domingo, 13 de abril de 2008

Grandes livros - 1

Vou começar a escrever sobre os meus livros preferidos, aqueles que considero verdadeiras obras-primas da literatura mundial. 

Nada melhor do que começar com aquele que eu considero o melhor livro que eu li. 

É difícil escrever sobre um livro que tenha te marcado tanto a ponto de você dizer que existe um antes e um depois da sua leitura. 

"A Montanha Mágica", de Thomas Mann, é um desses livros. 

Lê-lo é uma verdadeira maratona; afinal, são 986 páginas... é preciso fazer musculação para ter o prazer lúdico de segurar e folhear um calhamaço deste naipe, além de superar as primeiras páginas em que o estilo do escritor pode parecer maçante para os mais apressados, mas, vencido este obstáculo inicial, são 986 páginas da melhor literatura, uma história relativamente simples, mas envolvente, de um rapaz chamado Hans Castorp, que vai a uma espécie de hospital para tuberculosos nas montanhas da Suíça, em Davos (onde hoje acontece anualmente o Fórum Econômico Mundial), isto antes da 1ª Guerra, a princípio para descansar e visitar seu primo, Joachim Ziemssem, que está lá internado.

Depois de 3 semanas, entretanto, ele também fica internado, e a partir daí passa vários anos buscando o sentido da vida, tendo a tuberculose como pano de fundo, e interagindo com os pacientes das mais variadas origens e os moradores do local. 

Enquanto a Europa está prestes a chafurdar no fosso escuro da guerra fútil e inútil, vidas e amores (e mortes) se desencontram na montanha mágica de Davos. 

Não é uma leitura fácil, devo reconhecer, mas conforme as páginas avançam, elas entorpecem o leitor mais renitente, que se vê, como o personagem principal, preso a um lugar que apenas pretendia visitar. 

Há trechos absolutamente sensacionais como o capítulo chamado "Neve", em que Hans Castorp se perde nas montanhas geladas durante uma nevasca e Thomas Mann consegue envolver o leitor a tal ponto dele próprio se sentir na pele do personagem, como se tudo a sua volta fosse um infinito branco glacial. 

O duelo entre dois dos personagens principais (cujos nomes não adianto para não tolher o prazer de quem quiser ler o livro, mas que posso dizer que também duelam pelo coração e pela mente de Castorp), com o seu desfecho inesperado, é outro dos melhores momentos da literatura universal. 

Grandes questionamentos filosóficos, religiosos, sentimentais, brilhantemente escritos pelo Thomas Mann, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura muito em função deste livro. 

Em maio de 1939 (4 meses antes da eclosão da 2ª Guerra, portanto), o próprio autor deu uma palestra na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, em que fala sobre o livro e a trajetória do personagem principal: "o que ele aprende a compreender é que toda saúde mais elevada deve ter passado pelas profundas experiências da doença e da morte, assim como o conhecimento do pecado é uma condição prévia da salvação". 

A obra foi escrita originalmente em alemão, mas a tradução brasileira de Herbert Caro é maravilhosa, nunca tinha visto tanta variedade e qualidade de palavras tão bem usadas em português, pelo que merece o registro do tradutor. 

Quase um século se passou desde sua publicação (1924), mas o livro continua atualíssimo, retrato fiel da nossa época. 

No final, nos damos conta de que a busca de Hans Castorp é a mesma de todo ser humano em qualquer lugar do mundo e em qualquer época: qual é o sentido da vida, afinal? 

Que cada um se cure ou sucumba à tuberculose deste mundo, mas não deixe de procurar a sua própria resposta a esta questão tão essencial.

Um comentário:

  1. Poxa, que legal falar de livros! Ainda mais dos preferidos... Fiquei interessada por esse, mas 986 páginas? rs. É melhor eu acabar de ler Guerra e Paz antes de pegar outro tão grande.

    ResponderExcluir

Obrigado por visitar O Contorno da Sombra!
A sua opinião é bem-vinda. Comentários anônimos serão aprovados desde que não apelem para palavras chulas ou calúnias contra quem quer que seja.
Como você já deve ter percebido, nosso blog encerrou suas atividades em fevereiro de 2018, por isso não estranhe se o seu comentário demorar um pouquinho só para ser publicado, ok!
Esforçaremo-nos ao máximo para passar por aqui e aprovar os seus comentários com a brevidade possível.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails