quarta-feira, 16 de julho de 2008

Fé e razão, por Paul Tillich





Uma das grandes fraquezas de grande parte dos escritores teológicos e do discurso religioso é que a palavra "razão" é usada de forma inconsistente e vaga. Às vezes é apreciativa, mas, em geral, é depreciativa. Enquanto que a conversa popular pode ser desculpada por esta imprecisão (embora ela contenha perigos religiosos), é indesculpável se um teólogo usa termos sem tê-los definido ou circunscrito. Portanto, é necessário definir já desde o início o sentido no qual o termo "razão" vai ser usado.

Podemos distinguir entre um conceito ontológico e um conceito técnico de razão. O primeiro é predominante na tradição clássica desde Parmênides até Hegel. O segundo, embora sempre presente no pensamento pré-filosófico e filosófico, se tornou predominante desde o colapso do idealismo alemão clássico, e no surgimento do empirismo inglês. Conforme a tradição filosófica clássica, a razão é a estrutura da mente que a capacita a abarcar e transformar a realidade. Ela é efetiva nas funções cognitiva, estética, prática e técnica da mente humana. Até a própria vida emocional, em si mesma não é irracional. O Eros impulsiona a mente rumo ao verdadeiro (Platão). O amor pela forma perfeita move todas as coisas (Aristóteles). Na "apatia" da alma o logos manifesta sua presença (estoicos). O anelo por sua origem eleva a alma e a mente rumo à fonte inefável de todo sentido (Plotino). O "appetitus" de tudo que é finito o conduz ao bem-em-si. (Tomás de Aquino). "Amor intelectual" une intelecto e emoção no estado mais racional da mente (Spinoza) Filosofia é "serviço de Deus"; é um pensar que é ao mesmo tempo vida e alegria na "verdade absoluta" (Hegel), etc. A razão clássica é Logos, seja ela entendida de forma mais intuitiva ou mais crítica. Sua natureza cognitiva é um elemento entre outros. Ela é cognitiva e estética, teórica e prática, distanciada e aproximada, subjetiva e objetiva. A negação da razão em sentido clássico é anti-humana, por que é antidivina.

Mas este conceito ontológico de razão sempre é acompanhado e às vezes substituído pelo conceito técnico de razão. A razão é reduzida à capacidade de "raciocinar". Só o lado cognitivo do conceito clássico de razão permanece, e dentro do reino cognitivo só aqueles atos cognitivos que tratam de meios para fins. Enquanto que a razão em sentido de Logos determina os fins e só em segundo lugar os meios, razão em sentido técnico determina os meios ao mesmo tempo em que aceita os fins a partir de "outros lugares". Não há perigo nesta situação enquanto a razão técnica estiver acompanhando a razão ontológica e o "raciocinar" for usado para satisfazer as exigências da razão. Esta situação predominou na maior parte dos períodos pré-filosóficos, bem como filosóficos da história humana, embora sempre houvesse a ameaça de que o "raciocinar" se pudesse separar da razão. Desde a metade do século dezenove esta ameaça se tornou uma realidade dominante. A consequência é que os meios são supridos de forças não-racionais, seja por tradições positivas ou por decisões arbitrárias servindo à vontade de poder. A razão crítica cessou de exercer sua função controladora sobre normas e fins. Ao mesmo tempo os aspectos não-cognitivos da razão foram relegados à irrelevância da pura subjetividade. Em algumas formas de positivismo lógico o filósofo rejeita até mesmo "compreender" qualquer coisa que transcenda a razão técnica, tornando assim sua filosofia completamente irrelevante para questões de preocupação existencial. A razão técnica, não obstante ser competente em aspectos lógicos e metodológicos, desumaniza o homem quando está separada da razão ontológica. E, além disso, a própria razão técnica se empobrece e corrompe quando não se nutre continuamente da razão ontológica. Mesmo na estrutura meios/fins do "raciocinar" pressupõem-se afirmativas sobre a natureza das coisas que em si mesmas não se baseiam na razão técnica. Nem estruturas, processos, Gestalt, valores, nem sentidos podem ser compreendidos sem a razão ontológica. A razão técnica pode reduzi-los a este status, ela se prova a si mesma dos "insights" que são decisivos para a relação meios/fins. Sem dúvida conhecemos muitos aspectos da natureza humana mediante a análise dos processos psicológicos e fisiológicos, e mediante o uso de elementos fornecidos por essa análise para fins fisicotécnicos e psicotécnicos. Mas se reivindicarmos conhecer o homem desta maneira, perdemos não só a natureza humana, mas até mesmo verdades decisivas sobre o homem dentro da relação meios/fins. Isto vale para todo reino da realidade. A razão técnica sempre teve uma função importante, mesmo na teologia sistemática. Mas a razão técnica é adequada e significativa só como expressão da razão ontológica e como sua companheira. A teologia não necessita tomar uma decisão a favor ou contra um destes dois conceitos de razão. Ela usa os métodos da razão técnica, a relação meios/fins, ao estabelecer um organismo de pensamento consistente, lógico e corretamente derivado. Ela aceita os refinamentos dos métodos cognitivos aplicados pela razão técnica. Mas rejeita a confusão entre razão técnica e ontológica.

Por exemplo, a teologia não pode aceitar o auxílio da razão no "raciocinar" a existência de Deus. Tal Deus pertenceria à relação meios/fins. Ele seria menos do que um Deus. Por outro lado, a teologia não fica perturbada pelos ataques à mensagem cristã feitos pela razão técnica. Esses ataques não atingem o nível no qual se firma a religião. Eles podem destruir superstições, mas nem mesmo atingem a fé. A teologia é (ou deveria ser) grata pela função crítica do tipo da razão técnica que mostra que não existe "algo" como um Deus dentro do contexto das relações meios/fins. Objetos religiosos, vistos em termos do universo do discurso constituído pela razão técnica, são objetos de superstição, sujeitos à crítica destrutiva. Onde quer que domine a razão técnica, a religião é superstição e é ou mantida estupidamente pela razão, ou rejeitada corretamente por ela. -

(TILLICH, Paul. Teologia Sistemática. Ed. Sinodal, 2005, pp. 68/69)

2 comentários:

  1. OLÁ MEU IRMÃO EM CRISTO JESUS HELIO! QUEM FALA E O LUCAS. TUDO BOM, COMO VAIS? PAZ DE CRISTO NESTE ANO QUE INICIA MEU IRMAO. SABE COMO EU GOSTO DE ACORDAR CEDO, LIGAR MEU SOM NO MICHAEL JACKSON E FAZER UM BOM CAFE E SENTAR COM A BIBLIA E MEU PC LIGADO AQUI NO BLOG. 7 HORAS JA ESTOU DE PÉ COM O SOL!!! POIS E MEU IRMAO, SEMPRE ESTAMOS A TEOLOGAR NAO E MESMO? VAMOS VER QUE A FÉ E A RAZAO NO FUNDO, NO FUNDO ELAS PODEM ATE TRAVAR UMAGRANDE BATALHA, MAS AMBOS SE COMPLEMENTAM. REPARE NO GRANDE CIENTISTA ISAAC NEWTON O QUE ELE FALOU: ISAAC NEWTON FOI TEOLOGO E ACREDITAVA QUE O MUNDO NAO TERMINARIA ANTES DE 2060, POIS JUNTOU ASPECTOS CIENTIFICOS COM BIBLICO. OLHA AS FRASES DELE: - O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.
    - A gravidade explica os movimentos dos planetas, mas não pode explicar quem colocou os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e sabe tudo que é ou que pode ser feito.
    - A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta.

    O tempo é uma ilusão produzida pelos nossos estados de consciência na medida em que caminhamos através da duração eterna.

    QUE DEUS TE ABENÇOE MEU IRMAO EM CRISTO. PAZ E LUZ.


    FONTE BRASIL WIKI.

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  2. Oi, Lucas!

    Eu acordo bem cedo também, geralmente às 6 da manhã, e enquanto faço o café solto os dois cachorros pra brincarem. Depois do café pronto vou à padaria comprar os pães e assim o dia já começa feliz, na graça de Deus. Rapaz.... 2060? acho que já estarei na eternidade... kkk... eu estaria com 97 anos então... hehehe.... você chegará lá, e espero que chegue muito feliz por todas as bênçãos do Senhor.

    Abração!

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