sexta-feira, 29 de abril de 2011

A (não) separação argentina entre Igreja e Estado

Artigo do site da rádio portuguesa Renascença:

Argentina, onde a separação entre Igreja e Estado nunca chegou

Neste país da América do Sul o clero é financiado pelo Estado e a Igreja tratada como agente político, o que tem descredibilizado a instituição, considera Fortunato Mallimaci.

A realidade que Portugal conhece, de separação entre Igreja e Estado está longe de ser unânime em todo o mundo. Mesmo na Europa ocidental existem vários casos de países com Igrejas Oficiais. Na Argentina a realidade também é outra, com a Igreja Católica a manter um estatuto privilégiado na hierarquia estatal, com os bispos a serem equiparados a juízes, em termos de prerrogativas e direitos, e os seminaristas a receberem subsídios do Governo.

Este facto não é apenas uma formalidade anacrónica, como se poderia pensar, mas tem consequências reais, explica Fortunato Mallimaci, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, e que participou, ao longo dos últimos quatro dias, no congresso que assinala os 100 anos da separação Igreja-Estado em Portugal, realizado na Universidade Católica, em Lisboa.

“Esse estatuto traduz-se numa série de privilégios que a Igreja Católica tem, que não vem das leis, mas sim de um papel que desempenhou enquanto instituição de poder durante muitos anos, sobretudo desde os regimes militares na década de 30 e que foi a forma de política argentina até 1983, quando foi instaurada a democracia”, explica o académico.

“O resultado é que a Igreja é considerada uma instituição legítima para falar de economia, de política e, nas últimas décadas de assuntos sociais como o papel das mulheres, sexualidade e esta ideia que mantém ainda de que a identidade católica e os princípios católicos devem ser os que regem a nação e a pátria, e digo nação e pátria porque são os dois termos que a Igreja utiliza, porque a palavra democracia é, ainda hoje, uma palavra que não entra na sua cultura”, acrescenta Mallimati.

Evidentemente existem outras confissões religiosas naquele país, sobretudo Igrejas protestantes e Evangélicas, que como em toda a América do Sul se encontram em rápida expansão. Pela lei, estas têm liberdade de culto, mas para isso devem primeiro registar-se com o Estado. “Todos os cultos têm de se inscrever, e se não o fizerem não podem exercer publicamente a sua liberdade religiosa. Podem fazê-lo em privado, mas não publicamente. O que acontece é que todos se registam, menos a Igreja Católica, que por sua vez nomeia a pessoa que gere esse registo. Isso faz com que o resto das confissões religiosas se sentem de segunda, subordinados.”

Embora não seja, claramente, defensor deste estado de coisas, Fortunato Mallamati explica porque é que, sociologicamente, a Igreja se deixou colocar nesta posição.

“Muitas vezes falamos de Igreja, Governo, partidos, mas não distinguimos o capital acumulado, de séculos, que existe na Europa e é muito diferente na América Latina, onde os Estados intervêm com força para pressionar a Igreja, daí que a Igreja tenha aprendido, e fixado na memória, que se não está no Estado não tem poder. Daí este esforço quotidiano para poder estar no Estado, não como um partido, mas como um movimento católico para penetrar o Estado. Se há democracia é mais difícil penetrar porque é preciso penetrar nos partidos.”

A sucessão de regimes militares que se tornou norma a partir da década de 30 até 1983 veio piorar a situação, com a Igreja a deixar-se usar para legitimar os governos. Ironicamente, esta cultura de proximidade com regimes militares haveria de ter efeitos inesperados nas décadas de 60o e 70: “A partir de 1930 a Igreja é chamada a legitimar os regimes militares, e em troca recebem privilégios, subsídios, muda-se a linguagem social e mostra-se os militares como o sujeito da evangelização que vai redimir a Argentina. Claro que, na década de 60 e 70, vários destes sacerdotes militarizados passam-se para a guerrilha, para a luta armada, o que leva a 25 sacerdotes, várias religiosas, centenas de freiras, dois bispos assassinados pela Igreja, e isso é algo que a Igreja oficial, até aos dias de hoje, não quer reconhecer”, explica Fortunato Mallimati.

O professor argentino, especialista em sociedade, cultura e religião, assegura que todo este cenário tem contribuído para um grave descrédito da Igreja, sobretudo entre as camadas mais jovens da população.

Mitos sobre religião e Estado



Artigo publicado no Estadão do dia 27/04/11


Mitos sobre religião e Estado


A 1ª Emenda dos EUA garante a separação entre ambos, mas no início ela não evitou que Estados financiassem igrejas

David Sehat, The Washington Post - O Estado de S.Paulo

Os liberais afirmam que os pais fundadores dos EUA separaram Igreja e Estado, enquanto os conservadores defendem que os fundadores fizeram da fé um alicerce do governo americano. Ambos os lados dizem que houve nos EUA uma época de liberdade de culto que eles buscam preservar. Mas nenhum dos lados apresenta uma interpretação correta. Vamos pôr fim a certas ideias equivocadas a respeito da religião e da política nos EUA.


1. A Constituição sempre protegeu a liberdade religiosa Muitos americanos creem que a separação entre igreja e Estado definida na 1.ª Emenda garante a liberdade religiosa. Mas, quando foi ratificada em 1791, a 1.ª Emenda não se aplicava aos Estados, coisa que só passaria a ocorrer bem depois do início do século 20. Como resultado, a 1.ª Emenda não evitou que Estados financiassem igrejas com o tesouro público. Como muitos pensavam que a religião seria o principal alicerce da sociedade americana, usaram o próprio poder para imprimir seus ideais de moralidade às Constituições estaduais e às opiniões judiciais durante boa parte da história americana.

2. A religiosidade dos fundadores é uma característica determinante. Os cristãos que enxergam os pais fundadores como santos encontrarão dificuldades para sustentar a crença. Thomas Jefferson escreveu uma versão do Novo Testamento removendo as referências à divindade de Jesus. Benjamin Franklin era um deísta. Mas, fossem quais fossem as crenças religiosas dos fundadores, a 1.ª Emenda simplesmente preservava o status quo da relação entre igreja e Estado. Nunca houve uma religião oficial nas 13 colônias, e os novos Estados favoreciam religiões diferentes. Assim, os autores da Constituição delegaram aos Estados a questão da religião.

3. Os cristãos conservadores só passaram a dominar a política recentemente. Os partidários cristãos mobilizaram-se logo no início da história americana, buscando impor ao novo país uma ordem moral - mas ainda cristã e, mais especificamente, protestante. No início, os cristãos foram mais bem sucedidos no exercício do controle político e legal no nível do Estado. Mas, com o tempo, os fiéis encontraram um público federal para a reforma moral sintetizada na aprovação da 18.ª Emenda em 1919, um experimento de proibição de alcance nacional. Essas campanhas morais anteciparam muitas das disputas políticas envolvendo a religião que emergiram como o debate sobre o casamento gay.

4. Os EUA são hoje mais seculares do que antes. A Revolução Americana foi, na verdade, um ponto baixo na prática religiosa dos americanos. Os sociólogos mostraram que não mais do que 20% da população do país pertencia a alguma igreja em 1776. Então, sob a influência da expansão evangélica durante o Segundo Grande Despertar, no início do século 19, a proporção da população que frequentava a igreja cresceu rapidamente, até que, perto de 1850, observou-se que mais de um terço dos americanos fazia parte de alguma igreja. Em 1890, após outro período de evangelização protestante e imigração católica da Irlanda, da Itália e de outros países, esta proporção chegou a 45%.

5. Os liberais são contrários à religião. No caso Emerson vs. Secretaria de Educação, de 1947, a Suprema Corte exigiu uma separação mais clara entre Igreja e Estado. Isso levou os conservadores religiosos a acusar o Supremo - assim como os liberais - de agir... bem, contra a religião. Os liberais da Suprema Corte tentaram de desfazer desta herança de discriminação oficial, mas não tentaram de desfazer da religião. /
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

DAVID SEHAT É PROFESSOR ASSISTENTE DE HISTÓRIA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA GEÓRGIA




quarta-feira, 27 de abril de 2011

Seria o neoateísmo uma antiga religião?


Já há algum tempo existem evidências (para usar um termo caro aos ateus) espoucando aqui e ali sobre a ritualização e "sacramentalização" do movimento ateísta no mundo, inclusive com sumos sacerdotes como Richard Dawkins e Christopher Hitchens. 

Aliás, foi este último que, ao se tratar contra um câncer terminal, comentou sobre o fato de ter sido convidado para oficiar "casamentos ateus", dizendo-se, obviamente, horrorizado com este caminho que o movimento está tomando. 

Há alguns dias atrás, ateus espanhóis foram impedidos de realizar uma "procissão ateia" em protesto contra as festividades católicas da Semana Santa. 

Outro acontecimento recente é o lançamento da "Bíblia Humanista" (The Good Book: A Humanist Bible - "O Bom Livro: uma Bíblia Humanista") pelo escritor A. C. Grayling, que propõe substituir Deus pela filosofia e pela ética. 

Agora do The New York Times vem uma notícia que reforça ainda mais essa impressão: militares ateus norteamericanos estão se movimentando para exigir que as Forças Armadas norteamericanas incluam uma espécie de "capelão ateu" entre os serviços religiosos que tradicionalmente fornecem às suas tropas. 

Atualmente há cerca de 3.000 capelães religiosos servindo as necessidades espirituais dos militares norteamericanos na ativa, a imensa maioria deles de cristãos (católicos e protestantes), mas também há alguns capelães judeus e muçulmanos, um budista, e existe a possibilidade de que se convoque um hindu e outro representando a religião wicca.

Tanto os chefes militares, como os religiosos e a imprensa dos Estados Unidos ficaram surpresos com esta nova demanda dos ateus, que também pode ser chamado de "capelão humanista" por Jason Torpy, líder da Military Association of Atheists and Freethinkers ("Associação Militar de Ateístas e Livre-Pensadores"), o que incluiria o "militar religioso ateu" (com o perdão da contradição) nos serviços comuns a todos os demais capelães, que não necessariamente se dirigem exclusivamente aos militares que professam a mesma confissão de fé, mas rotineiramente oficiam cerimônias ecumênicas com vistas a fortalecer o moral da tropa. 

Torpy não vê nenhum problema em um capelão ateu participar dessas cerimônias, o que, cá entre nós, convenhamos, seria no mínimo estranho. Para ele, "o humanismo desempenha o mesmo papel para ateus que o cristianismo desempenha para cristãos e o judaísmo para judeus, respondendo a questões de preocupação última da vida, e direciona nossos valores". 

Bem, daí a oficiar cerimônias religiosas coletivas seria um tanto quanto torpe, não é, Torpy? [com o perdão do trocadilho infame]

Por sua vez, outra organização ateísta, que curiosamente tem a sigla MASH (como o antigo seriado cômico), a Military Atheists and Secular Humanists ("Militares Ateístas e Seculares Humanistas", apenas para manter o MASH em português), que está sediada em Fort Bragg (North Carolina), pediu que o Exército norteamericano nomeasse um líder ateu para aquela base militar, atitude que foi seguida por outro capítulo do MASH sediado agora na base aérea de Fort Campbell, no Kentucky, em relação ao seu equivalente na Força Aérea. 

Estima-se que cerca de 9.400 dos cerca de 1.400.000 militares norteamericanos na ativa se identifiquem como ateus, e muitos deles se sentem pressionados a se converterem a alguma religião por causa das crenças da imensa maioria que tem algum tipo de fé. 

Não deixa de ser uma preocupação relevante, temos que admitir, mas a exemplo do que acontece em outras áreas da vida em sociedade, é no mínimo muito curioso que os movimentos neoateístas recorram cada vez mais a cerimônias e expedientes religiosos para se posicionarem no mundo, o que levanta a suspeita de que eles sejam apenas mais uma antiga religião que é contra todas as outras religiões. 

Pelo menos, vamos tentar tratar o tema com o humor do vídeo abaixo, já que parece que a clássica esquete da igreja ateísta no domingo de manhã está muito próxima de se tornar realidade:





Leia também:

Ateus planejam construir templos para sua religião

Dawkins não quer templo ateu mas topa ser papa

Ateus querem se apropriar da palavra "espiritual"

Richard Dawkins vira nome de peixe


O evangelho

terça-feira, 26 de abril de 2011

Brasil é o 3º país que mais crê em Deus no mundo

Notícia da Folha.com:

Brasil é 3º país onde mais se crê em Deus, aponta pesquisa

DA BBC BRASIL

O Brasil foi o terceiro país em que mais se acredita em "Deus ou em um ser supremo" em uma pesquisa conduzida em 23 países.

A pesquisa, feita pelo empresa de pesquisa de mercado Ipsos para a agência de notícias Reuters, ouviu 18.829 adultos e concluiu que 51% dos entrevistados "definitivamente acreditam em uma 'entidade divina' comparados com os 18% que não acreditam e 17% que não tem certeza".

O país onde mais se acredita na existência de Deus ou de um ser supremo é a Indonésia, com 93% dos entrevistados. A Turquia vem em segundo, com 91% dos entrevistados e o Brasil é o terceiro, com 84% dos pesquisados.

Entre todos os pesquisados, 51% também acreditam em algum tipo de vida após a morte, enquanto que apenas 23% acreditam que as pessoas param de existir depois da morte e 26% "simplesmente não sabem".

Entre os 51% que acreditam em algum tipo de vida após a morte, 23% acreditam na vida após a morte, mas "não especificamente em um paraíso ou inferno", 19% acreditam "que a pessoa vai para o paraíso ou inferno", outros 7% acreditam que "basicamente na reencarnação" e 2% acreditam "no paraíso, mas não no inferno".

Nesse mesmo quesito, o México vem em primeiro lugar, com 40% dos entrevistados afirmando que acreditam em uma vida após a morte, mas não em paraíso ou inferno. Em segundo está a Rússia, com 34%. O Brasil fica novamente em terceiro nesta questão, com 32% dos entrevistados.

Mas o Brasil está em segundo entre os países onde as pessoas acreditam "basicamente na reencarnação", com 12% dos entrevistados. Apenas a Hungria está à frente dos brasileiros, com 13% dos entrevistados. Em terceiro, está o México, com 11%.

Entre os que acreditam que a pessoa vai para o paraíso ou para o inferno depois da morte, o Brasil está em quinto lugar, com 28%. Em primeiro, está a Indonésia, com 62%, seguida pela África do Sul, 52%, Turquia, 52% e Estados Unidos, 41%.

CRIAÇÃO X EVOLUÇÃO

As discussões entre evolucionistas e criacionistas também foram abordadas pela pesquisa do instituto Ipsos.

Entre os entrevistados no mundo todo, 28% se definiram como criacionistas, acreditam que os seres humanos foram criados por uma força espiritual como o Deus em que acreditam e não acreditam que a origem do homem viesse da evolução de outras espécies como os macacos.

Nesta categoria, o Brasil está em quinto lugar, com 47% dos entrevistados, à frente dos Estados Unidos (40%). Em primeiro lugar está a Arábia Saudita, com 75%, seguida pela Turquia, com 60%, Indonésia em terceiro (57%) e África do Sul em quarto lugar, com 56%.

Por outro lado, 41% dos entrevistados no mundo todo se consideram evolucionistas, acreditam que os seres humanos são fruto de um lento processo de evolução a partir de espécies menos evoluídas como macacos.

Entre os evolucionistas, a Suécia está em primeiro lugar, com 68% dos entrevistados. A Alemanha vem em segundo, com 65%, seguida pela China, com 64%, e a Bélgica em quarto lugar, com 61% dos pesquisados.

DESCRENTES E INDECISOS

Entre os 18.829 adultos pesquisados no mundo todo, um total de 18% afirmam que não acreditam em "Deus, deuses, ser ou seres supremos".

No topo da lista dos descrentes está a França, com 39% dos entrevistados. A Suécia vem em segundo lugar, com 37% e a Bélgica em terceiro, com 36%. No Brasil, apenas 3% dos entrevistados declararam que não acreditam em Deus, ou deuses ou seres supremos.

A pesquisa também concluiu que 17% dos entrevistados em todo o mundo "às vezes acreditam, mas às vezes não acreditam em Deus, deuses, ser ou seres supremos".

Entre estes, o Japão está em primeiro lugar, com 34%, seguido pela China, com 32% e a Coréia do Sul, também com 32%. Nesta categoria, o Brasil tem 4% dos entrevistados.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Autistas e idiotas

Comédia é um gênero em que se corre o risco de ultrapassar os limites do razoável constantemente, o que ocorre com uma frequência maior do que a desejável, e as raias do mau gosto são geralmente invadidas. Prova disso é o bom programa Comédia MTV, estrelado pelo também bom comediante Marcelo Adnet, que promoveu uma esquete intitulada "Casa dos Autistas", supostamente uma paródia da antiga "Casa dos Artistas" do SBT, mais ao feitio do Big Brother Brasil da Globo. O vídeo está abaixo, e foi postado aqui apenas para as pessoas que tiverem algum interesse em ver a razão que levou a toda a polêmica que envolve o programa em questão. Autismo é um problema sério, e as famílias que têm autistas geralmente os tiram dos olhos públicos para protegê-los, já que é uma situação diferente, desconhecida, incompreendida e - claro - difícil de lidar. A repercussão foi muito negativa, e o Marcelo Adnet se desculpou em seu twitter, dizendo que era contra a paródia, embora mesmo assim tenha participado dela. Atitude corajosa teve o editor do blog Botecoterapia, que expôs a sua situação de pai de uma moça autista, que merece ser transcrito dada a importância de se educar todos a terem respeito pelas pessoas especiais:

Autistas e idiotas


Não assino tv a cabo pois há muito descobri que a qualidade (sic) da programação é igual ou pior que a tv aberta. Além disso você paga para ver cada vez mais intervalos. Na minha opinião, e é um direito meu ter uma, é trouxa quem paga para ouvir propaganda.

Pois bem mas o que isso tem a ver com o título desta postagem?
É que recebi pelo twitter um link:

http://www.youtube.com/watch?v=-1sFU_b9bt0&feature=player_embedded

Sou pai de uma autista (imagens) e há 24 anos lutamos, eu e a mãe, e parentes, para que ela e todos que teem a síndrome tenham uma vida digna.

Antes era o desconhecimento, o preconceito. Hoje, quando muitos já conseguem viver quase que normalmente, com a inclusão em escolas e na vida das pessoas vem um imbecil que se considera o supra-sumo do humor, numa tv que não vejo e não aconselho ninguém a ver, e agride de forma calhorda toda uma gama de pessoas que sofrem com o autismo.
Não somos poucos @comedia_MTV. Calcula-se que no Brasil são 2 milhões de pessoas com autismo, some-se a elas pais, irmãos, tios e o caralho e veja quantas pessoas vocês ofenderam.
Recomendo que vejam este vídeo:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=fRy2rvdcIf0

Vejam a diferença entre o autista e o "autista" da MTV essa tv que quase ninguém vê, um lixo disseminador de preconceitos e conceitos idiotas.

Estou expondo minha filha aqui, para REPUDIAR o programa da MTV. Não sei o que é possível fazer além de esbravejar aqui. A vontade era encontrar com meia dúzia desses imbecis e meter a mão na cara, mas estaria me nivelando a eles.
Fica a bronca, a raiva, e o grito: Façam piadas com quem pode se defender.
O engraçado é que o rapaz, @marceloadnet0, estrela do humor(?) da casa diz que era contra a exibição do quadro.
Era contra, mas participa? Se diverte fazendo aquele lixo?
Imagino se fosse a favor até que ponto chegaria.
Vou parar aqui senão é capaz de extrapolar e ofender quem não devo:

Ainda bem que minha filha é só autista. Pior seria se fosse "comediante" da @Comedia_MTV. Aí sim, teríamos um problema sério. Viu seu @marceloadnet0


Do Jesus hippie a Justin Bieber

Em artigo intitulado "Jesus Christ Rock Star", publicado em 23/04/11 no The New York Times, David W. Stowe traça um panorama da música pop norteamericana e de como o gênero religioso se (des)encaixa nele. 

Começa o artigo pelo fenômeno atual da música pop, Justin Bieber, qualificando-o como o artista cristão mais conhecido no mundo hoje, já que ele publicamente reconhece que cresceu numa igreja evangélica, ora várias vezes ao dia, acredita em anjos e se opõe ao aborto. 

O cantor teen canadense esteve, inclusive, em Israel este mês, onde se indispôs com os paparazzi e disse que eles estavam atrapalhando os seus planos de "caminhar por onde Jesus caminhou". 

Em seguida, constata que não se ouve Justin Bieber falar ou cantar assuntos relacionados à fé com frequência, e este é um sinal de como estão separados os temas religiosos e seculares no contexto da música pop norteamericana. 

Estranha, ainda, que isto se dê com a música gospel, que é um raro caso de sucesso no mercado fonográfico mundial, mas mesmo assim continua segregada do mainstream da mídia, sendo reduzida a um determinado gueto que a aprecia.

David W. Stowe é professor de Inglês e Estudos Religiosos na Michigan State University, e autor do livro “No Sympathy for the Devil: Christian Pop Music and the Transformation of American Evangelicalism” ("Sem Compaixão com o Diabo: Música Pop Cristã e a Transformação do Evangelicalismo Americano"). 

Na sequência do artigo em questão, ele comenta que nem sempre houve este apartheid entre música secular e sua correspondente religiosa, que conseguia romper essa barreira no final dos anos 60 e começo dos 70. 

Acredita Stowe que a segregação posterior tenha se dado pelo aumento em quantidade e qualidade de jovens trabalhando com música dentro das igrejas, o que a tornou uma espécie de "zona proibida" para músicos seculares. 

Nos anos 60, temas religiosos eram relativamente comuns na música pop, como "A Hard Rain’s A-Gonna Fall" de Bob Dylan (1963), além da inspiração apocalíptica surpreendente de "Eve of Destruction" de Barry McGuire (1965 - vídeo abaixo). 

Ambos os artistas experimentariam conversões religiosas em 1971 (McGuire) e 1978 (Bob Dylan), que deixaram marcas profundas em seus trabalhos. No fim da década de 70 foram lançadas canções ainda mais explícitas, como "Jesus" do Velvet Underground, "Jesus is Just Alright" dos The Byrds, "Fire and Rain" de James Taylor, "Spirit in the Sky" de Norman Greenbaum e a regravação por Simon & Garfunkel de "Oh Happy Day" de Edwin Hawkins Singers.

Stowe lembra ainda que muitos jovens da geração hippie de Woodstock (1969) se converteram nos anos seguintes, muito provavelmente porque a contracultura que a geração Paz e Amor promovia tinha em Jesus Cristo uma figura libertadora das convenções sociais de então. 

Os primeiros hippies cristãos se fixaram no Sul da Califórnia, mais especificamente na (hoje exclusiva) região de Orange County, e aos poucos foram se espalhando por todos os Estados Unidos. 

Curiosamente, a representação de Jesus como um jovem revolucionário nos seus 30 anos, de barba e cabelos compridos, servia de chamariz para milhares de pessoas que viam nEle um igual, pelo menos para começo de conversa. 

Exatamente 40 anos atrás, por exemplo, em maio de 1971, estreava na Broadway o musical Godspell, que havia sido escrito como uma dissertação de Mestrado, e em outubro daquele ano Jesus Christ Superstar, que havia sido lançado como álbum duplo em 1970, começava também pela Broadway a percorrer sua trilha de sucesso como musical. 

Na mesma época estourava nas paradas o clássico álbum de Marvin Gaye, "What's Going On", com muitas referências à espiritualidade e ao próprio Jesus.

Até hoje nós conseguimos ver os resultados deste movimento que se espalhou por todo o mundo. 

Trazendo a observação para o Brasil, basta reconhecer a importância que o louvor tem nos nossos cultos, chegando também às missas católicas. 

Aqueles que estão nessa estrada há mais tempo, lembram-se bem da importância que tiveram grupos de jovens evangélicos que faziam música de qualidade, como Vencedores Por Cristo, Elo (depois Logos), entre outros, que iniciaram com enorme competência um movimento de atualização e substituição dos antigos hinos tradicionais, inclusive com a introdução de instrumentos elétricos e de percussão. 

No paralelo que traçamos com o Brasil, pelo menos até agora não houve a tendência que David W. Stowe identifica nos Estados Unidos, com o caminho de volta que os egressos do movimento libertário hippie fizeram ao conservadorismo, alinhando-se cada vez mais com a direita norteamericana, representada pelo Partido Republicano, em especial durante a administração de Ronald Reagan (1981-1989). 

Isto terminou, também, afastando os músicos seculares da seara religiosa, já que não queriam ser associados a conservadores, visto que seu público tendia a ser mais simpático ao Partido Democrata. Finalizando seu artigo, Stowe cita o novo lançamento de Lady GaGa, "Judas", como uma viagem ao passado das letras religiosas, ainda que de maneira deturpada, como nos versos abaixo:
I'll wash his feet with my hair if he needs
Forgive him when his tongue lies through his brain
Even after three times, he betrays me


Lavarei seus pés com meu cabelos, se preciso
Perdoarei quando sua língua mentir por causa de seu cérebro
Mesmo depois de três vezes, ele me trai

É uma boa análise, portanto, sujeita a críticas, obviamente, mas fica a dica para que se faça no Brasil um trabalho com a mesma profundidade, pesquisa que faz falta por aqui e, talvez, alguém queira se dedicar ao tema.


domingo, 24 de abril de 2011

Os sermões de Nárnia na Páscoa

Rowan Williams é o Arcebispo da Cantuária (Canterbury), cargo máximo dentro da hierarquia religiosa da Igreja Anglicana, já que o posto de chefe da denominação é ocupado formalmente pelo monarca da Inglaterra, atualmente a Rainha Elizabeth II. É ele, por sinal, que celebrará o casamento do Príncipe William com Lady Kate Middleton na Abadia de Westminster no próximo dia 29. Enquanto não chega o casório real, já é tradição que o Arcebispo da Cantuária pregue sermões especiais durante a Semana Santa, ritual que Rowan Williams desempenhou na semana que passou, falando por três noites consecutivas sobre "As Crônicas de Nárnia", a obra-prima de C. S. Lewis, supostamente escrita para crianças, mas que tem toda uma simbologia cristã mais facilmente compreendida por adultos. Nos anos anteriores, o Arcebispo Williams pregou sobre temas bíblicos, como o evangelho de Marcos, o credo apostólico e a oração.

Roger Williams é licenciado em Filosofia e Teologia e foi professor das duas universidades mais prestigiosas da Inglaterra, Cambridge e Oxford, por longo tempo. É, portanto, uma pessoa intelectualmente muito capacitada para comentar as Crônicas de Nárnia, o que de fato faz muito bem. Entretanto, por mais que C. S. Lewis seja um escritor cristão da melhor qualidade, com enorme influência no período pós-Segunda Guerra Mundial, é sintomático que sua obra tenha sido escolhida para os sermões de Páscoa do chefe da Igreja Anglicana. Pode ser que a mensagem que o Arcebispo está passando seja, na verdade, a de que a Bíblia não basta mais, ou não fornece inspiração suficiente para pregações, ou ainda que seja necessário apelar a autores mais atuais para transmitir uma mensagem cristã. Nada contra C. S. Lewis, diga-se de passagem, ou ainda que Roger Williams escolhesse outra oportunidade para brindar-nos com o seu enorme conhecimento das obras do autor. Tudo bem que a gente saiba que o leão Aslan representa uma figura simbólica do Leão de Judá, mas o perigo é misturar todas as estações da religião e da literatura e, de repente, começar a falar sobre o coelho de Alice no País das Maravilhas. O problema, me parece, é de outra palavra inglesa, timing: escolheram o momento errado para a iniciativa. Enquanto a Igreja Anglicana se esfacela em divisões internas por causa de setores liberais que ordenam sacerdotes homossexuais, por exemplo, além do assédio do Vaticano que abriu exceções para que anglicanos retornem à Igreja Católica, o Arcebispo da Cantuária aproveita a Páscoa para desfilar sua erudição sobre C. S. Lewis.

Last but not least, as pregações de Rowan Williams sobre o autor britânico e suas Crônicas de Nárnia são realmente excelentes, e, para quem se interessar, estão disponíveis em mp3 (em inglês):

Sermão 1: "Not a tame lion"

Sermão 2: "I only tell you your own story"

Sermão 3: "Bigger inside than outside"

A ressurreição e um piano

Não precisa entender as poucas legendas em inglês do vídeo abaixo. Basta apreciar as obras de arte que compõem um painel da vida, morte e ressurreição de Jesus, ao som de "Clair de Lune" de Claude Debussy, na brilhante execução ao piano de Rory Sade.

sábado, 23 de abril de 2011

Atirador do Realengo foi enterrado como indigente


Wellington Menezes de Oliveira, apesar de ter sua identidade - infelizmente - conhecida como o assassino de 12 crianças na escola de Realengo, foi finalmente enterrado como indigente, segundo informa o UOL Notícias (vide abaixo), já que seu corpo não foi reclamado por ninguém da família, cumprindo o destino que as autoridades haviam predito alguns dias atrás. Wellington termina assim sua trágica passagem por este mundo, como um indigente enterrado numa cova rasa qualquer. Pena que tenha levado tanta gente inocente junto, e - para os que ficam - a dor causada por seu ato tresloucado jamais irá passar...

Duas semanas depois do massacre, atirador de Realengo é enterrado no Rio como corpo não-reclamado

Fabiana Uchinaka
Do UOL Notícias

Em São Paulo


Duas semanas depois do massacre em Realengo, o atirador Wellington Menezes de Oliveira, 23, foi enterrado na manhã esta sexta-feira (22) no cemitério São Francisco Xavier, mais conhecido como cemitério do Caju, na zona norte do Rio de Janeiro, como corpo não-reclamado. O enterro foi feito pela Santa Casa em cova rasa, sem lápide, na quadra 49. Nenhum parente compareceu ao sepultamento.

O corpo estava no IML (Instituto Médico Legal) Afrânio Peixoto, no centro do Rio, desde a quinta-feira do crime, dia 7, mas nenhum parente apareceu para fazer o reconhecimento. Os familiares tinham 15 dias para retirar o corpo e o prazo acabou hoje.

A Polícia Civil do Rio chegou a cogitar a possibilidade de estender o prazo, por se tratar de um morto publicamente conhecido e para dar mais tempo a família dele, que podia estar se sentindo ameaçada.

O corpo também seria enterrado como indigente no cemitério de Santa Cruz, na zona oeste da cidade, mas por conta do feriado prolongado ele foi levado para o Caju.

Wellington foi adotado ainda bebê. A casa onde viveu com a família em Realengo está abandonada e a irmã, que mora no imóvel, não foi mais encontrada desde o dia do crime. Vizinhos dizem que ela foi para Brasília, onde mora um irmão. Em setembro do ano passado a mãe adotiva morreu, o que fez com que ele fosse morar em uma casa em Sepetiba, também na zona oeste. O pai já havia morrido há alguns anos.

continue lendo no UOL Notícias

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Jesus anda a pé no país das limousines


Se já não fosse suficiente o discernimento que o Espírito Santo dá a cada crente, há outro teste fácil para saber se alguma coisa vem de Deus ou não. Basta imaginar Jesus fazendo aquilo. O Mestre faria ou não? Simples assim. 

Por isso, chama muito a atenção a notícia de que Silas Malafaia estaria circulando em Porto Seguro a bordo de uma limousine alugada à módica taxa DIÁRIA de R$ 7.000,00 (isto mesmo, sete MIL reais), onde participa do 12º Congresso de Resgate da Nação. 

A julgar pela diária da limousine, o preço do resgate deve estar muito caro mesmo. 

A notícia em questão, que reproduzimos abaixo, foi publicada no Jornal Bahia Online e já circulou em vários blogs, mas dou destaque aqui ao primeiro pelo qual tive conhecimento do fato, o blog Libertos do Opressor

Coloquei "estaria circulando" no condicional porque a notícia é tão bizarra que, mesmo quando se trata do Silas Malafaia, a gente não acredita que alguém se submeta de livre e espontânea vontade a este ridículo. 

Se bem que pra quem é íntimo de Morris Cerullo e Mike Murdoch, fica difícil descer ainda mais o nível...

Interessante observar que, alguns dias atrás, Silas Malafaia fez uma programação toda especial para pedir ofertas a fim de pagar R$ 1.500.000,00 de sua locação de horários televisivos (o equivalente a 214 dias de limousine), sempre com a velha lenga-lenga engana-trouxa da semente, e disse em alto e bom som que "não se pode comer a semente, mas o fruto". 

Resta saber quem está pagando o aluguel da limousine na qual o pastor do jatinho próprio estaria desfilando por Porto Seguro nesses dias em que comemoramos 511 anos do descobrimento do Brasil. 

De qualquer maneira, se você é um dos incautos que colaboram com esse camarada, gostaria de perguntar o que você acharia de Jesus desfilar de limousine (ou uma biga dourada) por Jerusalém, justo ele que não tinha nem onde colocar a cabeça pra dormir (Lucas 9:58). Pense nisso...




Pastor anda de limousine em Porto durante evento que debate o resgate da Nação



Aberto na terça-feira (19) e com encerramento previsto para o próximo sábado (23), o 12º Congresso de Resgate da Nação em Porto Seguro, extremo sul da Bahia, reúne milhares de evangélicos de várias partes do Brasil, transformando o evento em um dos mais importantes no calendário religioso do município. Mas este ano, apesar de uma mega-estrutura montada no Centro de Convenções de Porto Seguro, o evento ficou em segundo plano. O comentário mais frequente nas rodas de bate-papo da cidade está por conta do luxo apresentado por uma das maiores estrelas do evento: o polêmico pastor Silas Malafaia.

Desde segunda-feira (18) na cidade, o pastor percorre ruas, frequenta restaurantes à beira-mar, sempre no interior de uma limousine especialmente alugada para ele. Depois de muitas tentativas, uma fonte do Jornal Bahia conseguiu fotografar o veículo estacionado em frente à "Cabana do Gaúcho", localizada na orla de Porto Seguro. Silas Malafaia estava almoçando no local.

O pastor Silas Malafaia é o vice-presidente da Convenção Geral das Igrejas Assembléias de Deus, é o mesmo que ficou famoso ao anunciar que comprou um avião em um culto que realizou em uma igreja em Boca Raton, nos Estados Unidos. Segundo vários brasileiros presentes, o Pastor teria dito que foi uma “galinha morta”, já que o preço pago foi de 12 milhões de dólares (cerca de R$ 20.800.000,00), sendo que o avião vale 16 milhões de dólares (cerca de R$ 27.840.000,00).

Em Porto Seguro, o tema central do 12º Congresso de Resgate da Nação é “O Reino de Deus e o Princípio da Honra”. No site oficial do evento, os organizadores convocam os participantes a pensar sobre "o que recebemos e ampliando o que vamos receber". O passaporte para o Congresso Evangélico está custando 250 reais por pessoa. A diária da limousine custa, segundo apurado pelo Jornal Bahia Online, cerca de 7 mil reais.



Atualização de 04/05/11:

Abaixo o direito de resposta de Silas Malafaia publicado no mesmo site, o Jornal Bahia Online:

Assessores de Malafaia negam que ele tenha usado Limousine ou estado em Porto

A assessoria do pastor Silas Malafaia enviou uma nota para a redação do Jornal Bahia Online onde desmente notícia publicada neste site, semana passada, sobre a presença da autoridade religiosa no município de Porto Seguro, extremo sul da Bahia.

A matéria publicada informava que o pastor chamava a atenção pelas ruas da cidade ao desfilar em uma loumisine. Em nota encaminhada à editoria do site, a assessoria do pastor, na pessoa do seu coordenador de comunicação, Mike Martinelli, informa que a notícia não procede.

Abaixo, publicamos o teor da nota.

"Srs. responsáveis pelo Jornal Bahia Online,

A falta de profissionalismo é notória na matéria divulgada pelo site do Jornal Bahia Online. É inadmissível um veículo que deveria zelar pela veracidade das informações propagar difamações e calúnias, porque sua equipe não se deu ao trabalho de apurar os boatos a respeito do pastor Silas Malafaia.

Recentemente divulgaram nesse site, mais precisamente no endereço , uma reportagem difamatória afirmando que o pastor Silas Malafaia teria participado do 12º Congresso de Resgate da Nação em Porto Seguro, na Bahia, evento este que aconteceu de 19 a 23 de abril de 2011. A tônica da referida matéria, intitulada Pastor anda de limousine em Porto durante evento que debate o resgate da Nação, era a celeuma provocada pelo luxo do “polêmico pastor Silas Malafaia”, que haveria percorrido as ruas da cidade e frequentado restaurantes à beira-mar, desde 18 de abril, em uma limusine especialmente alugada para ele.http://www.jornalbahiaonline.com.br/index.asp?noticia=12008

Diante das deslavadas mentiras, vimos trazer alguns esclarecimentos. O pastor Silas Malafaia não estava presente em Porto Seguro no período informado na matéria, tampouco participou do 12º Congresso de Resgate da Nação realizado na cidade. No dia 19 de abril, ele ministrou na Assembleia de Deus Vitória em Cristo na Penha (RJ), igreja presidida por ele. Nos dias 20 e 21, o pastor Silas continuou no Rio de Janeiro, para atender aos seus compromissos. No dia 22, ele embarcou para o exterior, para cumprir agenda.

Informamos ainda que o pastor Silas Malafaia se desligou da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) em maio de 2010. Portanto, não é vice-presidente dessa instituição, conforme é afirmado na reportagem.

Por fim, o pastor Silas Malafaia não comprou um avião por R$ 20 milhões, como consta na matéria. O valor dessa aquisição foi infinitamente menor, e a compra foi feita em nome da Associação Vitória em Cristo (AVEC). Sendo assim, a aeronave não é propriedade dele, e sim da AVEC, para atender às necessidades do ministério.

Após o exposto, desafiamos a equipe do Jornal Bahia Online a provar que era realmente o pastor Silas Malafaia quem usufruiu do veículo de luxo (a limousine) em Porto Seguro. O redator da matéria, que não se identificou, fez tanta questão de dizer que, “depois de muitas tentativas, uma fonte do Jornal Bahia conseguiu fotografar o veiculosemconquista.com.br/">veículo estacionado”. Por que ele mesmo não se preocupou em apurar os boatos para saber se eram falsos? Aquela foto não prova nada!

Lamentamos pelo fato de o Jornal Bahia Online tentar denegrir a imagem do pastor Silas Malafaia e, garantidos pela Lei de Imprensa, solicitamos o Direito de Resposta, com o mesmo espaço da matéria publicada, no prazo de 48 horas, a contar da data de hoje, 27 de abril de 2011. Caso o pedido não seja atendido, tomaremos imediatamente as medidas judiciais cabíveis."



Nossa singela sugestão aos pastores que quiserem andar de limousine ou avião:


A Eternity Church de Albany (NY) tem uma limousine que serve a toda a igreja e mesmo a quem não é membro dela, inclusive para levar pessoas a hospitais e entrevistas de emprego, segundo informou o pastor Ivan Shkinder ao site Keyboard Krumbs:

O dia da crucificação


“Sabemos que a Sexta-Feira Santa que o cristianismo comemora foi a da Cruz. Mas o não-cristão, o ateu, também a conhece. Significa que ele conhece a injustiça, o interminável sofrimento, o desperdício, o brutal enigma do fim, que de maneira tão ampla forma não apenas a dimensão histórica da condição humana, mas também a existência diária de nossa vida. Conhecemos, inevitavelmente, a dor, o fracasso do amor e a solidão, que fazem parte de nossas histórias e destinos. Também conhecemos o domingo. Para o cristão, esse dia é um indício certo, mas precário, evidente, mas além da compreensão, da ressurreição, de uma justiça e de um amor que derrotaram a morte. (...) As características desse domingo carregam o nome da esperança (não existe palavra mais inexplicável).

Mas é nossa a longa jornada diária do sábado.”

(George Steiner, “Real presences”, Chicago, University of Chicago, 1989, p. 231-2, citado por Philip Yancey em “O Deus (In)visível”, Ed. Vida, pág. 280)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Procissão" de ateus é proibida em Madri

Você, amigo ateu que foi à Espanha, perdeu a viagem, pois não vai rolar a "procissão" que movimentos ateus espanhóis convocaram para esta quinta-feira em Madri, com o fim de protestar contra práticas e valores cristãos, representados sobretudo pela Igreja Católica, que tem enorme influência naquele país. Não deixa de ser interessante, entretanto, observar que o chamado "novo ateísmo" caminha para uma, digamos, "ritualização" ou "cerimonialização" muito parecida com aquelas patrocinadas pela religião, a exemplo do que já comentou Christopher Hitchens em outra oportunidade, dizendo que ateus estavam lhe pedindo que oficiasse casamentos. É muito sintomático e chamativo o fato de copiar rituais católicos, ainda que o objetivo alegado seja contrapor-se às doutrinas que combatem. Confira a notícia do Estadão:


Justiça proíbe 'procissão ateia' em Madri

Seis organizações laicas protestariam contra a 'hipocrisia social e moral' da Semana Santa.

O Tribunal de Justiça de Madri proibiu nesta quarta-feira a realização, prevista para a quinta-feira desta Semana Santa, de uma manifestação antirreligiosa organizada por seis instituições laicas espanholas.

Chamada oficialmente de "procissão ateia", a manifestação levaria às ruas faixas com dizeres como "Congregação da Cruel Inquisição", "Irmandade da Santa Pedofilia" e "Confraria do Papa do Santo Latrocínio" com o objetivo de "derrubar a hipocrisia social e moral que representa a Semana Santa Católica".

Os organizadores disseram que irão acatar a decisão judicial, mas acrescentaram que convocariam uma manifestação similar em outra data simbólica para o Catolicismo.

Eles também prometem realizar um grande evento no próximo mês de agosto durante a visita do Papa Bento 16 a Madri.

Por outro lado, a associação anti-aborto Faz-te ouvir anunciou que analisa o material de divulgação da procissão ateia para saber se é possível abrir um processo, alegando incitação ao ódio.

Chamas

Os organizadores da "procissão ateia" anunciaram com cartazes pelo centro da capital espanhola a hora e percurso do evento, convocado para passar diante de igrejas e ao lado de procissões católicas.

Os cartazes traziam imagens do papa e ilustrações sacras alteradas. Também foram distribuídos folhetos com a frase "a única igreja que se ilumina é a que arde (em chamas)".

O presidente da Associação Madrilenha de Ateus e Livres Pensadores, Luis Veja, disse à BBC Brasil que a proposta da manifestação era "mexer com a ideologia e a consciência católica".

"Queremos uma procissão sim, porque a palavra procissão não é exclusiva do Catolicismo. E vamos continuar combatendo a hipocrisia e o fundamentalismo", afirmou.

As críticas dos laicos se concentram especialmente na intervenção do Vaticano em assuntos políticos como a liberdade religiosa, leis de aborto e casamento gay, além dos escândalos de pedofilia dentro da igreja.

Entre os críticos ao protesto estava o prefeito de Madri, Alberto Ruiz Gallardón, que disse ser contra "provocações contra a fé".

No entanto, ele disse que a prefeitura que "não se considera competente para autorizar ou recusar a celebração desta procissão" e recomendou uma decisão judicial sobre o caso. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

O bacalhau e o Vaticano

Artigo de Fátima Oliveira no jornal O Tempo:

Sua Excelência, o bacalhau, na culinária da Semana Santa

Minhas lembranças da Semana Santa, ou "Dias Grandes", são um misto de proibições (o jejum) e comidas deliciosas. Na Quaresma, era seguindo à risca o preceito de não comer carne na Quarta-feira de Cinzas e em nenhuma sexta-feira naqueles 40 dias. Já foi pior.

A sentença mercantilista do Vaticano era não comer carne todos os dias da Quaresma. Era uma semana inteirinha dedicada a guardar contritamente a dor sofrida por Jesus Cristo, com rezação, mortificação e silêncio, pois nem o rádio podia ser ligado. Criança que fizesse alguma danação poderia contar como certa a reprimenda no rompimento da Aleluia.

Dando um tempo ao mundo das lembranças, tentei descobrir por que o bacalhau (em latim: baccalarius) reina na culinária dos "Dias Grandes". Antes, o que é bacalhau? É o nome de peixes do gênero Gadus, da família Gadidae. Chamam de bacalhau cinco peixes após a salga e a secagem (cura).

Quatro deles são das águas gélidas do oceano Ártico (Noruega, Canadá, Rússia, Islândia e Finlândia): o cod Gadus morhua (o verdadeiro bacalhau), conhecido como "cod" ou do Porto, o Saithe, o Zarbo e o Ling. O quinto é o cod Gadus macrocephalus, do Pacífico, ou do Alasca.

Todos são comercializados como bacalhau nas categorias: "Imperial, a melhor classificação - bem cortado, bem escovado e bem curado (o melhor de todos, só para lembrar, é o Porto Imperial); Universal - com pequenos defeitos que não comprometem a qualidade; e Popular - com manchas e falhas causadas pelo arpão, na hora da pesca".

Para Lecticia Cavalcanti, "são semelhantes, no aspecto. Apesar disso, o verdadeiro apresenta características próprias: na forma (maior, mais largo e mais pesado), na aparência (limpa, sem manchas), na cor (palha, o macrocephalus é branco), na pele (solta com muito mais facilidade) e no rabo (quase reto ou ligeiramente curvado para dentro, tendo o macrocephalus forma de babado). Mas são bem diferentes na panela. Sobretudo depois de cozidos. O morhua desfaz-se em lascas claras e tenras, enquanto o segundo é fibroso - e, por isso, mais barato. Segundo a legislação, só esses dois podem ser considerados bacalhau".

Desde fim do século XV, começo do XVI, o Vaticano, em reconhecimento ao sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, decretou que os cristãos não poderiam consumir carnes "quentes" durante a Quaresma. Falam que o Vaticano era proprietário da maior frota bacalhoeira - caravelas para a pesca do bacalhau que levavam os "dóris", barcos a remo, nos quais os pescadores (bacalhoeiros) se lançavam ao mar para a pesca. Visando a maximizar seus lucros, o Vaticano proibiu o consumo de carne durante a Quaresma, quando então as vendas de bacalhau explodiram. Já era um alimento apreciado nas camadas populares europeias, sobretudo portuguesas, por ser nutritivo e barato.

Durante séculos, até a Segunda Guerra Mundial, o bacalhau foi comida de pobre, mesmo no Brasil, cujo consumo massivo se deu após a chegada da corte portuguesa. Não é à toa que comer bacalhau em qualquer biboca do Rio de Janeiro é sempre saborear um manjar dos deuses. É a manha da tradição culinária sedimentada na corte.

Em Portugal, há "mais de 1.200 receitas catalogadas, de todo tipo: cru, cozido, frito, assado no forno ou na brasa, guisado, grelhado, gratinado, estufado, como recheio de empadas e crepes. Sempre com muito azeite, azeitona, louro, noz-moscada, pimenta (verde, branca ou preta). E mais alho, cebola, coentro, couve, hortelã, salsa, pimentão, poejo, tomate".

Retrato de um viciado quando jovem

"Retrato de um Viciado quando Jovem" (Companhia das Letras, 2011, 215 págs.) é um livro que se pode chamar de "barra-pesada". 

É o relato autobiográfico da descida ao inferno do crack, caminho percorrido pelo autor, Bill Clegg, um bem sucedido agente literário de Nova York que abandona a carreira e os relacionamentos para dedicar-se exclusivamente ao consumo desenfreado da droga. 

A temática não é nova - dezenas de livros já foram escritos sobre o mesmo assunto -, mas há algumas diferenças que é importante ressaltar. 

Primeiramente, o livro é muito bem escrito, pelo que se percebe que Bill Clegg não fez sucesso como agente literário à toa. 

A construção da narrativa é muito boa, as formas verbais são bem colocadas, e o uso frequente do futuro não se torna excessivo nem irritante. Desempenham sempre uma função no texto, e as idas e vindas do tempo do narrador dão liga à história e tornam a leitura ágil e - apesar do tema árido - agradável. 

É nessa mescla de passado, presente e futuro que o autor se expõe de maneira escancarada, revelando seu trauma bizarro de infância (não conseguia urinar sem um ritual espasmódico em que geralmente se molhava todo) e seus problemas de relacionamento com a família, em especial seu pai. 

De certa forma, a figura paterna permeia toda a narrativa que, uma vez terminada, deixa a sensação de que há segredos ainda inconfessados, mas que podem ser escavados nas entrelinhas do livro. 

Chama a atenção também o fato de que, desta vez, não se trata de uma pessoa pobre, à margem da sociedade, que se deixa levar pelo vício, mas de um jovem profissional brilhante, reconhecido pelos seus pares, com dinheiro no banco e uma carreira promissora. 

Enquanto o saldo bancário não se esvai, Bill Clegg dá vazão à sua espiral descendente autodestrutiva, em meio a encontros nem tão furtivos com traficantes e garotos de programa (o mais presente, curiosamente, é brasileiro), além do apoio do seu então namorado, Noah, que apesar do término do relacionamento, se revela uma pessoa que jamais o abandonou enquanto ele precisava de socorro. 

Aí sobressai outro mérito do livro, que não apela nem se detém na homossexualidade (ou bissexualidade tardia) do autor, mas a coloca como um retalho no pano de fundo soturno que serve de cenário à obra.

A melhor definição que Clegg dá de sua decadência é quando decide deixar sua agência literária e se entregar de corpo e alma ao crack (pp. 31-32):

Mas eu mesmo não sinto quase nada quando encerro nossa sociedade, nossa agência, minha carreira. Encaro esse nada da mesma forma como quando a gente observa um dedo logo após cortá-lo sem querer com a faca, segundos antes de o sangue brotar. Por um instante, é como estar olhando para o dedo de outra pessoa, como se o corte que você fez não houvesse aberto sua carne, como se o sangue prestes a jorrar não fosse o seu.

Uma imagem forte, portanto, que consegue prender o leitor e faz fluir de maneira rápida e interessante toda a narrativa seguinte, como se o sangue que está prestes a jorrar não fosse o de nossa sociedade desajustada, que convive com as drogas da maneira mais natural possível, como se fosse "normal" convivermos com a Cracolândia de São Paulo, por exemplo, como se tivéssemos que aceitar - silenciosos e conformados - esta sangria desatada dos desvalidos, provocada pelo tráfico que faz girar a roda da morte e centraliza os lucros em mãos convenientemente invisíveis. 

O jovem rico Bill Clegg transita nesses recantos sombrios de Nova York, hospedando-se em hotéis caros enquanto a sua aparência física e suas roupas ainda não denunciam sua condição de um viciado em estado terminal. 

Já no fim de sua turnê mórbida é que hotéis passam a rejeitá-lo, e talvez daí venha algum tipo de consciência que lhe dá forças para sua redenção final, não sem antes tentar o suicídio (surpreendentemente não consumado). "Retrato de um Viciado quando Jovem" é um vislumbre do mundo desconhecido do crack, com outros olhos que não o do noticiário policial e sensacionalista, e sobretudo com o talento observador e literário do autor, uma rara e boa surpresa que surge do (menos que) nada que se tornou sua vida. 

Leitura altamente recomendada para todos os que lidam com o problema e também para aqueles que nem imaginam o que se passa em nossas ruas ou com gente muito próxima, mas que querem estar preparados se e quando este monstro bater à sua porta.

Nota: Há um erro de revisão na pág. 32, imperdoável para uma editora do nível da Companhia das Letras: "Ela me olha e hesita um segundo antes de me dizer que há um Marriott há poucos minutos dali". O correto é "A poucos minutos dali".

Padre cachaceiro contumaz corre risco de morte

Parece que o padre Aparecido Donizete Bianchi, de São José do Rio Preto (SP), useiro e vezeiro em acidentes de trânsito provocados pela cachaça ao volante, está perto de bater as botas ou de, quem sabe, ficar impossibilitado de dirigir e causar mais um dos vários acidentes que já causou, segundo noticia o portal iG Último Segundo:

Padre dirige embriagado e causa acidente em São José do Rio Preto

Padre perdeu o controle do carro e bateu em um caminhão. Ele já foi detido outras vezes por dirigir embriagado e causar acidentes

Detido diversas vezes por dirigir embriagado e causar acidentes em São Jose do Rio Preto, a 440 quilômetros de São Paulo, o padre Aparecido Donizete Bianchi, de 52 anos, está internado, em estado grave, no Hospital de Base do município, vítima de mais um acidente após dirigir sob efeito de álcool. Segundo boletim médico divulgado às 17 horas de hoje, Bianchi - que está em coma induzido e respira com auxílio de aparelhos - não apresentou qualquer melhora desde às 21h30 do último sábado, quando foi internado. Ele fraturou a bacia, sofreu uma forte lesão num dos pulmões e corre risco de morrer. Na manhã de hoje, ele recebeu a visita de um padre, que foi abençoá-lo, e da irmã.

O padre ia para uma festa, na cidade de Planalto, quando perdeu o controle do veículo, modelo Gol, que dirigia e bateu de frente com um caminhão guincho. O acidente foi na estrada vicinal que liga Ubarana a Santa Luzia, duas cidades próximas de Planalto, município para onde ele foi transferido, em 16 de abril do ano passado. Ele perdeu o cargo de diácono da Catedral de São José (igreja matriz de Rio Preto) por causa das ocorrências policiais. Os fiéis de Planalto o aguardavam para comemorar um ano de atividades do padre na comunidade, mas o acidente adiou a festa. Mais uma vez o padre, que estava com a carteira nacional de habilitação (CNH) suspensa por conta dos acidentes, estaria dirigindo sob efeito de álcool.

Segundo a polícia, no carro, que ficou com a frente totalmente destruída, foram encontradas latas de cerveja. O padre também é acusado de, antes do acidente, pegar R$ 20 em mercadorias na loja de conveniência de um posto de combustíveis e sair sem pagar. O dono do posto, localizado em frente do trevo de Ubarana, fez boletim de ocorrência contra o padre e disse aos policiais que o religiosos estava bêbado.

A assessoria da Diocese de Rio Preto informou que o bispo dom Paulo Mendes Peixoto estava viajando e deveria dar entrevista coletiva amanhã para comentar o assunto. A Diocese divulgou uma nota explicando os procedimentos adotados diante dos acontecimentos envolvendo o padre.

Em 2006, Bianchi foi processado e posteriormente condenado por dirigir embriagado, desacatar e tentar corromper policiais. Parado na blitz, bêbado, ele aumentou o volume do som do carro e desacatou os policiais militares dançando a música do "É O Tchan". Pelo deboche, e posterior tentativa de suborno, e por dirigir embriagado, pegou pena de dois anos em regime fechado, mas a punição foi transformada em serviços para a comunidade. Em 2007 e 2008, ele foi flagrado atravessando preferenciais e o sinal vermelho em ruas da cidade, supostamente embriagado.

Em 2009, com a CNH vencida e com cerveja no carro, atropelou dois motociclistas e fugiu sem prestar socorro. Por conta do acidente, foi transferido para Planalto, e após suposto tratamento contra o álcool, seria pego novamente, desta vez por policiais rodoviários, dirigindo em ziguezague na rodovia BR-153. Ainda em 2010, ele teria sido acusado de assédio moral por hostilizar a acompanhante de uma idosa.

domingo, 17 de abril de 2011

Computadores e consumidores arrependidos

"Arrependimento" de computador pode virar ferramenta de marketing, segundo noticia o Olhar Digital:

Cientistas financiados pelo Google querem ensinar computadores a se arrepender

Pesquisadores israelenses da Universidade de Tel-Aviv acreditam que sistema permitirá que computadores 'enxerguem' o futuro com facilidade

Cientistas da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, estão desenvolvendo uma pesquisa voltada para a área de inteligência artificial que pretende ensinar computadores a sentir "arrependimento". Por arrependimento, os pesquisadores entendem que a máquina deva ser capaz de entender se o resultado de determinada ação foi o esperado ou ficou abaixo disso e, com essas informações, traçar linhas para minimizar o arrependimento.

Com o financiamento anunciado recentemente pelo Google, os cientistas acreditam que os computadores poderão verificar todas as variáveis de determinada ação e calcular os resultados com antecedência. Isso permitiria que as máquinas avaliassem condições de trânsito, por exemplo, e ajustassem dados para otimizar a situação em tempo real.

O interesse da gigante das buscas no projeto pode estar nas melhoras que o sistema pode trazer para as plataformas AdSense e AdWords da empresa. Com a noção de "arrependimento", o sistema poderia prever com mais exatidão que tipo de publicidade poderia funcionar com determinado usuário.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O reality show do Realengo

Hoje foram divulgadas mais vídeos, fotos, cartas, manuscritos, etc., do atirador do massacre do Realengo, Wellington Menezes de Oliveira. Como a maioria das pessoas, acredito, eu também estou cansado de ver essa espetacularização midiática a respeito desta tragédia, e por isso mesmo não vou republicar aqui nenhuma dessas porcarias deixadas pelo maluco. Quem ainda se dispuser a vê-las, é fácil encontrá-las nos grandes portais brasileiros da internet. Acho que a notícia já foi dada, a tragédia infelizmente aconteceu, e já não há mais nada que fazer senão lamentar as vítimas mortas e esperar que o país se prepare melhor para que não sejamos obrigados a sofrer novas ocorrências da espécie.

A cobertura jornalística, entretanto, se tornou refém da loucura do atirador de Realengo, trazendo à tona o seu lado Sonia Abrão. Na sua mente perturbada, segundo os novos vídeos indicam, ele preparou tudo como se estivesse confinado numa espécie de reality show, o Big Brother Brasil de Sepetiba, local onde morou sozinho nos últimos meses. Uma espécie bizarra de pay-per-view macabro que, lamentavelmente, a mídia caiu na arapuca e está disponibilizando grátis à população. A cada dia que passa, novos vídeos, cartas e manuscritos vêm à luz do dia e a imprensa os celebra como se fôssemos todos espectadores de uma competição fúnebre de extremo mau gosto. Em seu livro "O Vida Filme" (Companhia das Letras, 1999), Neal Gabler já tratou do fenômeno tipicamente moderno da transformação da vida privada em espetáculo e entretenimento públicos. Wellington do Realengo não deve ter lido o livro de Gabler, mas transformou sua morte e os inocentes que levou consigo numa "diversão" mórbida que somos obrigados a engolir no exato momento em que ligamos a televisão ou vemos as primeiras páginas dos jornais e portais. Não dá nem tempo de virar a cara ou mudar de canal. Lá está Wellington Menezes em suas múltiplas facetas sempre disposto a nos assombrar com seus delírios patrocinados pela mídia brasileira.

O circo de horrores virou reality show. O problema é que não dá mais tempo pra mandar Wellington pro paredão. É que todos nós fomos eliminados...





Atualização de 18/04/11:

Coluna de Fernando de Barros e Silva (pág. A2) na Folha de S. Paulo de hoje:


O jornalista e o assassino

SÃO PAULO - Há notícias que são de interesse público e há notícias que são de interesse do público. Se a celebridade "x" está saindo com o ator "y", isso não tem nenhum interesse público. Mas, dependendo de quem sejam "x" e "y", é de enorme interesse do público, ou de um certo público (numeroso), pelo menos.

As decisões do BC para conter a inflação têm óbvio interesse público. Mas quase não despertam interesse, a não ser dos entendidos.

O jornalismo transita entre essas duas exigências, desafiado a atender as demandas de uma sociedade ao mesmo tempo massificada e segmentada, de um leitor que gravita cada vez mais apenas em torno de seus interesses particulares.

Um caso como a tragédia de Realengo reúne interesse público e interesse do público em grau máximo. Como combater a circulação de armas no país? Como aumentar a segurança nas escolas? Como enfrentar o problema do bullying? São questões de interesse público e de interesse difuso do público.

Aquém delas, porém, há o fato trágico. Como fazer sua cobertura? Até onde saciar a curiosidade (mórbida) das pessoas? Até onde devassar o sofrimento das famílias? Deve-se expor sem limites os vídeos "preparatórios" do assassino? Deve-se preservar as crianças disso tudo? Até que ponto? E como?

Não há respostas conclusivas a essas perguntas. Mas não fazê-las, sob pretexto de que seriam ingênuas numa época de informação instantânea, equivaleria a deixar o jornalismo e suas opções fora do debate público. É preciso refletir melhor sobre os nossos critérios.

Sobretudo quando o jornalismo se converte em "infotainment" e parece inclinado a se guiar quase exclusivamente pelos interesses "do público". A superexposição midiática, apelativa e, afinal, monótona do assassino serve bem de exemplo. Nunca um vídeo foi tão visto e comentado. É contra esse espetáculo que deveríamos nos opor. Mesmo, ou principalmente, que isso nos pareça uma batalha perdida.

What a wonderful world

Para você terminar bem a sua semana, escutando e vendo uma performance diferente de What a Wonderful World, de Louis Armstrong:

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bambi quer ganso!

Calma, gente, não estamos falando de futebol não! Isto não tem nada a ver com o jogador vai-não-vai do Santos. Vocês só pensam naquilo...

É que num cemitério dos Estados Unidos a mamãe gansa está chocando seus ovos e, ao que parece, não tem mais o papai ganso para protegê-la. Então, um veadinho que estava no local, sabe-se lá por quê, tratou de proteger mamãe gansa e sua prole, dando plantão ao lado do ninho e não permitindo que ninguém chegue perto. Confira:

Reconstruindo a Torre de Babel

Não, não estamos falando de Bíblia, arqueologia ou engenharia, quando nos referimos acima à Torre de Babel. Embora o título induza a essas ideias pré-concebidas, de certa forma estamos nos reportando a esses temas, ainda que metaforicamente. A breve palestra de Patricia Ryan (video abaixo) é de uma preciosidade difícil de mensurar, e agradabilíssima de se ouvir. Ryan, que é professora de inglês em países árabes há 30 anos, recomenda que não se utilize exageradamente o idioma britânico nem se deprecie o valor da tradução para outras línguas, sob pena de que centenas (talvez milhares) de idiomas alternativos e pouco falados venham a morrer nas próximas décadas, além da possibilidade sempre presente de barrar o caminho brilhante de um gênio, que resolveria problemas crônicos da humanidade ou formularia teorias revolucionárias (como Einstein, por exemplo), só porque ele não passou nos testes oficiais (e altamente rentáveis - para quem os promove) de proficiência em inglês. Muito da riqueza da sabedoria humana se esconde na diversidade de linguagens que todos os povos utilizam. Logo, a Torre de Babel, quer você goste ou não do que a Bíblia diz, é uma síntese da riqueza cultural que este mundo produziu e queremos que continue produzindo. Vale a pena ouvir o que Patricia Ryan tem a dizer, sobretudo quanto ao seu conselho: "Don't insist on English!" ("não insistam no inglês!"):

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