segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O centenário de Francis Schaeffer

Se vivo fosse, o teólogo Francis Schaeffer completaria hoje exatos 100 anos de idade. Nascido no bairro de Germantown na Philadelphia, Pennsylvania, nos Estados Unidos, no dia 30 de janeiro de 1912, e falecido aos 72 anos de idade no dia 15 de maio de 1984, Schaeffer é pouco conhecido das gerações mais jovens de cristãos, mas até a sua morte exerceu enorme influência no cristianismo em todo o mundo, influência esta mais percebida entre os de origem protestante, mas que também foi sentida em menor escala nos outros ramos da religião. Em 1955, juntamente com sua esposa Edith, fundou a comunidade L'Abri ("o abrigo" em francês) na Suíça, instituição hoje presente em todo o mundo, inclusive no Brasil, em Belo Horizonte (MG). O L'Abri serviu para a sua época inicial, principalmente, como um ponto de encontro e discussão para jovens e líderes de todo o mundo que enfrentavam a ansiedade típica de seu tempo (do nosso também, é forçoso reconhecer) e buscavam respostas para conciliar a sua fé com os parâmetros relativistas da modernidade (com o perdão da aparente contradição no termo, já que parâmetros deveriam ser minimamente estáticos ou "absolutos", mas a pós-modernidade impõe parâmetros que mal duram um ano, ou um mês às vezes). Francis Schaeffer se viu, então, de certa maneira compelido a orquestrar uma reação cristã de raiz protestante às muitas influências que ameaçavam solapar a fé de tanta gente. Para atingir este objetivo, trabalhou basicamente em duas áreas principais: a apologética e a política. Na primeira, salientou a necessidade de se debater de maneira direta e contundente quando se tratava de defesa da fé. Na segunda, incentivou a participação política maciça dos cristãos para que assim influenciassem os destinos de sua nação e do mundo em geral. Seu livro "Um Manifesto Cristão" de 1981 era uma clara referência, já no título, ao Manifesto Comunista de 1848 e ao Manifesto Humanista de 1933 e 1973. O subtítulo da edição americana era suficientemente claro: "A crise moral da América e o que os cristãos devem fazer". Os títulos de outros livros seus, como "A Morte da Razão", "O Deus que se Revela", "O Deus que Intervém" e "Como Viveremos", revelam por si só como ele não se intimidava ao enfrentar as angústias de seu tempo. Talvez no tema do aborto se sinta a maior influência que ele teve em outras searas cristãs, como a Igreja Católica, já que advogava por uma militância anti-aborto tão ativa como a dos partidos políticos e movimentos feministas. Como você percebe, qualquer semelhança com o tema aborto levantado por religiosos nas últimas eleições presidenciais brasileiras não é mera coincidência, ainda que quase nenhum deles (provavelmente nenhum) soubesse que foi Francis Schaeffer que deu o pontapé inicial no jogo político dos evangélicos fundamentalistas, primeiro em seu país natal, e agora em todo o mundo. Por isso mesmo, ele é muito criticado por ter sido o precursor e incentivador desse movimento, sobretudo nos Estados Unidos, onde o Partido Republicano é dirigido pelo conservadorismo evangélico local. Muito provavelmente, Francis Schaeffer não tinha ideia de onde o seu ativismo político-religioso poderia desembocar, mas o convívio muito próximo com a direita fundamentalista norteamericana levou com que seu filho Frank Schaeffer, que havia participado de todas as iniciativas políticas de Francis, após a morte deste se afastasse do protestantismo e hoje ele professa a fé ortodoxa grega, além de combater as ideias dos políticos religiosos que beberam na fonte de seu pai. Frank escreveu inclusive uma espécie de autobiografia dessa época, intitulado "Crazy for God" ("Louco por Deus"), mas dando uma conotação diferente à frase do que aquela que você talvez imagine. De qualquer maneira, Francis Schaeffer deixou um legado muito importante para a Igreja que talvez ainda não tenha sido compreendido em toda a sua extensão e nas amplas teias de suas implicações. Vivemos tempos muito conturbados no último século, nos quais ainda estamos emaranhados, e talvez um dia possamos avaliar melhor a sua obra, inclusive naquilo que a acusam de politização excessiva ou extremismo conservador. Algumas questões poderiam ser levantadas desde já. Até que ponto, por exemplo, essa ênfase excessiva na política pode ser culpada pela bandalheira da prosperidade e do materialismo que vem assolando o meio evangélico nas últimas décadas? Em que medida o foco cristão na campanha ideológica pela normatização de preceitos morais pode ter descaracterizado, sublimado ou - pior - substituído a pregação pura e simples do evangelho da cruz de Cristo? Entretanto, se este blog aqui existe (como tantos outros ditos "apologéticos", diga-se de passagem) não deixa de ter o seu 0,01% de influência de Francis Schaeffer, já que o que procuramos fazer, de maneira equilibrada, responsável e descontraída, é defender a fé cristã, mas sem desprezar ou desrespeitar ninguém, na medida do possível, é claro, já que não somos perfeitos e nem sempre aquilo que se escreve é entendido da maneira correta, aquela pretendida pelo emissor da mensagem. Talvez tenha sido este o caso de Francis Schaeffer. Quem pode garantir o contrário? Apesar da data estar passando em branco no Brasil (ah! estava até agora!)- nem a editora que publica seus livros por aqui aproveitou a efeméride -, e com pouca repercussão pelo mundo afora, parabéns pelo centenário, Francis!






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