segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O que Jesus disse e não disse?

Em 2005, Bart D. Ehrman lançou um livro intitulado Misquoting Jesus, que em português soaria como algo parecido com "Citando Errado Jesus", mas foi traduzido por "O Que Jesus Disse? O Que Jesus Nao Disse? Quem Mudou A Biblia E Por Quê", publicado aqui em 2006 pela Ed. Prestígio. A obra trata, basicamente, de alguns problemas de interpolação e adulteração de textos bíblicos, como Hebreus 2:8-9, Marcos 1:41, Mateus 24:36 e João 1:18, entre outros. Teve ampla repercussão na época e, além de servir de munição para céticos que preferem despir o santo sem nem contar o milagre, continua plantando dúvidas naqueles crentes que pouco ou nada entendem de crítica textual, ou que acham que os problemas na transmissão das cópias dos manuscritos originais do Novo Testamento tenham acarretado algum dano às doutrinas fundamentais do cristianismo.

A quem possa interessar, não há nenhuma novidade no livro, já que esses problemas são conhecidos e debatidos há dois séculos pelo menos, e nenhuma doutrina central da Bíblia ficou chamuscada pela investigação. Todos os iniciados sabem que nenhum dos manuscritos originais do Novo Testamento resistiu aos primeiros séculos da Igreja cristã, e eles eram constantemente reproduzidos à mão por copistas que, não raras vezes, introduziam, erravam ou retiravam acidentalmente alguma letra ou palavra das cópias que estavam copiando. A ortodoxia cristã entende que apenas os manuscritos originais foram diretamente inspirados pelo Espírito Santo. Isto não invalida, entretanto, o fato de que Deus agiu inclusive nesta transmissão humana falha para permitir que o essencial dos evangelhos e das cartas dos apóstolos chegassem até nós.

Meu querido amigo e irmão Vítor Grando leu o livro e, apesar das críticas, gostou. Dê uma lida no artigo do blog dele, o Despertai, Bereanos!.

Para aqueles que quiserem se aprofundar no assunto, em resposta ao livro de Ehrman, Daniel B. Wallace escreveu um excelente artigo, "O Evangelho segundo Bart", que o Gustavo traduziu e disponibilizou no site E-Cristianismo, do qual destaco abaixo a introdução:




Para a maioria dos estudantes do Novo Testamento, um livro sobre crítica textual é uma real chatice. Os detalhes tediosos não são matéria para um bestseller. Mas desde a publicação em 1 de Novembro de 2005, Misquoting Jesus[2] tem circulado mais e mais alto até o pico de vendas da Amazon. E já que Bart Ehrman, um dos líderes da América do Norte em crítica textual, apareceu em dois programas da NPR (o Diane Rehm Show e Fresh Air com Terry Gross) - ambos em um espaço de uma semana - ele tem estado entre os primeiro cinquenta mais vendidos na Amazon. Em menos de três meses, mais de 100000 cópias foram vendidas. Quando a entrevista de Neely Tucker a Ehrman no The Washington Post apareceu em 5 de Março deste ano as vendas do livro de Ehrman subiram ainda mais. O sr. Tucker falou de Ehrman como um "estudioso fundamentalista que vasculhou tanto as orígens do Cristianismo que ele perdeu sua fé."[3] Nove dias depois, Ehrman era a celebridade convidada no The Daily Show de Jon Stewart. Stewart disse que vendo a Bíblia como algo que foi deliberadamente corrompida por escribas ortodoxos fez da Bíblia "mais interessante... quase mais divina em alguns aspectos." Stewart concluiu a entrevista declarando, "Eu realmente te parabenizo. É um baita de um livro!" Em menos de 48 horas, Misquoting Jesus chegou ao topo da Amazon, ainda que somente por um curto período. Dois meses depois e ainda está voando alto, ficando entre os 25. Ele "se tornou um de meus bestsellers mais improváveis do ano."[4] Nada mal para um tomo acadêmico em uma matéria "chata"!

Porque todo o alvoroço? Bem, por uma coisa, Jesus vende. Mas não o Jesus da Bíblia. O Jesus que vende é aquele que é saboroso ao homem pós-moderno. E com um livro entitulado Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why, uma audiência disponível foi criada através da esperança que haveria novas evidências que o Jesus bíblico é uma imaginação. Ironicamente, quase nenhuma das variantes que Ehrman discute envolve palavras de Jesus. O livro simplesmente não entrega o que o título promete. Ehrman preferiu Lost in Transmission, mas a publicadora achou que tal livro seria percebido pelo pessoal de Barnes e Noble como relacionado a corridas de stock car! Mesmo que Ehrman não tenha escolhido o título resultante, ele foi uma jogada de marketing.

Mais importante, este livro vende porque ele apela ao cético que quer razões para não acreditar, que considera a Bíblia um livro de mitos. É uma coisa dizer que as histórias na Bíblia são lenda; outra bem diferente é dizer que muitas delas foram adicionadas séculos depois. Apesar de Ehrman não dizer bem isto, ele deixa a impressão que a forma original do Novo Testamento era bem diferente dos manuscritos que nós lemos agora.

De acordo com Ehrman, este é o primeiro livro escrito sobre a crítica textual do Novo Testamento - uma disciplina que tem circulado por quase 300 anos - para uma audiência leiga.[5] Aparentemente ele não conta os vários livros escritos por advogados da KJV Only, ou os livros que interagem com eles. Parece que Ehrman quer dizer que o seu é o primeiro livro sobre a disciplina geral do criticismo textual do Novo Testamento escrito por um crítico textual de boa fé para leitores leigos. Isto é muito provavelmente verdade.




[1] Agradecimentos são dados a Darrell L. Bock, Buist M. Fanning, Michael W. Holmes, W. Hall Harris, e William F. Warren por verificar um esboço preliminar deste artigo e oferecer sua opinião.

[2] San Francisco: HarperSanFrancisco, 2005.

[3] Neely Tucker, "The Book of Bart: In the Bestseller ‘Misquoting Jesus,' Agnostic Author Bart Ehrman Picks Apart the Gospels That Made a Disbeliever Out of Him," Washington Post, March 5, 2006. Acessado em http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/03/04/AR2006030401369.html.

[4] Tucker, "The Book of Bart."

[5] Misquoting, 15.

A bancada evangélica do mensalão de Brasília

Pelo jeito, os irmãos precisam escolher melhor seus candidatos, para evitar escândalos como o do mensalão do governador José Roberto Arruda (DEM), de Brasília. 

O site O Verbo - Notícias Cristãs diz que "Leonardo Prudente (DEM), Júnior Brunelli (PSC), Eurides Brito (PMDB), que se dizem evangélicos aparecem nos vídeos recebendo propina". 

De fato, o Jornal Hoje da Globo desta segunda-feira, 30 de novembro de 2009, mostra o deputado Júnior Brunelli não só recebendo dinheiro do ex-secretário de relações institucionais, Durval Barbosa, como depois de amealhar a quantia, o deputado Brunelli - pasmem! -, juntamente com o também deputado distrital Leonardo Prudente, membro da igreja Sara Nossa Terra, entre um Aleluia! e outro - faz uma "oração" para abençoar o corruptor e agradecer a Deus pela grana auferida. 

Prepare o seu estômago e confira o vídeo do Jornal Hoje (clique no link acima), em que Brunelli comete, inclusive, o ato falho de dizer (na "oração") que "SANTAS são as investidas de homens malignos contra as nossas vidas" (ele queria dizer "tantas"), e coleciona pérolas como "o Senhor é a nossa justiça", "serão envergonhados, serão constituídos em nada aqueles que se levantarem contra nós" e "nós precisamos de uma cidade diferente, de um novo tempo para nós" (de preferência, onde o sol não nasça exatamente redondo). Chega até a invocar Nabucodonosor comendo capim...

Pelo menos ainda há tempo de se evitar um erro antes que ele aconteça, já que, segundo informa o Blog da Paola, o deputado Brunelli havia sido escolhido por 27 entidades e denominações evangélicas para ser o candidato do segmento para o Senado nas próximas eleições, representando o Distrito Federal. 

Obviamente, precisamos ver se essas tais entidades evangélicas não vão ignorar as denúncias e lançar o candidato mesmo assim, já que, ultimamente, elas estão fazendo uma força danada para invadir aquele ditado popular: "de bumbum de bebê, urna eleitoral e cabeça de juiz, você pode esperar qualquer coisa"...

O inconformismo humano com o seu destino

Todos nós – cristãos realmente convertidos a Cristo - temos amigos queridos que seguem doutrinas, digamos, exóticas. Verdade seja dita: talvez eles pensem o mesmo de nós, já que tivemos oportunidade de compartilhar com eles a nossa fé. Afinal, muitos que se dizem cristãos adotam também práticas esdrúxulas e esotéricas, como banhos de sete águas, suor ungido, “unções” animais, sopros demolidores, e algumas versões piratas de lutadores de videogame. Essa constatação os anima a nos enviarem algumas mensagens igualmente fantasiosas, como aquela que diz que tatuagens e piercings prejudicam a alma a encontrar seu caminho na transmigração que, segundo dizem, todas as almas fazem.

No fundo, tanto os esotéricos como os pseudocristãos têm uma característica semelhante: o desejo mórbido de controlar o seu próprio destino mediante uma disciplina que mostra aos outros uma certa aparência de sabedoria, de autocontrole, de inteligência superior. Nada que Paulo já não houvesse previsto (e advertido) aos colossenses (2:23), “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne”. A preocupação de Paulo, na época, era o início de um movimento ainda incipiente e que cresceria muito nas primeiras décadas da Igreja, contra o qual o Espírito Santo reservou o apóstolo João para combatê-lo mais direta e veementemente: o gnosticismo.

Guardadas as devidas proporções em relação ao gnosticismo original, fundamentalmente ser gnóstico não é nada mais, nada menos, do que alegar ser dotado de um conhecimento especial sobre a divindade e a transcendência que o torna superior aos demais (pobres) mortais. Cada um à sua maneira, o ser humano tem a tendência atávica de controlar o seu destino e buscar a qualquer custo superá-lo quando a – inevitável – morte chegar. É a constante luta por transcender as limitações naturais da vida, o que é perfeitamente compreensível, mas não exatamente sábio. O cristão que entendeu a mensagem do evangelho sabe que nada é, e entrega a sua vida (e a sua transcendência, portanto) nas mãos da divindade cristã, onde se sente plenamente acolhido e garantido. Não vê em si nenhum bem ou obra que lhe permita conseguir, por outros meios que não a fé, superar o destino fatal de toda a humanidade. Já os esotéricos e pseudocristãos não se conformam com este fato insofismável, e, portanto, precisam crer em manifestações materiais, visíveis, palpáveis, de que estão conseguindo trilhar o caminho progressivo de conhecimento que – ainda que inconscientemente – se propuseram. Necessitam doentiamente de provas físicas de que estão no rumo certo, ainda que esta comprovação se dê por uma espécie de iluminação espiritual autossugerida, que produz, no entanto, resultados numa vida piedosa (ou religiosa) facilmente percebida pelos outros. Criam para si uma espécie de “pedágio divino”, em que recebem tíquetes comprovantes de cada quilômetro vencido, e têm verdadeiro gozo em mostrá-los aos outros, como se estivessem dispostos a repartir gotas da “autoridade” sapiencial que alcançaram e que lhes permite, na sua imaginação, controlar o seu destino numa espécie de programa de milhagem celestial.

Para o cristão convicto, entretanto, não há meio termo nem negociação com o gnosticismo, ou, pelo menos, não deveria haver. Nosso destino e nosso futuro estão completamente nas mãos de Deus. Somos somente salvos pela fé no sacrifício redentor de Jesus Cristo, e fora disso nada sabemos ou pretendemos, senão viver uma vida consagrada a Ele, fundamentada na Sua Palavra, em que unicamente Ele dita os passos do nosso crescimento e autoridade, segundo lhE aprouver. Quanto aos gnósticos, só podemos pedir a Deus que lhes abra os olhos, e lhes faça ver que nada neste mundo se compara a viver uma vida dependente exclusivamente da graça do Pai. Isto, sim, é a verdadeira sabedoria e transcendência.

domingo, 29 de novembro de 2009

Monte a sua igreja por R$ 418,00

Pelo menos é isso o que diz a Folha de S. Paulo na edição de hoje, segundo a Folha Online:

Hoje na Folha: Criar igreja e se livrar de imposto custa R$ 418

da Folha Online

Reportagem de Hélio Schwartsman, da equipe de articulistas da Folha, mostra que bastam cinco dias úteis e R$ 418,42 para criar uma igreja no Brasil com CNPJ, conta bancária e direito de realizar aplicações financeiras livres de IR (Imposto de Renda) e de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

A reportagem, publicada neste domingo na Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal), informa ainda que não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a constituição de uma igreja nem se exige um número mínimo de fiéis --basta o registro de sua assembleia de fundação e estatuto social num cartório.

Além de IR e IOF, igrejas estão dispensadas de IPTU (imóveis urbanos), ITR (imóveis rurais), IPVA (veículos) e ISS (serviços), entre outros impostos. Se a Lei Geral das Religiões, já aprovada pela Câmara e aguardando votação no Senado, se materializar, mais vantagens serão incorporadas.

Centralização de dízimos

Acho que alguma coisa estranha está acontecendo na igreja pentecostal Deus é Amor, pelo menos no que diz respeito à arrecadação financeira. 

Quarta-feira passada, passando por Sorocaba, ouvi um trecho da programação da rádio 103,9 FM deles, e o locutor lia um comunicado da liderança mundial (leia-se David Miranda) dizendo que está expressamente proibido entregar dízimos e ofertas pessoalmente nas igrejas locais, e orientando os fiéis a depositá-los diretamente nas contas bancárias indicadas pela direção, enquanto lia pausadamente os números de cada uma delas, informação também disponível no site da igreja. 

Vamos torcer para que seja só uma centralização de dízimos para facilitar a administração financeira, né gente!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Fratura exposta

“Quando eu tento curar Israel, o mal de Efraim fica exposto e os crimes de Samaria são revelados.”
(Oséias 7.1)

O PECADO é sempre uma tragédia. Mas o pecado oculto é muito pior que o pecado visível. O pecado oculto envolve a hipocrisia, que é o pecado menos tolerado por Jesus Cristo. O Senhor esbravejou muito mais contra a hipocrisia do que contra os pecados sexuais. Basta reler a violenta condenação da hipocrisia que Jesus dirigiu aos fariseus e mestres da lei (Mt 23). Esta, por exemplo: “Vocês são como sepulcros caiados; bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23.27). Só aí, o Senhor os chama frontalmente de hipócritas sete vezes.

Não há desculpa nem para o pecado oculto nem para o pecado público. Mas a fratura exposta chama a atenção de todo mundo e incomoda o pecador. Ele é levado a juízo sem perda de tempo, como aconteceu com a mulher adúltera (Jo 8.3). No outro caso, será necessário esperar o escândalo ou o juízo final (2 Tm 5.24).

Não serei ingênuo o suficiente para ter uma vida dupla!

(Elben M. Lenz César, "Refeições Diárias com os Profetas Menores", Ed. Ultimato, 2004, p. 47)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O que é ser um líder cristão?

Veja o vídeo abaixo e reflita. É muito interessante o que ele diz.


domingo, 22 de novembro de 2009

Novos e velhos fariseus - 1ª parte

Chamar alguém de "fariseu" hoje em dia equivale a um xingamento, pela carga negativa que está associada ao nome em função dos antigos fariseus terem, por assim dizer, desempenhado o papel de adversários de Jesus na Sua passagem pela Terra. O termo "fariseu" dispensa explicações; já traz intrínseco um sentido negativo que resume a ofensa que alguém quer dirigir ao outro, bem como encerra a discussão com uma espécie de "cala-boca". É muito comum que as atuais (e exóticas) práticas religiosas dos evangélicos brasileiros sejam confrontadas por aqueles que exigem uma coerência bíblica e denunciam o caráter profano desses modismos, e por isso esses últimos são chamados de "fariseus". Entretanto, devemos resistir ao chavão do preconceito, e tentar entender melhor quem eram os fariseus, que compunham uma das grandes facções em que a religião judaica se dividia na época de Cristo. Ainda que debaixo de um manto religioso, tinham, portanto, uma função muito mais político-ideológica, ainda que esses conceitos não fossem conhecidos à época.

Para tanto, proponho dois textos - bastante interessantes - para leitura. O primeiro é de Philip Yancey, em "O Jesus Que Eu Nunca Conheci", Ed. Vida, 2001, págs. 64/67, comentando sobre as diferentes facções religiosas entre os judeus do século I:



"Os essênios eram os mais separados de todos. Pacifistas, não resistiam ativamente a Herodes ou aos romanos, mas antes retiravam-se para comunidades monacais nas cavernas de um deserto estéril. Convencidos de que a invasão romana viera como castigo por seu fracasso em guardar a Lei, dedicavam-se à pureza. Os essênios tomavam banhos rituais todos os dias, mantinham uma dieta restrita, não defecavam no sábado, não usavam jóias, não juravam e tinham todos os bens materiais em comum. Esperavam que a sua fidelidade incentivasse o advento do Messias.

Os zelotes, representantes de uma estratégia diferente de separativismo, advogavam a revolta armada para expulsar os estrangeiros impuros. Um ramo dos zelotes especializava-se em atos de terrorismo político contra os romanos, enquanto outro operava como uma espécie de "polícia moral" para manter os judeus na linha. Em uma primeira versão de purificação étnica, os zelotes declaravam que qualquer pessoa que se casasse com um indivíduo de outra raça seria linchado. Durante os anos do ministério de Jesus, observadores certamente notaram que em seu grupo de discípulos estava Simão, o Zelote. Por outro lado, os contatos sociais de Jesus com os gentios e com os estrangeiros, sem mencionar parábolas como a do bom samaritano, deveriam ter levado à fúria os zelotes extremados.

No outro extremo, os colaboracionistas tentavam operar dentro do sistema. Os romanos garantiram autoridade limitada a um concílio judeu chamado Sinédrio, e em troca de privilégios este cooperava com os romanos em repelir qualquer sinal de insurreição. Era do seu maior interesse prevenir os levantes e as duras represálias que certamente trariam.

O historiador Josefo conta de um camponês doente mental que gritava "Ai de Jerusalém!" no meio dos festivais populares, agitando as multidões. O Sinédrio tentou puni-lo, sem resultado, por isso o entregaram ao governo romano para que fosse devidamente açoitado. Ele foi descascado até os ossos, e a paz foi restaurada. Com o mesmo intuito, o Sinédrio enviou representantes para examinar João Batista e Jesus. Será que representavam uma verdadeira ameaça à paz? Nesse caso, deveriam ser enviados aos romanos? Caifás, o sumo sacerdote, captou perfeitamente a visão dos colaboracionistas: "Convém que um só homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação".

Os saduceus eram os colaboracionistas mais espalhafatosos. Foram antes helenizados sob os gregos, e depois cooperaram com os macabeus, com os romanos e agora com Herodes. Humanistas na teologia, os saduceus não criam na vida após a morte nem na intervenção divina aqui na terra. O que acontece, acontece, e, considerando-se que não há sistema futuro de recompensa e de castigo, uma pessoa poderia muito bem desfrutar do tempo limitado na terra. Pelos palácios e utensílios de prata e de ouro de suas cozinhas, que os arqueólogos descobriram, parece que os saduceus desfrutaram da vida realmente muito bem. De todos os partidos da Palestina, os mandarins saduceus eram os que mais tinham a perder diante de qualquer ameaça ao status quo.

Os fariseus, partido popular da classe média, muitas vezes se encontravam em cima do muro, vacilando entre o separatismo e o colaboracionismo. Mantinham altos padrões de pureza, sobretudo em questões como a guarda do sábado, a pureza ritual e o tempo exato dos dias festivos. Tratavam os judeus que não agiam assim como "gentios", excluindo-os dos concílios locais, boicotando seus negócios e banindo-os dos banquetes e dos acontecimentos sociais. Mas os fariseus já haviam sofrido o seu quinhão de perseguição: uma vez oitocentos fariseus foram crucificados em um só dia. Embora cressem apaixonadamente no Messias, hesitavam em seguir muito depressa a qualquer impostor ou operador de milagres que pudesse atrair desgraça para a nação.

Os fariseus escolhiam suas batalhas com cuidado, pondo a vida em perigo apenas quando necessário. Uma vez, Pôncio Pilatos desprezou um acordo com os judeus para as tropas romanas não entrarem em Jerusalém carregando estandartes que trouxessem uma imagem ("ícone") do imperador. Os fariseus consideravam isso um ato de idolatria. Em protesto, uma multidão de judeus, na maioria fariseus, cercou o palácio de Pilatos por cinco dias e cinco noites em uma espécie de greve branca, chorando e implorando que mudasse. Pilatos ordenou que fossem ao hipódromo, onde os soldados estavam à espreita, e ameaçou condenar à morte todo aquele que não parasse de implorar. Todos de uma vez, caíram com o rosto em terra, desnudaram os pescoços e anunciaram que estavam preparados para morrer a fim de não ver suas leis transgredidas. Pilatos voltou atrás.

Má reputação

Na sua coluna na Folha de S. Paulo de 19/11/09, Mônica Bergamo reproduz os resultados de uma pesquisa feita pelas sociólogas Mary Castro e Miriam Abramovay.

Foram entrevistadas 1.854 pessoas entre jovens militantes, integrantes de ONGs, movimentos sociais e religiosos e partidos políticos que estavam reunidos na Conferência Nacional para a Juventude, realizada de 27 a 30 de abril de 2008. 

Entre os muitos temas abordados na pesquisa, um deles era o grau de confiabilidade das instituições brasileiras. 

Eis um resumo dos resultados, das instituições mais confiáveis às menos confiáveis:


1) Família - 68,3%
2) Igreja Católica - 15,3%
3) Igrejas Evangélicas - 11,3%
4) Candomblé - 4%
5) Polícia - 1,7%
6) Assembleias Legislativas - 1,6%
7) Câmaras de Vereadores - 1,6%
8) Congresso Nacional - 1,5%

Obviamente, trata-se de um universo restrito, que não espelha a totalidade da população, mas trata-se de um grupo jovem e formador de opinião. 

Chama a atenção o fato de que os jovens brasileiros de hoje têm seu maior alicerce de confiabilidade na família, num contraste com os anos 60 e 70, em que, ainda não houvesse uma pesquisa de igual conteúdo para ser confrontada, a família parecia se dissolver como instituição. 

Convenhamos que 68,3% de confiabilidade é um percentual consideravalmente alto. Por outro lado, o mesmo não acontece com a religião, tida e havida como o outro sustentáculo da sociedade ao longo dos séculos, ao lado da família. 

A Igreja Católica, que ainda detém ampla maioria na população brasileira, tem 15,3% de confiabilidade, enquanto as Igrejas Evangélicas gozam de 11,3% no mesmo índice. 

Como católicos e evangélicos praticantes geralmente não se bicam, é de se imaginar que, do universo de quase 2.000 entrevistados, algo em torno de 26,6% deles não eram cristãos nominais, mas de alguma forma estavam envolvidos com a sua prática religiosa. 

É claro que há pessoas não religiosas que têm algum apreço pelas igrejas, mas de qualquer maneira é de se notar que tanto católicos como evangélicos gozam de um prestígio tão baixo num grupo formador de opinião que, dentro de alguns anos (ou décadas), estará no comando do país em suas mais diferentes áreas. 

Outra leitura possível da pesquisa é que o pequeno índice de confiabilidade das igrejas evangélicas mostra que seu crescimento dificilmente se dá, ou se dará no meio de pessoas mais instruídas e envolvidas em trabalhos comunitários organizados. 

Não deixa de ser um retrato do processo de alheiamento da sociedade por que muitas igrejas evangélicas passam, mais preocupadas em se transformar numa espécie de clube privado de serviços, em que o sucesso de alguns é garantido pela colaboração induzida dos demais. 

Deste jeito vai ser difícil "dominar" o Brasil, como alguns "bispos" e "apóstolos" pretendem, com fins muito mais político-econômico-ideológicos do que espirituais.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Jesus e os outros deuses

Você já deve ter lido em algum lugar, ou alguém comentou com um certo ar intelectual, que Jesus (e o cristianismo, por consequência) é um mito montado (ou copiado) a partir de outras divindades pagãs tais como Hórus, Krishna, Zoroastro, Mitra, etc.. Principalmente quando chega a época do Natal, além daquelas tradicionais edições de fim de ano de Veja e Superinteressante, requentando velhas teorias da conspiração sobre a Bíblia e o cristianismo, muitos enchem a boca arrotando sabedoria, imaginando que estão descobrindo a América novamente, mas nenhuma dessas alegadas semelhanças de Jesus com os outros deuses resiste a uma análise acurada, como a feita pelo site americano The Devine Evidence, traduzida para o português pelo Gustavo, e agora disponível no link abaixo:

Alegadas similaridades entre Cristo e divindades pagãs

O texto é bastante interessante e algumas vezes indigesto, por mostrar até que ponto chega a imaginação humana quando se criam deuses ou se quer destruir a crença alheia mediante argumentos falsos pré-fabricados. Destaco apenas o texto introdutório:




Introdução

Se você procurar a internet por similaridades entre Jesus e deidades pagãs, você encontrará incontáveis resultados apresentando o mesmo material errôneo que não fornece nenhuma fonte religiosa original para validar seus clamores. Contudo, se você procurar os textos religiosos das figuras em questão você será confrontado com informação honesta que revela que o clamor de que a história de Jesus foi roubada de mitos pagãos é expressamente falso. Para a conveniência do leitor, eu forneço links por toda esta discusão aos textos originais, assim você poderá ver pessoalmente que a "Teoria da Cópia Pagã" foi completamente fabricada.

Declaração cética: mas estas figuras existiram antes da alegada vida de Jesus. Somente a cronologia faz esta discussão inútil.

Resposta: Um fato importante a ter em mente enquanto ler esta seção é a quantidade aproximada de 300 profecias messiânicas detalhadas a respeito da vida, morte e ministério de Jesus no Velho Testamento. As profecias datam de aproximadamente 450 a 1500 anos antes de Seu nascimento. A acusação de cristãos plagiando os registros de outras figuras no primeiro século ignoram o fato que conceitos como nascimento virginal, a ressurreição, e uma relação Pai-Filho precedem muitas das figuras neste artigo.

Também, muitos dos textos religiosos contendo as figuras e as alegadas similaridades clamadas por críticos são posteriores à finalização da Bíblia Cristã. Muitos textos a respeito destas figuras foram adicionados com o passar dos séculos, com aspectos de suas vidas se tornando mais espetaculares e suspeitosamente similares ao Cristianismo. Uma importante diferença entre Jesus e outras figuras neste artigo é a existência de fatos verificáveis sobre a vida de Jesus: nós conhecemos aproximadamente o ano de Seu nascimento, numerosos registros existem que verificam Sua existência, eventos históricos acurados que ocorreram por volta de Seu tempo de vida como mencionados nos textos cristãos, e nós podemos traçar as origens das crenças judaico-cristãs. Muitas outras figuras em questão não possuem ponto de origem documentado e não mencionam datas ou datas aproximadas de quanto os alegados eventos ocorreram.

Não obstante, assim que nós mostrarmos que os clamores de cópia são falsos, o argumento de quem veio primeiro se mostra irrelevante.

Declaração cética: Como a menção de eventos históricos prova a exatidão da Bíblia? Muitos autores de ficção incorporam pessoas reais ou lugares em seus trabalhos para dar ao enredo um sentimento de veracidade. Como a Bíblia seria diferente?

Resposta: Exatidão histórica sozinha não é prova da inerrância Bíblica mas ela atesta sua confiabilidade. Se a Bíblia mencionasse apenas localizações e pessoas espúrias como muitos dos textos pagãos fazem, certamente isto iria diminuir sua autenticidade.

Cuidados para o discernimento

Eu quero que vocês tenham as seguintes coisas em mente na próxima vez que forem apresentados à teoria de cópia pagã. Pergunte a si mesmo as seguintes perguntas baseadas em lógica e verá que muitos clamores instantaneamente desintegram.

TERMINOLOGIA Uma coisa para se alertar ao ser apresentado com os clamores de cópia é o uso de terminologia Judaico-cristã. Houve muitas religiões através da história cujos membros participavam em banhos rituais, mas não era batismo. Grupos políticos e religiosos podem ter celebrado refeições comunitárias mas não era uma Eucaristia. Seguidores podem considerar seu deus um salvador de algum tipo mas eles não eram chamados de Messias. Religiões podem falar de uma vida após a morte mas eles não consistem de lugares conhecidos como Céu e Inferno. Críticos podem usar tais termos para fazer suas conexões parecer mais fortes mas este é um uso errado de terminologia pois estas palavras são usualmente de origens judaico-cristãs.

TEMPO Quando apresentado com evidência comparativa, pergunte a si mesmo: 1) A figura precede as profecias messiânicas do Velho Testamento? (muitos não precedem) 2) O tempo da evidência precede o Cristianismo? (muitos textos religiosos e ajudas são posteriores ao Cristianismo) 3) A figura precede a vida de Jesus? (figuras como Apolônio de Tiana não precedem)

LOCALIZAÇÃO Se críticos clamam que uma figura da América do Sul, por exemplo, (como Quetzalcoatl) influenciou o Cristianismo, é obviamente um falso clamor se nós acreditamos que as Américas ainda não haviam sido descobertas.

SIMBOLISMO Se pergunte que simbolismo existe por trás de tais paralelos. Como muitos grupos políticos e religiosos da antiguidade, uma seita pode ter celebrado uma refeição comunitária mas ela não tinha o mesmo significado que uma Eucaristia Cristã. Membros podem considerar sua deidade um salvador mas eles não consideram a figura um salvador do pecado e da perdição, etc.

FONTES Veja se os clamores se baseiam ou não em textos sagrados reais da religião em questão (muitos raramente baseiam-se). Muitas referências simplesmente citam fontes secundárias de autores do mesmo gênero. Quando eles citam uma fonte religiosa, muitos críticos não especificam o livro, volume ou verso embora eles prontamente citem exatamente onde a "cópia" pode ser encontrada na Bíblia Cristã. Pergunte por referências específicas sobre onde a evidência pode ser encontrada nos reais textos religiosos. Por fim, como poderemos ver através desta discussão, muitos textos religiosos não possuem um cânon oficial como a Bíblia Cristã. Seus textos foram admitidamente alterados e adicionados durante os séculos. Quando críticos citam uma fonte de outro texto, pergunte a si mesmo se esta evidência é encontrada ou não em um texto que seja anterior ao Cristianismo (muitos não são).

Amar a Deus sobre todas as coisas

Ainda há quem pregue o evangelho no Brasil...



via blog Sem Forma

La main de Dieu

Vergonha. Shame. Vergüenza. Vergogna. Honte.

Cacique Cobra Coral vai explicar apagão

A notícia d'O Globo dá a exata dimensão da palhaçada que tomou conta da política brasileira (com todo respeito aos palhaços profissionais, que ganham a vida honestamente e não merecem a comparação):




Senado vai convidar Fundação Cacique Cobra Coral para explicar apagão

RIO - A Comissão de Ciência e Tecnologia Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado decidiu convidar a presidente da Fundação Cacique Cobra Coral, Adelaide Scritori, para participar da audiência que vai debater as causas apagão que atingiu 18 estados do país, na última terça-feira, dia 10. A inclusão da nova convidada, que no site oficial apresenta a fundação como "uma entidade científica esotérica, especializada em fenômenos climáticos" causou grande polêmica entre os senadores e foi solicitada pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

- Se houve problema meteorológico, como dizem, vamos ouvir a fundação - sugeriu Virgilio.

Adelaide Scritori é médium e incorpora o espírito do Cacique Cobra Coral, cuja missão é minimizar catástrofes que podem ocorrer em razão dos desequilíbrios provocados pela ação do homem na natureza. Os serviços da Fundação Cobra Coral já foram usados pelo governo federal, pelo Ministério da Saúde e pelo município do Rio em diversas ocasiões.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O trenzinho do caipira

Hoje faz exatos 50 anos que morreu Heitor Villa-Lobos, o genial músico brasileiro que conseguiu, como ninguém unir a música clássica com a popular. O trenzinho não para mais nas estações do interior, e o caipira se limita hoje a um jeito de falar, mas a música de Villa-Lobos é para sempre. Para homenageá-lo, segue abaixo o vídeo de "O Trenzinho do Caipira", na versão do Boca Livre:


sábado, 14 de novembro de 2009

Como Deus nos vê

por Philip Yancey:

No final da vida, Henri Nouwen disse que a oração se tornou para ele principalmente um momento de "ouvir a bênção". "A verdadeira "obra" da oração", disse, "é ficar em silêncio e ouvir a voz que fala coisas boas a meu respeito". Isso pode parecer auto-satisfação, admitiu, mas não é quando significa se ver como o Amado, alguém em quem Deus escolheu habitar. Quanto mais ele ouvia essa voz, menos inclinado ficava a julgar seu valor pela forma como os outros o tratavam ou pelo que já havia conquistado. Ele orava para que a presença interior de Deus se expressasse em sua vida diária, enquanto comia e bebia, falava e amava, brincava e trabalhava. Buscava a liberdade radical de uma identidade ancorada em um lugar "acima de todos os elogios e acusações humanas".

Também descobri que a oração significa muito mais que dizer a Deus o que quero que faça. Significa, principalmente, colocar-me num lugar em que Deus possa "renovar minha mente", em que eu possa absorver minha nova identidade como o Amado de Deus, a qual Deus insiste ser minha porque creio.

Numa analogia audaciosa, Kathleen Norris inverte o ponto de vista que normalmente atribuímos a Deus:

"Certa manhã de primavera, vi um jovem casal com uma criança no portão de embarque do aeroporto. O bebê olhava intensamente para as outras pessoas e tão logo reconhecia um rosto humano, não importava de quem fosse, se jovem ou velho, bonito ou feio, aborrecido, alegre ou preocupado, ele reagia em total deleite.

Era lindo de se ver. Nosso monótono portão de embarque tinha se transformado no portão do céu. Enquanto observava essa criancinha brincando com qualquer adulto que assim permitisse, senti-me como Jacó tomado de assombro, porque percebi que é assim que Deus olha para nós, fixamente em nosso rosto para se deleitar, para ver as criaturas que ele criou e chamou de boas, junto com o resto da criação. E, como diz o salmo 139, as trevas não são nada para Deus, que consegue olhar através de qualquer mal que tenhamos feito em nossa vida e enxergar a criatura feita à imagem divina.

Desconfio que apenas Deus e as crianças amadas conseguem enxergar dessa maneira."

(Philip Yancey, em “O Deus (In)Visível”, Ed. Vida, pág. 158)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A esperança ceifada

ALERTA: Perdoem-me o tom macabro, mas a história abaixo (infelizmente verídica) NÃO deve ser lida por quem se impressiona facilmente ou não tem estômago para os fatos tristes e escabrosos que acontecem no dia-a-dia de algumas pessoas. Se você se enquadra neste grupo, não se sinta envergonhado por isso (eu também sou um deles), mas NÃO leia o que vem a seguir.

Tenho acompanhado a minha irmã a algumas sessões de câmara hiperbárica, um procedimento clínico para pessoas que têm dificuldades de cicatrização (como diabéticos) ou passaram por grandes traumas físicos que requerem tratamento especializado. 

A câmara hiperbárica é uma espécie de submarino (com escotilha inclusive) em que os pacientes usam máscaras de oxigênio e são submetidos artificialmente a uma pressão atmosférica muito alta. 

O caso dela é relativamente simples face a alguns pacientes que a acompanham na sessão, como travestis que tiveram implantes de silicone rejeitados e o local não cicatriza mais, e pessoas atacadas (e desfiguradas) por pitbulls. 

Só por aí dá pra perceber que o caso que eu vou contar a seguir é altamente indigesto, por conseguir ser ainda pior. Só vou contar porque, mesmo que a mim não me agrade nem um pouco ouvir histórias desse naipe, a minha indignação é tão grande que eu não consigo me calar e tenho que compartilhar pelo menos com este blog.

Vamos aos finalmente, então. O caso é de um garoto pobre, de 15 anos, que foi contratado por um fazendeiro da região de Bauru, sem registro em carteira, por 100 reais mensais (isto mesmo, 100 reais mensais) para operar uma máquina agrícola, deste tipo de ceifadeira. 

Sem instrução alguma, o garoto foi abandonado à própria sorte na operação da máquina, e como você já deve estar imaginando, aconteceu o pior. 

O acidente foi inevitável e o rapaz perdeu uma perna, mas não só a perna (e aqui vem o ainda pior), mas toda a região pélvica, com pênis e ânus decepados. Horrível, não?! Sei que o que passa na cabeça da gente ao ouvir isso é algo do tipo "seria melhor ter morrido", mas o garoto (milagrosamente) sobreviveu, e está se recuperando. 

Não é difícil imaginar o tipo de vida que está levando e o que o espera no futuro. 

Medidas judiciais já foram tomadas para tentar ressarcir o mínimo possível de dignidade (e danos morais) a este garoto, quando todos nós sabemos que o prejuízo de vida que ele sofreu é irreparável.

Conto essas coisas porque muitas vezes a gente é mal entendida quando defende políticas sociais que diminuam a desigualdade social no país, nelas incluída a questão das quotas raciais

Este caso mostra, com as tintas mais fortes, como o espírito diabólico da escravidão ainda assombra o Brasil. 

Muita gente se julga autorizada a tratar os mais pobres como escravos, pela módica quantia de 100 reais ao mês e ainda acha que está fazendo um favor à humanidade. 

O garoto, no caso, é afrodescendente, e o tratamento desumano que lhe foi dispensado pelo "empregador" é típico de uma certa classe privilegiada, isto no Estado mais rico e (supostamente) mais desenvolvido do país. 

Imagine o que ocorre nos grotões mais distantes. Eu sei (por experiência própria) que a miséria humana é das coisas mais nefastas e surpreendentes que existem na face da Terra, além de a constatarmos nos lugares e nas pessoas mais improváveis. 

Entretanto, acredito que este fantasma do preconceito social-racial continua impregnado na alma da nação. 

Infelizmente, ainda há muitos senhores de engenho por aqui, moendo vidas e esperanças, enquanto muita gente se acomoda e prefere deixar tudo como está. Infelizmente.

Contra Práxeas, de Tertuliano

O Gustavo teve a paciência e 98% da mão-de-obra (avalio em 2% a minha participação na empreitada) de traduzir Contra Práxeas, uma das obras-primas de Tertuliano, em que ele refuta as objeções heréticas contra a doutrina da Trindade. O texto completo, dividido em 31 capítulos mais as Elucidações de Phillip Schaff, é leitura obrigatória para todos aqueles que queiram se aprofundar não só no tema da Trindade, como na própria História da Igreja, e está disponível no site E-Cristianismo, do qual eu reproduzo abaixo o cap. XXV:



Capítulo 25 - O Paracleto, ou Espírito Santo. Ele é distinto do Pai e do Filho em relação a sua existência pessoal. Um e inseparável deles quanto a sua divina natureza. Outras citações do Evangelho de São João.



O que segue a questão de Filipe, e todo o tratamento do Senhor dela, até o final do Evangelho de João, continua a nos equipar com declaração da mesma natureza, distinguindo o Pai do Filho, com as propriedades de cada. Então há o Paracleto ou Confortador, também, que Ele promete orar para o Pai, e para enviar do céu depois que Ele subir ao Pai. Ele é chamado de "outro Confortador" de fato;8111 mas de que forma Ele é outro nós já vimos,8112 "Ele deverá receber de mim," diz Cristo,8113 assim como o próprio Cristo recebeu do Pai. Assim a conexão do Pai no Filho, e do Filho no Paracleto, produz três coerentes Pessoas, que no entanto são distintas Uma da Outra. Estes três são uma8114 essência, não uma Pessoa,8115 como é dito, "Eu e meu Pai somos Um,"8116 em respeito à substância não singularidade de número. Leia todo o Evangelho, e você irá descobrir que Aquele que você acredita ser o Pai (descrito como agindo para o Pai, apesar de que você, de sua parte, verdadeiramente supõe que "o Pai, sendo o agricultor"8117, deve certamente ter estado na terra) é mais uma vez reconhecido pelo Filho como no céu, quando, "levantando Seus olhos para lá,"8118 Ele recomendou Seus discípulos a salva-guarda do Pai.8119 Nós temos, além disto, naquele outro Evangelho uma clara revelação da distinção do Filho para o Pai, "Meu Deus, porque me desamparaste?"8120 e novamente, (no terceiro Evangelho,) "Pai, em Suas mãos eu entrego meu espírito."8121 Mas mesmo se (nós não tivéssemos estas passagens, nós encontraríamos com evidência satisfatória) depois de Sua ressurreição e gloriosa vitória sobre a morte. Agora que toda a barreira de Sua humilhação foi retirada, Ele poderia, se possível, ter-se mostrado como o Pai para uma mulher tão fiel (como Maria Madalena) quando ela aproximou para tocá-lo, por amor, não por curiosidade, nem com a incredulidade de Tomé. Mas não foi assim; Jesus disse para ela, "Não me toque, pois eu ainda não subi ao meu Pai; mas vá para meus irmãos" e mesmo nisto Ele prova que Ele mesmo é o Filho; pois se Ele fosse o Pai, Ele os teria chamado de Seus filhos (ao invés de Seus irmãos), "e disse para eles, eu subo para meu Pai e vosso Pai, e para meu Deus e vosso Deus"8122. Agora, isto significa, eu subo como o Pai para o Pai, e como Deus para Deus? Ou como o Filho para o Pai, e como a Palavra para Deus? Por isto também este Evangelho, em seu final, intima que estas coisas foram escritas, se não é, para usar suas próprias palavras, "para que vós podeis crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus?"8123 Quando, então, você tomar qualquer das declarações deste Evangelho, e aplicá-los para demonstrar a identidade do Pai e do Filho, supondo que neste lugar eles servem suas visões, você está contendendo contra o propósito definido do Evangelho. Pois estas coisas certamente não foram escritas para que você possa acreditar que Jesus Cristo é o Pai, mas o Filho.8124

8111 - João 14:16.
8112 - Veja acima capítulo13.
8113 - João 16:14.
8114 - Unum. [Sobre esta famosa passagem veja Elucidação III.]
8115 - Unus.
8116 - João 10:30.
8117 - João 15:1.
8118 - João 17:1.
8119 - João 17:11.
8120 - Mateus 27:46.
8121 - Lucas 23:46.
8122 - João 20:17.
8123 - João 20:31.
8124 - [Uma curiosa anedota é dada por Carlyle em seu Life of Frederick (Livro 20 capítulo 6), tocando o texto das "Três Testemunhas". Gottsched convenceu o rei que ele não estava no manuscrito de Vienna salvo em uma interpolação da margem "em mãos de Melanchthon". A versão de Lutero não possui este texto.]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Queda da UNIBAN

A igreja dos três poderes

A criatividade de alguns pastores em "botar nome" em igreja evangélica pode ser muito perigosa. Em Bauru (SP), por exemplo, existe uma denominada "Igreja Pentecostal dos Três Poderes da Bíblia - Pai, Filho e Espírito Santo". Não conheço a igreja, nem quem a frequenta, e até acredito que os irmãos nem se tocaram da heresia contida na denominação em questão, mas - a julgar pelo título - eles não são trinitários nem unitários. Ao dizer que há 3 Poderes na Trindade, eles estão na verdade dizendo que há 3 Deuses; são, portanto, triteístas como os mórmons, que usam também o termo "Trindade", mas se referem a 3 Pessoas distintas, separadas, autônomas. A doutrina cristã ortodoxa entende que há Um só Poder em Três Pessoas Consubstanciais à Divindade Única. É complicado mesmo de entender, e não se consegue explicar plenamente pela razão, e deve-se dar um desconto aos irmãos por não terem percebido até agora (segundo imagino) o erro que estão cometendo, mas esses (aparentemente) pequenos detalhes podem dizer muito sobre a fé que alguém diz professar em Cristo.

domingo, 8 de novembro de 2009

Marcha soldado cabeça de papel...

O artigo do senador Marcelo Crivella – “A marcha da legalidade” -, publicado na Folha de S. Paulo de 05/11/09, em que ele defende o casal Hernandes, é uma daquelas peças que mostram o nível capenga a que chegou a igreja evangélica brasileira. Ainda que o senador esteja, a meu ver, muito mais preocupado em marcar uma posição política contra uma suposta perseguição da imprensa aos evangélicos, personificados nas figuras dos líderes das igrejas Universal e Renascer, ele pretendeu, com o seu artigo, fazer uma defesa do casal Hernandes, numa tentativa de generalização que tem até alguma razão de ser, já que os evangélicos tendem a se comportar em manada quando alguém diz que está sendo perseguido em razão da pregação do evangelho. Entretanto, não me parece que aqui se trate de alguma aplicação evangélica (ao contrário) do provérbio popular “pau que bate em Chico também bate em Francisco”, mas de uma tentativa de criar uma cortina de fumaça que desvie a atenção do que realmente importa: o testemunho cristão e o compromisso dos líderes em questão com o evangelho puro e simples de Jesus Cristo.

Para começo de conversa, o artigo é contraditório ao afirmar que o casal Hernandes, de fato, entrou nos EUA com quantia não declarada acima do legalmente permitido, e depois diz que são “suspeições não provadas”, quando o próprio casal CONFESSOU que cometeu o crime previsto na legislação americana, tudo com o intuito de negociar uma pena mais branda, o que é possível no sistema processual penal daquele país. Logo, a julgar pelo título do artigo, o casal Hernandes cumpriu o que manda a “marcha da legalidade” no que diz respeito ao crime de que foram acusados, julgados e devidamente condenados. Daí ficar difícil entender que “sentença farisaica” é esta a que o senador se refere. Outra ilusão do artigo é afirmar que “a imensa multidão que marchou para Jesus na última segunda-feira tem plena consciência de ... todos os princípios que se propõe a preservar, propagar, defender e amar para sempre”, como se a própria Bíblia (através de Paulo) não alertasse os crentes quanto à boa e à má consciência, além do pior tipo: a cauterizada.

Mais desagradável ainda é quando o autor cita a profecia messiânica de Zacarias 13:7 (“ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão”), lembrada por Jesus em Mateus 26:31, e tenta aplicá-la aos líderes evangélicos brasileiros que estão com problemas com a Justiça. Entretanto, esta auto-proclamação messiânica soa mais como uma tentativa frustrada de camuflar o caráter eminentemente político da marcha com uma auréola espiritual, já que o senador finaliza avaliando que a marcha “foi o ato mais solene e majestoso de revogação popular de todas as injúrias e calúnias que, ao longo dos últimos anos, nos irrogaram os ódios e as paixões”, como se a aprovação e a obediência cega de um determinado grupo a seu líder o eximisse de todos os problemas que tivesse com a Justiça, sem esquecer que os crimes que ele eventualmente tenha cometido não o foram apenas contra o grupo, mas contra toda a sociedade, que tem as suas instâncias democráticas para julgar o caso. Por sinal, o senador se esquece de que a "sentença farisaica" que condenou Jesus teve um gigantesco apoio popular. Ainda, a valer este critério, se o julgamento interno e particular do grupo legitimasse os seus líderes, então Hitler deveria ter sido absolvido por seus pares nazistas. E por falar nisso, talvez muitos líderes evangélicos brasileiros queiram fazer valer aqui e agora “princípio do Führer” que vigorava no sistema judicial nazista, ou seja, acima de tudo e de todos, inclusive das leis, o que valia mesmo era a interpretação final delas pelo Führer. No caso de algumas igrejas evangélicas brasileiras, o que vale mesmo é a decisão do seu líder máximo, que, no caso, é carnal e não atende pelo nome de Jesus.

O protesto na marcha - parte I

Acho que a primeira parte do vídeo dos verdadeiros protestantes na Marcha para Jesus deste ano já responde muito bem ao artigo do Crivella:




Fonte: Cidoido

Crivella defende a marcha dos Hernandes

Artigo do senador Marcelo Crivella, na Folha de S. Paulo do dia 5 de novembro de 2009, sobre o qual comentarei depois:


A marcha da legalidade

MARCELO CRIVELLA

Reafirmo: foi o ato mais solene de revogação popular de todas as injúrias e calúnias que nos irrogaram os ódios e as paixões

NINGUÉM PÕE em dúvida o valor da imprensa livre e atuante. Todos nós conhecemos a "marcha da insanidade": primeiro fecham-se os Parlamentos, depois caem as instituições e, finalmente, amordaça-se a imprensa -e é assim que os povos mergulham, desarvorados, no cataclismo de seus conflitos ideológicos. O que se espera, entretanto, é que o direito à liberdade de imprensa se harmonize com outro, que lhe antecede e a ele se sobrepõe, que é o direito à dignidade humana.

A imensa multidão que marchou para Jesus na última segunda-feira tem plena consciência de que todos os princípios que se propõe a preservar, propagar, defender e amar para sempre não são nem sequer um milímetro inferiores ou incompatíveis com os princípios constitucionais de legalidade e justiça em que se fundamentam a sociedade e o Estado.

É que, para sermos justos, precisamos observar todas as circunstâncias que emolduram os fatos, já que até mesmo os apóstolos foram julgados, sentenciados e morreram, uns crucificados, outros esfolados, tudo dentro de uma legalidade, mas sem que se fizesse justiça.

O que ocorreu com o casal Hernandes, que ingressou nos Estados Unidos da América sem declarar o valor em espécie que levava, é que foi punido com o máximo rigor por conta da atmosfera de espetáculo, digna do coliseu romano, constituída de denúncias, insinuações e suspeições que, embora não provadas, emularam circunstâncias, as quais, estas sim, preponderaram no julgamento do fato em si, porque foram maciçamente divulgadas pela imprensa.

Após décadas de trabalho árduo, cujas monumentais realizações são a maior prova da sua honestidade de propósitos, Estevam e Sônia Hernandes foram sumariamente condenados por supostamente se "evadirem" do Brasil e adentrar nos EUA com a extraordinária e mirabolante quantia de menos de R$ 50 mil cada um. Eis aí o "grande assalto do século".

Cumpriram a pena. Sofreram todos os vexames impostos por uma sentença farisaica que, de alguma forma, lembra a que condenou os discípulos por comerem sem lavar as mãos.

Pagaram um preço pesado. Mas o mais cruel de tudo é que, todas as vezes em que a imprensa a eles se refere, aviltando normas internacionais de direitos humanos e movida pelo mais odioso preconceito, o faz com a remissão àqueles fatos, já superados, para, mais uma vez, condená-los.

Veja que o artigo recém-publicado nesta Folha sob o título "A Marcha de Jesus e o Diabo" (Opinião, 3/11, pág. A2) reincide no mesmo pecado.

Eu sei bem o que é isso. Por causa de uma denúncia apócrifa, publicada de maneira precipitada por esta Folha, respondi durante anos por crimes que nunca cometi, até que o Supremo Tribunal Federal, após ouvir o procurador-geral da República, constatou a minha inocência. Mandei o acórdão para todos os jornais que me acusaram. Nenhum deles publicou sequer uma linha.

Trata-se do mesmo processo que, agora requentado, há pouco ocupou, espalhafatosamente, as primeiras páginas de quase todos os jornais brasileiros. Só que, dessa vez, não me incluíram entre os acusados. Se o fizessem, o processo iria para o STF, em virtude da garantia constitucional de foro privilegiado consagrada aos membros do Parlamento, onde morreria no nascedouro, já que aquela egrégia corte o conhece minuciosamente e sobre ele já decidiu.

Mas não creio, honestamente, que a pretensão seja a de obter a condenação. Ao que parece, o maior interesse é o de expor pessoas públicas ao constrangimento de longos depoimentos -antes e depois dos quais se promove o oprobrioso espetáculo midiático.

Há na Bíblia uma passagem que diz: "Ferirei o pastor e se dispersará o rebanho". Os milhões de evangélicos que marcharam para Jesus ao lado de seus líderes, reafirmo, foi o ato mais solene e majestoso de revogação popular de todas as injúrias e calúnias que, ao longo dos últimos anos, nos irrogaram os ódios e as paixões.

MARCELO BEZZERRA CRIVELLA , 52, engenheiro civil, mestre pela Universidade de Pretória (África do Sul), é senador da República pelo PRB-RJ e líder de seu partido no Senado Federal. É pastor evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Universidade Metodista debate os 100 anos de pentecostalismo no Brasil

de 17 a 19/11/09

mais informações no site da Metodista

Apresentação:

Três anos após a sua aparição pública nos EUA, o pentecostalismo, em seu formato clássico, estreava no Chile (1909). No ano seguinte, era a vez do Brasil, quando chegou a São Paulo e Paraná, o italo-americano Luigi Francescon (1866-1964).

Em 1911, experiências pentecostais dividiram a pequena Igreja Batista de Belém (Pará), depois da chegada dos sueco-americanos, Daniel Berg (1884-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933).

Os introdutores do pentecostalismo no Brasil não agiram de forma organizada e nem vieram por meio de entidades missionárias. Os três eram resultantes das pregações de William Durham (1873-1912), da North Avenue Mission, de Chicago, um dos mais importantes pólos de irradiação depois do sucesso inicial da missão de William Seymour em Azusa Street (1906).

Da atuação de Vingren e Berg surgiu a Assembléia de Deus, e de Francescon, a Congregação Cristã no Brasil. Um século se passou e o pentecostalismo se tornou hegemônico no protestantismo brasileiro. Milhões de outros pentecostais e carismáticos, diferentes dos do início do século XX, vieram se somar aos pioneiros. Por isso, acadêmicos, protestantes, ecumênicos e pentecostais, se reúnem na Umesp, em São Bernardo do Campo, na XIII Semana de Estudos de Religião, para avaliar o tema “100 anos de Pentecostalismo no Brasil”.

via O Blog do Daniel

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Forró cóspel

Mais um trio elétrico acaba de se juntar à marcha profana dos evangélicos brasileiros. Agora é a vez da banda paraense Calypso juntar-se ao grupo unitarista Voz da Verdade para gravar um DVD, cantando uma música gospel chamada ‘Um novo Ser’ composta pelo Chimbinha, segundo noticia o site Portal Gospel. Resta saber qual será a coreografia (e o figurino) de Joelma para o glorioso encontro.

Radical Chic

Demorou uns 40 anos, mas cheguei à conclusão: radicalismo dá grana. 

Não exatamente para a plebe ignara que se julga radical, mas para os radicais que ela segue. 

A fórmula é bastante simples: arranje uma ideia diferente da maioria da população ou do grupo em que você está, nem precisa ser tão absurda assim, e a defenda com unhas e dentes, contra tudo e contra todos, e principalmente contra o bom senso (o seu, inclusive). 

Certamente, você vai arranjar uma multidão de seguidores, vai poder se dizer perseguido, e com isso vai ganhar muita, mas muita grana. 

É capaz até de conseguir asilo político em algum país do assim chamado "primeiro mundo". 

O papel preferido do radical chic é o de vítima, de alguém cuja inteligência é incompreendida pela sociedade, cheio de inimigos imaginários que movem uma série de conceitos e preconceitos a seu favor. 

Sempre vai haver algum doido disposto a segui-lo, não importando o quanto o seu ponto de vista seja absurdo. 

Muitas vezes, a coisa é mais sutil, e o seu ideal parece ser até algo nobre, porém que não resiste a uma análise um pouco mais profunda. 

De qualquer maneira, uma coisa é garantida: o radical chic ganha muita grana, mas muita grana mesmo, e ainda se passa por coitadinho.

Graça barata


Fonte: Blog do Rev. Baggio:

O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer popularizou nos meios teológicos a expressão “graça barata” por meio de seu livro Discipulado (Nachfolge) escrito em 1937. Logo nas primeiras páginas, ele faz um alerta contra a graça barata dizendo:

A graça barata é inimiga mortal de nossa Igreja… (…) Graça barata significa justificação do pecado, e não do pecador. (…) A graça barata é a graça que nós dispensamos a nós próprios. A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado. (…)

Bonhoeffer contrasta a graça barata com a graça preciosa, pela qual, segundo ele, devemos lutar:

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para adquirir a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga as suas redes e o segue. A graça preciosa é o Evangelho que há que se procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta à qual se tem que bater. Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador. Essa graça é sobretudo preciosa por tê-lo sido para Deus, por ter custado a Deus a vida de seu Filho – fostes comprados por preço – e porque não pode ser barato para nós aquilo que para Deus custou caro. A graça é graça sobretudo por Deus não ter achado que seu Filho fosse preço demasiado caro a pagar pela nossa vida, antes o deu por nós. A graça preciosa é a encarnação de Deus.

Desde a primeira leitura de Discipulado em 1986, Bonhoeffer se tornou meu teólogo favorito. Como ele, creio que existe a possibilidade de tornar algo tão precioso e belo como a graça de Deus em um conceito vazio, destituído de qualquer poder transformador, uma graça que justifica o pecado, e não o pecador.

El mercado de la fe en Latinoamérica

No... no estoy hablando de la Iglesia Universal.... ya hay otros imperios peleando por el mercado de la fe...

O impressionante é que a tática é a mesma: desvirtuar completamente o texto bíblico. Lá pelos 7:20 min. do primeiro vídeo, o pregador diz que "no hay ninguna gracia barata", claro, dando o sentido à blasfêmia de que a graça de Deus é rica e não só pode como deve ser negociada com o crente através dos seus intermediários, os corretores da fé. É contra este tipo de gente que Judas Tadeu alerta em sua carta (v. 4), dizendo que "se introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução (libertinagem, licenciosidade) a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.

Aliás, o tema da "graça barata" é muito interessante e vou colocar um texto sobre isso à parte, a seguir.







Fonte: blog Buscando La Verdad

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Edir diz que orkut faz perder a salvação

via veSHAME gospel:

Tome cuidado: segundo Edir Macedo, o orkut pode fazer você perder a salvação, conforme mostra o vídeo abaixo. Este é o tipo de coisa que o neopentecostalismo provoca: querer controlar a salvação do ser humano, como se isso dependesse (principalmente) da "mediação" que o "pastor" faz entre o crente e Deus. Qualquer semelhança com o papel do sacerdote católico (o vigário, de "vicário", "substituto") não é mera coincidência.

No fundo, o Edir está preocupado com o que os seus seguidores possam ver e ler no orkut, não exatamente a pornografia ou a possibilidade de adultério, mas outro tipo de leitura que possa fazê-los enxergar (finalmente) as mais indecentes formas de estelionato espiritual. Toda seita que se preza quer controlar o que os seus fiéis fazem ou deixam de fazer. Pelo menos alguns dos conselhos dele o ouvinte podia seguir: "você tem que se isolar das más companhias, você tem que deixar o que não presta, e talvez o que não presta está todo dia do seu lado, é ou não é?"


terça-feira, 3 de novembro de 2009

A marcha dos insensatos

do blog Uma Estrangeira no Mundo:



Um dia na Marcha pra Gezuiz




A imagem acima é do que restou de uma das duas faixas que foram estendidas durante a Marcha para Gezuiz. Terminou o dia rasgada, manchada, amassada, mas cumpriu o seu papel para a glória do Senhor.

Vamos ao início, senta que lá vem a história deste dia! (desculpem-me pela falta de fotos e de qualidade dos vídeos, mas minha câmera digital ainda está sob o impacto da “unchão” da Expomamom e não funcionou de novo hoje).

A primeira grande batalha contra os gigantes aconteceu na estação de metrô Sé, onde embarcamos rumo ao metrô Tiradentes. Parecia o apocalipse!!! A estação lotada como nunca vi, além do grito de guerra ensurdecedor dos fiéis, a maioria jovens, mas também muitas crianças – inclusive de colo. Na hora de embarcar no vagão não houve escolha, fomos literalmente empurrados para dentro. Todo o mundo queria entrar junto e ao mesmo tempo, parece que ninguém conhecia aquela lei da física onde dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Enfim entramos, mas ainda restava sair de lá.

http://www.youtube.com/watch?v=rYC42vyQzag (o inferno no Metrô)

A saída do vagão foi outra luta. Também fomos empurrados para fora (se alguém caísse com certeza seria pisoteado sem dó), e ouvi de um senhor idoso uma frase que expressou bem tudo aquilo: “Quanta selvageria!”

Subir a escada e chegar até as catracas foi mais uma luta, e sair para fora da estação só pela misericórdia. Mas saímos, e lá fora nos encontramos com os outros protestantes: o Júlio Cesar, a Maíra, o Diogo (que deixou sua filhinha recém-nascida e sua esposa na maternidade para participar), o Vitor Cid, o Laudinei e o Pablo (que filmou todo o movimento, fazendo entrevistas, e que editará tudo num documentário que disponibilizará ainda nessa semana). No total, éramos 8 contra um exército de cerca de 1,5 milhão de pessoas.

Estávamos na “concentração” da Marcha. De um lado, o trio-elétrico do Apóstolo Hernandes, com figuras como o Senador Crivella, o Pr. Marco Feliciano e o Pr. Jabes de Alencar. Do outro, uma van da Rede Gospel. E onde estávamos, uma equipe da Rede Gospel filmando os fiéis. Claro, estendemos nossa faixa bem na frente da filmagem, e isso suscitou gritos de “vocês são da Globo?”, “fora Rede Globo”, e vários braços levantados no intuito de esconder a faixa. Já estávamos incomodando.

http://www.youtube.com/watch?v=YgVL1wXqqAI


E a Marcha começou. Ficamos estrategicamente esperando a passagem do primeiro trio, o dos Hernandes. Foi lindo ver o Apóstolo olhando fixamente para nossas faixas e o cartaz do Júlio (vai ver, a princípio pensou que fosse alguma expressão de puxa-saquismo), e depois se voltar para o resto da multidão. Não só o Apóstolo, mas todos do trio puderam ler as faixas. E passamos a marchar atrás do trio-elétrico, em meio à multidão.

http://www.youtube.com/watch?v=EIVzRbRbKOU

Durante a caminhada recebemos manifestações de todos os tipos. Meu marido ganhou uma rasteira gospel, jogaram água na gente, jogaram garrafas que acertaram as faixas e as rasgaram, porém sem grandes danos. Pensei que fôssemos receber sapatadas, mas os mais apostólicos não foram tão doidos assim.

http://www.youtube.com/watch?v=Bd_RE6vPDXU


Uma das situações mais inusitadas aconteceu com o Diogo. Como já disse, ele é “recém-papai”. Não é que lançaram contra ele uma frauda, e USADA???? Gente, foi um ato profético!!! Sorte que o Diogo estava esperto, senão voltaria com outras marcas do evento.

Também recebemos muitas manifestações de apoio. Um rapaz perguntou onde poderia comprar a camiseta, pessoas vieram nos parabenizar pelas frases e pelo protesto. Por incrível que pareça, havia vida pensante naquele lugar.

http://www.youtube.com/watch?v=__mNm_sd0Qo



Já havíamos andado por volta de 1:30h, quando nosso grupo se dividiu por conta das entrevistas que o Pablo estava fazendo. Quem estava na frente parou num canto da rua até que os demais chegassem. Santa providência!!! Era um local onde havia um canteiro cheio de terra, um lugar mais alto. Subimos nesse canteiro e estendemos nossas faixas, e de lá toda a Marcha pode nos ver, tipo desfile de escola de samba passando na frente da comissão julgadora (o exemplo parece estranho mas não é, as músicas que tocavam na Marcha iam do sambão ao axé-quase-funk-gospel). E aí a coisa pegou.

Depois do trio dos Hernandes, passou um segundo trio. Esse tinha um bispo da Renascer no microfone. Quando ele passou por nós, leu nossa faixa: “Voltemos ao Evangelho puro e simples”, mas não leu a segunda frase (o $how tem que parar) por motivos óbvios. Esse trio passou no clima de oba-oba, mas as pessoas que vinham atrás começaram as manifestações contrárias, com longas vaias à nossa atitude.

O terceiro trio a passar, quando leu nossas faixas, ficou indignado!!! “Quem tá fazendo $how aqui? Que $how que nada!”. E puxou o grito de guerra contra nós, repetido por todos os marchadores: “fariseu, fariseu, fariseu”. Os apostólicos mais exaltados jogaram mais água na gente, o que agradecíamos de coração, pois o calor estava insuportável – o sol estava a pino e nossas camisetas pretas não ajudavam nem um pouco. Os gritos iam mudando com o passar do tempo: “uuuuhhhhh!”, “ih, fora! Ih, fora!”, “vão fazer a marcha de vocês”, “seus hereges”. Tivemos componentes chamados de “Judas” e de tudo quanto é nome.

Passaram o quarto, quinto, sexto trios, e as manifestações contrárias se repetindo. Uma mulher gritou “nós somos do dinheiro mesmo!”. Uma bispa num trio-elétrico disse para rasgarem as faixas, mas alguém do lado dela fez sinal para que não fizessem isso. Teve gente inclusive que se indignava quando lia o versículo em nossa camiseta, como se aquilo não existisse na Bíblia deles. Mas houve também quem concordasse conosco – até tiraram foto com a gente. Algumas pessoas vieram conversar, interessados no movimento. Não só nós achamos que o $how tem que parar.



Também fomos abordados por veículos de imprensa. Repórteres da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo entrevistaram integrantes do protesto. Éramos apenas 8, mas Deus não nos fez invisíveis naquele lugar.

Enfim, toda a multidão passou por nós. Nossas camisetas foram muito fotografadas, mas também fomos bastante insultados. Particularmente eu estava muito feliz e triste ao mesmo tempo: feliz pela oportunidade que Deus me deu de estar ali com os irmãos, defendendo o Evangelho de Cristo; triste por ver uma multidão tão grande de pessoas, que se acham salvas por terem um dia confessado Jesus como seu Senhor e Salvador, mas que O trocam, por ignorância ou mesmo ambição, pelos ídolos de pedra e de carne e osso, que se alternariam em discursos no palco final da Marcha. Não fomos lá, pois consideramos que poderia soar como uma provocação da nossa parte, e em meio à multidão ninguém sabe o que poderia ocorrer.

Mas glória a Deus, pois a missão foi cumprida. Sinceramente não esperávamos nem metade da repercussão que o movimento obteve, e por isso glorificamos sinceramente a Deus por nos ter colocado naquele lugar. Sabemos que muitos dos que nos insultaram o fizeram por terem lido as mensagens das faixas e das camisetas, e sabemos também que no tempo certo o Espírito Santo de Deus trará essas mensagens à memória e os levará a buscarem e a compreenderem a verdade do Evangelho de Cristo. Infelizmente isso não acontecerá com todos, afinal a porta é estreita e as vantagens desse mundo seduzem muitos corações, mas aqueles que estão no engano por ignorância, esses serão trazidos à luz pelo Senhor.

Sinceramente? É muito bom servir a Deus, mesmo que isso signifique ser odiado pelos homens. Como diria o Apóstolo (de verdade) Pedro:

Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. – At 5.29

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