No último mês de janeiro, um vídeo ficou rapidamente popular e se tornou viral na internet, estando hoje próximo da casa das 19 milhões de visualizações no youtube, sobre o qual já tivemos oportunidade de comentar aqui no blog, no artigo "A religião do ódio à religião". Nele, basicamente, o rapper gospel Jefferson Bethke declara que odeia a religião e ama Jesus, que é muito maior do que ela. Até aí nenhuma novidade, já que esta é a tendência atual do cristianismo como um todo, e o fenômeno dos "desigrejados" está aí apenas para confirmar a tese. Não deixa de ser curioso, entretanto, que se você for verificar a página do vídeo original no youtube, Bethke não mais permite comentários (talvez pela reação negativa, embora minoritária) e resolveu faturar em cima da polêmica. O sucesso do vídeo foi tão grande e tão rápido que não houve meio de vencer essa obsessão norteamericana pelo dinheiro. Business is business e vice-versa, como diria o caipira. Ainda que a descrição do vídeo diga que uma parte do dinheiro arrecadado será destinada a obras assistenciais, não fica claro que obras são essas, nem com que percentagem elas serão agraciadas. O vídeo de Bethke está vendendo camisetas (veja modelo abaixo), relógios, bonés, trilha sonora no iTunes, enfim, toda uma variedade de produtos que deixaria vexado o Merchan Neves, nosso maior expoente desse marketing de guerrilha midiática. Ah! E isso tudo sob o rótulo de "sem fins lucrativos/ativismo" do youtube. A conclusão óbvia a que se chega, lamentavelmente, é que Bethke, a pretexto de exaltar Jesus e odiar a religião, não perdeu nem um segundo quando se lhe apresentou a oportunidade de se tornar vendilhão no templo das vaidades virtuais. Neste caso, não há amor por Jesus que resista ao doce som das moedinhas tilintando no gazofilácio das religiões perdidas. Ao fazer isso, desconfio que ele tenha - involuntariamente - colocado o dedo na ferida e revelado ao mundo a razão de tanto ódio à religião. Ninguém está aqui questionando o triste fato de que a religião institucionalizada tem inúmeros defeitos e mazelas sobejamente conhecidos, mas especificamente no caso cristão (e evangélico, em particular), ela também serve como um freio (muito imperfeito, é claro) contra vaidades e ganâncias que subvertem a ortodoxia e se entregam aos prazeres mais mundanos, geralmente motivados e financiados pelo dinheiro. Não é de se surpreender, portanto, que muita gente deixe as denominações tradicionais (aí incluídas as pentecostais mais antigas) para dizer que "sentiu Deus falar no coração" para montar a sua própria igreja, e - coincidentemente - com o pretexto declarado de que querem se afastar dessa tal religiosidade. Ali, como "dono" e "inventor" da nova denominação, eles poderão fazer e dizer o que bem entendem, a seu bel prazer, e - principalmente - terão a chave do super-abençoado cofre da organização. Submissão pra quê? Procuremos o que é cômodo e lucrativo. Pau na religião, então...