quarta-feira, 14 de julho de 2010

Finjo que não te escuto

O vídeo abaixo é de uma propaganda ateísta, em inglês e com legendas em português, que reflete uma tendência moderna de divulgação do ateísmo, atacando a religião. Não deixa de ser um comercial bem feito, e algumas observações me parecem pertinentes. Primeiro, a defesa do "livre pensamento", algo que sinceramente eu não consigo entender, já que para mim não há pensamento livre, no sentido de que seja isento de qualquer, digamos, "contaminação" por filosofias e - principalmente - ideologias variadas, sem querer entrar nos labirintos freudianos que formam a pessoa, também negados por muitos ateus. Não me parece que a visão de mundo de cada indivíduo seja plenamente pura e descompromissada de qualquer valor, ainda que este valor seja a negação dos valores. O vídeo mostra Deus como um fascínora sanguinário e o homem como um joguete na sua mão, num determinismo exarcebado que talvez ficasse melhor no discurso de alguns grupos religiosos mais sectários. Também falseia a história ao omitir que a metodologia científica começou nos templos e nos mosteiros medievais, assim como a religião foi o motor propulsor de inúmeras ações de assistência e caridade ao longo da História. Faz ainda uma crítica à teologia da prosperidade, esquecendo-se de que este é um desvio da ortodoxia da igreja combatido pela própria. Por fim, se contradiz ao afirmar que "mas como eu escolhi pensar livremente, não tenho que escutar as vozes impiedosas desse ser imaginário". Além da frase se assemelhar a um mantra chororô de autovitimização, a propaganda tanto ouve a voz desse ser que lhe é imaginário, que chega ao ponto de ter que desenvolver um discurso midiático a-teológico para negá-lo. Não só escuta como dialoga com ele. No fundo, é apenas uma espécie de religião a-religiosa...

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