terça-feira, 22 de julho de 2008

Carta aos Romanos - 23

Assim, no início do segundo capítulo de Romanos, Paulo conclui que o homem, qualquer que seja, é indesculpável por seus atos. É curioso como o argumento anterior parecia servir apenas aos gentios, aqueles que não possuíam a Lei para indicar o que é o pecado a eles. É imperdoável aqueles que julgam, pois eles também cometem os mesmos erros, sejam eles quem for.

E o versículo 2 atesta para todos que o juízo de Deus é contra aqueles que praticam as coisas ditas no capítulo 1. Portanto, pelo versículo 1 e o 3, podemos concluir que o juízo de Deus é contra todos. Aqui Paulo já dá indícios de como resolver esta questão, pois no versículo 4 vemos que a benignidade de Deus conduz a pessoa ao arrependimento. É interessante notar como este arrependimento não tem como causa algo interno ao homem, mas na própria benignidade divina.

Quem despreza sua própria benignidade (versículo 4), se esquece que é a benignidade de Deus que o conduz ao arrependimento. Então, por que não sem bom, para que aqueles quem julgamos não se arrependam também? Se somos inflexíveis ao julgar (versículo 5), só poderemos obter um julgamento mais duro para nós mesmos.

Os versículos 6 e 7 podem aqui dar a entender que somos salvos por obras. Por isto é importante ler com cautela este trecho. Podemos ver pelo versículo 5, que o foco do julgamento é o coração ("a tua dureza e teu coração impenitente"). Por outro lado, no versículo 7, define-se os salvos como aqueles que "com perseverança em favor o bem, procuram glória, e honra e incorrupção". Isto nos lembra da parábola:

(Lc 8:15) Mas a que caiu em boa terra são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão fruto com perseverança.

Não é o coração ainda, o que está em foco aqui? Somente um coração decidido a mudar, pode produzir frutos com perseverança. E condenação aos que são duros de coração. Não são as obras em si, que estão em foco, mas as intenções de cada pessoa. Posteriormente, o apóstolo vai especificar como o coração, aqui a intenção, age no processo de salvação.

É no versículo 9 que Paulo menciona o judeu como alvo da ira divina também, algo que estava subentendido no versículo 1. Como o judeu, que conhecia a lei, poderia ser julgado da mesma forma que um grego? Como ele poderia receber as mesmas bênçãos? Como não haveria acepção de pessoas quando a maior parte delas não conhecia Deus? Paulo então declara:

(Rm 2:12) Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.
(Rm 2:13) Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei
(Rm 2:14) (porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei.
(Rm 2:15) pois mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os)


Os que possuem a lei em seu coração, são aqueles que serão justificados. E quem pensava que a lei só poderia ser conhecida através das Escrituras, Paulo aqui atesta que há aqueles que não tinham a lei escrita, mas as mostravam em seus corações. A lei divina não está limitada a um povo, mas se estende a todos. E ainda mantendo o raciocínio do coração gerando boas obras, Paulo aponta leis neste coração, como a origem dos atos morais de gentios. Isto responde bem às consciências de alguns, que justificam sua falta de fé apontando para uma suposta injustiça da parte de Deus, de não se revelar universalmente, mas apenas a um povo eleito. Porém, Deus já antes os responde com o propósito da eleição de Israel:

(Êx 19:6) e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.

Já que Israel teria a responsabilidade de ensinar os outros povos, aquilo que já conheciam de forma imperfeita (mas eficaz), sendo assim sacerdotes.

E então Paulo passa a dar mais atenção agora aos judeus, e a seu estado. Pois muitos judeus achavam que ao praticar as obras da lei, já estavam justificados. Mas eles pregavam as obras da lei, e cometiam delitos contra a mesma lei. Então Paulo diz algo que é válido para qualquer pessoa que se julgue religiosa:

(Rm 2:23) Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
(Rm 2:24) Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito.


Quem prega que haja uma lei moral a ser cumprida, deve observá-la também. Este é o grande problema tanto dos fariseus, quanto de muitos cristãos hoje, que se jubilam na lei, mais especificamente em alguns pontos da lei que julgam mais importantes, e ainda se dizem pecadores. São estes os que difamam o nome de Deus. Se a lei deve ser cumprida integralmente, então os defensores desta tese não podem se considerar pecadores.

A questão é tão séria, que a circuncisão, sinal dado ao povo de Deus, se transforma em nada quando há a transgressão da lei. E a incircuncisão se transforma em circuncisão quando há a observância desta lei. O que está claro com tudo isto, é que a observância da lei mostra quem é na verdade os circuncidados. Assim como a circuncisão mostra quem é o judeu, as boas obras, circuncisão do coração, mostra o verdadeiro fiel.

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