terça-feira, 15 de julho de 2008

Leituras cristãs - 2

Eugene Peterson é um escritor cristão americano que eu, particularmente, gosto muito. Seus livros são sempre muito estudados, pensados, sinceros, sem se esconder atrás de uma aparência de religiosidade insofismável ou esotérica. Enfim, é um cara pé-no-chão. Tem vários livros bons, mas eu quero destacar "Corra com os Cavalos" (Ed. Textus/Ed. Ultimato, 2003), que tem o subtítulo "Para quem busca uma vida de excelência", que eu acho um tanto quanto infeliz, pois essa tal de "excelência" anda sendo tão batida no jargão empresarial que a palavra perdeu parte substancial do seu significado. Enfim, com base num versículo de Jeremias (12:5 - "Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo?"), Peterson escreve um livro sobre a vida e obra do profeta Jeremias, com as suas idas e vindas, suas vitórias e derrotas, propondo um roteiro profundo para que o cristão moderno se localize neste mundo tão controverso, e enfrente seus desafios sem comprometer sua fé e seu estilo de vida que aos outros pode parecer radical. Para tanto, o autor se vale de várias citações de outros escritores das mais diversas áreas (filósofos como Jacques Maritain, por exemplo), compondo um mosaico muito interessante do que há de bom no mundo e como podemos aproveitá-lo. Além do texto que já destaquei neste blog (clique aqui para lê-lo), vale a pena ressaltar outros trechos:

“O meu lamento em relação à sociedade contemporânea é devido à sua decadência. Há alguns poucos prazeres que ainda me atraem, mas quase nenhuma beleza a me cativar e nada erótico a me excitar. Não me sinto provocado ou desafiado por nenhum círculo ou posição intelectual, filosofias ou teologias novas e não há nenhuma nova arte que prenda a minha atenção ou desperte a minha mente. Tampouco há movimentos sociais, políticos ou religiosos a me estimular ou instigar. Não existem homens livres a quem possa submeter-me nem santos em quem encontre inspiração. Não há pecadores descontrolados o bastante para me impressionar ou compartilhar a minha desditosa condição. Ninguém humano o suficiente para validar o estilo de vida “corrente”. É muito difícil viver neste enfadonho mundo sem sentir-se dominado pelo tédio.

O futuro está nas mãos dos poucos que possuem um coração humilde e passional, que buscam a Deus com abnegação, neste maravilhoso mundo de redimidos e nas realidades que estão diante de nós.”

(William Mcnamara, “The Human Adventure”, citado na pág. 9)


“Ao contrário do que se imagina, eu olho para trás e vejo as experiências que, à época, pareciam especialmente desoladoras e dolorosas com particular satisfação. De fato, eu posso afirmar com total sinceridade que todas as coisas que aprendi em meus 75 anos de permanência neste mundo, tudo o que, verdadeiramente, fortaleceu e iluminou a minha existência, veio através da aflição e não por intermédio da alegria, tenha sido ela gratuita ou conquistada. Em outras palavras, se fosse possível eliminar a aflição de nossa vida terrena, seja por meio de alguma droga ou medicina alternativa, o resultado não seria uma vida atenuável, mas, sim, uma vida intoleravelmente banal e trivial. Este é, claro, o significado da cruz. E foi a cruz, mais do que qualquer outra coisa, que me levou, de forma inexorável, a Jesus Cristo.”

(Malcolm Muggeridge, “A Twentieth Century Testimony”, citado na pág. 100)



“Algumas pessoas podem estar perguntando: Por que a luz de Deus foi dada na forma de linguagem? Como é concebível que o divino esteja contido em vasos tão frágeis como consoantes e vogais? Esta pergunta revela o pecado de nossa era: tratar de forma superficial o meio que transporta as ondas de luz do espírito. O que mais no mundo é capaz de unir homens através das distâncias do tempo e do espaço? De todas as coisas terrestres, as palavras nunca morrem. Há tão pouca matéria nelas, porém tanto significado... Deus tomou estas palavras hebraicas e soprou nelas o Seu poder, e elas se tornaram um vínculo vivo, carregado com o Espírito divino. A partir desse dia, as palavras são ligações entre o céu e a terra. Que outro meio poderia ser empregado para conduzir o divino? Figuras esmaltadas na lua? Estátuas esculpidas nas montanhas?”

(Abraham Heschel, “God in Search of Man”, citado na pág. 147)


“É cada vez mais necessária a tarefa de pequenos grupos, de esforçar-se mais eficientemente pelo homem e pelo espírito e, em particular, de promover o mais eficaz testemunho destas verdades pelas quais o homem, tão desesperadamente anseia, e que estão, no presente, tão escassas. Pois somente os pequenos grupos são capazes de ajuntar-se ao redor de algo que escapa, completamente, à técnica e ao processo de massificação, qual seja, o amor da sabedoria, do intelecto, e a confiança na radiação invisível deste amor. Tais raios não visíveis possuem longo alcance; eles têm o mesmo tipo de poder inacreditável no reino espiritual que a fissão atômica e os milagres da microfísica possuem no mundo material.”

(Jacques Maritain, “The Peasant of the Garonne”, citado na pág. 161)

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