"“O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao SENHOR: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio.” (Salmo 91:1)
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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Batistas do Sul são maiores apoiadores do livre porte de arma nos EUA


A matéria foi publicada no Estadão:

Análise: Evangélicos se opõem a controle de armas

Batistas do sul são os mais propensos a se opor a leis mais rigorosas para o porte de armas do que outros americanos que professam uma religião 

Sarah Pulliam Bailey / W. Post

O massacre de domingo foi o pior ocorrido em uma igreja na história moderna dos EUA. Para muitos evangélicos conservadores, políticas adotadas especificamente para o porte e uso de armas não estão detalhadas na Bíblia e eles não acham que medidas nesse sentido são constitucionais e poderiam resolver o problema dos assassinatos em massa, foi o que disse Russel Moore, presidente do braço político da Convenção Batista do Sul.

Os batistas do sul são os mais propensos a se opor a leis mais rigorosas para o porte de armas do que outros americanos que professam uma religião. Muitos americanos pertencentes a grandes grupos religiosos defendem leis mais rígidas, incluindo os protestantes negros (76%), os católicos (67%), os protestantes brancos (57%), de acordo com pesquisa realizada em 2013 pelo Public Religion Research Institute. Mas os evangélicos – que constituem um quarto da população --, são os menos inclinados a apoiar leis mais rigorosas a respeito (38% são a favor e 59% contra).

Para Jen Hatmaker, escritor e orador conhecido de Austin, o direito às armas se tornou um tema central de debate enraizado na política evangélica. “Conheço perfeitamente mulheres cristãs sensatas, amáveis, que não possuem armas que dirão que ‘não se trata de armas, mas do coração’. É espantoso”, disse ele. “Isso tem raízes profundas e inalteráveis no coração dos evangélicos conservadores, e é tão sagrado quanto a Trindade”.

Depois de o evangelista Franklin Graham ser convidado a rezar durante um café da amanhã da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), em 2014, ele sugeriu no Facebook que não estava de acordo com a exigência de verificação de antecedentes de todo mundo. Por outro lado, defendeu a verificação de antecedentes no caso de imigrantes muçulmanos.

As armas estão incorporadas na estrutura e na psique da cristandade americana desde sua fundação, afirma Karen Swallow Prior, professora de inglês na Liberty University, que escreveu por que carrega uma arma durante suas idas a áreas rurais da Virgínia. “O país foi fundado para escapar da perseguição religiosa. Os EUA se expandiram como um experimento em individualismo e adentraram fronteiras que exigiam armas para a sobrevivência, para autodefesa e para conseguir alimento”.

Os evangélicos também enfatizam muito mais o individualismo e a responsabilidade pessoal do que outros grupos religiosos.

Algumas pessoas acham que a razão pela qual os evangélicos não desejam leis mais rígidas no campo das armas é simples. Os evangélicos votam nos republicanos e os republicanos têm aversão por políticas mais rígidas para as armas. Muitos evangélicos também se opõem porque acham que elas podem acabar infringindo a liberdade religiosa.

“Acho que eles são totalmente partidários. Os evangélicos votam com base nas linhas do partido, tenham elas sentido teológico ou não. Os que são contra o aborto apoiariam qualquer coisa que fosse parte de uma agenda liberal, o que significaria, no final, endossar o aborto, se for parte dessa agenda”.

Em sua análise de dados de uma ampla pesquisa de 2016 chamada CCES Common Content Dataset, o cientista político Ryan Burge comparou as respostas de evangélicos, protestantes brancos e católicos à seguinte pergunta: Você apoia ou se opõe à uma proibição dos rifles de assalto?”. Ele encontrou diferenças que dependiam mais da filiação partidária do inquirido, se era democrata ou republicano, do que da sua identidade religiosa.

Joe Carter, editor da Gospel Coalition, acredita que os evangélicos são mais avessos a mais regulamentos porque são mais adeptos às armas. Os evangélicos brancos são os mais propensos a possuir uma arma, segundo estudo do Pew Research Center, publicado no Christianity Today. Segundo o estudo, 41% dos evangélicos brancos possuem uma arma, em comparação com 33% dos protestantes brancos (33%), indivíduos sem uma religião definida (32%), protestantes negros (29%) e católicos (24%).

Os evangélicos brancos (44%) também se mostram satisfeitos com as leis sobre armas. Por outro lado, pouco mais da metade dos americanos que professa uma religião (52%) acham que a legislação deve ser mais rígida. Segundo Joe Carter, muitos evangélicos apoiariam leis mais rigorosas se acreditassem que elas seriam eficazes para conter os assassinatos. “Mas eles não acreditam que um criminoso que mata pessoas inocentes irá atender a regras estabelecidas para a compra de armas de fogo”, disse ele. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO



terça-feira, 19 de setembro de 2017

Deputados evangélicos viram fiscais de tudo

Quadro "Não matarás", de José Zaragoza. Não se sabe se os deputados evangélicos o compreenderam...






Para desgraça do Brasil, infelizmente.

Bons tempos aqueles em que Marco Feliciano era "só" "fiscal de fiofó", né...

Bem que meu pai me dizia que o primeiro sinal da contaminação irreversível pelo vírus da política é a perda do senso de ridículo.

Logo, logo, queimarão livros e quadros em praça pública (e o mundo já viu este filme antes).

A matéria é do Congresso em Foco:

Deputados evangélicos inspecionam mostra sobre ditadura, e não encontram o que censurar

EDSON SARDINHA E JOELMA PEREIRA

Uma comitiva de deputados federais evangélicos fez uma “inspeção” no Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília, para saber se havia conteúdo impróprio para crianças na exposição “Não matarás”, mostra coletiva que faz uma releitura da ditadura militar. Mas eles não encontraram nada para censurar.

O grupo, capitaneado pelo coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, Takayama (PSC-PR), e pelo Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), decidiu visitar o museu depois de receber pelo WhatsApp “denúncia” de uma mãe que alegou ter ficado incomodada ao levar o filho menor de idade ao espaço cultural e se deparar com imagens de corpos nus. Depois de ver as obras e ouvir as explicações de um funcionário, os parlamentares concluíram que não havia qualquer motivo para contestar a exposição.

A inspeção dos parlamentares, feita nessa quarta-feira (13), ocorreu três dias após o banco Santander cancelar a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, que abordava a diversidade sexual, para atender pedido do Movimento Brasil Livre (MBL), entre outros grupos. Eles acusaram os organizadores da mostra de incentivar a pedofilia, a zoofilia e a blasfêmia. O recuo, porém, gerou uma grande onda de indignação e protestos nas redes sociais contra o Santander e o MBL, acusados de censurar manifestações artísticas e culturais.

A visita dos deputados ao Museu Nacional, em Brasília, foi organizada por Takayama. Além dele e de Feliciano, também participaram os deputados Arolde de Oliveira (PSC-RJ), Lincoln Portela (PRB-MG), Marcos Soares (DEM-RJ) e Luciano Braga (PRB-BA).

Embora não tenham encontrado conteúdo impróprio, os parlamentares informaram ao Congresso em Foco, por meio de sua assessoria, que vão discutir a necessidade de apresentar um projeto lei fixando classificação etária indicativa para espaços que abriguem exposições artísticas.

Não censurarás

Para o diretor do Museu Nacional, o artista plástico Wagner Barja, o simples fato de uma comissão sair da Câmara para “inspecionar” um espaço cultural é preocupante. “No meu entender, um museu existe para as pessoas entrarem e saírem diferentes, pensando em alguma coisa, assim como num templo religioso, que tem o mesmo propósito. Os propósitos são distintos, mas temos em comum o objetivo de melhorar as pessoas. Museu tem linguagem subjetiva. A exposição tem caráter político, mas não acusamos ninguém, mostramos uma interpretação livre dos artistas de um tempo do país. Não trabalhamos com censura”, afirmou o artista plástico ao Congresso em Foco.

Barja diz que os deputados não seriam atendidos se pedissem o cancelamento da exposição ou tentassem censurá-la. “Nem por mim nem pela secretaria de Cultura do Distrito Federal, que é quem me respalda para fazer esse trabalho. É diferente de uma outra instituição financeira que tem dinheiro envolvido. Não é por descontentamento de um ou outro que se fecha uma exposição. O museu é um serviço público. A gente vive em uma democracia, pelo menos que eu saiba”, ressaltou.

O diretor do museu diz não acreditar que os parlamentares tivessem a intenção de censurar a exposição. “Eles também têm direito de ir ao museu e fazer avaliação crítica ou não de uma obra ou exposição. Agora, fechar ou censurar uma exposição não compete aos deputados.”

Referência metafórica

Segundo Barja, a exposição “Não matarás” estimula a reflexão sobre a ditadura militar e não faz menção a qualquer presidente ou outro personagem especificamente. “Há uma referência de forma metafórica a um período em que a censura predominou”, explicou.

A exposição reúne um conjunto das obras pintadas e doadas ao museu pelo publicitário José Zaragoza, espanhol radicado no Brasil que faleceu em 2013. Também foram incluídas peças de outros 45 artistas com releitura sobre a ditadura militar. “Uma frase que nos inspirou é do grande crítico de arte e pensador Mário Pedrosa: em tempos de crise, o bom é ficar do lado dos artistas”, disse Barja.

Queermuseu

A polêmica em torno da censura a exposições artísticas ganhou força no início da semana. Ao anunciar o cancelamento da “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, o Santander Cultural pediu desculpas àqueles que se sentiram ofendidos por alguma obra da mostra.

“Ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana”, destacou trecho da nota. A exposição só seria encerrada em 8 de outubro. O banco anunciou que vai devolver os R$ 800 mil captados por meio da Lei Roaunet, de incentivo à cultura.

“Rumo ao passado. E que vergonhosa a nota do Santander, querendo justificar, valendo-se de hipócrita retórica corporativa, o ato de censura que cometeu. Viva a diversidade!”, protestou no Facebook o crítico de arte Moacir Dos Anjos, ex-curador da Bienal de São Paulo. Na quarta-feira, duas pessoas foram detidas em frente ao Santander Cultural, na capital gaúcha, após confronto entre grupos defensores e contrários à exposição.



segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Charlottesvile mostra o perigo de ser complacente com fascistas em geral

Na próxima vez em que o seu amiguinho burro disser que nazismo é uma ideologia de esquerda, mostre-lhe a matéria abaixo em que eles se assumem "de direita" e, de preferência, desenhe o que isso significa porque eles têm uma dificuldade enorme em compreender as obviedades.

Na próxima vez em que a sua amiguinha burra disser que é fãzóca do projeto "escola sem partido", mostre-lhe a matéria abaixo e lhe pergunte quem é que vai ensinar às crianças que nazismo e fascismo são atitudes e posições ideológicas imbecis, para dizer o mínimo. Talvez seja necessário desenhar também...

Na próxima vez em que os seus amiguinhos "evangélicos" disserem que vão votar para presidente do Brasil num candidato fascista cujo nome não deve nem ser pronunciado, mostre-lhes a matéria abaixo, e lhes diga que os "evangélicos" americanos apoiaram Donald Trump, mesmo sabendo que ele está relacionado com esta gente que defende a "supremacia dos brancos", tanto que não os criticou veementemente pelo acontecido, o que está gerando enorme reação inclusive por parte dos republicanos que o apoiavam.

Quem sabe ainda haja lugar para arrependimento e salvação no que restou da alma deles, se é que restou alguma coisa.

Não se assuste, entretanto, se nada disso funcionar, porque raciocínio e bom senso costumam faltar a esses acéfalos, mas faça a sua parte, denuncie e tente salvar o máximo de pessoas dessa desgraça chamada nazismo.

Lembre-se sempre que aqueles que não aprendem com os erros que a História lhes ensina, estão condenados a repeti-los.

A matéria é do G1:

"Sou nazista, sim": O protesto da extrema-direita dos EUA contra negros, imigrantes, gays e judeus

Autoproclamados fascistas, supremacistas, nacionalistas e alt-right marcham à luz de tochas e promovem eventos em cidade do sul americano.

Centenas de homens e mulheres carregando tochas, fazendo saudações nazistas e gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus.

Foi a cena - surreal, para muitos observadores - que desfilou aos olhos da pacata cidade universitária de Charlottesville, no Estado americano de Virgínia.

O protesto, na noite da sexta-feira, foi descrito pelos participantes como um aquecimento para o evento "Unir a Direita", que acontece na tarde deste sábado na cidade e promete reunir mais de mil pessoas, incluindo os principais líderes de grupos associados à extrema direita no país.

A cidade, de pouco mais de 50 mil habitantes e a apenas duas horas de Washington, foi escolhida como palco dos protestos após anunciar que pretende retirar uma estátua do general confederado Robert E. Lee de um parque municipal.

Durante a Guerra Civil do país (1861-1865), os chamados Estados Confederados, do sul americano, buscaram independência para impedir a abolição da escravatura. Atualmente, várias cidades americanas vêm retirando homenagens a militares confederados - o que tem gerado alívio, de um lado, e fúria, de outro.

Os participantes do protesto desta sexta-feira carregavam bandeiras dos Confederados e gritavam palavras de ordem como: "Vocês não vão nos substituir", em referência a imigrantes; "Vidas Brancas Importam", em contraposição ao movimento negro Black Lives Matter; e "Morte aos Antifas", abreviação de "antifascistas", como são conhecidos grupos que se opõem a protestos neonazistas.

Estudantes negros do campus da universidade da Virginia, onde ocorreu a marcha, e jovens que se apresentavam como antifascistas tentaram fazer uma "parede-humana" para impedir a chegada dos manifestantes à parada final do marcha, uma estátua do terceiro presidente americano, Thomas Jefferson.

"Fogo! Fogo! Fogo!", gritavam os manifestantes, enquanto se aproximavam do grupo de estudantes.

Em número bem menor, o grupo que fazia oposicão à marcha foi expulso da estátua em poucos minutos. A reportagem flagrou homens lançando tochas sobre os estudantes, enquanto estes, por sua vez, dispararam spray de pimenta nos olhos dos oponentes.

A polícia, que acompanhou todo o protesto de longe, interviu e separou os dois grupos, enquanto ambulâncias se deslocavam ao local para socorrer feridos pelo confronto.

"Esta manifestação é ilegal", afirmou um dos oficiais aos manifestantes, que se afastaram. A polícia não confirmou se houve presos.

Nazis

"Sim, eu sou nazista, eu sou nazista, sim", afirmou um homem, em frente à reportagem, durante uma discussão com um dos membros do grupo opositor.

Ao contrário das especulações anteriores, a marcha incluiu muitas mulheres, que também seguravam tochas.

A BBC Brasil conversou com um pai e uma mãe que levaram a filha de 14 anos ao protesto. "Eu aprendi com meu pai que precisamos defender a raça branca e hoje estou passando este ensinamento para a minha filha", afirmou o pai.

"Se não fizermos algo, seremos expulsos do nosso próprio país", disse a mãe. A conversa foi interrompida por um homem forte e careca. "Vocês estão falando com um estrangeiro. Olha o sotaque dele!", afirmou, rindo, em referência ao repórter.

A família se afastou e se juntou ao coro, que cantava "Judeus não vão nos substituir". Os três seguravam tochas.

Outro homem afirmou que estava ali porque "têm o direito de se expressar".

"Gays, negros, imigrantes imundos, todos eles se manifestam e recebem apoio por isso. Porque quando homens brancos decidem gritar por seus direitos e sua sobrevivência vocês fazem esse escândalo?", questionou o homem a um grupo de jornalistas.

Perto dali, sozinho, um rapaz jovem extendia a mão e fazia uma saudação nazista, enquanto era fotografado por fotojornalistas e gritava "Vocês não vão nos substituir".

As tochas são uma marca da Ku Klux Klan, grupo fundado pouco depois da guerra por ex-soldados confederados - derrotados no conflito. Originalmente concebida como um clube recreativo, a KKK rapidamente começou a promover a violência contra populações negras do sul dos EUA.

Por muitas décadas, grupos supremacistas brancos promoveram linchamentos, enforcamentos e assassinatos de negros.

Não houve referências ao presidente americano Donald Trump durante todo o ato. Mas as críticas à imprensa eram constantes e faziam coro com o slogan de Trump: "Não temos medo de 'fake news', seus mentirosos".

Chorando muito, uma estudante era amparada por amigos. "É pior do que a gente pensava. É muito pior. Isso vai virar um inferno."

"A negra está assustada!", gritou uma mulher, rindo junto a um grupo de homens portando tochas.

Alt-right

O prefeito de Charlottesville divulgou uma nota após a marcha, classificando o ato como "uma parada covarde de ódio, fanatismo, racismo e intolerância".

"A Constituição permite que todo mundo tenha o direito de expressar sua opinião de forma pacífica, então aqui está a minha: não só como prefeito de Charlottesville, mas como membro e ex-aluno da universidade de Virginia, fico mais do que incomodado com essa demonstração não-autorizada e desprezível de intimidação visual em um campus universitário".

Para o protesto deste sábado, são esperadas figuras como Richard Spencer, criador do termo alt-right, uma abreviação de "alternative right", ou "direita alternativa", em português. O grupo é acusado de racismo e antissemitismo e têm representantes no governo de Donald Trump.

Esta é a segunda vez que a cidade se torna sede de protestos de grupos supremacistas. Em 8 de julho, aproximadamente 40 membros da sede local da Ku Klux Klan também acenderam tochas em Charlottesville.

Presidente de um organização que define como "dedicada à herança, identidade e ao futuro de pessoas de ascendência europeia nos EUA", Spencer ganhou visibilidade internacional por fazer a saudação "Hail Trump, hail nosso povo, hail vitória", logo após a eleição do republicano.

Formado em filosofia política na Universidade de Chicago, Spencer já declarou que o ativista negro Martin Luther King Jr. era uma "fraude" e um símbolo da "desconstrução da Civilização Ocidental".

Também disse que imigrantes latinos nos EUA estavam "se assimilando ao longo das gerações rumo à cultura e ao comportamento dos afro-americanos" e lamentou que o país estivesse se tornando diferente da "América Branca que veio antes".



terça-feira, 4 de julho de 2017

Papa afasta cardeal crítico de suas reformas


A informação é da Deutsche Welle:

Papa destitui responsável por doutrina da Igreja

Cardeal conservador alemão é conhecido por se opor às reformas no Vaticano e criticar posições do pontífice. Ele foi substituído na chefia da Congregação para a Doutrina da Fé por um espanhol que é jesuíta, como o papa.

O papa Francisco destituiu o cardeal alemão Gerhard Müller de seu cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, afirmou neste sábado (01/07) o Vaticano. Müller, que ocupava um dos cargos mais influentes do Vaticano, é considerado conservador e conhecido por sua oposição às reformas dentro da Igreja Católica.

Ele será substituído pelo espanhol Luis Francisco Ladaria Ferrer, de 73 anos, que também é jesuíta, como Francisco, e atua atualmente como secretário da congregação. Ladaria Ferrer é visto já há alguns anos como a "mão direita" do papa e tem opinião semelhante a ele na maioria dos assuntos.

Jornais italianos, como La Stampa e Il Messaggero, informaram que o papa se encontrou na véspera com Müller, de 69 anos, para comunicá-lo que seu mandato terminaria neste domingo, justamente quando ele completa cinco anos no posto. O religioso alemão fora nomeado em 2 de julho de 2012.

As razões para a demissão não são conhecidas, mas o cardeal alemão, considerado linha-dura, era tido como contrário às reformas na Igreja Católica. Além disso, ele é um crítico da exortação apostólica Amoris Laetitia, do papa Francisco, publicada no ano passado e que sugeria que pessoas divorciadas e novamente casadas poderiam, sob circunstâncias especiais, participar da comunhão.

A congregação de Müller também foi acusada em março por Marie Collins, uma vítima de abuso sexual por padres, de fazer resistência à comissão criada pelo papa Francisco para combater abusos sexuais de menores na Igreja Católica. Collings disse à revista jesuíta America ​​que a atitude "vergonhosa" da Congregação a levou a se retirar da comissão.

A notícia vem depois de, na quinta-feira, o cardeal australiano George Pell, de 76 anos, responsável pelas finanças e "número três" do Vaticano, ter se afastado temporariamente para se defender de acusações de abuso sexual em seu país.

A Congregação para a Doutrina da Fé, dirigida por Müller, é responsável por difundir a doutrina católica e defender os pontos da tradição católica que possam estar em perigo devido a doutrinas novas não aceitáveis pela Igreja. Ela também é responsável por investigar casos de abuso. No final de fevereiro, ele negou haver ocultado sistematicamente casos de abusos na Igreja Católica. "A Igreja não esconde nada. Em alguns casos pode ter havido desconhecimento, mas não sistemático", disse, na época, ao jornal italiano La Repubblica.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Católico conservador cotado para o STF já nomeou padre como ouvidor do TST

A informação é do portal Justificando:

Em setembro, Gandra Filho substituiu servidora de carreira por padre em ouvidoria do TST

No dia primeiro de setembro de 2016 o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ives Gandra Filho, exonerou a servidora pública Jumara Cristina Cerqueira Borges, funcionária de carreira no TST desde 91, para nomear o padre Placimário de Sousa Leite Ferreira para exercer o cargo em comissão de Ouvidor Auxiliar. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União e está dentro das atribuições legais e regimentais do ministro.

A indicação de um padre pode indicar a tendência do atual presidente do TST e candidato ao Supremo Tribunal Federal (STF) de misturar a religião com o direito. Gandra Filho, membro da Opus Dei, corrente católica ultra conservadora, esteve no centro do debate em razão de ter afirmado em 2012, quando publicou artigo acadêmico que as mulheres devem submissão aos maridos; que casamento deve ser indissociável e deve apenas acontecer entre o homem e a mulher. Além disso, ainda comparou uniões homoafetivas ao bestialismo, usando como exemplo uma mulher casada com um cavalo, como revelou a matéria do Justificando.

Em sua defesa, Ives soltou uma nota à imprensa, dizendo que suas falas foram descontextualizadas. Disse que “as pessoas homossexuais devem ser respeitadas em sua orientação e ter seus direitos garantidos, ainda que não sob a moralidade de matrimônio para sua união”. Além disso, o ministro afirmou que fez “referência apenas, de passagem, (sic) ao princípio da autoridade como incito (sic) a qualquer comunidade humana, com os filhos obedecendo aos pais e a mulher ao marido no âmbito familiar”.

Como prova de que não seria machista, Ives ressaltou a decisão de sua relatoria que teria “garantido às mulheres o direito ao intervalo de 15 minutos antes de qualquer sobrejornada de trabalho, decisão referendada pela Suprema Corte”.

Conforme revelou o Justificando, essa decisão citou no acórdão Edith Stein, canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz, uma teóloga nascida judia que se converteu ao catolicismo e tornou-se freira carmelita descalça. Nas palavras de Stein, reproduzidas por Ives no julgamento: “cada um dos sexos teria sua vocação primária e secundária, em que, nesta segunda, seria colaborador do outro: a vocação primária do homem seria o domínio sobre a terra e a da mulher a geração e educação dos filhos (A primeira vocação profissional da mulher é a construção da família)”.

O Justificando questionou a assessoria de comunicação do TST sobre o porquê da nomeação de um padre para o cargo e quais as qualificações do Padre Placimário. A comunicação interna do TST afirmou que dentro da política de reestruturação que ocorre a cada gestão, foram aprovadas, em 2016, diversas medidas voltadas para a ampliação e fusão de vários setores.

“Dessa forma cabe esclarecer que todas as mudanças se deram dentro dos princípios da legalidade, e sem que houvesse qualquer afronta ao Regimento Interno do TST, que prevê, dentro das competências da presidência, “nomear os servidores para os cargos em comissão e designar os servidores para o exercício de funções comissionadas nos Gabinetes de Ministros” (artigo 35, inciso XIX)”, diz a nota de esclarecimento.

O que é a ouvidoria

A ouvidoria é um canal para que os usuários possam reclamar do que não está satisfatório nos procedimentos do TST, por exemplo, um processo que não é movimento há muito tempo, ou alguma decisão que pode ser compreendida como erro do juiz. Basicamente, a ouvidoria recebe reclamações e verifica o que está acontecendo, tendo de informar sempre ao presidente. Ou seja, um cargo de extrema importância.



domingo, 14 de fevereiro de 2016

Morte de líder conservador da Suprema Corte deixa EUA em suspense


Morreu ontem, mais exatamente na noite de 12 para 13 de fevereiro de 2016, enquanto dormia, o Juiz Antonin Scalia da Suprema Corte dos Estados Unidos.

Scalia faleceu aparentemente de causas naturais menos de um mês antes de completar 80 anos de idade, o que ocorreria no próximo dia 11 de março.

Nascido em Trenton (New Jersey), filho de imigrantes italianos católicos, Antonin Scalia desenvolveu uma brilhante carreira jurídica, formando-se em Direito na prestigiada Harvard Law School, trabalhando como advogado depois em um escritório de Cleveland (Ohio), dando aulas nas Universidades de Virginia e Chicago, até começar uma carreira como juiz federal na Corte de Apelações do Circuito de Washington (DC) em 1982, função para a qual foi nomeado pelo então presidente norteamericano Ronald Reagan.

Foi o mesmo Reagan que - em 1986 - o indicou para substituir a vaga deixada na Suprema Corte pela aposentadoria do seu então presidente, Warren Burger. Seu nome foi confirmado pela unanimidade do Senado e Scalia se tornou o primeiro Juiz de origem italiana naquele Tribunal.

Ao longo de sua judicatura na Suprema Corte dos EUA, Scalia se tornou conhecido por suas opiniões firmes e algumas vezes ferozes (segundo seus inimigos), além de liderar a defesa das hostes conservadoras em assuntos-tabu como aborto, liberdade religiosa, imigração e questões de gênero, raça e orientação sexual.

A Suprema Corte é composta por 9 Juízes (chamados de "Justice" em inglês cada um deles), e as causas polêmicas que lá chegaram ao longo dessas décadas sempre foram decididas por apertada maioria de votos, geralmente 5 a 4 para um lado ou outro, como aconteceu na recente autorização constitucional para o casamento gay, no caso Obergefell v. Hodges, promulgada em 26 de junho de 2015, que contou com forte oposição do "Justice" Antonin Scalia.

(No Brasil os juízes das Cortes Superiores - STF, STJ, etc. - são chamados de "Ministros" - o Supremo Tribunal Federal é o equivalente brasileiro da Suprema Corte americana)

A vaga deixada pelo finado Juiz se torna, agora, alvo de profundas discussões na sociedade americana. Afinal, 2016 é um ano eleitoral e o último ano do governo de Barack Obama, o que representa - quase certamente - a derradeira oportunidade que ele tem de indicar um jurista mais afinado com suas posições liberais.

Por enquanto, os republicanos têm a maioria dos votos no Senado, e - antes que o corpo de Scalia esfriasse - já fizeram questão de dizer que só vão aceitar a nomeação de alguém afinado com o seu conservadorismo.

Já os democratas, partido que pode continuar na presidência após as eleições de 2016 com Hillary Clinton ou Bernie Sanders, querem que as instituições sejam respeitadas e o Senado cumpra sua função de arguir em sessão pública o nomeado por Obama, aceitando-o ou rejeitando-o, independentemente do calendário eleitoral.

Os pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA, cuja liderança momentânea está com Donald Trump, são vistos com menos chances de vencer o pleito que se realizará em novembro, mas já se movimentam no sentido de impedir que Obama preencha a vaga de Scalia com alguém que não tenha as suas mesmas opiniões conservadoras.

São muitos e variados os cenários possíveis. Alguns comentaristas dizem que Obama pode nomear um latino ou um afroamericano para a Suprema Corte, o que deixaria os republicanos numa tremenda saia justa se o rejeitassem.

Outros comentam que a tática de protelar a votação do nome indicado por Obama pode significar um futuro revés para os republicanos, pois existe a possibilidade de maioria republicana no Senado se esfacelar em 2017, e isto deixaria um eventual novo presidente também democrata com chances de nomear e aprovar um Juiz ultraliberal.

O presidente Obama fez um pronunciamento à nação por rede nacional de televisão ontem à noite, elogiando a carreira pública de Scalia, mas aproveitou a oportunidade para, ainda que de maneira rápida, deixar claro que não vai se abster de sua prerrogativa de indicar o próximo integrante da Suprema Corte.

Enquanto isso, a sociedade americana verá capítulos político-ideológicos dignos dos melhores thrillers de Hollywood.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O dilema do evangélico contra o aborto e a favor das armas


Não é contraditório, para um evangélico, ser contra o aborto e a favor das armas?

Esta é a questão levantada pelo documentário "The Armor of Light" ("A Armadura da Luz"), como você pode ler em excelente resenha publicada no Estadão de 01/11/15:

Apelo ao diálogo

KENNETH SERBIN

Estrelado por pastor, documentário americano pergunta como evangélicos conservadores podem ser ‘pro­-life’ e favoráveis às armas

Enquanto a bancada BBB – Bala, Boi e Bíblia – do Congresso brasileiro fez o País dar mais um passo para uma maciça ampliação do acesso a armas de fogo graças à votação obtida por uma importante comissão sobre este projeto de lei, esta semana, um membro destacado da família Disney acaba de lançar um documentário que vira de ponta cabeça a justificativa religiosa e moral do porte de armas.

The Armor of Light (A Armadura de Luz), que estreou em cinemas selecionados em vinte cidades americanas na sexta­-feira, onde será exibido por uma semana, é dirigido por Abigail Disney. Sobrinha­-neta de Walt Disney, o fundador do império do entretenimento, ela é doutora em filosofia pela Universidade de Columbia. À primeira vista, é possível que ela seja menosprezada por alguns como mais um representante da elite liberal dos Estados Unidos, fora da realidade da vida diária dos cidadãos que procuram se proteger da violência.

Entretanto, em vez de criticar severamente a posse de armas, The Armor of Light levanta um dilema moral fundamental, mas há muito ignorado: como é possível que cristãos evangélicos conservadores defendam posições que são ao mesmo tempo favoráveis à vida (contra o aborto) e favoráveis às armas?

O título do filme foi extraído da Carta de São Paulo aos Efésios: “Abandonemos as obras das trevas, do medo, do ódio, da vingança, e vistamos a armadura da luz”. A armadura é a Palavra de Deus.

Evitando a abordagem tendenciosa típica de muitos documentários realizados nos últimos anos (como Tiros em Columbine, de Michael Moore), Armor of Light explora a questão através dos olhos de duas pessoas profundamente religiosas que foram dolorosamente atingidas pela violência.

Rob Schenck, ministro evangélico branco, tem impecáveis credenciais conservadoras. Nos anos 90, ele liderou protestos contra o aborto, e numa ocasião carregou um feto morto em público para demonstrar seu opróbrio por esta prática, cena que foi reproduzida no filme.

Fundou um grupo de pressão cristão, Fé e Ação, com escritórios instalados num edifício em frente à Suprema Corte dos Estados Unidos, e lembra que já chegou a vestir um colete à prova de balas com medo de represálias por suas atividades. Mas ficou traumatizado por um incidente ocorrido em seu bairro, em 2013, no qual um indivíduo armado matou doze pessoas.

Então, ele encontrou uma aliada em Lucy McBath, mãe de Jordan Davis, o adolescente afro­americano que, desarmado, foi morto em 2012 por um homem branco irritado porque o jovem e seus amigos ouviam música muito alto no carro em que andavam. Lucy transformou sua dor inenarrável em ativismo, tornando-­se a porta­-voz do movimento Moms Demand Action for Gun Sense (“Mães exigem ação e em favor de bom senso com as armas”) nos Estados Unidos.

Embora Lucy seja favorável ao direito de escolha na questão do aborto, ela e Schenck descobriram uma causa comum na questão das armas.

Abigail Disney capta as tensões que se criam quando Schenck estimula seus colegas conservadores a refletir sobre o problema da posse de armas. “Como pessoa que crê, quais são os seus sentimentos quando eu coloco a seguinte questão: Cristãos e armas”?, ele indaga. “Esta é uma pergunta que os cristãos “deveriam se fazer com devoção, com cautela e com espírito bíblico.”

Penetrando no cerne da cultura dos cidadãos brancos conservadores americanos, Schenck confessa que está “surpreso ao se dar conta de quão profundamente as armas estão integradas na vida, nos pensamentos e até em sua espiritualidade”. Ele destaca que isso é algo novo no cristianismo americano, onde os evangélicos antes da “Revolução Reagan” republicana conservadora eram predominantemente democratas e incluíam em suas fileiras pacifistas e objetores de consciência.

Os evangélicos tornaram-­se “vulneráveis à venda das nossas almas” ao permitirem que a defesa da posse de armas e sua identificação com a Associação Nacional do Rifle (NRA na sigla em inglês), organização extremamente influente, confundissem os limites entre fé e política, afirma Schenck. Por outro lado, em Lucy e em outros cristãos afro­-americanos – uma comunidade onde o medo de ser morto por uma bala é constante – ele encontra um desejo de paz.

“Não penso que a Bíblia peça que nos tornemos guerreiros prontos para a ação, e para mim é isso que quem carrega uma arma está fazendo”, afirma uma mulher negra cristã num encontro com Schenck. “É como se dissesse: ‘Estou preparado para a guerra’.”

“Os Estados Unidos estão vivendo uma crise”, conclui Schenck. E insta seus colegas clérigos a se informarem mais sobre a violência das armas e a “oferecer corajosamente uma clara orientação espiritual, moral e ética sobre esta questão de vida e morte. Não há mais tempo para permanecermos calados”. O direito constitucional de portar armas deve ser moderado por “medidas de segurança inspiradas no bom senso”, observa Lucy McBath.

Abigail produziu uma raridade no panorama da mídia e da política americana: um filme de profunda sensibilidade religiosa, de respeito por ideias opostas e um apelo ao diálogo sobre um dos problemas mais inquietantes do país. Ela espera continuar este diálogo pessoalmente. Com Schenck e Lucy, comparecerá a algumas exibições para conversar com o público, e oferece ingresso gratuito a membros da NRA.

As questões cruciais levantadas por este filme aplicam­-se não somente aos Estados Unidos, mas também ao Brasil e a outras sociedades atormentadas pela violência das armas. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA



terça-feira, 18 de novembro de 2014

Como o confronto político favoreceu o ateísmo nos EUA

Artigo interessante publicado na Folha de S. Paulo de 16/11/14:

O ateísmo sai do armário

RAUL JUSTE LORES


RESUMO Pesquisas apontam crescimento acelerado dos que se declaram sem religião nos EUA, parcela que hoje corresponde a 20% da população adulta. Para estudiosos, tanto o aumento da descrença quanto eventuais reações conservadoras religiosas estão diretamente vinculadas ao ambiente político do país.

*

Pela Constituição do Tennessee, um cidadão não pode concorrer a cargo público se não acreditar em Deus; mas em Nashville, a capital do Estado, um grupo de 150 pessoas se reúne semanalmente na Assembleia dos Domingos, um fórum de ateus praticantes, que conta com mil inscritos.

Nos encontros, de uma hora de duração, revezam-se os "mestres de cerimônias". "Não queremos que uma figura carismática se repita na condução", explica um dos organizadores, o designer gráfico Landry Butler, 47. Durante o encontro, uma dona de casa lê, de um púlpito, escritos de Margareth Mead e J. R. R. Tolkien; uma assistente social relata sua evolução como mãe solteira e seu trabalho com pacientes de Alzheimer; e um grupo desfila um repertório que vai de "Start Me Up", dos Rolling Stones, a "The Cave", dos Mumford & Sons. "Quantas chances você teria de cantar em público regularmente sem ser um artista?", indaga o vocalista Adam Newton, 39.

Nashville ainda é conhecida como "a fivela do Cinturão da Bíblia", formado pelos Estados mais religiosos do Sul dos EUA -título que disputa com Dallas, no Texas.

Um fazendeiro que viajou 75 km com a mulher para não perder o evento dominical dos não crentes relata uma conversa que ouviu na fila para fazer compras em um entreposto agrícola. O vendedor contava a uma freguesa que um dos candidatos a xerife, escolhido em eleição direta, não frequentava nenhuma igreja. A mulher reagiu dizendo: "Esse não leva o meu voto, deve ser imoral". O fazendeiro calou-se. "Fiquei no armário", diz.

Apesar da compreensível cautela do visitante, o fato é que ateus, agnósticos e os "sem religião" estão saindo do armário em um dos países mais religiosos do mundo. O número de adultos menores de 30 anos que se encaixam nesta última categoria já é mais que o triplo do observado no Brasil.

O crescimento é recente e acelerado: em 2007, 15% dos americanos não tinham religião, contra 20% em 2012, segundo pesquisa do Pew Research Center. No Brasil, entre 2000 e 2010, os sem religião oscilaram de 7% para 8%.

O índice de norte-americanos sem religião sobe de 20% para 32% se considerada somente a faixa de 18 a 30 anos. Entre brasileiros, 8% dizem não ter religião e apenas 10% dos que têm de 15 a 29 anos se enquadram nessa categoria, segundo o IBGE (2010). Ateus no Brasil são 0,8% da população -enquanto o cálculo do Pew, que soma ateus e agnósticos, é de 6% da população americana.

Nesse cenário, ateus famosos começam a tratar do assunto -ainda tabu- em público, caso do ator Brad Pitt ou do criador do Facebook, Mark Zuckerberg. Promovem-se conferências anuais para os não crentes, chamadas "Skepticons" (conferência dos céticos), e "paradas do orgulho ateu" são organizadas pelas redes sociais.

"Hoje é mais fácil ser ateu também por causa internet. De repente, começamos a nos achar na rede, a marcar encontros e a nos expor", diz P. Z. Myers, 57, cientista e professor de biologia da Universidade de Minnesota, autor do best-seller "The Happy Atheist" (o ateu feliz), lançado no ano passado.

Com essa onda, coexiste a maioria da população, que preserva um fervor religioso pouco comum em países ricos: a frequência semanal a igrejas e templos nos EUA ainda é quatro vezes superior à europeia. Os que acreditam no criacionismo são 44%, enquanto 55% dizem rezar diariamente.





São o rebanho de uma nação cuja história foi forjada pela presença inaugural de puritanos e outros grupos religiosos em fuga da Europa, que estreitavam os laços com Deus na busca da nova terra prometida. Um país em que se popularizou uma imagem retratando Jesus, entre George Washington e outros patronos da nação, segurando a Constituição como se fossem os Dez Mandamentos.

Especialistas concordam que o enfraquecimento da religiosidade nos EUA tem relação direta com a política. "George W. Bush [2001-09] prestou grande ajuda à causa ateísta", ironiza Myers.

"O que vemos é uma reação a anos em que forças religiosas se colocaram do lado errado da história, apoiando guerras, atitudes machistas, homofobia e doutrinas cada vez mais associadas à crença. No quesito 'relações públicas', foi um desastre para a religião", diz o professor, que tem mais de 150 mil seguidores no Twitter e um blog, premiado pela revista "Nature", no qual mistura ciência, feminismo e ativismo antirreligioso.

O estudioso britânico Nick Spencer, diretor de pesquisa do centro de estudos Theos, frisa que os EUA são "um raro país ultracientífico, onde grandes descobertas tecnológicas acontecem desde o século 19, que ainda é muito religioso". Autor do recém-lançado "Atheists: the Origin of the Species" (ateus: a origem das espécies), Spencer lembra que, como pastores e religiosos abraçaram a revolução americana e participaram do processo de independência, os "pais fundadores" asseguraram na primeira emenda da Constituição a liberdade de culto, proibindo o Estado de legislar sobre o tema e de se assumir oficialmente como cristão.

Foi, na realidade, no século 20, em oposição ao socialismo e seus regimes de ateísmo forçado, que os governos americanos passaram a abraçar com mais convicção a identidade cristã.

Em 1952, por exemplo, foi criado pelo presidente Harry Truman (e aprovado pelo Congresso) o Dia Nacional de Oração, celebrado até hoje em 1º de maio -data em que diversos países comemoram o Dia do Trabalho, escolhido pela Internacional Socialista para marcar um atentado contra grevistas em Chicago, em 1886. Os americanos, no entanto, celebram seu "Labor Day" em setembro.

O juramento à bandeira, repetido em repartições públicas, escolas, quartéis e no Congresso americano, foi modificado em 1954, em plena Guerra Fria, para acrescentar a expressão "uma nação sob Deus". E a célebre inscrição "In God we trust", nas cédulas de dólar, nasceu em 1956, no governo do general Dwight Eisenhower.

Eram os anos do auge do macarthismo, quando o Senado promoveu investigações sobre atividades consideradas "un-american", e o senador Joseph McCarthy (cujo nome veio a batizar a era), via comunistas por todos os lados -do Departamento de Estado a Hollywood.

Em seu primeiro discurso famoso, de 1950, quando denunciou diplomatas de seu país como "comunistas infiltrados", McCarthy disse que a "grande diferença entre o mundo ocidental cristão e o mundo comunista" não era política, "mas moral". "Hoje estamos em uma batalha final, de tudo ou nada, entre cristãos e ateus", anunciou. Pouco depois, pessoas consideradas comunistas, homossexuais e ateus entraram em "listas negras" -centenas foram presas.



CONTRACULTURA

Não tardaria muito para que a crise de identidade da Guerra Fria, com a contestação do conflito no Vietnã, o florescimento de movimentos de liberação sexual e a onda da contracultura, nos anos 1960, passassem a colocar em xeque esse processo de exacerbação persecutória e religiosa. Nas décadas seguintes, situações como a aprovação do aborto pela Suprema Corte, em 1973, e a maior visibilidade dos gays, associada à epidemia de Aids, terminaram por acirrar conflitos e despertar uma nova reação.

Uma espécie de segundo macarthismo desenhou-se a partir do final da década de 1980, época em que líderes religiosos cada vez mais assertivos passaram a condenar a "ruína moral da América". Evangélicos, que vinham conquistando espaço nos meios de comunicação, mostravam-se mais diretamente preocupados com o ativismo político. Chegou-se a ensaiar um impeachment contra um presidente adúltero (Bill Clinton, 1993-2001) e o primeiro episódio da clássica série de TV "The West Wing", sobre os bastidores da Casa Branca, trazia um grupo de evangélicos cobrando compromissos de um presidente democrata.

A reação religiosa-moralista fez a então superstar Janet Jackson ser praticamente banida da TV por ter exibido, acidentalmente ou não, um mamilo durante o show no intervalo da final do Super Bowl, o campeonato de futebol americano, em 2004. E o marqueteiro do então presidente George W. Bush, Karl Rove, estimulou a realização de plebiscitos contra o casamento gay, como garantia de que muitos eleitores sairiam de casa para votar contra -o que favoreceria a reeleição do mandatário naquele ano, que de fato aconteceu.

"Os evangélicos abandonaram o mutismo e encontraram sua voz, às vezes problemática e grotesca. Como resposta, assistimos a um recrudescimento do ateísmo. Não em nome da ciência, mas porque Deus voltou à arena política americana", diz Spencer.

Alguns ateístas têm adotado a política dos decibéis a mais praticada pelos evangélicos -mas para metralhar religiões. Myers diz que "gosta do confronto" e que "precisamos denunciar as loucuras dos crentes". Nessa trincheira também se aloja Sam Harris, um dos principais ativistas ateus do país, presente na lista dos livros mais vendidos desde setembro, com sua segunda obra, "Waking Up" (acordando). A primeira, "O Fim da Fé", de 2004, virou best-seller e fustiga não apenas religiões cristãs mas especialmente o islã.

Foi no programa de Bill Maher -um show de humor político e entrevistas há 20 anos no ar na TV americana- que Harris se meteu em uma arenga a respeito da islamofobia de parte dos ateus que, como ele, fomentam o confronto.

Maher, que já produziu um documentário hostil às religiões ("Religulous", de 2008), disse que "a esquerda americana, em nome do multiculturalismo, é muito tímida em denunciar os absurdos do mundo islâmico". Acrescentou que o islã se tornou "como a Máfia, que mata quem ousa falar mal dela". Harris pegou a deixa e foi mais longe: "O islã é a mãe de todas as más ideias do presente", atacou.

Ben Affleck, o ator e diretor de "Argo", disse que Maher estava generalizando e que "os EUA já mataram mais muçulmanos do que qualquer grupo fundamentalista muçulmano, mas nós não somos acusados disso". O vídeo do embate viralizou em 24 horas.

Maher também fez piada com os pacatos ateus da Assembleia dos Domingos. "A graça de ser ateu" -disse ele- "é não ter que ir a uma igreja. Frequentar essa assembleia é um contrassenso. É como convidar um membro do Tea Party para uma feira de ciências".



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O império da fé na política


Artigo interessante publicado no IHU:

Império da fé

Se nos anos 1990 a Igreja Universal do Reino de Deus ganhava destaque no Jornal Nacional pelos chutes de um pastor na estátua de uma santa católica ou por gravações de Edir Macedo ensinando discípulos a arrecadar doações dos fiéis, a instituição que agora chegou às páginas do New York Times ostenta uma nova imagem.

A reportagem é de Leticia Duarte, publicada pelo jornal Zero Hora, 10-08-2014.

Ao afirmar que o recém-inaugurado Templo de Salomão faz o “icônico Cristo Redentor do Rio de Janeiro, que tem apenas metade da altura, parecer um enfeite em comparação”, um dos jornais mais respeitados do mundo reconhece não apenas a magnitude da obra, mas as novas bases que sustentam a ascensão evangélica no país.

Com referências do Antigo Testamento e ares de profetismo – reforçados pela barba branca que Edir Macedo deixou crescer no ano passado como um “voto” de espera pelo templo –, o visual repaginado da Universal foi minuciosamente planejado. De olho na classe média emergente, o movimento busca acrescentar consistência simbólica à escalada pentecostal na sociedade brasileira.

Ao erguer uma réplica do espaço sagrado do judaísmo numa área equivalente a cinco campos de futebol, hastear a bandeira de Israel na inauguração da sede de R$ 680 milhões e adorná-la com símbolos judaicos, como os menorás (candelabros de sete pontas) que decoram as paredes do templo, a Universal passa a reivindicar também o seu quinhão na “terra santa”. Um ambiente bem diferente de sua fundação, em 1977, em um coreto na periferia do Rio.

Naqueles tempos de vacas magras, não demorou a aparecer o debochado apelido de “supermercado da fé”. Uma alusão não apenas aos galpões onde os cultos ocorriam, com placas de néon piscando nas fachadas, mas também à teologia da prosperidade – uma marca da Universal reprovada por protestantes mais tradicionais –, que promete curas e glórias materiais em troca de dízimos.

– Por outro lado, a Igreja Católica sempre ocupou os ambientes mais nobres da cidade, com sedes em praças públicas ou ao lado das prefeituras – lembra Ricardo Mariano, professor da Universidade de São Paulo e pós-doutor em Sociologia da Religião.

– De 15 anos para cá, a Universal vem erguendo catedrais para obter maior respeitabilidade e legitimidade.

O faraônico Templo de Salomão surge como ápice dessa demonstração de força. Para o sociólogo Clemir Fernandes, pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (Iser), a Universal muda sua identidade porque os fiéis também mudaram. Além de os antigos adeptos terem sido beneficiados pelo avanço econômico da classe C, a instituição cobiça novos públicos.

– A igreja agora busca uma tradição, e essa tradição é ressignificada à luz de seus interesses. Como não tem história, precisa se embasar no que é sólido, apoiando-se na tradição judaica – analisa Clemir.

Embora a Igreja Universal tenha perdido 200 mil fiéis no último censo de 2010 em relação ao anterior, disputando espaço com uma dissidência, a Igreja Mundial do Poder de Deus, os evangélicos têm hoje uma representatividade inédita. Na contagem do IBGE, saltaram de 2,61% da população, em 1940, para 22,16% em 2010.

No Congresso, a Frente Parlamentar Evangélica reúne 70 deputados e três senadores – e a tendência é de aumento. Nas eleições deste ano, o número de candidatos pastores cresceu 40%, saltando de 193 para 270, enquanto apenas 16 concorrentes se apresentam como “padres”, uma queda de 30% em relação ao pleito anterior, conforme os registros do Tribunal Superior Eleitoral. Não por acaso, todos os candidatos fazem adequações no discurso para contemplar os evangélicos – como a presidente Dilma Rousseff, que, diante de fiéis da Assembleia de Deus na sexta-feira, afirmou que “todo dirigente precisa da graça de Deus”.

Conhecida por posturas conservadoras nas esferas moral e sexual, com apoio de católicos em temas como a proibição do aborto, a bancada evangélica aos poucos espicha seu olhar. Professor da PUC Goiás, o cientista das religiões Alberto da Silva Moreira observa que a aproximação dos pentecostais com o judaísmo não se dá somente no campo simbólico: também estreitam laços com Israel na esfera política. Uma expressão disso seriam as manifestações de líderes evangélicos contra a condenação do governo Dilma à ofensiva israelense em Gaza – que incluíram um protesto com cerca de 80 fiéis diante do Ministério das Relações Exteriores.

– Isso significa que igrejas como a Universal estão se alinhando em bloco à direita cristã conservadora filo-israelense. É o mesmo que faz a direita cristã dos Estados Unidos – analisa Moreira, recordando que a defesa de boas relações com Israel é ao mesmo tempo uma forma de defender a continuidade do rentável turismo de crentes à Terra Santa.

Mas seria um erro imaginar que a bancada evangélica funciona como um coral afinado de mãos erguidas o tempo todo. No dia a dia, divisões internas e interesses particulares separam os congressistas de diferentes igrejas, o que limita seu poder.

Autor do livro Mercado Religioso Brasileiro: do Monopólio à Livre Concorrência (Nelpa, 2012) e professor da Universidade Federal do Maranhão, o sociólogo Gamaliel da Silva Carreiro identifica que a maioria dos eleitos por voto evangélico está ali para defender interesses miúdos dos setores que representam, como uma concessão de rádio ou um terreno para a nova igreja, e não para pensar um projeto de país.

– Eles têm dificuldade em pensar o Brasil. Pensam pequeno. Só conseguem se organizar quando há temas muito contraditórios que afrontam valores cristãos – afirma Carreiro.

Na avaliação do pesquisador, há preconceito em parte das críticas à atuação política dos evangélicos, já que a organização em defesa de interesses particulares é considerada legítima quando se trata de outros grupos, como a bancada ruralista ou os metalúrgicos. Lembrando que os católicos historicamente exercem grande influência política, Carreiro cita um conceito do sociólogo alemão Norbert Elias para explicar a diferença atual entre o poder das duas igrejas: enquanto os católicos são os “estabelecidos”, seus concorrentes ainda são “outsiders”.

– Por mais que os evangélicos venham crescendo, eles ainda são outsiders, e a sociedade sempre desconfia de outsiders. Como a Igreja Católica está estabelecida por muito tempo, os católicos têm confiança e credibilidade junto ao Estado, com muitos recursos destinados a ONGs católicas. A vinda do Papa, por exemplo, recebeu muita verba do Estado – compara Carreiro.

A associação entre fé e política no Brasil remonta ao período colonial. Como observa a cientista da religião Sandra Duarte de Souza, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista, a Igreja Católica foi essencial para legitimar o projeto colonizador. E essa influência sobrevive até hoje, apesar da laicidade, consagrada pela Constituição de 1891.

– O problema que a gente enfrenta é que a confissão religiosa de alguns acabe sendo imposta para todos. O Estado tem que cuidar de todos, mas isso não é possível quando uma bancada impede. O risco é que a religião se sobreponha à cidadania e obstaculize políticas públicas – preocupa-se Sandra.

Mas até que ponto pode chegar a influência evangélica? Apesar da curva ascendente, o professor Eduardo de Quadros, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Goiás, não acredita em riscos à democracia. Por mais que seus membros atuem na arena política, o projeto pentecostal teria um recorte mais individualista, associado ao mercado.

– Talvez a Universal seja a maior multinacional brasileira, presente nos cinco continentes. Nenhuma empresa nacional fez esse sucesso em tão pouco tempo. É a empresa de salvação – analisa Quadros.

Na era do consumo, nada mais oportuno do que a fé ostentação.

Partido Republicano Brasileiro (PRB)

Braço político da Igreja Universal, tem como expoente o bispo Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo. Senador eleito, Crivella foi ministro da Pesca e hoje concorre ao governo do Rio.

Partido Social Cristão (PSC)

Ligado à Assembleia de Deus, lançou Pastor Everaldo como candidato a presidente, embora seu nome mais conhecido seja Marco Feliciano. Em março, insatisfeito com o espaço no governo, o partido rompeu com Dilma Rousseff.

Partido da República (PR)

Abrange filiados das igrejas Batista, Universal, Assembleia de Deus e várias outras. Presbiteriano, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho integra a legenda. Tiririca, embora nada tenha a ver com os evangélicos, busca a reeleição pelo PR.

Outras legendas

A influência evangélica não se restringe a três partidos. Há representantes em praticamente todas as siglas – uma mostra disso é a eclética Frente Parlamentar Evangélica.



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