Essa é daquelas notícias que dão um baita orgulho de ser brasileiro. Não um orgulho ufanista e xenófobo, mas um patriotismo de cidadão responsável. A atitude dessa mulher que presenciou a execução de um possível bandido pela PM num cemitério, e não titubeou em ligar para a própria PM para denunciar o fato, além de ter enfrentado com ousadia e cabeça erguida o soldado executor, é daqueles gestos que merecem estátua em praça pública, ainda que dificilmente venhamos a saber o nome ou ver a foto dela, dado que a corajosa mulher se encontra agora no programa de proteção a testemunhas. Ela estava visitando o túmulo do pai e viu a cena grotesca, e uma frase dela, com o perdão do trocadilho, é lapidar: "diz que já é normal fazer isso aqui; mas não é normal eu assistir isso". Revela como se tornou "normal" vermos policiais achacando, torturando e matando, ainda que a maior parte das diferentes corporações policiais seja formada por homens e mulheres corretos e honestos. Logo, o problema é de comando tanto da própria Polícia (em suas múltiplas divisões) como dos governos que a comandam. Pode ser "normal" para eles, mas para nós não. Eu sei que tem muita gente que gostaria de ver o bandido morto imediatamente, mas lembre-se que se deve proteger o suspeito porque ele pode ser o seu filho inocente que estava passando no lugar errado e na hora errada. A sua concordância tácita com o ilícito gera autoridades viciadas em matar e o seu silêncio termina por criar monstros pantagruélicos que podem se voltar adivinhe contra quem... A preservação da lei é garantia de democracia e de respeito ao estado de direito. Além disso, muitos policiais continuam agindo como se estivessem na época da ditadura e pudessem tudo, absolutamente tudo. Outro dia foram policiais que atiraram num garoto de 14 anos em Manaus (AM), e estavam sendo acobertados pela cúpula da PM local. Culpa nossa mesmo, que não sabemos eleger nossos representantes nem exigir que as leis sejam obedecidas, talvez porque sejamos os primeiros a descumpri-las. Ferraz de Vasconcelos, antes desprezada por ser uma cidade-dormitório das classes "C", "D" e "E" a serviço da endinheirada capital paulista, agora pode se orgulhar: há uma mulher destemida, uma cidadã brasileira Corajosa (com "C" maiúsculo), Digna (com "D maiúsculo) e Ética (com "E" maiúsculo), que deveria ter uma estátua em praça pública, não fossem as ameaças que agora sofre. A notícia é da Folha.com:
Mulher liga para 190 e denuncia PMs por assassinato; ouça
EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO
Uma moradora de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, ligou para o telefone de emergência da Polícia Militar --190-- e informou presenciar um assassinato cometido por dois PMs dentro de um cemitério.
O crime ocorreu no último dia 12, um sábado. A vítima, Dileone Lacerda de Aquino, tinha passagens pela polícia e havia saído de uma prisão no interior em agosto de 2010.
A Corregedoria da PM informou na tarde desta segunda-feira que os policiais estão presos no presídio Militar Romão Gomes, respondem a inquérito por suspeita de homicídio e podem ser expulsos da corporação.
A mulher tem a identidade mantida sob sigilo e está sob proteção da própria PM.
DIÁLOGO
"Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro. Eu estou aqui próximo à sepultura do meu pai", disse a mulher.
O policial que atende a ligação pede à mulher o prefixo do carro, diz que vai "fazer um alerta" e recomenda à testemunha que faça uma denúncia à Corregedoria da PM.
Durante a conversa, gravada pela PM, a mulher aborda um dos policiais e o questiona sobre a execução. O policial diz apenas que estava prestando um socorro.
"Ele falou que estava socorrendo. É mentira. É mentira, senhor. É mentira. Eu sei bem o que ele fez", diz a mulher ao atendente do 190.
Os policiais presos são Ailton Vital da Silva, 18 anos de Polícia Militar, e Felipe Daniel Silva, 5 anos de trabalho.
Viltal, segundo o tenente-coronel Roberto Fernandes, comandante da PM na zona leste da capital, já havia participado de três ocorrências de "resistência" --a pessoa abordada resiste à prisão e é morta pelos policiais. Felipe Daniel nunca havia participado de uma ocorrência desse tipo.
De acordo com o comandante, a investigação interna da PM deve ser concluída até o fim deste mês e a tendência é que os dois sejam expulsos da corporação.
Segundo Fernandes, os policiais disseram apenas que houve resistência e prestaram socorro à vítima, mas se negaram a prestar depoimento quando foram presos --só devem depor na Justiça.
O caso começou no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo, a cerca de 1 km do Cemitério das Palmeiras. Um carro de uma empresa de produtos de beleza foi roubado e, informados pelo rádio da polícia, Vital e Daniel fizeram a abordagem.
O assaltante teria entrado em um condomínio residencial, batido em dois carros e, durante a fuga a pé, atirado contra os policiais, que revidaram e o acertaram na perna.
Segundo o comandante, até aí o procedimento foi correto. Eles colocaram o assaltante no carro da polícia para levá-lo ao pronto-socorro.
Só que, no caminho, passaram pelo cemitério onde foram flagrados pela testemunha. "Talvez eles tenham acreditado que não tivesse ninguém. Mas num cemitério, num sábado à tarde, sempre tem alguém chorando por alguém", afirmou.
Fernandes disse que conversou com os dois policiais separadamente e que houve divergência de versões, por isso eles foram presos.
O crime ocorreu no último dia 12, um sábado. A vítima, Dileone Lacerda de Aquino, tinha passagens pela polícia e havia saído de uma prisão no interior em agosto de 2010.
A Corregedoria da PM informou na tarde desta segunda-feira que os policiais estão presos no presídio Militar Romão Gomes, respondem a inquérito por suspeita de homicídio e podem ser expulsos da corporação.
A mulher tem a identidade mantida sob sigilo e está sob proteção da própria PM.
DIÁLOGO
"Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos, e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro. Eu estou aqui próximo à sepultura do meu pai", disse a mulher.
O policial que atende a ligação pede à mulher o prefixo do carro, diz que vai "fazer um alerta" e recomenda à testemunha que faça uma denúncia à Corregedoria da PM.
Durante a conversa, gravada pela PM, a mulher aborda um dos policiais e o questiona sobre a execução. O policial diz apenas que estava prestando um socorro.
"Ele falou que estava socorrendo. É mentira. É mentira, senhor. É mentira. Eu sei bem o que ele fez", diz a mulher ao atendente do 190.
Os policiais presos são Ailton Vital da Silva, 18 anos de Polícia Militar, e Felipe Daniel Silva, 5 anos de trabalho.
Viltal, segundo o tenente-coronel Roberto Fernandes, comandante da PM na zona leste da capital, já havia participado de três ocorrências de "resistência" --a pessoa abordada resiste à prisão e é morta pelos policiais. Felipe Daniel nunca havia participado de uma ocorrência desse tipo.
De acordo com o comandante, a investigação interna da PM deve ser concluída até o fim deste mês e a tendência é que os dois sejam expulsos da corporação.
Segundo Fernandes, os policiais disseram apenas que houve resistência e prestaram socorro à vítima, mas se negaram a prestar depoimento quando foram presos --só devem depor na Justiça.
O caso começou no Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo, a cerca de 1 km do Cemitério das Palmeiras. Um carro de uma empresa de produtos de beleza foi roubado e, informados pelo rádio da polícia, Vital e Daniel fizeram a abordagem.
O assaltante teria entrado em um condomínio residencial, batido em dois carros e, durante a fuga a pé, atirado contra os policiais, que revidaram e o acertaram na perna.
Segundo o comandante, até aí o procedimento foi correto. Eles colocaram o assaltante no carro da polícia para levá-lo ao pronto-socorro.
Só que, no caminho, passaram pelo cemitério onde foram flagrados pela testemunha. "Talvez eles tenham acreditado que não tivesse ninguém. Mas num cemitério, num sábado à tarde, sempre tem alguém chorando por alguém", afirmou.
Fernandes disse que conversou com os dois policiais separadamente e que houve divergência de versões, por isso eles foram presos.
Fico orgulhoso em sar brasileiro. Acordei com o ar mais puro por causa dessa mulher. Já diria um lider do Greenpeace:" a menos que , partamos pra cima dos nossos objetivos e lutemos, não conseguiremos nada . Pois se formos esperar pelo governo de nossa pátria pra suprir as nossas necessidades , isso nunca ocorrerá."
ResponderExcluirOlá Hélio, a notícia também me deixou muito feliz, mas, por outro lado, a comoção geral que provocou põe em evidência o fato de que é exceção aquilo que deveria ser uma atitude normal de cada um de nós. Espero que o exemplo ajude a difundir uma nova forma de comportamento diante atos de violência, injustiças e tantos outros que denigre a imagem da nação toda.
ResponderExcluirAbraço,
Janete