
Esta é apenas a base da pirâmide de autoridades governamentais e funcionários públicos que se esquecem – convenientemente - de que são pagos para garantir um mínimo aceitável de segurança à população. No entanto, comportam-se (quase) todos como se estivessem apenas nos fazendo um favor, já que – para muitos deles – o único compromisso com que se preocupam é o salário no fim do mês. Se fosse só o salário, até que seria ótimo, mas outros, infelizmente, se valem de sua posição de autoridade para obter outro tipo de benesses, geralmente impublicáveis e – lamentavelmente – impuníveis. Toda vez que há uma comoção nacional como a que estamos momentaneamente atravessando por causa do massacre da escola de Realengo, promessas são feitas e atitudes paliativas são tomadas, sem que haja uma real preocupação em atacar o cerne do problema, que é o improviso sistemático e o desinteresse em políticas públicas estruturais que deem conta do problema da segurança no país. Gestos provocados por uma indignação fingida (como se a culpa fosse nossa por sermos roubados e massacrados), mas que não costumam durar até o fim da estação (já que rotineiramente nos adaptamos aos níveis estratosféricos de violência e impunidade), e que são sempre retomados na próxima ceifa de vidas e esperanças inocentes. Nem percebem que o discurso de “desarmar os espíritos” se torna risível diante do espírito da lei que favorece descaradamente a impunidade, transferindo-nos os ônus de nos defendermos por nós mesmos, enquanto eles recebem os bônus mensais e ocasionais mesmo que – hipocritamente – não tenham feito nada para merecê-lo.
Eu gostaria, de verdade, que as armas fossem proibidas ao cidadão comum. Nunca entendi (nem experimentei) a razão que leva um cidadão a ter armas em casa ou a portá-las na rua. É algo inconcebível à minha ingenuidade civil. Entretanto, sei que, diante da conjuntura atual, tanto faz se o comércio delas for proibido ou liberado, ou se nos submetam diariamente a referendo ou plebiscito. As pessoas de má índole e mau caráter continuarão comprando-as livremente no mercado negro e cobrando insaciavelmente o nosso tributo de sangue, porque, a exemplo do policial a que me referi acima, as autoridades constituídas não vão coibir ou reprimir o seu comércio, apenas chegarão pela janela da TV de nossas salas e nos perguntarão se trancamos a porta. Como se a consciência deles não pesasse tanto e suas mãos estivessem menos sujas do nosso sangue por causa deste inútil aviso.