro dia - gostavam muito do acaso e do aleatório. Exercício de matemática básico: 46 metros são 4.600 centímetros, correto? Então... cada centímetro equivale a 1 milhão de anos da presumida idade da Terra (4.600.000.000 no total) e na base da estrutura haveria um fio dourado de 1 milímetro representando o período da presença humana no planeta, proporcionalmente à altura simbólica. Engraçado... mas não eram os ateus que criticavam tanto os rituais, símbolos e mitos das religiões?
Alain de Botton, é preciso reconhecer, já havia elogiado muito a beleza e a organização que as religiões, cada uma a seu modo, trouxeram ao mundo. Parece que ele tem enorme apreço pela estética, principalmente quando pergunta: "Por que as pessoas religiosas deveriam ter os prédios mais bonitos nessa terra? É chegada a hora dos ateus terem as suas próprias versões das grandes igrejas e catedrais". A inveja, ah! a inveja, como move o mundo, já diria outro ateu famoso chamado Friedrich Nietzche em sua "Genealogia da Moral". Pois é, Nietzche, parece que seus próprios colegas ateus se esqueceram completamente de você... o que até nos faz agradecer a ateus como Alain de Botton, porque eles nos poupam o trabalho de comprovar as nossas teses sobre o ateísmo. Eternamente agradecido, Alain!
O filósofo suíço sempre insistiu que os ateus deveriam copiar as maneiras como as religiões expuseram suas ideias e seus dogmas ao mundo, e um dos meios mais úteis foram as obras-primas representadas pelos seus templos, igrejas, mesquitas, sinagogas e catedrais. Ele acrescenta: "Como as religiões sempre souberam, um edifício bonito é uma parte indispensável para propagar a sua mensagem. Os livros por si só não seriam capazes disso". Indagado sobre a necessidade de um deus para se consagrar o templo, Alain de Botton rebate dizendo que "você pode construir um templo para qualquer coisa que é positiva e boa. Isto poderia significar, por exemplo, um tempo dedicado ao amor, à amizade, à calma ou à pespectiva". A sugestão do finado seriado cômico MadTV (vídeo abaixo) continua, então, atualíssima, e sua sugestão de ritual nas manhãs de domingo segue firme e forte. Logo, logo, veremos ateus tocando bumbo nas praças, distribuindo folhetos de dois em dois, passando a sacolinha, pedindo "sementes" de 900 paus e até comprando rede de TV para produzir um reality show em que beldades nuas discutem Dawkins e Hitchens, por que não? Afinal, estão cada dia mais religiosos, à sua maneira, é claro. E no enorme mercado da fé em que se tornou boa parte das denominações, sempre cabe mais um, não é mesmo? Por isso, não se surpreenda se daqui a algum tempo você ver algum ateu jogando tarô ou lendo bola de cristal...
Fonte: Dezeen
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