Estevam Hernandes, aquele líder da Renascer que curtiu uma temporada preso nos EUA, mesma situação pela qual passou sua esposa Sonia Hernandes, por terem tentado entrar naquele país com milhares de dólares escondidos dentro da Bíblia, aproveitou a Marcha para Jesus - realizada ontem em São Paulo (SP) - para defender o governo de Michel Temer, o presidente do Brasil que é acusado de vários crimes e está sendo processado no Supremo Tribunal Federal.
Esta foi a 25ª edição do evento gospel que, apesar de ter começado - curiosa e paradoxalmente - com uma oração "contra a prostituição e a corrupção", prova que, apesar das autoproclamações de piedade e arrependimento, do ponto de vista moral e espiritual os resultados são os piores possíveis, já que o Brasil só vem descendo o poço desde a primeira Marcha e - até o momento - não se consegue discernir o seu fundo.
Alguma coisa está errada, portanto, se o objetivo da Marcha, conforme diz o "bispo" Leonardo Migliolo (acho que confundiram o nome do Leandro Miglioli) na matéria, é "orar pelo País". "Orar pelo presidente, pelo governador, pelo prefeito". Tá bão...
Ao apoiar o polêmico presidente do país em suas reformas antipopulares, o "apóstolo" da Renascer não está sozinho, entretanto, pois seguiu o mesmo exemplo da liderança da Assembleia de Deus - Ministério Madureira, que foi beijar a mão de Michel Temer outro dia, acompanhada de gente do nível do Pastor Everaldo e Jair Bolsonaro, conforme se vê pela publicação da CONAMAD no Facebook.
Líderes "evangélicos" se associam, portanto, ao que existe de pior na política brasileira, provando (mais uma vez) que a palavra "evangélico" denota hoje no Brasil um termo muito mais ideológico (da pior espécie, aquela que quer levar vantagem em qualquer situação) do que teológico, infringindo fragorosamente o segundo mandamento, que, caso você não se lembre ou não leia a Bíblia, ordena para não se levar o santo nome de Deus em vão.
Sair mal na foto, afinal, parece que passou a ser pré-requisito para aparecer na mídia e nos portais gospel como "liderança evangélica brasileira", seja lá o que isto significa.
A coisa anda tão feia que Miguel Reale Junior, ex-ministro da Justiça de FHC e um dos juristas autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, disse que iria se desfiliar do PSDB ao constatar que o partido não vai se desligar do governo Temer, dizendo que espera que "o partido encontre um muro suficientemente grande que possa servir de túmulo".
Parece que os evangélicos já encontraram uma marcha suficientemente grande para tanto.
Do jeito que a coisa anda, não se assuste se a praga de "The Walking Dead" começar pelo Brasil...
A vergonhosa informação (para os verdadeiros cristãos) foi publicada no Estadão:
Marcha para Jesus atrai multidão para as ruas de São Paulo e tem tom político
Neste ano, a Marcha tem como lema #EuAcheiMeuRei, em referência a Jesus. Criador defendeu a permanência do presidente Michel Temer no cargo, além da aprovação das reformas propostas pelo governo federal
Felipe Resk
SÃO PAULO - Uma oração contra a prostituição e a corrupção no Brasil abriu nesta quinta-feira, 15, a Marcha Para Jesus, que atraiu uma multidão de evangélicos por ruas do centro e da zona norte de São Paulo. Criador do evento, o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer em Cristo, também defendeu a permanência do presidente Michel Temer (PMDB) e as reformas da previdência e do trabalho, propostas pelo governo.
Em cima do trio elétrico, logo no início da passeata, Hernandes foi breve. "Oramos contra a corrupção e a prostituição, baseado em um preceito bíblico. A Bíblia fala que, quando nós oramos e clamamos, mudamos situações", afirmou. "Como brasileiros, nós estamos sendo afetados com toda essa loucura que o Brasil tem passado, de corrupção, de miséria."
O apóstolo também se posicionou contrário à saída do presidente Michel Temer. "Particularmente, sou favorável que termine esse mandato por causa de todo o trauma que a nação tem passado", disse. "Mas não que eu, ou nós, tenha um apoio explícito ao governo Temer."
Para ele, se houver "sustentação do Congresso", Temer "pode chegar ao final do mandato". "Agora, a gente sabe que está extremamente complicado", disse o apóstolo, que defendeu, ainda, as reformas propostas pelo governo. "Isso é fundamental para o Brasil, para que a economia volte a crescer e para que a gente tenha uma retomada do que é mais fundamental: o emprego."
O bispo Leonardo Migliolo, da Renascer, afirmou que o objetivo da Marcha é "orar pelo País". "Orar pelo presidente, pelo governador, pelo prefeito", disse. "Para que Deus possa conduzir com sabedoria toda essa situação que o País está enfrentando."
Politicos. Presente ao evento, o vice-prefeito Bruno Covas elogiou a organização. "São Paulo, além de ser uma cidade que tem uma tolerância religiosa muito grande, é vocacionada para eventos grandes como esse", disse.
Covas também compareceu para representar o prefeito João Doria (PSDB), que está em viagem a Porto Rico, no Caribe, para comemorar o aniversário da 15 anos da filha. "A viagem foi solicitada há dois anos, portanto muito antes de ele sonhar em disputar as prévias do PSDB", disse Covas.
O senador Magno Malta também participou do evento. Apesar de ter informado o comparecimento à organização, o governador Geraldo Alckmin não apareceu.
Esta é a 25ª edição da Marcha Para Jesus, com o lema #EuAcheiMeuRei. A concentração começou por volta das 10 horas, em frente à Estação da Luz, do Metrô, na região central. De lá, oito trios elétricos partiram em direção à Santana, na zona norte, onde fica o palco, instalado na Praça Heróis da FEB, com shows de música gospel.
Com faixas de "Deus é Fiel" e "100% Jesus", jovens representaram grande parte do público. Na multidão, havia fiéis de todas as idades, de bebês a idosos. A dona de casa Rosangela Cazella, 35 anos, levou a filha de 10 meses para a Marcha. "Já vim várias vezes, mas esta é a orimeira com ela", disse ela, fiel da Orgeja Verbo da Vida.
O marido Lucas Bispo, de 34, técnico em telecomunicação acompanhou a família. "O evento é muito importante, é uma manifestação do corpo de Cristo e também uma oportunidade de ir para a rua e falar de Jesus, mostrar a alegria do nosso povo."
Apesar de ser católico, o treinador de futebol Antônio Carlos oliveira, de 44 anos, saiu de Cajamar, na Grande São Paulo, para participar da festa. "Minha familia é toda evangélica, da Renascer", afirmou. "O evento é muito bacana porque une todo mundo." Organizadores do evento afirmaram que a quantidade de pessoas que participaram da festa foi maior de todas as edições, mas não divulgaram números. Em 2016, a organização afirmou que 3 milhões de pessoas participaram do evento.