Artigo interessante do rabino Eric H. Yoffie no The Huffington Post:
TODOS SOMOS RELIGIOSOS, CADA UM DE NÓS.
A religião está profundamente enraizada na natureza humana e é uma resposta a certas necessidades profundas e universais da humanidade.
Eu escrevo essas palavras após ter lido o ensaio "Man The Religious Animal" ["Homem, o Animal Religioso"] na edição de abril de First Things. De autoria do professor Christian Smith da Universidade Notre Dame, e de forma claudicante, ele chega à conclusão de que os seres humanos são naturalmente religiosos, mas faz isso de tal maneira equívoca e até mesmo esquizofrênica, que o leitor fica com a ideia de que o professor Smith mal acredita na sua própria argumentação. Ele discute ambos os lados da questão com igual fervor, contando-nos ao longo do caminho que a religião não é uma parte essencial de quem nós somos; se enquadra mais numa capacidade ou predisposição que é desencadeada por circunstâncias particulares. Você não pode extinguir a religião, diz Smith, mas ela não é inevitável.
Eu não penso assim.
A religião é uma parte do nosso ser que dá expressão ao desejo humano pela transcendência. No nosso mundo frequentemente feio, a religião não nos diz o que é mas o que deveria ser. Ela responde à convicção, presente em todos nós, de que existe algo mais nas nossas vidas do que o cumprimento de uma necessidade imediata, ou a gratificação de um desejo premente. Para o animal humano, em outras palavras, a religião é a fonte de otimismo e esperança.
A religião é também a maneira pela qual os seres humanos respondem à diretiva bíblica (Gênesis 2:18) de que "não é bom para o homem estar sozinho". A Bíblia está certa; nós tememos a solidão. Para vencê-la e lidar com a fragilidade e vulnerabilidade de nossas vidas, nós procuramos o conforto da comunidade religiosa e as canções, orações e rituais que ela provê.
A religião pode ser mal utilizada, é claro. Ela pode se tornar em um instrumento para alienar aqueles que escolhem não se juntar à nossa comunidade religiosa, nem aceitar as verdades que ela proclama. Ainda pior, ela pode se tornar num instrumento para o exercício do poder, invocado por nacionalistas fanáticos e outros agentes do mal para justificar fatos cruéis e atos imorais.
Entretanto, a religião real é geralmente algo muito diferente: uma maneira pela qual as pessoas veem o mundo através dos olhos de outros, e para nos mover na direção do cuidado, da cura e da paz. O desejo por essas coisas vai tão fundo que - no frigir dos ovos - a religião falsa do tipo fanático dá lugar aos ensinamentos religiosos que envolvem nossas vidas com santidade - e provê significado que se estende para além dos - relativamente - poucos momentos que nós passamos na Terra.
"Muito poucas pessoas" não são religiosas, conclui o professor Smith, e estão felizes por deixar a religião para trás. A essa afirmação eu responderia que aproximadamente 85% da população mundial é composta por "religionistas" que se identificam com uma das 10.000 religiões do planeta. Eu também apontaria para a exuberante religiosidade do nosso mundo em nosso tempo, e ao ritmo vibrante da vida religiosa (em oposição às instituições religiosas, que podem ou não ser fortes). Eu argumentaria, ainda - na maior parte das vezes sem provas que faltam a mim e ao professor Smith - que aqueles que estão fora dos quadros religiosos, mesmo se eles falam em linguagem secular, consideram impossível de suprimir em suas próprias vidas o respeito e a admiração que as pessoas religiosas cultivam, as questões religiosas que elas perguntam e o anseio por uma comunidade religiosa que elas sentem.
Professor Smith, todos nós somos religiosos, gostando ou não.
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