terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O misterioso caso do "filho francês" de Hitler



Antes de mais nada, é preciso ressaltar que essa é uma daquelas histórias pra lá de esquisitas que envolvem Adolf Hitler e que parecem destinadas ao baú das fantasias que ele continua gerando quase 70 anos após a sua morte. A começar por ela mesmo, a morte de Hitler, que apesar da abertura dos arquivos soviéticos nas últimas décadas, ainda resta inconclusiva, embora tudo indique que tenha realmente acontecido no bunker embaixo das ruínas da Chancelaria de Berlim na tarde de 30 de abril de 1945, mas sempre restará  0,0001% de incerteza sobre o dado. Logo, na ausência de restos mortais confiáveis, não há como fazer exames de DNA que comprovariam qualquer ligação familiar com grande dose de acerto. Acontece que a revista francesa Le Point desta semana traz a informação de que Hitler teria tido um filho com uma aldeã francesa no período em que ele serviu como soldado na 1ª Guerra Mundial, combatendo os franceses perto de Seboncourt, na região da Picardie. Numa das folgas da batalha, Hitler teria visitado uma pequena vila chamada Fournes-en-Weppe, situada a oeste de Lille, onde teria conhecido uma jovem de 16 anos chamada Charlotte Lobjoie. Segundo ela relataria alguns anos depois ao seu filho ainda criança, um dia ela estava recolhendo feno com outras mulheres quando viu um soldado alemão do outro lado da rua, aparentemente desenhando numa espécie de cartolina. As jovens então ficaram curiosas para saber o que ele estava fazendo ali e designaram Charlotte para se aproximar. Neste contato, o jovem soldado alemão teria se mostrado cordial e daí começaria uma relação amistosa que duraria algumas semanas, em passeios pelas campinas onde ambos tentavam romper a barreira da comunicação. Charlotte diria depois que o soldado alemão - aparentemente - fazia discursos intermináveis. Pelo jeito, eles teriam se comunicado até demais, e 9 meses depois, em março de 1918, Charlotte deu à luz um menino, ao qual deu o nome de Jean-Marie. Mãe solteira perto do fim da guerra, numa região cercada por alemães, os olhares desconfiados da vila certamente não foram fáceis de suportar. Ela ainda tentou criar o filho sem denunciar a verdadeira paternidade, mas, diante do preconceito escancarado da comunidade, principalmente das crianças que repercutiam a aversão dos pais, termina por entregar o garoto - já com alguns anos de idade - à família para a qual sua irmã trabalhava, que vai regularizar a adoção em 1934, quando ele já era adolescente. O verdadeiro pai teria ainda procurado saber notícias do garoto de vez em quando, e - estranhamente - a família adotiva se torna proprietária de um imóvel em Frankfurt no começo dos anos 1920, sem que tivesse condições nem interesse de comprá-lo. A mãe biológica mantinha algum contato com o filho, e pouco antes de morrer, o início dos anos 1950, ele finalmente teria lhe revelado a verdadeira identidade de seu pai. Jean-Marie Loret então passará muitos anos fugindo dessa assombração até que publicou um livro em 1981 sobre a sua suposta história de vida, "Ton Père s'Appelait Hitler" ("Teu Pai se Chamava Hitler"), ao qual ninguém deu qualquer atenção. É que no meio dos anos 1970 ele tentou, de alguma maneira, legalizar a sua horripilante (e presumida) ascendência paterna. Um historiador o ajudou na missão, juntando alguns testemunhos dispersos ainda vivos, um especialista em fisionomia comparativa, um laudo do Instituto de Antropologia e Genética da Universidade de Heidelberg que mostra que Hitler e Jean-Marie teriam o mesmo grupo sanguíneo e um estudo comparativo "psicografológico" (seja lá o que isso signifique, mas tem a ver com a escrita de ambos).

Se não bastasse o inusitado da versão acima, por si só demais de estranha para que pudesse ser levada a sério, a coisa se complica ainda mais quando se comprova que, durante a ocupação nazista da França já na Segunda Guerra Mundial, alguns oficiais da Wehrmacht (o Exército alemão) rotineiramente levavam alguns envelopes com dinheiro em espécie para Charlotte. Quando ela morre, seu filho descobriria alguns quadros com a assinatura do pintor (infelizmente) fracassado "Adolf Hitler". Infelizmente, porque se tivesse seguido carreira de pintor não teria provocado a desgraça e as milhões de mortes que provocou. Por outro lado, depois da morte de Hitler, teria sido encontrado entre os seus pertences um retrato de uma mulher que se pareceria muito com Charlotte. Em 1979, Jean-Marie procura um advogado parisiense, François Gibault, ao qual conta a sua história, mas este lhe faz ver a dificuldade, a possibilidade de ridicularização e os riscos envolvidos num eventual reconhecimento de paternidade, até porque seria difícil reclamar o patrimônio porventura deixado por Hitler (especulava-se à época sobre contas bancárias na Suiça, além dos direitos autorais da autobiografia do Führer, "Mein Kampf"). Depois de conversar com Gibault e com seus filhos, Jean-Marie desiste de propor qualquer ação, embora chegue a aparecer, sabe-se lá como, num espetáculo de bizarrices na TV japonesa, mas dois anos depois publica o livro a que já nos referimos, talvez na esperança de exorcizar seu passado, se é que ele está de alguma maneira ligado a Hitler. Fantasia ou não, a vida dele não foi fácil, privado do conhecimento do pai verdadeiro e na dúvida se, por uma dessas ironias atrozes do destino, teria combatido como soldado (e na resistência francesa posterior à ocupação nazista) o próprio pai durante a Segunda Guerra. E o suposto pai, no caso, era um monstro. Um roteiro desses Shakespeare jamais desprezaria...

Como tudo o que envolve a história verdadeira da vida de Hitler já é - por si só - difícil de acreditar, não é de se estranhar que tanta gente delire quando se trata de revisitar o absurdo que foi sua existência e tente se encaixar de alguma maneira nesse pesadelo.



2 comentários:

  1. Existem os restos mortais dos pais do Hitler, na Austria, e também existe uma linhagem da familia dele naquele país. Um exame de DNA para comprovar ou negar parentesco é possível.

    E me desculpe, mas as "provas" de que Hitler morreu em Berlim são muito frágeis. Já se sabe que os poucos ossos que seriam dele são na verdade de outra pessoa, e que uma foto dele já morto é FALSA.

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  2. A história relatada por Jean-Marie é bastante plausível, concordo com o comentarista acima, há linhagens de Hitler, tanto do lado materno, quanto no lado paterno (aqui parece que vivem nos EUA). Não vejo porque discriminar negativamente os supostos descendentes, caso isso se confirme, porque ninguém escolhe seus pais.

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