A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, cujos membros são mais conhecidos como mórmons, imaginava que pudesse ser benéfica para a denominação a enorme exposição na mídia local e mundial acarretada pela presença de um forte pré-candidato à Presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, ex-governador do Estado de Massachussets (2002-2007). Independentemente do fato de Romney continuar sendo um forte candidato a obter a vaga na disputa pelo Partido Republicano, tendo vencido ontem as prévias no Estado da Flórida com 46% dos votos sobre os 32% do segundo colocado, Newt Gingrich, parece que os mórmons estão tendo que enfrentar alguns efeitos colaterais um tanto quanto inesperados. O receio dos líderes da religião é que a campanha renhida reforce o preocupante fenômeno de desfiliação crescente dos membros da igreja nos últimos anos, provocado sobretudo pela facilidade com que sua história, seus preceitos e dogmas são questionados na internet. Como a maior parte dos apoiadores do Partido Republicano é formada por evangélicos fundamentalistas, e eles não consideram os mórmons como evangélicos no sentido lato do termo, a tendência é que essa divulgação de pontos contrários à fé mórmon só faça aumentar conforme o tempo passa. O que é mais grave é que os Estados Unidos são não apenas o berço da religião como também o lugar onde se encontra o maior contingente de membros. Quando o caso é repercutido na imprensa de Salt Lake City, capital do Estado de Utah, fundado por mórmons e onde está a sua sede mundial, além de 60% da população ser filiada à igreja, isto significa que nuvens negras cobrem o famoso Templo da cidade. Em artigo publicado no jornal The Salt Lake Tribune, Peggy Fletcher Stak comenta, por exemplo, que um estudante mórmon, consultando a internet, soube que o fundador da religião, Joseph Smith, tinha várias esposas, tendo inclusive se casado com uma adolescente de 14 anos de idade. Outro missionário mórmon, preparando uma lição para a escola dominical, obteve a informação de que o Livro de Mórmon, texto-base da igreja e atualmente objeto de um musical de sucesso na Broadway, teria sido plagiado de outra obra. Assim, surpreendidos pelas informações que encontram facilmente online, como acusações de plágio a outro texto-base, "A Pérola de Grande Valor", e os 130 anos de banimento de negros da plena comunhão com a igreja, cada vez mais mórmons estão enfrentando uma crise de fé, tendo muitos chegado a se desfiliar da igreja por se sentirem traídos, e ao fazer isso passam para o lado dos adversários da religião. Isto se deve principalmente ao fato de que, até bem pouco tempo atrás, a única fonte de informação para os mórmons era a sua própria liderança, que determinava o que eles deveriam saber sobre sua história oficial. Por isso, Marlin Jensen, historiador e líder da igreja, foi designado como um dos responsáveis por responder a essas questões e tentar aplacar a ansiedade dos afiliados. Segundo declarou ao The Salt Lake Tribune, "nunca antes tínhamos enfrentado essa era da informação, com redes sociais e blogs publicando pontos de vista sem investigá-los adequadamente. A igreja está preocupada com a desinformação e informações distorcidas, mas estamos fazendo o nosso melhor e tentando duramente fazer com que a nossa história seja contada de maneira acurada". Ressaltando que polêmicas como a da poligamia não têm tanta ênfase "porque não são necessariamente pertinentes ao que se ensina no presente", Jensen salientou ainda que "a igreja não faz nenhum esforço para esconder ou obscurecer a sua história", razão pela qual quer reforçar a publicação online de dados históricos confiáveis sobre o seu passado. De qualquer maneira, não é nada fácil para um mórmon se desfiliar de sua religião, nem tanto pela decisão em si, mas pelo rompimento brusco de laços familiares, profissionais e de amizade que essa atitude acarreta, sobretudo em Utah. Nessa altura do campeonato, parece não ser tão interessante assim que Mitt Romney vença as eleições primárias do Partido Republicano e assim se credencie para enfrentar o atual presidente Barack Obama no próximo dia 6 de novembro. Ficar debaixo da luz dos holofotes até lá não vai ser nada fácil...