quarta-feira, 9 de abril de 2008

Mídia em fúria

A repercussão do assassinato da menina de 5 anos atirada do 6º andar de um prédio residencial no bairro de Santana, São Paulo, em que seu pai e sua madastra estão presos temporariamente como suspeitos do crime, está levando boa parte da mídia brasileira à histeria coletiva. Ainda que não existam provas conclusivas sobre a autoria do crime, o pai e a madastra já estão sendo pré-julgados sem direito a defesa. Ainda não chegou no nível do triste caso dos supostos abusos pedófilos da Escola de Base da Aclimação, em 1994, em que vidas e reputações foram destruídas antes que se comprovasse que todas as denúncias eram falsas (sem que ninguém fosse punido, diga-se de passagem), mas alguns programas sensacionalistas da TV brasileira estão fazendo um linchamento eletrônico dos suspeitos presos, tudo em nome de uma tal "justiça" que as pessoas crêem que podem fazer com as mãos.

Isto me fez lembrar que, desde a antiguidade, existem muitas teorias filosóficas sobre o que seja justiça, sem que ninguém tenha chegado a uma conclusão definitiva, e a de Nietzche é a que eu acho que mais se adapta a esses casos em que a mídia explora a curiosidade mórbida das pessoas sobre os crimes. Na sua “Genealogia da Moral”, Nietzche fala que a inveja é a grande força propulsora do sentimento de justiça do ser humano. Assim, por exemplo, se o meu vizinho comete um crime, eu o denuncio não propriamente por um desejo de que a justiça seja feita, mas por inveja, porque eu não quero que a ele seja permitido o que para mim é proibido (matar, roubar, etc.). Assim funcionaria com todos os seres humanos. Travestimos de “justiça” o que é, na verdade, “inveja”. Digo isto porque me parece que a mídia explora esse sentimento mórbido que as pessoas têm. Boa parte delas gostaria de jogar alguém (parente, amigo, conhecido) pela janela, mas o instinto moral as impede. Então, elas não se conformam quando algum louco faz isso de verdade, concretiza este pesadelo, e, mesmo que não existam provas definitivas contra aqueles que foram presos pela polícia, as pessoas dão vazão a esses seus instintos, digamos, mais baixos, por mais que queiram negá-los. Nos massacres midiáticos, quem diria, inveja e injustiça andam de mãos dadas. Isto tudo me obriga a buscar um contraponto no Salmo 85, em que a esperança de um mundo melhor é um bálsamo para feridas tão mortais:

Escuto o que diz Deus, o SENHOR:
Ele diz: "Paz", para seu povo e para seus fiéis,
desde que não voltem à sua loucura!
Sua salvação está bem próxima daqueles que o temem,
e a glória vai permanecer em nossa terra.
A Fidelidade e a Verdade se encontraram,
elas abraçaram a Paz e a Justiça.
A Verdade germina da terra
e a Justiça se inclina do céu.
O próprio SENHOR dá a felicidade,
e a nossa terra dá a colheita.
A Justiça caminha diante dele,
e os seus passos traçam o caminho.

(Salmo 85:9-14)
Tradução Ecumênica da Bíblia
Paulinas-Loyola

Um comentário:

  1. a jsutiçca de Deus é realmente a nossa única esperança...

    mto bom seu texto hélio..

    não sei se concordo 100% com Nitzsche.. mas realmente existem umas pessoinhas que eu jogaria pela janela... rs

    beijos!
    bom fds ;)

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