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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Uma defesa linguística do homossexualismo

Calma, gente! Estamos falando de morfologia das palavras, mais precisamente dos afixos, que podem ser os prefixos, os infixos e os sufixos, que compõem a linguagem que falamos no nosso dia-a-dia.

Acontece que os movimentos gays preferem o uso da palavra "homossexualidade" em vez de "homossexualismo", sob o argumento de que o sufixo "ismo" indica doença, enfermidade, enquanto o sufixo "dade" indica condição, qualidade, um modo de ser.

Ora, no fabuloso (e utilíssimo) mundo dos afixos as regras não são tão rígidas assim, como você já deve ter percebido. 

O sufixo "ismo" geralmente indica - entre outras variáveis - uma ideologia, um sistema de crenças consolidado pelo tempo e pela experiência, uma área do saber regida por regras estabelecidas.

Exemplos? São vários: romantismo, laicismo, cristianismo, ateísmo, comunismo,  nazismo, jornalismo, e por aí vai...

Aí, quando o Malafaia explode na mídia falando sobre "homossexualismo", os jornalistas que repercutem o termo terminam arranjando encrenca com os movimentos gays que dizem prezar pelo purismo da semântica.

Em sua coluna publicada na Folha de S. Paulo ontem, 27/02/13, Helio Schwartsman faz uma defesa interessante de sua liberdade de utilizar o termo que bem entender. Confira abaixo:

Em defesa do homossexualismo

SÃO PAULO - Alguns membros de comunidades homoafetivas e simpatizantes me recriminaram porque, no sábado passado, numa coluna em que critiquei as declarações do pastor Silas Malafaia sobre gays, eu utilizei o termo "homossexualismo", e não "homossexualidade", como teriam desejado.

Estou ciente dessa preferência, mas receio que ela não tenha o fundamento alegado. Ao contrário do que dizem alguns militantes, simplesmente não é verdade que "-ismo" seja um sufixo que denota patologia. Quem estudou um pouquinho de grego sabe que o elemento "-ismós" (que deu origem ao nosso "-ismo") pode ser usado para compor palavras abstratas de qualquer categoria: magnetismo, batismo, ciclismo, realismo, dadaísmo, otimismo, relativismo, galicismo, teísmo, cristianismo, anarquismo, aforismo e jornalismo. Pensando bem, esta última talvez encerre algo de mórbido, mas não recomendo que, para purificar a atividade, se adote "jornalidade".

De qualquer forma e por qualquer conta, as moléstias são uma minoria. Das 1.663 palavras terminadas em "-ismo" que meu Houaiss eletrônico relaciona, apenas 115 (um pouco menos que 7%) designam doenças ou estados patológicos. E olhem que fui liberal em meus critérios, contabilizando mais de uma dezena de termos que descrevem intoxicações exóticas, como abrinismo e zincalismo.

Compreendo que os gays procurem levantar bandeiras, inclusive linguísticas, para mobilizar as pessoas. Em nome da cortesia pública, eu me disporia a adotar a forma "homossexualidade", desde que ela fosse defendida como uma simples predileção. Mas, enquanto tentarem justificar essa opção com base em delírios etimológicos, sinto-me no dever de continuar usando a variante em "-ismo". Alguém, afinal, precisa zelar para que preconceitos não invadam e conspurquem o universo de sufixos, prefixos e infixos. A batalha pode ser inglória, mas a causa é justa.



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