Existem histórias de vida pouco conhecidas das gerações mais jovens que parecem vir da ficção, como a do garoto britânico Stephen Demetre Gergiou, nascido em Londres em 1948, filho de pai greco-cipriota e mãe sueca, que mais tarde seria conhecido como cantor e compositor brilhante pelo nome artístico de Cat Stevens.
Naquele caldeirão efervescente de grandes talentos da virada dos anos 60 para os 70, Cat Stevens era um dos gênios, compondo e cantando músicas belíssimas que são conhecidas até hoje.
Em 1975, chegou a morar por três meses no Rio de Janeiro, e o Brasil era um lugar constante em suas viagens para se refugiar da fama e se inspirar no país (e na sua música) para recarregar o seu excepcional talento.
Se a história tivesse parado por aí, já seria o suficiente para se apreciar uma das maiores obras musicais do século XX. Só que em 1977 Cat Stevens se converteu ao islamismo e abandonou a carreira.
Isto numa época em que ser muçulmano era visto como algo estranho para um cristão ocidental, mas não havia toda essa aura de espanto pós-Bin Laden.
Afinal, o supercampeão boxeador norteamericano Cassius Clay também havia se convertido ao Islã em 1975, e usava o nome Muhammad Ali desde 1964, pelo qual se tornou mais conhecido, mas isso era visto como um fenômeno típico da revolta afroamericana contra a secular repressão no país.
Além disso, era comum ver ícones pop flertando com religiões exóticas para os ocidentais (da época) como budismo e hinduísmo.
Entretanto, mesmo numa época recém-saída da sociedade alternativa dos anos 60, soava estranho que um tremendo talento inglês com essa história de vida se tornasse muçulmano da noite para o dia.
Curiosamente, tudo teria começado em 1976 na praia de Malibu, na California (EUA), quando Cat Stevens teria ficado a um fio de morrer afogado durante um banho de mar, e teria prometido a Deus que - se Ele o salvasse - iria servi-lo daí em diante.
Na sua narrativa, uma grande onda teria aparecido "do nada" em seguida e o levado até a praia, assim meio o profeta Jonas sendo expelido pelo grande peixe.
A partir de então, procurou abrigo no budismo, numerologia, I Ching, etc., até que numa viagem de férias ao Marrocos, logo depois de ter visitado Ibiza, se encantou com o Aḏhān, o canto ritual muçulmano que convoca às orações diárias da religião.
Chamou-lhe a atenção que - pela primeira vez na vida, segundo ele disse - ouvia uma música cantada diretamente para Deus.
Em 1977 Cat Stevens se converteria oficialmente ao Islã e a partir de 1978 adotou o nome árabe de Yusuf Islam ("Yusuf" é uma das transliterações arábicas do nome "José"), o que lhe rendeu inclusive uma negativa de entrada nos Estados Unidos em 2004, provavelmente por outro Yusuf ou Youssef (ou outra forma de escrever o nome) estar na lista negra dos terroristas procurados pelas autoridades norteamericanas, problema que depois foi resolvido, não sem alguns incidentes diplomáticos com o Reino Unido.
Apesar de seu líder espiritual na época da conversão (o imã da mesquita que frequentava) ter lhe dito que não havia problema em prosseguir na carreira musical desde que observasse os valores morais da religião, Yusuf Islam, com aquele rigor, determinação e desejo de romper com o passado, típicos dos novos convertidos, preferiu abandoná-la.
Mesmo assim, seus álbuns continuaram vendendo aos milhões pelas décadas seguintes. Estimativas de 2007 davam conta de que ele continuava recebendo cerca de US$ 1,5 milhão ao ano em direitos autorais, isto porque em 2006 ele havia lançado um novo disco depois de décadas de ausência, mas sempre com o supremo cuidado de adequar sua nova música aos preceitos islâmicos.
De qualquer maneira, seria praticamente impossível suplantar a qualidade de sua música anterior, fruto de um talento raríssimo que soube combinar, ainda muito jovem, belas letras com melodias da melhor qualidade.
Sua canção mais conhecida talvez seja "Wild World", uma das mais belas composições musicais do gênero humano, que todo mundo conhece, mas pouca gente hoje se lembra que é dele.
Abaixo, segue um vídeo de "Wild World" numa apresentação em 1971, em seguida outra mais recente da mesma canção com trechos em zulu, já como Yusuf Islam.
Nesse segundo vídeo, afine seus ouvidos e perceba a finíssima delicadeza da melodia realçada pelo simples e belíssimo piano ao fundo (a partir de 1m30s). Coisa de gênio.
Depois, mais algumas belas composições do insuperável Cat Stevens, obras-primas como "Father and Son", "Morning Has Broken", "Where do the Children Play" e "The First Cut is the Deepest", só pra citar algumas.
Delicie-se:
Naquele caldeirão efervescente de grandes talentos da virada dos anos 60 para os 70, Cat Stevens era um dos gênios, compondo e cantando músicas belíssimas que são conhecidas até hoje.
Em 1975, chegou a morar por três meses no Rio de Janeiro, e o Brasil era um lugar constante em suas viagens para se refugiar da fama e se inspirar no país (e na sua música) para recarregar o seu excepcional talento.
Se a história tivesse parado por aí, já seria o suficiente para se apreciar uma das maiores obras musicais do século XX. Só que em 1977 Cat Stevens se converteu ao islamismo e abandonou a carreira.
Isto numa época em que ser muçulmano era visto como algo estranho para um cristão ocidental, mas não havia toda essa aura de espanto pós-Bin Laden.
Afinal, o supercampeão boxeador norteamericano Cassius Clay também havia se convertido ao Islã em 1975, e usava o nome Muhammad Ali desde 1964, pelo qual se tornou mais conhecido, mas isso era visto como um fenômeno típico da revolta afroamericana contra a secular repressão no país.
Além disso, era comum ver ícones pop flertando com religiões exóticas para os ocidentais (da época) como budismo e hinduísmo.
Entretanto, mesmo numa época recém-saída da sociedade alternativa dos anos 60, soava estranho que um tremendo talento inglês com essa história de vida se tornasse muçulmano da noite para o dia.
Curiosamente, tudo teria começado em 1976 na praia de Malibu, na California (EUA), quando Cat Stevens teria ficado a um fio de morrer afogado durante um banho de mar, e teria prometido a Deus que - se Ele o salvasse - iria servi-lo daí em diante.
Na sua narrativa, uma grande onda teria aparecido "do nada" em seguida e o levado até a praia, assim meio o profeta Jonas sendo expelido pelo grande peixe.
A partir de então, procurou abrigo no budismo, numerologia, I Ching, etc., até que numa viagem de férias ao Marrocos, logo depois de ter visitado Ibiza, se encantou com o Aḏhān, o canto ritual muçulmano que convoca às orações diárias da religião.
Chamou-lhe a atenção que - pela primeira vez na vida, segundo ele disse - ouvia uma música cantada diretamente para Deus.
Em 1977 Cat Stevens se converteria oficialmente ao Islã e a partir de 1978 adotou o nome árabe de Yusuf Islam ("Yusuf" é uma das transliterações arábicas do nome "José"), o que lhe rendeu inclusive uma negativa de entrada nos Estados Unidos em 2004, provavelmente por outro Yusuf ou Youssef (ou outra forma de escrever o nome) estar na lista negra dos terroristas procurados pelas autoridades norteamericanas, problema que depois foi resolvido, não sem alguns incidentes diplomáticos com o Reino Unido.
Apesar de seu líder espiritual na época da conversão (o imã da mesquita que frequentava) ter lhe dito que não havia problema em prosseguir na carreira musical desde que observasse os valores morais da religião, Yusuf Islam, com aquele rigor, determinação e desejo de romper com o passado, típicos dos novos convertidos, preferiu abandoná-la.
Mesmo assim, seus álbuns continuaram vendendo aos milhões pelas décadas seguintes. Estimativas de 2007 davam conta de que ele continuava recebendo cerca de US$ 1,5 milhão ao ano em direitos autorais, isto porque em 2006 ele havia lançado um novo disco depois de décadas de ausência, mas sempre com o supremo cuidado de adequar sua nova música aos preceitos islâmicos.
De qualquer maneira, seria praticamente impossível suplantar a qualidade de sua música anterior, fruto de um talento raríssimo que soube combinar, ainda muito jovem, belas letras com melodias da melhor qualidade.
Sua canção mais conhecida talvez seja "Wild World", uma das mais belas composições musicais do gênero humano, que todo mundo conhece, mas pouca gente hoje se lembra que é dele.
Abaixo, segue um vídeo de "Wild World" numa apresentação em 1971, em seguida outra mais recente da mesma canção com trechos em zulu, já como Yusuf Islam.
Nesse segundo vídeo, afine seus ouvidos e perceba a finíssima delicadeza da melodia realçada pelo simples e belíssimo piano ao fundo (a partir de 1m30s). Coisa de gênio.
Depois, mais algumas belas composições do insuperável Cat Stevens, obras-primas como "Father and Son", "Morning Has Broken", "Where do the Children Play" e "The First Cut is the Deepest", só pra citar algumas.
Delicie-se: