“Talvez haja mais compreensão e beleza na vida quando os raios ofuscantes do sol foram suavizados pelos contornos da sombra." (Virginia M. Axline)

domingo, 12 de janeiro de 2014

Ariel Sharon morre 31 anos depois do massacre de Sabra e Chatila


Faleceu ontem em Tel Aviv, aos 85 anos de idade, o comandante militar e ex-primeiro ministro de Israel Ariel Sharon, após passar 8 anos em coma em decorrência de um acidente vascular cerebral.

Figura controversa no já complicadíssimo tabuleiro do jogo político no Oriente Médio, Sharon passa para a história responsabilizado pelo massacre dos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no Líbano, um horroroso episódio que, por mais que tenham tentado abafar, jamais se descolará de sua biografia.

Naquele dia 16 de setembro de 1982, Sabra e Chatila representaram a conjunção tenebrosa de todos os fatores políticos e religiosos que continuam alimentando a guerra na chamada "Terra Santa".

Guga Chacra, colunista do Estadão e da Globo News e - ele próprio - descendente de cristãos libaneses , publicou em seu blog sua opinião sobre esse vergonhoso episódio que a humanidade nunca se esquecerá:

Qual o papel de Sharon (1928-2014) no massacre de Sabra e Shatila, cometido por cristãos libaneses?

Ariel Sharon morreu hoje, aos 85 anos, depois de passar os últimos oito em coma. Será sempre lembrado como herói por alguns e como criminoso de guerra por outros. Inclusive, dentro de Israel, sua imagem variou de acordo com o período. Há dezenas de ótimos obituários sobre a vida dele. Muitos neutros, alguns defendendo, outros atacando. Em português, recomendo o ótimo texto do Caio Blinder, na Veja . Eu vou me concentrar apenas no massacre de Sabra e Chatila porque já estive nestes campos três vezes, entrevistei sobreviventes e também milicianos cristãos envolvidos nas mortes.

Israel entrou no Líbano em 1982 supostamente por 48 horas para se vingar da morte de um diplomata israelense em Londres em ação atribuída à OLP. No fim, permaneceu em partes do território até 2000. O comando palestino, incluindo Yasser Arafat, estava no Líbano desde os anos 1970. A Guerra Civil libanesa havia se iniciado em 1975 e tinha diferentes facções cristãs, sunitas, xiitas e drusas, além do envolvimento do Exército da Síria.

Uma vez dentro do Líbano, Israel ocupou Beirute e levou adiante uma aliança com a facção cristã Phalange, fundada em 1936 com inspiração no Estado nazista de Hitler, comandada por Bashir Gemayel, então, com apenas 34 anos. O objetivo de Sharon era consolidar seus aliados cristãos no poder e assinar um acordo de paz com eles.

Gemayel foi eleito presidente do Líbano e, três semanas mais tarde, morreu em atentado terrorista. Seus seguidores, que atribuíram o ataque aos palestinos, decidiram se vingar. Ariel Sharon era ministro da Defesa de Israel, que controlava os campos de Sabra e Shatila e não impediu os cristãos falangistas de entrarem para cometer o massacre. Foram cerca de 2.000 mortos, incluindo mulheres e crianças, muitas vezes cortadas em pedaços pelos milicianos cristãos. Os soldados israelenses em nenhum momento os interromperam.

Posteriormente, o governo de Israel estabeleceu uma comissão investigadora comandada pelo juiz Yitzhac Kahan, que recomendou a saída de Sharon do posto de ministro da Defesa. Ele não foi considerado responsável direto, mas deveria, de acordo com o chefe da Justiça de Israel, ter previsto o que poderia ocorrer ao permitir a entrada dos cristãos falangistas, liderados por guerrilheiros de vinte e poucos anos.

Resumo– Israel controlava os campos de Sabra e Shatila. Quem cometeu os massacres foram os cristãos libanesas (em tempo, eu tenho origem cristã libanesa). Segundo a Justiça israelense, Sharon deveria ter previsto que os milicianos cristãos cometeriam os massacres



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