
A quem possa interessar, não há nenhuma novidade no livro, já que esses problemas são conhecidos e debatidos há dois séculos pelo menos, e nenhuma doutrina central da Bíblia ficou chamuscada pela investigação. Todos os iniciados sabem que nenhum dos manuscritos originais do Novo Testamento resistiu aos primeiros séculos da Igreja cristã, e eles eram constantemente reproduzidos à mão por copistas que, não raras vezes, introduziam, erravam ou retiravam acidentalmente alguma letra ou palavra das cópias que estavam copiando. A ortodoxia cristã entende que apenas os manuscritos originais foram diretamente inspirados pelo Espírito Santo. Isto não invalida, entretanto, o fato de que Deus agiu inclusive nesta transmissão humana falha para permitir que o essencial dos evangelhos e das cartas dos apóstolos chegassem até nós.
Meu querido amigo e irmão Vítor Grando leu o livro e, apesar das críticas, gostou. Dê uma lida no artigo do blog dele, o Despertai, Bereanos!.
Para aqueles que quiserem se aprofundar no assunto, em resposta ao livro de Ehrman, Daniel B. Wallace escreveu um excelente artigo, "O Evangelho segundo Bart", que o Gustavo traduziu e disponibilizou no site E-Cristianismo, do qual destaco abaixo a introdução:
Para a maioria dos estudantes do Novo Testamento, um livro sobre crítica textual é uma real chatice. Os detalhes tediosos não são matéria para um bestseller. Mas desde a publicação em 1 de Novembro de 2005, Misquoting Jesus[2] tem circulado mais e mais alto até o pico de vendas da Amazon. E já que Bart Ehrman, um dos líderes da América do Norte em crítica textual, apareceu em dois programas da NPR (o Diane Rehm Show e Fresh Air com Terry Gross) - ambos em um espaço de uma semana - ele tem estado entre os primeiro cinquenta mais vendidos na Amazon. Em menos de três meses, mais de 100000 cópias foram vendidas. Quando a entrevista de Neely Tucker a Ehrman no The Washington Post apareceu em 5 de Março deste ano as vendas do livro de Ehrman subiram ainda mais. O sr. Tucker falou de Ehrman como um "estudioso fundamentalista que vasculhou tanto as orígens do Cristianismo que ele perdeu sua fé."[3] Nove dias depois, Ehrman era a celebridade convidada no The Daily Show de Jon Stewart. Stewart disse que vendo a Bíblia como algo que foi deliberadamente corrompida por escribas ortodoxos fez da Bíblia "mais interessante... quase mais divina em alguns aspectos." Stewart concluiu a entrevista declarando, "Eu realmente te parabenizo. É um baita de um livro!" Em menos de 48 horas, Misquoting Jesus chegou ao topo da Amazon, ainda que somente por um curto período. Dois meses depois e ainda está voando alto, ficando entre os 25. Ele "se tornou um de meus bestsellers mais improváveis do ano."[4] Nada mal para um tomo acadêmico em uma matéria "chata"!
Porque todo o alvoroço? Bem, por uma coisa, Jesus vende. Mas não o Jesus da Bíblia. O Jesus que vende é aquele que é saboroso ao homem pós-moderno. E com um livro entitulado Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why, uma audiência disponível foi criada através da esperança que haveria novas evidências que o Jesus bíblico é uma imaginação. Ironicamente, quase nenhuma das variantes que Ehrman discute envolve palavras de Jesus. O livro simplesmente não entrega o que o título promete. Ehrman preferiu Lost in Transmission, mas a publicadora achou que tal livro seria percebido pelo pessoal de Barnes e Noble como relacionado a corridas de stock car! Mesmo que Ehrman não tenha escolhido o título resultante, ele foi uma jogada de marketing.
Mais importante, este livro vende porque ele apela ao cético que quer razões para não acreditar, que considera a Bíblia um livro de mitos. É uma coisa dizer que as histórias na Bíblia são lenda; outra bem diferente é dizer que muitas delas foram adicionadas séculos depois. Apesar de Ehrman não dizer bem isto, ele deixa a impressão que a forma original do Novo Testamento era bem diferente dos manuscritos que nós lemos agora.
De acordo com Ehrman, este é o primeiro livro escrito sobre a crítica textual do Novo Testamento - uma disciplina que tem circulado por quase 300 anos - para uma audiência leiga.[5] Aparentemente ele não conta os vários livros escritos por advogados da KJV Only, ou os livros que interagem com eles. Parece que Ehrman quer dizer que o seu é o primeiro livro sobre a disciplina geral do criticismo textual do Novo Testamento escrito por um crítico textual de boa fé para leitores leigos. Isto é muito provavelmente verdade.
[1] Agradecimentos são dados a Darrell L. Bock, Buist M. Fanning, Michael W. Holmes, W. Hall Harris, e William F. Warren por verificar um esboço preliminar deste artigo e oferecer sua opinião.
[2] San Francisco: HarperSanFrancisco, 2005.
[3] Neely Tucker, "The Book of Bart: In the Bestseller ‘Misquoting Jesus,' Agnostic Author Bart Ehrman Picks Apart the Gospels That Made a Disbeliever Out of Him," Washington Post, March 5, 2006. Acessado em http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/03/04/AR2006030401369.html.
[4] Tucker, "The Book of Bart."
[5] Misquoting, 15.