Ainda falando sobre o caso da garota Isabella Nardoni, atirada do 6º andar do prédio onde moravam seu pai e sua madastra, a Sarah escreveu um texto no blog do Dotgospel, comentando sobre a repercussão sensacionalista na mídia, ao qual eu respondi com o texto Mídia em Fúria, que está aqui no blog. No fórum do Dotgospel, o Switchfoot ampliou a discussão, falando sobre a morbidez com que muita gente acompanha esses casos que despertam a atenção da opinião pública, que ele chama de "complexo de urubu", ao que eu novamente me lembrei do Nietzche e sua teoria sobre a justiça, que ele desenvolve na sua "Genealogia da Moral", só que desta vez com um outro olhar.
Quanto ao "complexo de urubu", eu acho que segue mais ou menos o mesmo esquema de Nietzche, só que de maneira "negativa". Seria como se houvesse uma "inveja negativa", ou seja, a pessoa tem tantos problemas na sua vida que, quando se depara com alguém numa situação pior, isto lhe dá uma satisfação mórbida do tipo: "Eu tô ferrado, mas esse aí tá bem pior que eu". Então, esta pessoa fica morbidamente feliz porque aquele que morreu, ou que está preso, ou que foi pego com a boca na botija, poderia "muito bem" estar com inveja dela, que pode ter todos os problemas do mundo, mas não está naquela situação irreversível ou vexatória exposta ao público. E como todos os prazeres mórbidos que as pessoas têm, elas não conseguem refrear este sentimento e, por isso, ficam cacarejando pra quem quiser ouvir. Precisam reverberar os seus desejos mais sinistros. Como, geralmente, nesse caso muitas pessoas se juntam, aí a coisa vai se adequar à massa informe e ignorante, em que o "eu" é diluído no "nada" que a coletividade representa e todos esses sentimentos mórbidos se mesclam, resultando neste absurdo que o Switchfoot comentou sobre a morte da sua amiga num acidente de carro, e como as pessoas se ajuntaram no local para nada fazer senão atrapalhar o socorro e emitir opiniões inapropriadas sobre o acontecido. Neste caso, a "inveja negativa" se traveste de "curiosidade", "interesse", "só estava passando por aqui", etc.
A gente nem percebe, mas os políticos sabem como usar essa morbidez coletiva a seu favor. Por exemplo, o Brasil pode ser um país corrupto, mas não é tão corrupto como o país X ou Y. No 11 de setembro de 2001, a mídia, de certa forma, promoveu uma certa comemoração mórbida, porque nós somos ricos como os EUA, mas aqui nunca teria um ataque terrorista como aquele. E aquela história de que no Brasil não tem vulcão, furacão, tsunami nem terremoto? Outro exemplo: o Maranhão pode ser um feudo dos Sarney, mas tá bem melhor que o Estado X ou Y... enfim... por aí vai... somos bombardeados constantemente por essas comparações mórbidas e infelizes, e geralmente nos deixamos manipular sem nem perceber.
Acho também que todos esses processos se dão de maneira inconsciente. Pode até haver alguém que age conscientemente numa situação assim, mas deve ser uma raríssima exceção. No triste coliseu do século XXI, o vôo do abutre é mais subliminar.
Quanto ao "complexo de urubu", eu acho que segue mais ou menos o mesmo esquema de Nietzche, só que de maneira "negativa". Seria como se houvesse uma "inveja negativa", ou seja, a pessoa tem tantos problemas na sua vida que, quando se depara com alguém numa situação pior, isto lhe dá uma satisfação mórbida do tipo: "Eu tô ferrado, mas esse aí tá bem pior que eu". Então, esta pessoa fica morbidamente feliz porque aquele que morreu, ou que está preso, ou que foi pego com a boca na botija, poderia "muito bem" estar com inveja dela, que pode ter todos os problemas do mundo, mas não está naquela situação irreversível ou vexatória exposta ao público. E como todos os prazeres mórbidos que as pessoas têm, elas não conseguem refrear este sentimento e, por isso, ficam cacarejando pra quem quiser ouvir. Precisam reverberar os seus desejos mais sinistros. Como, geralmente, nesse caso muitas pessoas se juntam, aí a coisa vai se adequar à massa informe e ignorante, em que o "eu" é diluído no "nada" que a coletividade representa e todos esses sentimentos mórbidos se mesclam, resultando neste absurdo que o Switchfoot comentou sobre a morte da sua amiga num acidente de carro, e como as pessoas se ajuntaram no local para nada fazer senão atrapalhar o socorro e emitir opiniões inapropriadas sobre o acontecido. Neste caso, a "inveja negativa" se traveste de "curiosidade", "interesse", "só estava passando por aqui", etc.
A gente nem percebe, mas os políticos sabem como usar essa morbidez coletiva a seu favor. Por exemplo, o Brasil pode ser um país corrupto, mas não é tão corrupto como o país X ou Y. No 11 de setembro de 2001, a mídia, de certa forma, promoveu uma certa comemoração mórbida, porque nós somos ricos como os EUA, mas aqui nunca teria um ataque terrorista como aquele. E aquela história de que no Brasil não tem vulcão, furacão, tsunami nem terremoto? Outro exemplo: o Maranhão pode ser um feudo dos Sarney, mas tá bem melhor que o Estado X ou Y... enfim... por aí vai... somos bombardeados constantemente por essas comparações mórbidas e infelizes, e geralmente nos deixamos manipular sem nem perceber.
Acho também que todos esses processos se dão de maneira inconsciente. Pode até haver alguém que age conscientemente numa situação assim, mas deve ser uma raríssima exceção. No triste coliseu do século XXI, o vôo do abutre é mais subliminar.