Depois da repercussão que teve o fato de se barbear em dezembro último, o cantor de reggae e rapper judeu ortodoxo Matisyahu se viu na necessidade de ter que explicar ao mundo e especialmente aos seus fãs o que significou aquele gesto.
Deu, então, uma entrevista à rádio novaiorquina WNYC, onde expôs as suas razões.
Primeiramente, Matisyahu disse que não é pelo fato de tirar a barba que ele deixou de ser judeu e relata que, no dia seguinte às (não mais) anônimas escanhoadas, continuou cumprindo suas obrigações religiosas da mesma maneira em que fazia antes.
O radialista então lhe pergunta por que razão ele tinha deixado crescer a barba, e o que o havia levado a raspá-la depois de tanto tempo.
O cantor responde dizendo que começou a deixar a barba crescer quando tinha de 20 para 21 anos de idade, período em que mergulhou de cabeça na religiosidade judaica.
Passou a usar ostensivamente não somente o aspecto facial mas as roupas e o chapéu que caracterizam os judeus ortodoxos hassídicos, e ser visto como tal no metrô, por exemplo, o deixava contente, num claro contraste, digamos, "estético" com aquele garoto de 17 anos que ele havia sido um dia, que adorava reggae, Bob Marley e queria fazer insuspeitos dreadlocks no cabelo, mas em ambas as situações a representação externa de sua personalidade tinha muito a ver com o que se passava dentro dele.
A razão, entretanto, para que ele não mais se barbeasse a partir de então é mais complexa.
Matisyahu se justifica dizendo que, pela cabala (misticismo judaico que faz a cabeça de muita gente famosa, como Madonna, só para citar uma celebridade), a barba representa os 13 atributos de misericórdia de Deus, e tudo o que está acima (na divindade) é conectado com o que está embaixo (no mundo), como se fosse um espelho em que esses atributos estão se "checando", se "conferindo" um ao outro constantemente.
Desta maneira, a barba seria - para a cultura hassídica - um símbolo e uma manifestação da misericórdia divina aqui na Terra.
Os 13 "atributos" da misericórdia de Deus estariam, então, diretamente ligados às 13 partes da face, e dessas, digamos, "aptidões, "faculdades" ou "qualidades" ligadas à barba decorreriam as bênçãos de Deus na vida da pessoa que a porta.
Matisyahu confessa, então, que tinha medo de que perderia essas bênçãos se - por qualquer razão - eliminasse a sua volumosa barba.
A seguir, conta que passou por algumas semanas de profunda transformação espiritual, como nunca havia experimentado em sua vida, antes de tomar a decisão de - simples e finalmente - se barbear.
Concluiu, assim, nas suas próprias palavras, de que "os temores que eu tinha... a ideia de que a misericórdia de Deus está ligada ao fato de eu me barbear (ou não) é ridícula... se eu merecer a misericórdia de Deus, eu a terei, independentemente da minha barba".
Matisyahu se alegrou com o comentário de um fã que disse que nenhuma outra pessoa da sua geração consegue falar para judeus ortodoxos, nominais ou mesmo não-judeus como ele faz, e - com aquela voz mansa que o caracteriza - disse que isso o deixa muito feliz e o faz renovar a sua fé na humanidade, com tanto ódio que divide as pessoas, mas ele consegue se comunicar com uma legião de admiradores em paz.
Por fim, já no segundo vídeo abaixo, indagado se não há contradição entre se apresentar de forma tão religiosa de um lado, mas estar agora com a barba feita e gostar de coisas "mundanas" (ele é torcedor do New York Giants, que acabou de ganhar o SuperBowl de futebol americano) do outro, Matisyahu se defende dizendo que "no mundo tudo é contradição. Tudo tem múltiplos lados. Nós vamos muito rápido à definição do que é preto ou branco, classificando-os em gavetas... o mundo é uma mistura de coisas diferentes".
De qualquer maneira, o que seus fãs (entre os quais me incluo) esperam, Matisyahu, é que sua barba não seja o que o cabelo foi para Sansão, e que você continue alegrando muita gente com o seu talento, a sua fé e a sua autenticidade.
Por isso mesmo, esperamos que Matisyahu nunca venha a fazer propaganda de nenhuma lâmina de barbear... (é que no caso evangélico brasileiro, tem "pastor" que fez o bigode e esqueceu tudo o que pregava antes...abafa!)
Deu, então, uma entrevista à rádio novaiorquina WNYC, onde expôs as suas razões.
Primeiramente, Matisyahu disse que não é pelo fato de tirar a barba que ele deixou de ser judeu e relata que, no dia seguinte às (não mais) anônimas escanhoadas, continuou cumprindo suas obrigações religiosas da mesma maneira em que fazia antes.
O radialista então lhe pergunta por que razão ele tinha deixado crescer a barba, e o que o havia levado a raspá-la depois de tanto tempo.
O cantor responde dizendo que começou a deixar a barba crescer quando tinha de 20 para 21 anos de idade, período em que mergulhou de cabeça na religiosidade judaica.
Passou a usar ostensivamente não somente o aspecto facial mas as roupas e o chapéu que caracterizam os judeus ortodoxos hassídicos, e ser visto como tal no metrô, por exemplo, o deixava contente, num claro contraste, digamos, "estético" com aquele garoto de 17 anos que ele havia sido um dia, que adorava reggae, Bob Marley e queria fazer insuspeitos dreadlocks no cabelo, mas em ambas as situações a representação externa de sua personalidade tinha muito a ver com o que se passava dentro dele.
A razão, entretanto, para que ele não mais se barbeasse a partir de então é mais complexa.
Matisyahu se justifica dizendo que, pela cabala (misticismo judaico que faz a cabeça de muita gente famosa, como Madonna, só para citar uma celebridade), a barba representa os 13 atributos de misericórdia de Deus, e tudo o que está acima (na divindade) é conectado com o que está embaixo (no mundo), como se fosse um espelho em que esses atributos estão se "checando", se "conferindo" um ao outro constantemente.
Desta maneira, a barba seria - para a cultura hassídica - um símbolo e uma manifestação da misericórdia divina aqui na Terra.
Os 13 "atributos" da misericórdia de Deus estariam, então, diretamente ligados às 13 partes da face, e dessas, digamos, "aptidões, "faculdades" ou "qualidades" ligadas à barba decorreriam as bênçãos de Deus na vida da pessoa que a porta.
Matisyahu confessa, então, que tinha medo de que perderia essas bênçãos se - por qualquer razão - eliminasse a sua volumosa barba.
A seguir, conta que passou por algumas semanas de profunda transformação espiritual, como nunca havia experimentado em sua vida, antes de tomar a decisão de - simples e finalmente - se barbear.
Concluiu, assim, nas suas próprias palavras, de que "os temores que eu tinha... a ideia de que a misericórdia de Deus está ligada ao fato de eu me barbear (ou não) é ridícula... se eu merecer a misericórdia de Deus, eu a terei, independentemente da minha barba".
Matisyahu se alegrou com o comentário de um fã que disse que nenhuma outra pessoa da sua geração consegue falar para judeus ortodoxos, nominais ou mesmo não-judeus como ele faz, e - com aquela voz mansa que o caracteriza - disse que isso o deixa muito feliz e o faz renovar a sua fé na humanidade, com tanto ódio que divide as pessoas, mas ele consegue se comunicar com uma legião de admiradores em paz.
Por fim, já no segundo vídeo abaixo, indagado se não há contradição entre se apresentar de forma tão religiosa de um lado, mas estar agora com a barba feita e gostar de coisas "mundanas" (ele é torcedor do New York Giants, que acabou de ganhar o SuperBowl de futebol americano) do outro, Matisyahu se defende dizendo que "no mundo tudo é contradição. Tudo tem múltiplos lados. Nós vamos muito rápido à definição do que é preto ou branco, classificando-os em gavetas... o mundo é uma mistura de coisas diferentes".
De qualquer maneira, o que seus fãs (entre os quais me incluo) esperam, Matisyahu, é que sua barba não seja o que o cabelo foi para Sansão, e que você continue alegrando muita gente com o seu talento, a sua fé e a sua autenticidade.
Por isso mesmo, esperamos que Matisyahu nunca venha a fazer propaganda de nenhuma lâmina de barbear... (é que no caso evangélico brasileiro, tem "pastor" que fez o bigode e esqueceu tudo o que pregava antes...abafa!)
P.S.: os dados cabalísticos que Matisyahu apresenta na entrevista acima, especialmente sobre o número 13, são muitos complexos de serem explicados, fazem o gênero "mistério que não se revela aos iniciados" e este que vos escreve não tem capacidade nem interesse de entendê-los. Para os que quiserem se aprofundar no tema, a relação da barba com os 13 atributos da misericórdia de Deus está ensinada no Zohar, livro sagrado da cabala judaica, composto pelo rabino Shimon, especificamente no capítulo XI, preceitos de 209 a 232, que podem ser lidos em inglês clicando aqui. Leia, entretanto, por sua conta e risco, mas interprete com a ajuda de quem entenda do assunto, o que não é o meu caso, já que não estou nem um pouco interessado em numerologia e deixo a cabala aos cabalísticos, com todo respeito.
00:57 ano de 2020 e eu lendo essa matéria muito bacana, com riquezas de detalhes e um cuidado e respeito para com a religião do próximo. Parabéns pelo texto, amigo.
ResponderExcluirque legal que você gostou, 8 anos depois que este texto foi escrito com muito carinho, e sabendo que o Matisyahu continua o mesmo cara talentoso gente-boa de sempre rs obrigado pelo comentário e pelos elogios! abraços!
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