quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sobre a barbárie humana

Acho que nenhum tema que envolva a barbárie humana me desperta mais a atenção do que as primeiras bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Todo dia 6 de agosto eu me lembro que um ano mais se passou desde aquele dia em 1945 em que Hiroshima foi literalmente riscada do mapa. Três dias depois foi a vez de Nagasaki. Talvez meu interesse por esses assuntos nipônicos se deva ao fato de ter nascido e me criado numa cidade com forte colonização japonesa, em que boa parte dos meus amigos de infância era composta de nisseis e sanseis. Amizades tão boas que duram até hoje, 38 anos após minha primeira entrada numa sala de aula.

Ontem, zapeando a TV a cabo, me deparei com um documentário na HBO sobre Hiroshima e Nagasaki. O título em inglês é "White Light/Black Rain: The Destruction Of Hiroshima And Nagasaki". Produzido por nipo-americanos (do Norte), o documentário provoca aquelas sensações mistas (e extremas) de repulsa à barbárie e, ao mesmo tempo, de uma identificação profunda com a humanidade. Não é um documentário para estômagos fracos, pois resgata muitas imagens apocalípticas (reais) feitas logo após o bombardeio, entremeadas com desenhos, fotos, pinturas e depoimentos dos sobreviventes. Acho que, se a pessoa resistir ao choque inicial, ela se envolve de tal maneira com a narrativa do documentário que não consegue parar de vê-lo, e meio que com a boca aberta, de tão estupefato que fica. Foi assim que fiquei, até o final. As histórias dos sobreviventes são gigantescamente dramáticas, mas ao mesmo tempo tão reais, próximas de nós, e revelam sua superação, digamos, mitológica de um desastre dessas proporções. Há histórias tão extraordinárias que nem a melhor ficção produziria, como a menina que quis se matar na linha do trem da mesma maneira que sua irmã mais nova tinha feito, mas não conseguiu. Ela, já idosa, diz que sua irmã tinha coragem de morrer, e ela tinha coragem de viver. Digno de nota, também, é o conflito interno dos poucos sobreviventes católicos de Nagasaki, onde havia a maior comunidade cristã da Ásia na época, por cristãos americanos terem feito o que fizeram, ainda lançando a bomba bem em cima do bairro onde moravam. O resultado final é o horror pelo horror, mas também uma enorme confiança de que a vida vale a pena ser vivida. Se puder, confira as reprises do documentário conforme a programação da HBO abaixo (a HBO2 exibe 3 horas depois):

09:00 - Seg - 28/4/2008
10:45 - Qui - 8/5/2008
05:30 - Seg - 19/5/2008

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