sexta-feira, 30 de junho de 2017

Tribunal do DF garante que término de namoro não é "estelionato emocional"



Junho está terminando e, junto com o fim do mês, talvez alguns namoros tenham ido para o ralo depois do dia 12, data festiva em que os casais enamorados trocam seus tradicionais presentes.

A eles então, não deve ser nada interessante ler esta notícia que vem do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios:

TERMINAR NAMORO APÓS GANHAR PRESENTES E PASSAGENS NÃO CONFIGURA ESTELIONATO SENTIMENTAL

A 1ª Turma Cível do TJDFT reformou sentença de 1ª Instância que havia condenado um casal a pagar danos morais recíprocos após término do namoro iniciado através de site de relacionamento. De acordo com a decisão colegiada, “os fatos narrados tanto pelo autor quanto pela ré, não ensejam reparação a título de dano moral. Brigas e mensagens telefônicas demonstrando animosidades decorrentes do término do namoro, por si sós, não geram abalo moral, tendo em vista que não tem o condão de atingir direitos da personalidade e, por conseguinte, não há o dever de indenizar”.

A ação de danos materiais e morais foi ajuizada pelo namorado, que alegou ter sofrido estelionato sentimental da ex-namorada. O autor, cidadão americano, relatou que conheceu a ré, cidadã brasileira, por meio da internet e que namoraram por certo período. Segundo ele, durante o namoro, a ex almejava apenas obter vantagens financeiras, acarretando a ele um prejuízo de R$11.425,88, correspondente a empréstimo de U$ 1.000, passagens aéreas para os EUA e um aparelho de telefone celular.

Além do prejuízo material, alegou ter sofrido também danos morais, pois foi submetido a tratamento humilhante enquanto se relacionava com a brasileira, “cujo comportamento histriônico alternava entre mensagens de amor e ódio”, confundindo-o, “pois ao mesmo tempo em que o chamava de safado e dizia ter nojo dele, persistia no relacionamento com mensagens carinhosas.”

Em contestação, a ex-namorada afirmou que os presentes e as passagens foram dados espontaneamente e negou que tenha pedido empréstimo ao ex-namorado. Ela apresentou pedido reconvencional, requerendo também a condenação do autor ao pagamento de danos morais. Contou que o namoro terminou em setembro de 2015 e que, desta data até o fim da instrução do processo não há qualquer mensagem de briga ou ofensa proferida pela apelante contra o apelado, “tudo o que consta são emails de dezembro de 2015, em que ela pede incansavelmente para que o ex pare de a perseguir e a ameaçar.” Acrescentou que a situação somente cessou após medidas protetivas ordenadas pelo juizado de violência doméstica.

Na 1ª Instância, o juiz da 4ª Vara Cível de Taguatinga negou o pedido de danos materiais e determinou o pagamento de danos morais recíprocos, no valor de R$ 10 mil para cada um. “Analisando os autos, sopesadas as circunstâncias do evento, bastante para se alcançar um mínimo de sentimento de Justiça o arbitramento da indenização por danos morais no valor de R$ 10 mil, para cada um, autor/reconvindo, ré/reconvinte, cuja importância não se mostra excessiva, a ponto de se apresentar como lenitivo às partes, nem módico o suficiente a não incutir-lhes a ideia de não punição pela conduta e da necessidade, de cunho pedagógico, de modificação do comportamento”, concluiu.

Após recurso, a Turma Cível, no entanto, julgou improcedentes os danos materiais e os danos morais pleiteados. Segundo o colegiado, “os presentes trocados no curso do namoro são mera liberalidade. Já as brigas e mensagens telefônicas demonstrando animosidades decorrentes do término do namoro, por si sós, não geram abalo moral passível de indenização”.

A decisão recursal foi unânime.

Processo: 20160710003003



quarta-feira, 28 de junho de 2017

Michel Temer não sabe como Deus o colocou lá... os "evangélicos" sabem!


As definições de cinismo, além de outras "qualidades" menos recomendáveis, estão sendo atualizadas diariamente durante a crise política que se arrasta há anos no Brasil.

Ontem, ao (tentar) se defender da denúncia de corrupção passiva protocolada pelo Procurador Geral da República junto ao Supremo Tribunal Federal, tendo ao seu lado a deputada federal Raquel Muniz (PSD/MG), que teve seu marido, o prefeito de Montes Claros (MG) Ruy Muniz, preso pela Polícia Federal por corrupção no dia seguinte ao que ela votou eufórica pelo impeachment de Dilma Rousseff, comandado pelo então presidente da Câmara, o deputado "evangélico" Eduardo Cunha, o presidente da república michel temer (sim, com letras minúsculas), disse, sem engasgar, que "não sabe como Deus o colocou lá".

Eis o vídeo da deputada:


Eis o pronunciamento do presidente em que ele usa o nome de Deus em vão:


Já os "evangélicos", sejam eles os políticos ou seus eleitores do curral gospel, sabem muito bem a quem michel temer se referia:





terça-feira, 27 de junho de 2017

Religiões se unem para tentar salvar as florestas tropicais


Talvez o problema seja exatamente que tudo fica apenas na "tentativa".

A matéria é da versão brasileira do El País:

Um encontro ecumênico na Noruega para salvar as “florestas sagradas”

Religiosos e indígenas se reúnem em Oslo para unir esforços para frear desmatamento das matas tropicais

ALEJANDRA AGUDO

Enquanto você lê esta frase, 120 hectares de floresta tropical desapareceram. São 24 por segundo. Este alto ritmo de desmatamento significa, na prática, a destruição do lar da metade das espécies conhecidas do planeta, além de seres humanos e de um importante armazém de milhões de toneladas de carbono. A eficácia das florestas para absorver esse elemento é tão grande que “pode representar um terço da mitigação da mudança climática durante as próximas décadas”, segundo o ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, Vidar Helgesen. Por isso, “é preciso lutar contra o desmatamento e reparar os danos causados”, completou Helgesen, na segunda-feira, durante a cerimônia de abertura da Iniciativa Ecumênica de Oslo para as Florestas Tropicais, que o Governo norueguês organiza em conjunto com a Rainforest Foundation Noruega e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Uma reunião – que termina nesta quarta-feira – de líderes religiosos e indígenas do mundo todo para enfatizar seu papel nesta batalha. O objetivo dos religiosos é aproveitar seu poder de influência para atrair os fiéis a essa causa. Já os indígenas mantêm o conhecimento ancestral para a proteção de sua casa, a natureza, que defendem todos os dias para o benefício de todos, arriscando sua vida.

“Os políticos e cientistas, que ocupam diversos cargos em outros âmbitos, não podem falar com a mesma autoridade moral que os líderes religiosos. A prática da religião é uma forma de se relacionar com os valores mais sagrados da vida”, afirmou Kusumita Pedersen, subdiretora do Parlamento das Religiões do Mundo. “A ciência, por si só, não muda o coração humano”, acrescentou Mary Evelyn Tucker, diretora do Fórum de Religião e Ecologia da Universidade Yale. Agora esse poder pode (e deve) se concentrar numa causa: salvar as florestas tropicais. “Cada lugar de oração deve ser um centro ecológico, oferecendo formas de mudar o mundo”, sugeriu William Vendley, secretário-geral das Religiões para a Paz. No momento, o plano é se reunir de novo numa cúpula global ecumênica em 2018, já com um programa de ação elaborado. As florestas tropicais, atualmente palcos de disputas pela propriedade e o uso de seus recursos, transformam-se também num lugar para o entendimento entre religiões e tradições espirituais, unidas para a sua salvaguarda. À espera de propostas concretas, os diálogos preliminares propiciaram um consenso entre os presentes sobre várias ideias.

“Se continuarmos desmatando, será um suicídio. Nós, como mensageiros de Deus e guardiões da criação, temos que promover a proteção de nossa casa comum.” O Arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, abriu a primeira mesa de debate com essa afirmação, que seria depois compartilhada por seus acompanhantes no palco do Nobel Peace Center da capital norueguesa. Indígenas, budistas, judeus, muçulmanos, hindus e católicos acreditam que a Terra é uma criação divina que deve ser cuidada. Um sentimento e um objetivo comuns numa época em que o entendimento entre as crenças parece pouco provável. Mas deve ser, afirmou o prelado. “Não é fácil rezar juntos, mas temos que agir unidos para conservar o planeta que Deus nos deu.”

Metropolitan Emmanuel, vice-presidente da Conferência Europeia de Igrejas, aceitou o desafio: “O cuidado da Terra deve nos unir. Isso vai além das diferenças doutrinarias”. “A Bíblia nos diz: mesmo quando é preciso defender o próprio país , não tem sentido destruir a fonte de sua própria sobrevivência”, agregou o rabino David Rosen, diretor internacional de assuntos inter-religiosos do Comitê Judaico Americano em Israel. “Quando Deus criou o primeiro ser humano, levou-o entre as árvores do Éden e lhe disse: ‘Olha minha obra, quão maravilhosa e digna de reconhecimento. E tudo o que criei é para teu benefício. Tem cuidado para não saquear nem destruir meu mundo, porque, se o fizeres, não haverá quem o recupere depois”, prosseguiu, lendo o Eclesiastes Rabá para ressaltar que não há desculpas para causar um prejuízo irreparável ao planeta. Ainda assim, é isso o que ocorre na prática: todos os anos, é desmatada uma área de floresta tropical do tamanho da Áustria. E, tal como a adverte a Rainforest Foundation Noruega com evidências científicas, os danos podem levar décadas, séculos ou até milênios para serem sanados (se é que isso é possível).

A destruição das florestas tropicais significa não apenas um ataque contra a criação de Deus, tal como descrevem os líderes religiosos, mas também contra a fonte de vida das pessoas. Isso porque essas matas absorvem carbono. Evitam que milhões de toneladas de gás acabem na atmosfera e contribuam para o aquecimento global. Também regulam os ciclos da água, razão pela qual seu desaparecimento altera as chuvas de maneira negativa. Acima de tudo, são o lar e o sustento de 1,6 bilhão de pessoas.

Phra Paisal Vongvoravisit, membro do Comitê Consultivo da Rede Internacional de Budistas, na Tailândia, recordou que “nossa existência só é possível graças ao ar, à água, aos alimentos e às outras espécies da natureza.” Por isso, “o fato de quebrar o galho de uma árvore é o mesmo que causar um dano a um amigo que nos ajuda”, explicou. Se for assim, grandes indústrias extrativistas, produtores de óleo de palma e soja, mineradoras, construtores de rodovias e represas de água estão massacrando nossos amigos, transformando-os literalmente em terra queimada. “É muito preocupante. A natureza é destruída em nome do desenvolvimento”, disse Paisal.

Essa realidade tem consequências. A ciência demonstrou a relação causa-efeito entre o desmatamento e a elevação das temperaturas, assim como de fenômenos climáticos adversos. Para Nanditha Krishna, presidenta da Fundação Ramaswami Aiyar, a explicação está no carma: “Toda ação tem uma reação.”

Alguns participantes afirmaram que tais empresas não fazem outra coisa a não ser satisfazer uma demanda crescente dos produtos que conseguem na floresta. “Nos preocupa o sentimento de perda. Acreditamos de forma errônea que as aquisições materiais preencherão nossas vidas, e por isso compramos de forma desmedida. Quanto mais, melhor. Não somos conscientes de que o sentimento de perda desaparecerá quando vivermos em paz, em vez de acumular cada vez mais”, advertiu Paisal. “E todas as religiões podem ajudar as pessoas a viver em paz. A cooperação entre os cultos é fundamental para lutar contra o materialismo e, desse modo, contra o desmatamento.” O monge tem pelo menos um aliado nessa missão:

Din Syamsuddin, diretor do Centro para o Diálogo e a Cooperação entre Civilizações, da Indonésia. “Os seres humanos são integrantes da comunidade da natureza e devem basear seu consumo na moderação. Temos que mudar nossa maneira de viver, protegendo as gerações futuras.” Para isso, disse o representante do islã na mesa, “é necessária a colaboração entre cientistas, empresários, religiões e a sociedade.” E concluiu seu discurso com uma citação. “Como disse o profeta, embora se aproxime o dia da destruição, se alguém tiver uma semente na mão, que a semeie.”

A Noruega plantou uma semente há uma década: decidiu converter a preservação das florestas tropicais em uma de suas prioridades internacionais. A partir de então, não só investiu com essa finalidade mais de 3 bilhões de dólares (10 bilhões de reais), estima o ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês, como também tomou medidas para a redução do consumo do óleo de palma (azeite de dendê) e da importação de madeiras de procedência tropical. Em benefício do desenvolvimento sustentável e da mitigação do aquecimento global também estimula a paulatina substituição de veículos de combustão fóssil por elétricos – cerca de 30% dos vendidos em 2016 são assim. Desse modo, o país reduz suas emissões. No entanto, exporta o problema: sua principal indústria (40% do PIB) ainda é a da produção de petróleo. Algo que o ministro Helgesen reconhece que precisa ser mudado nos próximos anos, seguindo os conselhos de Nanditha Krishna: “A teologia hindu diz que devemos tomar da Terra somente o que necessitamos. Mas devemos simplificar nossos desejos, nos submetermos a uma transformação pessoal”.

Indígenas, os guardiães da floresta

"Para nós que vivemos em florestas tropicais, as árvores, as plantas, animais e micro-organismos são membros de nossa comunidade. Temos, além disso, deidades que protegem as árvores e as águas. E temos árvores sagradas. Infelizmente, somos ameaçados por proteger as florestas, nossos direitos são violados e esmagados. Estamos em uma crise”, afirmou em sua intervenção Vicky Tauli-Corpuz, relatora das Nações Unidas para a defesa das pessoas indígenas. Ela, que vive no norte das Filipinas, sabe bem que aos riscos do desmatamento se somam os que correm aqueles que ousam defender a venerada, sagrada, divina, mas maltratada, casa de todos.

"Todos os dias lutamos contra os ataques do Estado brasileiro, as hidrelétricas, as empresas mineradoras, as madeireiras, contra a ampliação das ferrovias, as diferentes formas de pressão. O Brasil é o país que mais mata ativistas indígenas”, denunciou Sonja Guajajara, coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Apesar de defenderem seus territórios na selva amazônica, a líder enfatiza que sua luta não é local. “Não tem fronteiras, por isso temos de nos juntar e reunir todas as forças presentes”, disse, pedindo o apoio do grande público presente.

O saber tradicional dos povos indígenas está reconhecido no Acordo de Paris como uma potente ferramenta contra as mudanças climáticas. A evidência científica demonstra que onde eles vivem e fazem o manejo da floresta não há desmatamento, ocorrem menos incêndios e as árvores são ativamente (e não só em palavras) respeitadas. Sofrem, porém, constantes ataques, como descreveu Guajajara. Um recente relatório da Anistia Internacional revelou que, dos 281 ativistas assassinados no mundo em 2016, a metade atuava em problemas ligados à terra, território e meio ambiente.

“Os povos indígenas formam uma unidade com a Natureza, e a Natureza não ataca, mas dá respostas”, disse a líder brasileira ao justificar sua resistência à destruição de seu habitar em nome do progresso. Joseph Itongwa, membro do Comitê de Povos Indígenas da África, na República Democrática do Congo, aprofundou essa ideia: “Não me ensinaram o valor das árvores na escola. Desde crianças aprendemos seu valor para nossa sobrevivência. Produzem tudo de que precisamos: dão frutos, abrigam pássaros, são nossas guias... Temos uma relação de respeito com a Natureza. Assim, cortar árvores vai bem além do que se disse aqui. É uma perda de nossa identidade. Quando se derruba uma árvore é como se cortassem nossa identidade”.

Nesse sentido, Harol Jhony Rincon, secretário-geral da Organização Nacional dos Povos Indígenas da Amazônia Colombiana (OPIAC), perguntou: “Por que dizem que somos os guardiães da Natureza? ”Sem intenção de ofender”, disse, ele lançou sua resposta: “Porque os ambientalistas assumem que a preservação é o mesmo que a cosmovisão dos indígenas”. Uma equivalência que Rincon nega: “Nós não falamos de ambientalismo, mas de governo de nossos territórios porque o pai criador nos deu essa missão”,

O necessário reconhecimento real da titularidade das terras tem sido um dos assuntos mais debatidos atualmente, nos palcos, em grupinhos, cafés e encontros paralelos. Sem ele, a porta para que as grandes corporações e Governos se aproveitem dos recursos naturais em detrimento do bem comum está aberta. E passam por ela sempre que podem, sem se importar em muitas ocasiões que dentro da casa haja um indígena, milhares de espécies, árvores milenares, milhões de insetos... vivendo. Mas sua existência, luta e morte é invisível para a maioria dos habitantes do planeta. “Temos que nos tornar visíveis”, declarou Abdon Nabalan, vice-presidente do Conselho Nacional da Aliança de Indígenas do Arquipélago, na Indonésia. A iniciativa inter-religiosa para salvar as florestas tropicais, da qual tratou, tem sido uma oportunidade. “E que haja mais”, conclui.



segunda-feira, 26 de junho de 2017

Nadador brasileiro dá sunga amarela ao papa


A bem da verdade, não há registro de que a sunga em questão tenha sido entregue ao pontífice, mas que o nadador brasileiro Bruno Fratus tirou uma foto segurando-a e a divulgou nas redes sociais, a prova está aí acima. 

César Cielo, campeão olímpico dos 50 metros nado livre em Pequim 2008 e atual detentor dos recordes mundiais nas provas de 50 e 100 m no mesmo estilo, também estava presente no evento realizado no sábado, 24/06/17, em que o papa recebeu dezenas de nadadores italianos no Vaticano.



Na ocasião, conforme divulgou a Rádio Vaticano, o papa aproveitou para fazer um apelo pela despoluição da água em todo o mundo.

Como alguns atletas brasileiros estavam por lá, também foram convidados a visitar o papa e - obviamente - não perderam a ocasião.

Quanto à sunga, se é um presente de mau gosto ou não, fica a seu critério dizer já que ninguém sabe o seu destino, mas quem conhece os argentinos já percebeu que eles consideram vergonhoso usar uma sunga em público, razão pela qual você já deve ter observado que eles só utilizam suas bermudas quando visitam as praias brasileiras e todos sentem enorme desconforto quando veem homens usando sunga no mesmo espaço.

Já pensou o papa Francisco de sungão amarelo na intimidade de seu quarto no Vaticano, se é que existe intimidade por lá?

Não, melhor não, né...



sábado, 24 de junho de 2017

TJRS condena padre por impedir enterro de luterano em cemitério católico


Houve um tempo no Brasil em que cada religião tinha seu próprio cemitério, mas isso hoje só é possível observar nas cidades mais antigas, já que a prática - felizmente - caiu em desuso.

Por isso, certas notícias são inacreditáveis no ano em que se comemora o 500º aniversário da Reforma Protestante, como esta publicada no Consultor Jurídico:

Impedir enterro de luterano em cemitério católico é discriminação religiosa

Jomar Martins

Impedir o enterro de pessoa que professa fé diferente da congregação religiosa que administra o cemitério atenta contra direitos de personalidade previstos no artigo 5º da Constituição.

O fundamento levou a 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a condenar em dano moral, solidariamente, um padre e sua diocese, que não permitiram o enterro de um luterano, morto no mesmo acidente que vitimou sua família católica. A filha dele, autora da ação indenizatória, irá receber R$ 15 mil de indenização.

Segundo o acórdão, ao lado do direito natural de prestar honras fúnebres aos entes familiares, existe o direito fundamental, presente nos textos constitucionais, de não sofrer qualquer discriminação em razão de opção religiosa. E este direito vigora não só em face do ente público, mas também nas relações entre particulares.

Para o relator da Apelação, desembargador Eugênio Facchini Neto, faltou sensibilidade ao representante da Igreja Católica, que não reconheceu a excepcionalidade da situação. E o pior: os depoimentos mostram que o real motivo para não autorizar o enterro era religioso, e não porque o morto não era associado da congregação ou deixou de contribuir para a manutenção do cemitério – causa alegada pelos réus.

“No caso em tela, tenho que a conduta do padre demandado fez com que a morte efetivamente separasse o que em vida foi um belo e cristão exemplo de ecumenismo — união amorosa e frutuosa de uma católica com um luterano, cada qual seguindo a sua crença íntima e observando seus cultos religiosos, sem que isso consistisse em empecilho para uma vida em comum, ambos observando os mesmos mandamentos oriundos de um mesmo Senhor, aprendidos na mesma Bíblia sagrada”, discorreu no acórdão o relator.

Facchini Neto afirmou que os líderes religiosos, especialmente os que atuam em pequenas comunidades fortemente divididas no aspecto religioso, devem difundir a cultura da tolerância e do acolhimento. “Com isso, se contribuirá para que as religiões possam ser efetivamente uma fonte de consolo interno e esperança para os crentes, sem descambar para as intolerâncias religiosas que, em grau exacerbado, tanta destruição e barbárie já causaram ao longo da história da humanidade, desde priscas eras até os nossos tempos”, concluiu. O acórdão foi lavrado na sessão de 24 de maio.

Impasse religioso

Todo o imbróglio teve início quando os pais e a avó materna da autora, ao retornarem do município de Poço das Antas, no Feriado de Finados de 2011, morreram em consequência de um acidente automobilístico ocorrido na altura do quilômetro 377 da rodovia Tabaí-Lajeado (BR-386). O casal, que vivia em união estável, e a sogra moravam em Porto Alegre.

Avisada do acidente, a autora tomou as providências para o enterro dos três no cemitério católico de Poço das Antas, terra natal das duas mulheres. O padre responsável pela paróquia, no entanto, não autorizou o enterro do pai da autora, que professava a fé luterana, ao contrário das duas, que eram católicas. “É uma norma da Igreja que não podemos quebrar. Só podemos sepultar em nosso cemitério pessoas católicas que contribuem e estejam em dia com a taxa anual”, explicou o padre à família da autora. Impasse firmado, o jeito foi enterrar o homem no cemitério do município de Teutônia, cidade natal dele.

Além da dor pela perda dos entes queridos, a autora ficou ainda mais abalada com a negativa da paróquia, pois teve de providenciar, às pressas, outro local para enterrar o pai. Seu desejo era de que todos fossem enterrados num mesmo lugar, pois, apesar de professarem fé distinta, viviam em plena harmonia familiar e social. O caso teve repercussão nacional, à época, e motivou ação indenizatória contra o padre e a Diocese de Montenegro, que reponde pelo cemitério católico de Poço das Antas.

Sentença improcedente

No primeiro grau, a juíza Patrícia Stelmar Netto, da 2ª Vara Judicial da Comarca de Teutônia, negou a reparação moral, por ausência de ato ilícito. Para a juíza, o cemitério, propriedade da Mitra Diocesana de Montenegro, por ser privado, pode estabelecer critérios e requisitos para aqueles que pretendem usufruir dos serviços funerários. Em síntese, quem pretende enterrar algum familiar no cemitério católico deve, pois, atender ao regulamento fixado pela comunidade que o administra.

“As testemunhas arroladas pelos demandados, todos residentes e domiciliados em Poço das Antas e membros da comunidade católica, afirmaram que o local é administrado pela Igreja Católica, sem auxílio do Poder Público municipal, sendo que o costume e tradição do local é de somente enterrar os sócios da comunidade, os quais pagam duas mensalidades anuais”, escreveu na sentença.

Assim, conforme a julgadora, a exigência do cumprimento de regras estabelecidas pela comunidade católica não poderia ser vista como discriminação religiosa. É que a negativa não se deu em virtude da crença religiosa, mas por faltar a condição de membro da comunidade, a qual pressupõe o pagamento de contribuição. Afinal, a liberdade religiosa é direito fundamental, garantido de forma expressa no artigo 5º, incisos VI e VIII, da Constituição.

Clique aqui para ler a sentença.
Clique aqui para ler o acórdão.



sexta-feira, 23 de junho de 2017

STF suspende lei que proibia ideologia de gênero em escolas de Paranaguá (PR)


A informação é do Consultor Jurídico:

Lei que proíbe ensino sobre gênero e orientação sexual é suspensa

Parte da lei da cidade de Paranaguá (PR) que proíbe o ensino sobre gênero e orientação sexual nas escolas foi suspensa liminarmente pelo ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Ele concordou com os argumentos da Procuradoria-Geral da República, que viu na lei afronta a preceitos constitucionais como a igualdade, a vedação da censura em atividades culturais, a laicidade do Estado e o pluralismo de ideias.

Na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 461, apresentada pela PGR, o chefe do órgão, Rodrigo Janot, alegou que a Lei 3.468/2015, que aprova o plano municipal de educação, veda, na parte final do inciso X do artigo 3º, a adoção de políticas de ensino que tendam a aplicar a ideologia de gênero, bem como o uso dos termos “gênero” e “orientação sexual” nas escolas.

O dispositivo, para o procurador-geral da República, viola também a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Para Barroso, a proibição de tratar de conteúdos em sala de aula sem uma justificativa plausível conflita com os valores citados da ADPF, além de impor aos alunos o desconhecimento e a ignorância sobre uma dimensão fundamental da experiência humana.

O ministro disse ainda que tal atitude impede que a educação desempenhe seu papel fundamental de transformação cultural e de promoção da igualdade. A transexualidade e a homossexualidade, acrescentou o ministro, são um fato da vida que não deixará de existir por sua negação.

“Impedir a alusão aos termos gênero e orientação sexual na escola significa conferir invisibilidade a tais questões. Proibir que o assunto seja tratado no âmbito da educação significa valer-se do aparato estatal para impedir a superação da exclusão social e, portanto, para perpetuar a discriminação”, ressaltou o ministro.

Barroso lembrou ainda que a Constituição Federal de 1988 prevê a competência privativa da União para dispor sobre as diretrizes e bases da educação nacional. Segundo o relator, a Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases de Educação), editada pela União, estabelece como princípios o respeito à liberdade, o apreço à tolerância e a vinculação entre educação e práticas sociais.

“Ainda que se viesse a admitir a possibilidade do exercício de competência suplementar na matéria, seu exercício [pelo município] jamais poderia ensejar a produção de norma antagônica às diretrizes constantes da Lei 9.394/1996”, ressaltou o ministro. Com informações da Assessoria de Imprensa do STF.

ADPF 461



quinta-feira, 22 de junho de 2017

Cristãos se unem contra ditador da Zâmbia


A informação é da Radio Vaticano:

Zâmbia: duro ataque das Igrejas 
ao Presidente Edgar Lungu

Alarmados por uma deterioração rápida dos direitos humanos e do clima político na Zâmbia, as três principais Igrejas cristãs, conhecidas na Zâmbia como as "três Igrejas Mãe", publicaram nesta sexta-feira (16/06) uma duríssima declaração pública, numa conferência de imprensa, criticando a liderança do presidente zambiano Edgar Lungu. Os líderes da Igreja na Zâmbia pediram a libertação imediata do principal líder político da oposição da Zâmbia, Hakainde Hichilema (popularmente conhecido por HH) que o presidente Lungu lançou numa prisão de máxima segurança máxima, mesmo antes do julgamento por uma alegada acusação de traição.

Os três Organismos-mãe da Igreja na Zâmbia compreendem a Conferência dos Bispos Católicos da Zâmbia (ZCCB); a Comunidade Evangélica da Zâmbia (EFZ) que representa as Igrejas Carismáticas e Pentecostais, bem como o Conselho das Igrejas na Zâmbia (CCZ). CCZ é o ‘corpo guarda-chuva’ para as Igrejas Protestantes e as organizações relacionadas com a Igreja que tradicionalmente também são membros do Conselho Mundial das Igrejas (CMI).

A declaração dos líderes da Igreja é um severo ataque ao Presidente Lungu e demonstra uma clara manifestação de solidariedade que recentemente não se via entre os líderes da Igreja na Zâmbia. Ela também ressalta a frustração com o presidente da Zâmbia e o estilo vingador da liderança de Edgar Lungu.

"Sim, nós na Liderança da Igreja não estamos arrependidos, a Zâmbia eminentemente se qualifica para ser marcada como uma ditadura. O facto é que apenas uma liderança que não tem a vontade do povo ao seu lado ou pensa que não tem a vontade do povo do seu lado usa as instituições do Estado para suprimir a mesma vontade do povo", disseram os Líderes da Igreja. Em síntese, eles estavam a apoiar uma declaração anterior dos Bispos católicos zambianos que chamavam o presidente Lungu como um ditador. A Zâmbia tem sido conhecida no passado como uma democracia relativamente pacífica e estável.

Não há muito amor perdido entre o presidente Lungu e o líder do principal partido da oposição UPND, Hichilema. Quando este último não cedeu prioridade à comitiva do presidente em abril deste ano, Lungu desencadeou toda a força da maquinaria estatal da Zâmbia contra Hichilema. E desde então ele aprisionou o líder da oposição acusando-o de traição. É um crime que acarreta uma sentença de morte. Amnesty International diz que as acusações de traição contra o presidente da UPND na oposição, Hichilema, têm a finalidade de perturbar, intimidar e dissuadi-lo de fazer o seu trabalho político.

A declaração conjunta apresentada aos órgãos de informação, e emitida pelos líderes da Igreja é assinada pelo Arcebispo de Lusaka e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Zâmbia (ZCCB), Telesphore Mpundu; o Presidente do Conselho das Igrejas na Zâmbia (CCZ), o Bispo Alfred Kalembo; e o Presidente da Comunidade Evangélica da Zâmbia, o Bispo Paul Mususu. O arcebispo Mpundu informou aos órgãos da comunicação que todos os esforços para a diplomacia dos bastidores falharam quando o presidente Lungu recusou-se a receber os clérigos.

Na declaração dos líderes da Igreja, o Serviço da Polícia da Zâmbia é destacado pela sua falta de profissionalismo e pela brutalidade. "A acusação do Serviço da Polícia como não profissional não foi inventada pelos três Organismos-Mãe da Igreja; encontra-se em preto e branco no julgamento do Magistrado Greenwell Malumani, que nos diz que a conduta da Polícia neste caso não estava em conformidade com a lei e a ética Profissional da Polícia! Citando o bem formado juiz, o episódio "expôs a incompetência da Polícia, a falta de profissionalismo e o comportamento criminoso na maneira como geriram a prisão de Hakainde Hichilema", lê-se na declaração.

Os líderes da Igreja criticam ainda a diminuição das liberdades na Zâmbia: uma crescente cultura de intimidação por parte dos agentes estatais; o piorar da situação dos direitos humanos e, em particular, a erosão da liberdade de imprensa. Papa apoiar as suas afirmações, eles dão como um exemplo o fechamento do jornal independente líder na Zâmbia, 'The Post'. Eles pediram ao governo do presidente Lungu para iniciar o diálogo nacional como uma saída para o impasse político.

Como era de prever, os apoiantes do presidente Lungu contactaram os meios da comunicação social para desabafar a sua ira contra os líderes da Igreja, embora a maioria dos cidadãos tenha ficado aliviada por ver que a Igreja estava a assumir uma forte posição moral contra a injustiça e o estilo autoritário do governo do presidente Lungu. (BS)



quarta-feira, 21 de junho de 2017

Emir árabe muda nome de mesquita para "Maria Mãe de Jesus"


A informação é do portal acidigital:

Mesquita nos Emirados Árabes agora se chama Maria Mãe de Jesus

ABU DHABI, 17 Jun. 17 / 10:00 am (ACI).- As autoridades dos Emirados Árabes Unidos decidiram mudar o nome de uma de suas mesquitas, lugar de culto muçulmano, para que, de agora em diante, se chame “Maria, Mãe de Jesus”.

Segundo informa ‘Gulf News’, a mudança de nome a “Mariam Umm Eisa”, árabe para “Maria, Mãe de Jesus”, foi decidido pelo xeique Mohammad Bin Zayed Al Nahyan, príncipe de Abu Dhabi e Comandante Geral das Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos.

A poucos metros da mesquita está a igreja anglicana St. Andrew. Seu capelão, Andrew Thompson, disse a ‘Gulf News’: “Estamos muito felizes de que celebremos algo que temos em comum entre ambos os credos”.

Por sua parte, o pastor da comunidade evangélica em Abu Dhabi, Jeramie Rinne, agradeceu ao xeique Mohammad por “outro gesto de tolerância religiosa ao renomear a mesquita”.

Por outro lado, o Vigário Apostólico da Arábia do Sul, o Bispo católico Paul Hinder, também expressou sua satisfação pela mudança de nome da mesquita e disse que Maria “está de forma proeminente na Bíblia e no Corão (o livro sagrado muçulmano) e constitui um laço importante entre cristãos e islâmicos”.

Em sua opinião, esta mudança de nome da mesquita “contribuirá para a paz e o entendimento mútuo não só em nosso país, mas em toda a região”.



Emir ou amir - (termo que, em língua árabe, significa "comandante") é como se fosse um título de nobreza equivalente a príncipe, historicamente usado nas nações islâmicas do Médio Oriente e Norte de África. Originalmente, foi um título de honra atribuído aos descendentes de Maomé. Séculos depois, tornou-se utilizado em vários contextos, como por exemplo, para se referir a chefes e nobres, como no caso dos Beduínos da Arábia e do Império Otomano.
Fonte: Wikipedia


domingo, 18 de junho de 2017

Bancada "evangélica" tem novo inimigo: Janot, o Procurador Geral da República

O alvo gospel é Janot... 

Manja aqueles bons tempos em que evangélicos de verdade pregavam o evangelho de Jesus Cristo e transformavam o mundo com seu testemunho e suas orações?

Pois é, ficaram no passado. Hoje os autointitulados "evangélicos" querem mesmo é fazer polêmica e política, nada mais...

A matéria é do Radar Online da Veja:

Evangélicos preparam ofensiva contra Rodrigo Janot

Ernesto Neves

Como se Rodrigo Janot já não tivesse trabalho suficiente, ele agora terá de lidar com a grita dos evangélicos.

Isso porque o procurador-geral da República mantém posição firme contra leis municipais que proíbem o ensino de educação sexual e ideologia de gênero.

Com isso, deputados evangélicos planejam uma visita à PGR na próxima terça (20). Segundo Ezequiel Teixeira (Podemos-RJ), a atitude de Janot é autoritária. Ele fará um discurso contra a atitude no plenário da Câmara.

“Querem, de qualquer forma, nos enfiar goela abaixo a doutrinação de nossas crianças e adolescentes nas escolas”, disse.

A PGR já apresentou ações para derrubar a proibição nas cidades de Cascavel (PR), Blumenau (SC), Paranaguá (PR), Palmas (TO), Novo Gama (GO), Ipatinga (MG) e Tubarão (SC).



sábado, 17 de junho de 2017

Sobre canibalismo e previsibilidade do Direito na canoa furada chamada "Brasil"


Acredite: dá mais ou menos nisso o resumo do excelente artigo de Lenio Luiz Streck publicado no Consultor Jurídico em 08/06/17:

No naufrágio jurídico, quem os tubarões comerão primeiro? Há critérios?

Subtema ou dizendo-de-outro modo: Tubarões estudam realismo jurídico e devoram os jurista.

Escrevi há dias sobre o perigo de os professores de direito agirem como torcedores. Não só os professores. Parcela considerável da comunidade jurídica age assim. Alertei para o fato de que esquecemos de nosso objeto de estudo e trabalho: o Direito. Transformamos as Faculdades em cursos para apreender truques de teoria política do poder (aliás, uma péssima teoria política do poder). Sem querer e/ou sem saber, fazem o jogo de um realismo retrô, em que o relativismo é a cereja do bolo.

Hoje em dia precisamos pedir desculpas para falar de Direito. O professor chega na sala de aula e fala sobre tudo (e sobretudo) ...a partir de sua opinião pessoal. Como se os alunos pagassem para ouvir o que professor (ou o juiz, o membro do MP) pensam pessoalmente sobre o Direito (ou sobre a sociedade). Qual é a diferença de um juiz que decide conforme “seu posicionamento pessoal” e o que o professor faz em sala de aula? Ao que consta, não se vai ao judiciário pedir a opinião pessoal do magistrado. E nem do professor na sala de aula. Antes de tudo, há uma coisa chamada “Direito” (peço desculpas, de novo, por falar nessa coisa démodé, a Constituição).

Por exemplo: de que adianta falar mal da reforma trabalhista se não se discute o modo como são feitas as OJs e as Súmulas pelo TST? Ou o protagonismo judicial ínsito à Justiça laboral? Em vez de malhar (ou elogiar) a reforma previdenciária, não seria bom fazer um aprofundado estudo jurídico-constitucional a respeito? Ou essa discussão é meramente política? Em vez de elogiar (ou criticar) o STF acerca do “caso Bruno”, por que o professor não explica (ou pede ampla pesquisa) acerca do HC 126292, sua origem (comarca de Itapecerica da Serra), já aproveita para explicar o que é distinguishing, fala do artigo 926 do CPC que não foi obedecido? Ah: e quando for criticar o tal “princípio” (sic) da verdade real, o professor pode fazer duas coisas: primeiro, não somente fazer um “carnaval” em cima disso; precisa explicar tim-tim por tim-tim, uma vez que 90% dos críticos da verdade real sequer sabem do que estão falando; segundo, pegar um caso concreto baseado na “busca da verdade real” e mostrar como no lugar da VR poderia ter usado qualquer coisa...que chegaria na mesma conclusão, porque a VR é uma katchanga real. E assim por diante. Lembrando sempre que o professor está lecionando...Direito. Ou não está lecionando direito o Direito.

Por isso, precisamos de critérios. Não dá para um mesmo Tribunal livrar um sujeito acusado de corrupção de milhões e manter preso uma pessoa que furtou pedaços de queijo e peito de frango; não dá para depender, em Habeas Corpus, do poder discricionário do Judiciário (que é um não-critério); ora, temos já critérios que definem o resultado do carnaval em 0,01 e ainda não temos critérios para conhecer um HC – aliás, se um HC pode ser impetrado pela própria pessoa e sua origem é “traga-me o corpo”, como se pode não conhecer do remédio (chamado antigamente de “heroico”)? Qual é o critério para definir o conhecimento e deferimento de embargos de declaração? Por que quem impetra uma ação nunca sabe o que vai acontecer? Critérios. Critérios. Onde estão?

Talvez com a historinha que contarei a seguir seja possível passar de forma mais simples o que tento dizer de há muito. É de Luis Fernando Veríssimo. Divido-a com vocês (com pequenas adaptações). A crônica é “Critérios”. Vamos a ela. Eu gostaria de tê-la escrito.

Os náufragos de um transatlântico, dentro de um barco salva-vidas perdido em alto-mar, tinham comido as últimas bolachas dos pacotinhos e contemplavam a antropofagia como único meio de sobrevivência.

— Mulheres primeiro — propôs um cavalheiro.

A proposta foi rebatida com veemência pelas mulheres. Onde se viu, as mulheres? Machista. Safado.

De todo modo, estava posta a questão fulcral: qual critério usar para decidir quem seria comido primeiro para que os outros não morressem de fome?

— Primeiro os mais velhos — sugeriu um jovem.

Os mais velhos imediatamente se reuniram num protesto. Falta de respeito!

— É mesmo — disse um — somos difíceis de mastigar.

— Por que não os mais jovens, sempre tão dispostos aos gestos nobres?

— Somos, teoricamente, os que têm mais tempo para viver — disse um jovem. E vocês precisarão da nossa força nos remos e dos nossos olhos para avistar a terra.

— Então os mais gordos e apetitosos, sugeriu o jovem.

— Injustiça! — gritou um gordo. — Temos mais calorias acumuladas e, portanto, mais probabilidade de sobreviver de forma natural do que os outros.

— Então comamos os mais magros.

— Nem pensem nisso — disse um magro, em nome dos demais. Afinal, somos pouco nutritivos.

— Por que não comemos os religiosos, gritou outro.

— Negativo. Não esqueçam que só nós temos um canal aberto para lá — disse um pastor, apontando para o alto — e que pode se tornar vital, se nada mais der certo.

Era um dilema.

É preciso dizer que esta discussão se dava num canto do barco salva-vidas, ocupado pelo pequeno grupo de passageiros de primeira classe do transatlântico, sob os olhares dos passageiros da patuleia, apertada na segunda e terceira classes, isto é, o resto da embarcação e não diziam nada. Até que um deles perdeu a paciência e, já que a fome era grande, inquiriu:

— Cumé é que? Cadê a boia (na verdade, queria dizer “comida”).

Recebeu olhares de censura da primeira classe. Poxa, o patuleu não sabe nem falar o português. Mas como estavam todos, literalmente, no mesmo barco, também recebeu uma explicação.

— Estamos indecisos sobre que critério utilizar.

— Pois eu tenho um critério — disse o patuleu.

— Qual é?

— Vamos comer primeiro os indecisos.

Esta proposta causou um rebuliço na primeira classe acuada. Um dos seus teóricos levantou-se e pediu:

— Não vamos ideologizar a questão, pessoal!

Em seguida levantou-se um ajudante de maquinista e pediu calma. Queria falar.

— Náufragas e náufragos — começou — Neste barco só existe uma divisão real, e é a única que conta quando a situação chega a este ponto. Não é entre velhos e jovens, gordos e magros, poetas e atletas, crentes e ateus... É entre minoria e maioria.

E, apontando para a primeira classe, gritou:

— Vamos comer a minoria!

Novo rebuliço. Protestos. Revanchismo, não, gritavam os membros da primeira classe!

Mas a maioria avançou sobre a minoria. A primeira classe não era primeira em tudo?

Pois seria a primeira a ser devorada.

Entretanto, restava um problema. Não podiam comer toda a primeira classe, indiscriminadamente. Ainda precisava haver critérios. Foi quando se lembraram de chamar o Natalino. O chefe da cozinha do transatlântico. E o Natalino pôs-se a examinar as provisões, apertando uma perna aqui, uma costela ali, com a empáfia de quem sabia que era o único indispensável a bordo.

O fim desta pequena história admonitória é que, com toda agitação, o barco salva-vidas virou e todos, sem distinção de classes, foram devorados pelos tubarões. Que como se sabe, não têm nenhum critério.

Conclusão:

Por isso, a aplicação do Direito precisa de critérios. Aplicados sempre de forma equânime (por e com fairness). Não pode ser feita na base do “o clamor público exige”, “entre a lei e minha consciência, fico com a última”, “em nome da verdade real”, “julgar é um ato de fé”, “prova é o nome dado a uma crença” (sobre isso farei uma Coluna!), “a sociedade está pedindo mais punição”, “em nome dos fins, posso usar qualquer meio”, “é melhor condenar alguém do que ninguém” e assim por diante.

A democracia precisa de critérios. Antes que sejamos todos devorados pelos tubarões. Se é que já não estão às nossas portas. Na verdade, já estão.

MORAL DA HISTÓRIA: Tubarões não tem critérios. Tubarões não sabem nada de Direito. Tubarões cuidam apenas de seu apetite. Atendem apenas aos seus desejos. Quem cuida do Direito não deve e não pode se comportar como os tubarões. O Direito só funciona mediante critérios.

METAFORICAMENTE: Preocupado com o apetite dos tubarões e com sua irracionalidade, todas as semanas venho aqui para importuná-los e avisar que precisamos de critérios. Que o Direito é que serve para filtrar a moral e a política, e não o contrário.

Sei que é uma chatice. Mas é que conheço tubarões.... Estudo-os há anos. Especializei-me em “epistemologia do Negaprion brevirostris”. Descobri que os tubarões (principalmente os grandões, negaprions), se fossem juristas, seriam adeptos do realismo retrô. Realistas-retrô também não têm critérios. Ah: para os tubarões, tudo é relativo. Por isso eles não têm critérios.



sexta-feira, 16 de junho de 2017

Marcha gospel confirma que "evangélicos" cavam sua sepultura ao lado de Temer


Estevam Hernandes, aquele líder da Renascer que curtiu uma temporada preso nos EUA, mesma situação pela qual passou sua esposa Sonia Hernandes, por terem tentado entrar naquele país com milhares de dólares escondidos dentro da Bíblia, aproveitou a Marcha para Jesus - realizada ontem em São Paulo (SP) - para defender o governo de Michel Temer, o presidente do Brasil que é acusado de vários crimes e está sendo processado no Supremo Tribunal Federal.

Esta foi a 25ª edição do evento gospel que, apesar de ter começado - curiosa e paradoxalmente - com uma oração "contra a prostituição e a corrupção", prova que, apesar das autoproclamações de piedade e arrependimento, do ponto de vista moral e espiritual os resultados são os piores possíveis, já que o Brasil só vem descendo o poço desde a primeira Marcha e - até o momento - não se consegue discernir o seu fundo.

Alguma coisa está errada, portanto, se o objetivo da Marcha, conforme diz o "bispo" Leonardo Migliolo (acho que confundiram o nome do Leandro Miglioli) na matéria, é "orar pelo País". "Orar pelo presidente, pelo governador, pelo prefeito". Tá bão...

Ao apoiar o polêmico presidente do país em suas reformas antipopulares, o "apóstolo" da Renascer não está sozinho, entretanto, pois seguiu o mesmo exemplo da liderança da Assembleia de Deus - Ministério Madureira, que foi beijar a mão de Michel Temer outro dia, acompanhada de gente do nível do Pastor Everaldo e Jair Bolsonaro, conforme se vê pela publicação da CONAMAD no Facebook.

Líderes "evangélicos" se associam, portanto, ao que existe de pior na política brasileira, provando (mais uma vez) que a palavra "evangélico" denota hoje no Brasil um termo muito mais ideológico (da pior espécie, aquela que quer levar vantagem em qualquer situação) do que teológico, infringindo fragorosamente o segundo mandamento, que, caso você não se lembre ou não leia a Bíblia, ordena para não se levar o santo nome de Deus em vão.

Sair mal na foto, afinal, parece que passou a ser pré-requisito para aparecer na mídia e nos portais gospel como "liderança evangélica brasileira", seja lá o que isto significa.

A coisa anda tão feia que Miguel Reale Junior, ex-ministro da Justiça de FHC e um dos juristas autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, disse que iria se desfiliar do PSDB ao constatar que o partido não vai se desligar do governo Temer, dizendo que espera que "o partido encontre um muro suficientemente grande que possa servir de túmulo".

Parece que os evangélicos já encontraram uma marcha suficientemente grande para tanto.

Do jeito que a coisa anda, não se assuste se a praga de "The Walking Dead" começar pelo Brasil...




A vergonhosa informação (para os verdadeiros cristãos) foi publicada no Estadão:

Marcha para Jesus atrai multidão para as ruas de São Paulo e tem tom político

Neste ano, a Marcha tem como lema #EuAcheiMeuRei, em referência a Jesus. Criador defendeu a permanência do presidente Michel Temer no cargo, além da aprovação das reformas propostas pelo governo federal

Felipe Resk

SÃO PAULO - Uma oração contra a prostituição e a corrupção no Brasil abriu nesta quinta-feira, 15, a Marcha Para Jesus, que atraiu uma multidão de evangélicos por ruas do centro e da zona norte de São Paulo. Criador do evento, o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer em Cristo, também defendeu a permanência do presidente Michel Temer (PMDB) e as reformas da previdência e do trabalho, propostas pelo governo.

Em cima do trio elétrico, logo no início da passeata, Hernandes foi breve. "Oramos contra a corrupção e a prostituição, baseado em um preceito bíblico. A Bíblia fala que, quando nós oramos e clamamos, mudamos situações", afirmou. "Como brasileiros, nós estamos sendo afetados com toda essa loucura que o Brasil tem passado, de corrupção, de miséria."

O apóstolo também se posicionou contrário à saída do presidente Michel Temer. "Particularmente, sou favorável que termine esse mandato por causa de todo o trauma que a nação tem passado", disse. "Mas não que eu, ou nós, tenha um apoio explícito ao governo Temer."

Para ele, se houver "sustentação do Congresso", Temer "pode chegar ao final do mandato". "Agora, a gente sabe que está extremamente complicado", disse o apóstolo, que defendeu, ainda, as reformas propostas pelo governo. "Isso é fundamental para o Brasil, para que a economia volte a crescer e para que a gente tenha uma retomada do que é mais fundamental: o emprego."

O bispo Leonardo Migliolo, da Renascer, afirmou que o objetivo da Marcha é "orar pelo País". "Orar pelo presidente, pelo governador, pelo prefeito", disse. "Para que Deus possa conduzir com sabedoria toda essa situação que o País está enfrentando."

Politicos. Presente ao evento, o vice-prefeito Bruno Covas elogiou a organização. "São Paulo, além de ser uma cidade que tem uma tolerância religiosa muito grande, é vocacionada para eventos grandes como esse", disse.

Covas também compareceu para representar o prefeito João Doria (PSDB), que está em viagem a Porto Rico, no Caribe, para comemorar o aniversário da 15 anos da filha. "A viagem foi solicitada há dois anos, portanto muito antes de ele sonhar em disputar as prévias do PSDB", disse Covas.

O senador Magno Malta também participou do evento. Apesar de ter informado o comparecimento à organização, o governador Geraldo Alckmin não apareceu.

Esta é a 25ª edição da Marcha Para Jesus, com o lema #EuAcheiMeuRei. A concentração começou por volta das 10 horas, em frente à Estação da Luz, do Metrô, na região central. De lá, oito trios elétricos partiram em direção à Santana, na zona norte, onde fica o palco, instalado na Praça Heróis da FEB, com shows de música gospel.

Com faixas de "Deus é Fiel" e "100% Jesus", jovens representaram grande parte do público. Na multidão, havia fiéis de todas as idades, de bebês a idosos. A dona de casa Rosangela Cazella, 35 anos, levou a filha de 10 meses para a Marcha. "Já vim várias vezes, mas esta é a orimeira com ela", disse ela, fiel da Orgeja Verbo da Vida.

O marido Lucas Bispo, de 34, técnico em telecomunicação acompanhou a família. "O evento é muito importante, é uma manifestação do corpo de Cristo e também uma oportunidade de ir para a rua e falar de Jesus, mostrar a alegria do nosso povo."

Apesar de ser católico, o treinador de futebol Antônio Carlos oliveira, de 44 anos, saiu de Cajamar, na Grande São Paulo, para participar da festa. "Minha familia é toda evangélica, da Renascer", afirmou. "O evento é muito bacana porque une todo mundo." Organizadores do evento afirmaram que a quantidade de pessoas que participaram da festa foi maior de todas as edições, mas não divulgaram números. Em 2016, a organização afirmou que 3 milhões de pessoas participaram do evento.



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