Em seguida, Jesus profere a parábola da figueira estéril (vv. 6-9), insistindo em que a figueira, após três anos, deveria dar fruto, senão seria cortada. O interessante é que se trata de uma figueira plantada em uma vinha (v. 6), e quem cuidava dela era o viticultor (v. 7). Era plantada numa vinha que tinha melhor solo e melhor cuidado, mas não exatamente no meio da vinha, mas ao lado, na sua margem, como Mateus 21:19 mostra o costume de se fazer isso. Era uma figueira que tinha todas as condições de crescer, desenvolver-se e produzir figos, mas em três anos ainda não tinha feito isto. O dono da vinha pretendia cortá-la simplesmente, mas o viticultor pediu-lhe que desse mais uma chance (um ano) à figueira, tempo em que ele a cuidaria melhor ainda para que produzisse, e se não produzisse, seria cortada. Primariamente, esta parábola mostra que Jesus está se referindo a Israel, ao povo escolhido, que não havia dado frutos, mas também podemos aplicá-la à vida cristã, pois somos "figueiras" plantadas na vinha (igreja) de Deus, e devemos produzir frutos para Sua honra e glória. A idéia, portanto, repete o que Jesus havia dito no capítulo anterior (12:48), "àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido", ou seja, maior privilégio implica em maior responsabilidade. Depois disso, Jesus vai a uma sinagoga no sábado para ensinar, e Lucas, como bom médico, relata a história de "uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já 18 anos" (v. 11), que andava curvada e não podia endireitar-se. Jesus cura a mulher (v. 13) e o chefe da sinagoga se indignou com Ele por tê-la curado num sábado (v. 14), ao que o Mestre replica chamando-o de hipócrita, pois cuidava dos seus animais no sábado, mas não queria permitir que uma filha de Abraão fosse curada no dia sagrado para os judeus (vv. 15-16). Diz Lucas que "os seus adversários se envergonharam" ante a sabedoria e, principalmente, a autoridade de Jesus (v. 17), e a multidão se alegrava com os seus milagres, pelo que Ele, em seguida, compara o reino de Deus a um grão de mostarda que, mesmo sendo pequeno, uma vez plantado, cresce e se faz árvore, dando abrigo às aves do céu (vv. 18-19). Jesus retoma, ainda, a idéia e o simbolismo do fermento, que pouco antes (12:1) havia associado aos fariseus, dizendo que o fermento deles era a hipocrisia. Desta vez, entretanto, usa a imagem do fermento como algo bom, comparando-o ao reino de Deus, que vai crescendo lentamente até que tome conta de tudo (13:20-21).
Ainda no caminho para Jerusalém, Jesus percorre várias cidades e aldeias (v. 22), até que alguém lhe pergunta se eram poucos os que se salvariam (v. 23), ao que Ele responde que a porta da salvação é estreita, e muitos tentariam entrar por ela, mas não conseguiriam (v. 24), complementando com outra parábola (vv. 25-30), comparando Deus com o dono da casa que, uma vez fechada a porta, não a abriria mais para aqueles que o importunassem. Jesus dá a idéia de que esses que procurariam entrar depois de fechada a porta eram aqueles que comiam e bebiam em Sua presença, como se acompanhassem o ministério de Jesus apenas por curiosidade e pelo alvoroço (e talvez pela fama) popular, sem nenhum comprometimento ou seriedade. Mateus deixa esta idéia mais clara:
Mat 7:22 Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres?
Mat 7:23 Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
No v. 28, Jesus deixa clara também a idéia de consciência do que está acontecendo no mundo dos mortos, ao dizer "quando virdes, no reino de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, mas vós lançados fora". Isso tinha uma implicação muito profunda para os fariseus que o ouviam, já que eram orgulhosos de sua descendência judaica, e a consideravam suficiente, por si só, para justificar sua presença ao lado dos patriarcas e profetas no reino de Deus. Entretanto, Jesus os assusta ainda mais quando diz que muitos viriam de todos os cantos do mundo para sentar-se à mesa do reino de Deus (v. 29), pois há muitos que se julgam primeiros, que serão os últimos, e muitos que os primeiros julgam ser os últimos, que serão os primeiros (v. 30). Apesar desta animosidade dos fariseus para com Jesus, é curioso que, logo após Jesus ter proferido esse duro discurso contra eles, alguns fariseus tenham vindo para avisá-lo que Herodes pretendia matá-lo (v. 31). Muito provavelmente, Jesus se encontrava na região controlada por Herodes, a Peréia, e pode ser que esta "boa ação" dos fariseus tenha sido também hipócrita, já que preferiam conspirar contra Jesus numa região em que eles tivessem mais poder e influência, como a Judéia. Talvez o próprio Herodes tenha mandado avisá-lo porque não queria se envolver numa crise com outro profeta. O fato de ter matado João Batista certamente já lhe causara muitos problemas. O Mestre desdenha da ameaça (v. 32), porque sabe que, inapelavelmente, o seu caminho até Jerusalém já está traçado (v. 33), e não havia mais ninguém que o impediria de chegar até lá e cumprir sua missão. Mesmo assim, Jesus chora por Jerusalém, comparando-se à galinha que zela e cuida dos seus pintinhos, mas esses não a querem (v. 34). Muitos vêem no fato de Jesus referir-se a Herodes como raposa (v. 32) uma bela alegoria profética de Cantares de Salomão 2:15, em que a esposa pede que se apanhem as raposas, "as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor". Herodes era a raposa que queria devastar o vinhedo da nova aliança proposta por Deus aos judeus e ao mundo, mas as vinhas já estavam em flor e nada poderia impedi-las de produzir o bom vinho, o sangue de Jesus, destinado à salvação do mundo.