sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Dawkins afirma que não é ateu

Parem as rotativas! Urgente! 

Com o perdão aos mais jovens que já nasceram na época da internet, e que não sabem como funcionavam os jornais (que tinham que fechar a edição  da manhã seguinte justo na adiantada hora em que aparecia uma notícia importantíssima) num passado não tão distante assim, o planeta Terra parece que deu uma sacudida na noite passada, quando - após passar toda uma vida atacando a religião e defendendo o ateísmo, o militante (até então ateu) Richard Dawkins deu uma declaração que fez até o gigante Atlas perder o fôlego e quase descartar o planeta nas suas costas, atirando-o de volta na corrente sideral.

Perdoem-me o suspense, mas é uma notícia tão chocante que eu nem sei como dá-la porque sei que vai ter muita gente que vai ficar sem pai nem mãe depois de lê-la. 

Uma geração inteira de órfãos intelectuais acaba da ser formada como tartaruguinhas indefesas que saem dos ovos e correm para o mar. 

Comecemos pelo começo, então. 

O fato é que pegou muito mal em todos os meios, inclusive ateístas, a negativa de Dawkins em debater com William L. Craig e ele, diante do constrangimento que teria em admitir que estava errado na sua recusa, tratou de agendar desesperadamente um debate com o Arcebispo da Cantuária, Dr. Rowan Williams, o líder religioso da Igreja Anglicana (a rainha da Inglaterra é a chefe política e autoridade máxima). 

O Dr. Williams, que também é um intelectual renomado, quebrou o galho de Dawkins e aceitou o debate, que aconteceu na noite de ontem na Clarendon House, da mítica Universidade de Oxford. 

Foi um debate extremamente polido, como se requer de dois homens que se pretendem elegantes no trato com as pessoas, e cujo acompanhamento - muito interessante, por sinal - pode ser lido em espanhol no Canal Ciência do jornal El Mundo da Espanha. 

Tanto os debatedores, como o mediador, o filósofo Sir Anthony Kenny, se desdobraram em mesuras e palavras simpáticas, e o encontro demorou 1 hora e 20 minutos. 

Salvo uma única exceção bombástica (que será tratada a seguir) não houve nada assim muito significativo que se tornasse digno de nota. 

O debate transcorreu no nível inodoro e insípido do seguinte diálogo, quando ambos discutiam a questão teórica da navalha ser ou não ser mais complexa do que um aparelho de barbear, e o Dr. Williams, notório por sua barba cultivada há décadas (foto abaixo), respondeu: "Não que eu saiba muito sobre aparelhos de barbear". 

Típico humor britânico inofensivo, as usual

Quando tudo se encaminhava para um modorrento empate em 0 x 0 sem disputa de pênaltis, cai do céu a bomba: Richard Dawkins reconheceu que ele está MENOS do que 100% convicto de que NÃO existe um Criador, declaração que quase fez o pasmo Sir Anthony Kenny cair da poltrona (de cujo desconforto já tinha reclamado desde o início, diga-se de passagem):

Sir Anthony Kenny - Então, por que você não se define como agnóstico?
Richard Dawkins - Eu sou agnóstico...
Sir Kenny (incrédulo) - Você é descrito como o ateu mais famoso do mundo...
Dawkins - Eu estou convicto de 6,9 em cada 7 das minhas crenças... eu acho que a possibilidade de existir um Criador sobrenatural é muito, mas muito baixa...

Pronto! Dawkins acaba de derrubar mais um mito... ele próprio!

Desculpem-nos, queridos ateus, mas essa também não dá pra passar batido...



P.S.1: Atentos aos críticos ateus que aqui vieram dizer que Richard Dawkins já havia assumido seu agnosticismo anteriormente, fomos ler o livro indicado e somos obrigados a discordar. Ele sempre se reconheceu ateu. Confira as razões que nos levaram a essa conclusão no artigo "Agnosticismo de Dawkins é mesmo novidade?"




P.S.2: Felizmente a íntegra do debate já está disponível no youtube:









Fonte: The Telegraph



10 comentários:

  1. não me diga! Nossa, meu mundo acabou! Rsrsrs... Mas piadas aparte, Richard Dawkins já tocou neste assunto no livro "Deus um Delírio". Ele fala da probabilidade da existência de um deus ser muito baixa. O que você escreveu não foi novidade. Abraços.

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    1. obrigado pelo comentário e pela informação, Manoel!

      Como muito pouca gente lê o que Dawkins escreve, inclusive eu, nos limitamos às exposições públicas dele, e pelo que parece, essa foi uma tremenda novidade para muita gente.

      abraço!

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  2. Para eu foi novidade!

    Muito interessante a matéria. Se ele admite isso em seu livro o título torna-se incoerente.

    Sendo Deus um delírio a possiblidade de sua existência é ZERO!

    Se existe a mínima possiblidade (por menor que seja) de existir um Criador sobrenatural não há razão para classificar como delirante quem assim o crê.

    Delirante, por exemplo, é acreditar ser Napoleão Bonaparte ou a reencarnação do Messias.

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  3. Quem já leu o livro de Dawkins "Deus, um delírio" já sabia disso a séculos. Tanto que no livro existe um capítulo 4 chamado "Por que é quase certo que Deus não existe". Ou seja, quem falou isso que falou ai em cima é porque sequer conhece Dawkins e suas obras, e se preocupa apenas em ataca-lo.

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    1. Caramba! Dawkins não faz outra coisa senão "atacar"... agora que ele está sendo atacado porque o que ele escreve (segundo vocês dizem) não correspondia ao que ele falava em público (até ontem à noite), vocês ficam todos magoadinhos? Poxa, a gente só tá usando a mesma arma do Dawkins, o deboche e a ridicularização. Isso dói, é?

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  4. Caro Hélio, muito provavelmente você não leu 'Deus, um delírio', do Dawkis. Neste livro, ele cita uma escala, que vai de 1 (aquele que crê totalmente na existência de uma divindade) a 7 (aquele que tem absoluta certeza que não há divindades).
    No próprio livro, ele diz que se encontra entre os 'graus' 6 e 7, uma vez que ninguém pode provar a não existência de uma divindade.
    E os livros de Dawkins não são pouco lidos, pelo contrário. Somente na versão em inglês da obra, foram vendidos mais de 2 milhões de exemplares (o dia que 2 milhões de pessoas forem 'pouca gente', eu sou um panda). Para os que acompanham o trabalho de Dawkins, suas palestras, debates e publicações, não foi nenhuma novidade; só foi novidade para os cristãos que buscam atacá-lo de qualquer forma!

    http://en.wikipedia.org/wiki/The_God_Delusion

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    1. Obrigado pelo comentário, Sarah!

      Ainda que alguns milhões tenham lido The God Delusion, muitas centenas de milhões ouvem as exposições públicas de Dawkins por todos os meios, e ele nunca tocou nisso, pelo que eu me lembro, talvez porque a prioridade dele fosse - sim - atacar a religião de qualquer forma. Agora que isso ficou patente, inclusive para espanto do mediador do debate, é muito importante que esse detalhe fique bastante claro e não limitado a um círculo de leitores da obra dele, porque o que ele escreve não corresponde exatamente o que ele fala em público (no que ele está acompanhado de muita gente, diga-se de passagem).

      Acho que os ateus estão espantados agora porque perceberam que seu ídolo tem pés de barro, e os religiosos estão aproveitando essas contradições para atacar o mito usando as suas próprias armas, que são o deboche e a ridicularização rasteira. Nada que vá mudar a vida de ninguém, mas pelo menos nivelamos por baixo, bem ao estilo Dawkins.

      Abraço!

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  5. Aos que vêm aqui dizer do espanto cristão com o "não-ateísmo" de Dawkins, favor verificar que o fato foi notícia em todo o mundo, como indica a fonte do The Telegraph acima, e desde a noite passada está começando a se espalhar como praga pelo mundo todo, já que bilhões não sabiam que ele não era ateu...

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  6. Fomos ler o livro que nossos críticos ateus nos indicaram, em que Dawkins já teria assumido seu agnosticismo, mas somos obrigados a discordar. Ele se declarava ateu naquela ocasião. Veja a razão em outro post:

    http://ocontornodasombra.blogspot.com/2012/02/agnosticismo-de-dawkins-e-mesmo.html

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  7. Isso significa que ele também tem 0,1% de dúvida que Thor, Zeus e unicórnios invisíveis existem, afinal não é possível provar a inexistência deles.

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