No início do capítulo 21 de Lucas, Jesus continua no templo observando os transeuntes, afinal era a semana da festa judaica da Páscoa, e Jerusalém estava cheia de peregrinos vindos de praticamente todo o mundo conhecido por eles naquela época. Conforme relata o final do capítulo, Jesus ensinava todos os dias no templo, mas à noite se recolhia no monte das Oliveiras, e já de madrugada o povo se ajuntava para esperá-lo no templo (v. 37). No pátio reservado às mulheres havia treze caixas com forma de trombeta em que se depositavam as moedas. Os ricos lançavam suas ofertas no gazofilácio (v. 1), e certamente a quantidade de moedas que ofertavam fazia muito barulho, o que lhes dava um prazer mórbido ao serem reconhecidos como grandes doadores da obra do templo. Não lhes bastava a oferta em si, tinham que ser notados. Qualquer semelhança com alguns "testemunhos de prosperidade" que vemos nas madrugadas televisivas não é mera coincidência, infelizmente. Entretanto, na sua onisciência, Jesus repara que uma viúva pobre havia doado mais do que todos eles (v. 3). Ela havia ofertado apenas duas pequenas moedas (v. 2), que era tudo – absolutamente tudo - o que ela possuía, enquanto os demais haviam dado apenas daquilo que lhes sobrava, o resto (v. 4). É interessante observar que a palavra grega usada para descrever a sua pobreza (πεντιχρός - pentichros) aparece somente neste versículo (21:2), e funciona como um aumentativo da palavra πένης - penēs – que significa miserável, indigente, alguém que está morrendo de fome e precisa batalhar pelo que vai comer naquele dia. Logo, se tratava de uma viúva extremamente pobre, cuja oferta teve a oportunidade de ser reconhecida e valorizada pelo próprio Deus feito homem. Em seguida, Lucas contrasta esta situação com a beleza e a riqueza dos ornamentos do templo (v. 5), notada pelos seguidores de Jesus, ao que ele comenta que ali não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derrubada (v. 6), seja no sentido espiritual (afinal, Cristo estava inaugurando uma nova aliança), seja no sentido real, com a destruição do templo pelos romanos no ano 70.
Diante desta afirmação, os discípulos se preocupam e lhe perguntam quando sucederia isto e a quais sinais deveriam atentar quando esse dia se aproximasse (v. 7). A resposta a esta indagação domina todo o restante do capítulo. Jesus lhes diz, então, que apareceriam falsos messias anunciando que a hora do fim do mundo havia chegado, mas eles não deviam segui-los (v. 8). Haveria guerras e revoluções, mas isto não devia assustá-los, pois o fim não viria logo (v. 9). O Mestre lista guerras (v. 10), terremotos, epidemia, fome, coisas espantosas e sinais dos céus (v. 11), perseguições dos judeus e dos romanos (v. 12), tudo para que eles dessem testemunho (v. 13). Que não se preocupassem quando fossem perseguidos, entretanto, pois o próprio Jesus lhes daria as palavras para responder e contradizer os que se lhes opusessem (v. 15). Ele ainda lhes avisa que os próprios familiares e amigos os perseguiriam e até os matariam por seu nome (v. 16), tal era o ódio que o fato de serem seus discípulos lhes acarretaria (v. 17). Deus estaria no controle de tudo, e nem um fio de cabelo eles perderiam sem que o Pai soubesse (v. 18). Que perseverassem. "Na paciência possuí as vossas almas" é a tradução do v. 19 segundo a Almeida Revista e Corrigida. A Tradução Ecumênica diz: "É pela vossa perseverança que ganhareis a vida". A Bíblia de Jerusalém complementa com "mantereis vossas vidas" e a do Peregrino traduz: "Com a vossa constância ganhareis vossas vidas". A NVI propõe: "É perseverando que vocês obterão a vida". O v. 19 não deve ser lido, entretanto, sem o contexto do v. 18, em que Jesus afirma que Deus era o provedor, o subscritor, a garantia dessa perseverança, dessa constância, intimamente ligada à permanência em Cristo, sustentada por Ele próprio, o que nos remete a João 15:16, onde Jesus diz: "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda".
É interessante observar, desde já, que quando Pedro está prestes a ser tentado e usado por Satanás para negar a Jesus, o Mestre lhe diz: "Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos" (Lucas 22:31-32). Seus discípulos talvez não tivessem a mínima idéia do que os esperava a partir dos dias seguintes, da série de acontecimentos que já estavam em curso e que terminariam na crucificação de Jesus, que os surpreenderia 3 dias depois com a ressurreição, e a partir do Pentecostes, uma feroz perseguição ia se levantar contra eles. Ainda que não percebessem a dimensão das provações que passariam, e a revolução que causariam na história da humanidade, o Mestre faz questão de avisá-los, e Paulo, alguns anos depois, retomaria o tema escrevendo aos cristãos de Roma:
Rom 5:
Rom 5:
3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6 Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios.
O discurso de Jesus prossegue profetizando uma Jerusalém sitiada de exércitos (v. 20), o que representa a destruição da Cidade Santa no ano 70 pelas tropas de Tito. Naquela época, quando eclodia uma guerra, uma invasão ou um cerco, era normal que as pessoas que moravam nas vilas e nos campos corressem às muralhas da cidade grande, para ali buscarem refúgio. Na profecia de Jesus, a lógica era invertida, eles não só deviam evitar as cidades e fugir para os montes, como aqueles que moravam nas cidades muradas não poderiam confiar nas suas muralhas, e, sim, deviam abandoná-las (v. 21), pois aqueles seriam dias de vingança (v. 22), onde Deus executaria o juízo divino sobre um povo que não havia cumprido o seu destino sacerdotal nem recebido o messias. Jerusalém seria completamente arrasada. O destino do povo judeu seria trágico (vv. 23-24), como de fato ocorreu, não restando pedra sobre pedra (v. 6) após a destruição da Cidade de Davi, deliberada e perpetrada pelos romanos, até que o tempo dos gentios se complete, o que é uma expressão de difícil interpretação, mas que remete, de todo modo, ao final dos tempos, conforme indicam os versículos seguintes, que remetem à segunda vinda de Cristo, com sinais no céu e na terra (v. 25), pavor (v. 26), retornando o Filho do Homem numa nuvem com poder e glória (v. 27). Quando isso acontecer, será a eterna e completa redenção dos crentes (v. 28). Jesus lhes conta, então, outra parábola, a da figueira, mostrando que, quando elas começam a brotar, todos sabem que o verão está próximo (v. 30). Assim seria quando o reino de Deus se aproximasse (v. 31). Não passaria aquela geração sem que isso acontecesse (v. 32). A palavra grega traduzida por "geração" aqui é γενεά - genea -, que deve ser entendida não como o período de vida de um determinado grupo social – 40 anos, por exemplo -, mas como toda uma espécie (humana), uma nação (judia), um tempo (dos gentios) ou uma era (cristã). Passaria o céu e a terra, tudo acabaria um dia, mas as palavras de Jesus não passarão (v. 33). Assim, o Mestre aconselha que o nosso coração não se sobrecarregue com a orgia, a embriaguez e as preocupações deste mundo, e seja apanhado desprevenido quando o dia do fim chegar (v. 34). Dia este que é inevitável e forçosamente chegará para todos, crentes ou descrentes (v. 35). Devemos vigiar, portanto, para que quando tudo isso aconteça, estejamos de pé diante do Filho do Homem (v. 36), numa atitude de fé, segurança e confiança, que João, muito tempo depois, vai fazer questão de relembrar:
1ª João 2:
27 E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei.
28 E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não fiquemos confundidos diante dele na sua vinda.
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6 Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios.
O discurso de Jesus prossegue profetizando uma Jerusalém sitiada de exércitos (v. 20), o que representa a destruição da Cidade Santa no ano 70 pelas tropas de Tito. Naquela época, quando eclodia uma guerra, uma invasão ou um cerco, era normal que as pessoas que moravam nas vilas e nos campos corressem às muralhas da cidade grande, para ali buscarem refúgio. Na profecia de Jesus, a lógica era invertida, eles não só deviam evitar as cidades e fugir para os montes, como aqueles que moravam nas cidades muradas não poderiam confiar nas suas muralhas, e, sim, deviam abandoná-las (v. 21), pois aqueles seriam dias de vingança (v. 22), onde Deus executaria o juízo divino sobre um povo que não havia cumprido o seu destino sacerdotal nem recebido o messias. Jerusalém seria completamente arrasada. O destino do povo judeu seria trágico (vv. 23-24), como de fato ocorreu, não restando pedra sobre pedra (v. 6) após a destruição da Cidade de Davi, deliberada e perpetrada pelos romanos, até que o tempo dos gentios se complete, o que é uma expressão de difícil interpretação, mas que remete, de todo modo, ao final dos tempos, conforme indicam os versículos seguintes, que remetem à segunda vinda de Cristo, com sinais no céu e na terra (v. 25), pavor (v. 26), retornando o Filho do Homem numa nuvem com poder e glória (v. 27). Quando isso acontecer, será a eterna e completa redenção dos crentes (v. 28). Jesus lhes conta, então, outra parábola, a da figueira, mostrando que, quando elas começam a brotar, todos sabem que o verão está próximo (v. 30). Assim seria quando o reino de Deus se aproximasse (v. 31). Não passaria aquela geração sem que isso acontecesse (v. 32). A palavra grega traduzida por "geração" aqui é γενεά - genea -, que deve ser entendida não como o período de vida de um determinado grupo social – 40 anos, por exemplo -, mas como toda uma espécie (humana), uma nação (judia), um tempo (dos gentios) ou uma era (cristã). Passaria o céu e a terra, tudo acabaria um dia, mas as palavras de Jesus não passarão (v. 33). Assim, o Mestre aconselha que o nosso coração não se sobrecarregue com a orgia, a embriaguez e as preocupações deste mundo, e seja apanhado desprevenido quando o dia do fim chegar (v. 34). Dia este que é inevitável e forçosamente chegará para todos, crentes ou descrentes (v. 35). Devemos vigiar, portanto, para que quando tudo isso aconteça, estejamos de pé diante do Filho do Homem (v. 36), numa atitude de fé, segurança e confiança, que João, muito tempo depois, vai fazer questão de relembrar:
1ª João 2:
27 E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei.
28 E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não fiquemos confundidos diante dele na sua vinda.