Conversando com um amigo sobre a passagem do filho pródigo, percebi uma semelhança grande da parábola com a teologia da prosperidade. Antes de entrar na semelhança propriamente dito, precisamos entender o contexto histórico e cultura da época. A chave principal para compreensão do contexto da parábola, está nos dois primeiros versículos do capítulo, onde nos é informado a platéia de Jesus, publicanos, pecadores, escribas e fariseus. Os dois primeiros contente por ouvir a Jesus, os dois últimos prontos para julgar e criticar prontos. Jesus apresenta para sua platéia duas parábolas em sequência, a primeira é a parábola da ovelha perdida e logo em seguida vem a parábola do filho pródigo.
É importante percebermos os principais elementos da parábola e os seus significado na cultura judaica, vamos analisar algumas partes do texto.
“Jesus disse ainda: — Um homem tinha dois filhos; Certo dia o mais moço disse ao pai: “Pai, quero que o senhor me dê agora a minha parte da herança.” — E o pai repartiu os bens entre os dois. ” Lc 15 1-2
A palavra “ainda” significa continuidade, ou seja, Jesus continuava falando para a mesma platéia do início do capítulo. O foco principal da parábola acontece em torno do Pai amoroso e do filho pródigo. De acordo com a tradição judaica, o primogênito tinha direito a toda riqueza do Pai, a supremacia entre os irmãos e a chefia da família (Dt 21:17). Ao filho mais moço não havia opção senão servir ao irmão mais velho, foi o que aconteceu com Esaú (Gn 17:26-40). Na cultura hebraica-judaica a rebeldia era punido com a morte, conforme diz a escritura diz:
“Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedeça à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e que, embora o castiguem, não lhes dê ouvidos, seu pai e sua mãe, pegando nele, o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; e dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é contumaz e rebelde; não dá ouvidos à nossa voz; é comilão e beberrão. Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim exterminarás o mal do meio de ti; e todo o Israel, ouvindo isso, temerá.” Dt 21:18-2
Quando os fariseus e escribas ouviram aquela parábola, devem ter se irado com Jesus, pois Jesus contava uma história impensável para os Judeus, pois jamais um filho mais moço teria o direito de solicitar ao pai, a sua parte da herança, primeiro porque ele não era o primogênito e segundo porque o pai ainda vivia. Essa postura para a época era algo incomum, sob risco do filho mais novo se tornar um rebelde e ser apedrejado até a morte. Quando o pai concede ao filho mais novo a sua parte da herança, ele vai contra a Lei, que protegia os interesses do primôgenito (Dt 21:15-17), o direito de herança era propriedade do filho mais velho. Jesus coloca mais dois elementos que chamam a atenção na parábola, um cidadão de um pais distante, era o mesmo que gentio, sabemos que os gentios eram uma abominação para os judeus, quanto mais para os fariseus e escribas. Não bastasse o filho pródigo ir trabalhar para um gentio (abominação era), a história fica mais impressionante quando Jesus acrescenta mais uma elemento interessante à parábola, o porco. O relato do filho pródigo indo trabalhar com os porcos, que era um animal impuro, proibido para comer ou mesmo tocar. Um judeu trabalhando com um gentio, se misturando aos porcos, se rebelando com o Pai e com o primogênito era digno de morte. Entretanto Jesus não está preocupado com os valores culturais da época, mas sim em demonstrar quanto vale um sacríficio para salvar a vida humana, não importa o que o pecador faça.
Podemos comparar a teologia da prosperidade com a parábola do filho pródigo quando o movimento utiliza frases como, “sou filho do Rei”, “meu pai é dono do mundo”, “sou herdeiro da promessa”, “eu determino”, entre outras pérolas. Será que estas pessoas não se lembram de Rm 11:15-17, quando diz que foi através da rejeição dos judeus que fomos alcançados pela graça de Deus, não por méritos, não tinhamos direito a herança alguma, muito menos alcançar a vida eterna, mas pelo infinita misericórida, Deus nos enxertou na oliveira verdadeira. Somos filhos adotivos, e devemos ser gratos por isso, não agir com presunção ou rebeldia como fez o fiho pródigo no início da parábola, que exigiu a herança que não era dele, pois ela pertencia ao primogênito. O movimento da prosperidade ao exigir ou determinar algo, não reconhece o grande amor de Deus, pois todos somos filhos adotivos, ramo da oliveira brava, enxertado na oliveira verdadeira por meio de Cristo Jesus (o primogênito).
Todos que foram enxertados na oliveira verdadeira, deve se comportar como o filho pródigo do final da parábola, quando arrependido e com uma atitude humilde deseja ser tratado como um dos seus conservos (servo do servo), não se achando digno de ser chamado filho, mas entendendo que sendo apenas um dos conservos do pai, seria muito mais feliz e tratado com muito mais dignidade do que gozar de todas as riquezas do mundo como fez o filho pródigo.
Graça e Paz!