quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Descoberta" da arca de Noé seria fraude

Circulou nos últimos dias a notícia de que arqueólogos russos e chineses teriam achado o que se supõe serem restos da arca de Noé, em expedição realizada no monte Ararat, na Turquia, local onde, de acordo com o relato bíblico, a nau teria parado, sendo protegida pelo gelo eterno por milênios, segundo os pesquisadores que - supostamente - se dispuseram a procurar seus vestígios. 

Entretanto, o site PaleoBabble (cuja tradução seria algo como "paleoblablablá") apresenta um suposto desmentido de um dos membros da expedição, Dr. Randall Price, que teria enviado um email aos seus alunos com a seguinte explicação:





Eu era o arqueólogo que estava com a expedição chinesa no verão de 2008 e recebi fotos do que eles agora informam terem sido tiradas dentro da arca. Meus parceiros e eu investimos $ 100,000 nesta expedição (descrita abaixo) que eles retiveram, apesar da promessa deles e dos nossos pedidos de devolução, já que não foram usados na expedição. A informação abaixo é a minha opinião baseada naquilo que eu vi e ouvi (de outros que afirmam ter sido testemunhas oculares ou conhecem os detalhes exatos).

Para resumir uma longa história: tudo isso é tido como falso. As fotos são consideradas como tendo sido tiradas fora do local perto do Mar Negro, mas o filme que os chineses agora têm foi gravado no sítio do Monte Ararat. No último verão de 2008, se dizia que dez trabalhadores curdos contratados por Parasut, o guia utilizado pelos chineses, tinham "plantado" grandes ripas de madeira tiradas de uma antiga estrutura na área do Mar Negro (onde as fotos foram originalmente tiradas), perto do sítio do Monte Ararat. No inverno de 2008, um alpinista chinês, levado pelos homens de Parasut ao local, viu a madeira, mas não pode entrar dentro por causa das severas condições do clima. Durante o verão de 2009, mais madeira foi "plantada" dentro de uma caverna no local. A equipe chinesa chegou no último verão de 2009 (eu estava lá na época e já sabia sobre o hoax) e lhes mostraram a caverna com a madeira, onde eles gravaram seu filme. Como eu disse, eu tenho as fotos do interior da assim chamada "arca" (que mostra teias de aranha nas quinas das ripas - algo simplesmente impossível naquelas condições) e o nosso parceiro curdo em Dogubabyazit (a vila aos pés do Monte Ararat) tem todos os fatos sobre o local, os homens que "plantaram" a madeira, e mesmo o caminhão que os transportou.





Não é a primeira vez que alguém alega ter descoberto restos da Arca de Noé, e - infelizmente - parece que essa última notícia segue a mesma linha de fraude (ou "hoax", ou "lenda urbana") dos "achados" anteriores. 

O problema de toda esta sequência de fraudes é que, se algum dia alguém encontrar de fato um vestígio verdadeiro que seja da arca de Noé, se ele não desprezá-la pelo histórico de fraudes que acompanham as "descobertas", ninguém vai acreditar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Economia europeia lança o "índice cristão" de ações

O perigo de divulgar essa notícia é algum televangelista ver nela uma ótima oportunidade para faturar mais grana usando o manto da religião e da prosperidade como desculpa. Veja o que noticia a Folha de S. Paulo de ontem, 27/04/10:

Europa lança primeiro "índice cristão" de ações

DAVID OAKLEY
DO "FINANCIAL TIMES"

O primeiro índice cristão de ações da Europa foi lançado ontem, em resposta à crescente demanda dos investidores pelas ações ditas éticas, após a crise global.

O Índice Stoxx Europe Christian compreende 533 companhias europeias que só obtêm receitas de fontes aprovadas "de acordo com os valores e princípios da religião cristã".

Empresas como HSBC, Nestlé, Vodafone, Royal e Dutch Shell estão entre as companhias que formam o índice. Outros grupos que não faturam com pornografia, armas, tabaco, produtos de controle da natalidade e jogos de azar também podem constar do índice.

Um comitê, que segundo a Stoxx compreende representantes do Vaticano
, avalia as ações, as quais se originam do índice Stoxx Europe 600.

Algumas das maiores administradoras de fundos de investimento do planeta, tais como Aviva Investors e Axa Investment Managers, estabeleceram fundos éticos nos últimos anos em resposta à demanda dos investidores.

A Igreja Católica e a Igreja Anglicana também estão em busca de novas maneiras de investir seus recursos.

Os fundos éticos têm objetivos semelhantes aos fundos cristãos, ainda que não proíbam ações de empresas que lucrem com produtos de controle da natalidade e evitem investimento em empresas que realizem atividades que sejam prejudiciais ao ambiente.

O novo índice, disponível em versões classificadas por preços e retornos líquidos e denominadas em euros e em dólares, tem por objetivo servir como referência para os fundos de investimento, o que os ajudaria a avaliar seu desempenho.

A demanda por fundos éticos cresceu nos últimos anos devido à intensificação das preocupações dos investidores quanto ao ambiente e à incerteza sobre a forma pela qual instituições financeiras obtiveram lucros depois da crise financeira global.

Também surgiram alguns índices de ações que respeitam a sharia (a lei islâmica). Esses índices permitem que os fundos invistam em ações de empresas que operem respeitando as leis islâmicas.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

terça-feira, 27 de abril de 2010

Três mendigos e a rejeição da humanidade

Outro dia, no Terra Magazine, José Pedro Goulart contou a história de um mendigo que ele viu tentando dar uma flor para uma moça bonita que passava por uma rua de Porto Alegre, que ela recusou gentilmente.

Este trecho do relato é belíssimo: 

   Por outro lado imaginei que talvez ela pudesse ter aceitado a flor. Como forma de coragem. Porque é preciso ter coragem para aceitar uma flor de um arruinado; fácil é quando vem de um príncipe. Sobretudo esse, que não era nenhum Chaplin, um vagabundo de cinema. 
   Esse tinha um aspecto repugnante, ranho no nariz, dentes podres. Contudo ele tinha uma flor. Um passaporte de afeto. Um clichê amoroso da natureza. Diante disso, talvez ela pudesse chorar. Choraria não por ele, mas por ela. Veria a tristeza que é ter que negar. Porque negar é da vida. 
   Entretanto ela não podia conter a repulsa e o nojo que vinha junto com a piedade. Sofria com isso porque sabia que o mendigo que segurava aquela flor, na mão suja e trêmula, era um homem. Um ser humano. Ou pelo menos um borrão de um. Se é um homem, um dia foi menino, uma criança, teve mãe, pai, e provavelmente irmãos. Uma família. Ou não. 

Guardei a história, imaginando que poderia comentá-la no futuro. Eis que hoje leio na BBC Brasil a história de um mendigo de Nova York que, ao tentar proteger uma mulher que estava sendo atacada por outro homem, terminou sendo esfaqueado no peito várias vezes, caiu no chão, e cerca de 25 pessoas passaram por ele sem socorrê-lo, deixando-o agonizando até a morte. 

A polícia só foi chamada 90 minutos depois. O mendigo pelo menos tinha um nome, Hugo Alfredo Tale-Yax, e era um imigrante ilegal guatemalteco. 

Talvez, se não tivesse se preocupado em salvar uma desconhecida, poderia estar vivo até hoje, perambulando pelo bairro de Queens. 

Essas histórias nos mostram o quanto a vida moderna e as cidades grandes nos embrutecem, tornando-nos incapazes de ver no outro, ainda que esfarrapado, um ser humano com um nome e uma história de vida que, por razões que a própria razão talvez desconheça, o colocou naquela condição. 

Lembro-me de ter atendido a porta na casa de meus pais, alguns anos atrás, numa cidade do interior, e quando vi o mendigo visivelmente embriagado, pensei que lá vinha mais um pedido de dinheiro para a próxima pinga, mas ele me surpreendeu quando me pediu uma sacola de plástico para colocar os seus poucos pertences. 

Envergonhado pelo meu preconceito, lembrei-me de uma sacola esportiva que havia ganho de brinde numa compra, que continuava inutilmente guardada, e a dei para ele. Não foi o dinheiro, nem a cachaça, que o alegrou. 

Ficou tão feliz com a sacola nova que o seu sorriso iluminou o meu dia, e me ensinou - silenciosamente - que existe beleza e felicidade nos lugares e nas pessoas mais improváveis. 

Pena que os dois primeiros mendigos deste texto não tenham tido a mesma sorte.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A higienização evangélica e o ovo da serpente


Com o título "Maldita INVEJA, é necessário HIGIENIZÁHHHHR", repercutiu bastante na blogosfera cristã o ataque de Marco Feliciano às críticas que (não) vem recebendo ultimamente, em especial do blog Genizah

Digo "não vem recebendo" porque Feliciano já teve dias piores na internet, e parece que - mesmo que inconscientemente - a inveja parte dele, ao ver que Silas Malafaia não só tem monopolizado as críticas da blogosfera, como arrecadado muito mais dinheiro com suas campanhas financeiras. 

Sobrou, portanto, pouco espaço para que Feliciano seja lembrado, e seu ataque parece mais um grito de desespero do tipo "Ei! Estou aqui! Falem bem ou falem mal, mas falem de mim!". 

O episódio do pastor-pilão parece tê-lo lançado no ostracismo. O inconsciente (ou ato falho, que seja!) de Feliciano permite, entretanto, uma outra leitura, bem mais perigosa. 

O seu trocadilho de mau gosto, comparando "higienizar" com "genizah", além da ameaça explícita, revela um traço típico das ideologias fascistas que ainda penetram e colonizam muitas mentes. 

Aliás, há muito tempo a ideologia chutou a teologia pra bem longe de alguns arraiais ditos "evangélicos", no melhor estilo de zagueiro de várzea: "bola pro mato, que o jogo é de campeonato". 

A analogia futebolística se justifica, pois também há muito tempo o comportamento de pastores e membros de igreja se parece mais com o de torcidas organizadas brigando em estádios de futebol. 

Não congregam, nem festejam, apenas torcem e tripudiam... 

 Neste caso, não é diferente. 

A "higienização" proposta por Feliciano, ainda que remeta a uma espécie de "genética religiosa", se assemelha muito à "higienização racial" do nazismo, também conhecida como "eugenia". 

Diga-se a favor dos nazistas, se é que isto seja possível, que o termo eugenia ("bem nascido", segundo a fonte grega) não foi criação deles, mas do inglês Francis Galton, em trabalho publicado em 1883, em que defendia a "seleção artificial" como consequência lógica da "seleção natural" de Darwin. 

Muita gente séria embarcou nessa nau do inferno sem perceber as suas implicações nefastas que o nazismo levou às últimas consequências meio século depois, em prol do seu ideal de pureza racial, inclusive com o programa "Lebensborn" ("Fonte da Vida", em alemão arcaico), que incentivava a "procriação eugênica" dos alemães arianos, facilitando inclusive a gestação de mães solteiras que atendiam os seus critérios de "raça higiênica". 

Como se percebe pela escolha das palavras, o nazismo adotava toda uma mitologia própria das religiões, embora se esforçasse para não parecer uma delas, sobretudo pela ancestral divisão alemã entre católicos do sul e protestantes do norte, que foram igualmente devorados pelo discurso da intolerância. 

 Não chega a ser surpresa, infelizmente, que muitos religiosos "evangélicos" utilizem este termo - "higienização" - de maneira amoral, como se nele não houvesse nenhum significado perverso subjacente. 

O seu uso demonstra, entretanto, que por trás de palavras aparentemente inofensivas, ainda que de mau gosto, se escondem perniciosas intenções totalitárias. 

No mesmo espectro se enquadra o discurso do ódio (travestido de "amor") dirigido aos homossexuais, como se integrassem uma "raça" que também merece "higienização". 

Marco Feliciano estava incomodado por ter sido esquecido pela blogosfera cristã, daí seu grito de desespero para que fosse notado. 

Para se destacar na fogueira de vaidades que consome o evangelicalismo brasileiro, escolheu indubitavelmente um trocadilho de mau gosto, mas revelou - a contragosto - que o que se esconde por trás das pregações neopentecostais televisivas é um jogo sujo de poder que pretende "higienizar" não só os blogs que lhes são críticos, mas moldar uma nova "raça" - superior, é claro! - de crentes facilmente manipuláveis por alguns líderes neopentecostais, que dirão (como de fato já dizem) o que devem crer, combater, ler e ver, bem como se portar e votar. 

"O Ovo da Serpente" ("Das Schlangenei", 1979) é um filme de Ingmar Bergmann que, através de gente comum, tenta entender a gênese do nazismo na Alemanha da década de 1920. 

No meio das relações sociais convencionais do cotidiano, o nazismo foi se instalando até atingir a irreversível metástase catastrófica. 

A cena abaixo mostra um pastor pedindo perdão por sua apatia e indiferença, algo impensável no atual cenário da igreja evangélica brasileira, mais preocupada com os seus "direitos", "posses" e "privilégios". 

Que não sejamos apáticos e indiferentes, pois a serpente segue botando os seus ovos atrás das fogueiras de vaidade do televangelismo nacional, e, infelizmente, não estamos na ilha de Malta (Atos 28), nem temos um Paulo que seja picado pela serpente da fogueira e não sofra consequência alguma...

domingo, 25 de abril de 2010

Comunidade do Facebook "ora" pela morte do Obama

Tudo indica que há muita ironia envolvida, talvez mais sarcasmo de muito mau gosto, mas existe uma comunidade no Facebook, com mais de 1 milhão de membros, que pede a Deus, de maneira um tanto quanto explícita, a morte de Obama. A comunidade tem o nome gigantesco e gritante de "DEAR LORD, THIS YEAR YOU TOOK MY FAVORITE ACTOR, PATRICK SWAYZIE. YOU TOOK MY FAVORITE ACTRESS, FARAH FAWCETT. YOU TOOK MY FAVORITE SINGER, MICHAEL JACKSON. I JUST WANTED TO LET YOU KNOW, MY FAVORITE PRESIDENT IS BARACK OBAMA. AMEN", algo como "Querido Senhor, este ano o Senhor levou o meu ator favorito, Patrick Swayzie. Levou minha atriz favorita, Farah Fawcett. Levou meu cantor favorito, Michael Jackson. Eu só queria que o Senhor soubesse que o meu presidente favorito é Barack Obama. Amém". Além do gosto duvidoso pelos atores Patrick Swayze e Farrah Fawcett (cujos nomes o dono da comunidade nem consegue escrever direito), o senso de humor dos americanos parece esconder o ódio que muitos sentem pelas políticas adotadas por seu presidente, além de uma pitada de racismo. Basta acompanhar algumas discussões dos tópicos da comunidade para ver como o ódio ideológico e racial nos EUA é exarcebado por debaixo das acusações de comunismo lançadas a Obama. Considerando esses dados, ali deve haver muita gente que se diz "cristã" e faz esta "oração" com estúpida convicção. Enfim, não é um bom lugar para ser frequentado...

sábado, 24 de abril de 2010

Dois papas, um cardeal pedófilo e uma canonização

Nunca se pode subestimar o poder do Vaticano "produzir" notícias que piorem as coisas para o papado. A se confirmar a notícia publicada pelos jornais britânicos The Times e Telegraph, não vai sobrar bispo em Roma pra contar a história. O pivô do escândalo da vez é o cardeal austríaco Hans Hermann Wilhelm Groër, que teria abusado sexualmente de 2.000 garotos (sim, você leu correto, DOIS MIL!). O cardeal Groër, falecido em 2003, aos 83 anos de idade, foi arcebispo de Viena de 1986 a 1995. Em 1995, o cardeal foi acusado de pedofilia por ex-alunos de um colégio católico. Groër se retirou do cargo no ano seguinte e se tornou abade do mosteiro de Roggendorf até 1998, quando novas acusações o fizeram ser liberado às pressas de todas as obrigações com a Igreja Católica. Internou-se em um convento, vindo a morrer de câncer em 2003. Entretanto, jamais foi punido quer pela lei da igreja, quer pela lei dos homens (já que a lei austríaca limita a investigação criminal contra certos cargos e funções). Michael Tfirst, hoje com 54 anos de idade, alega que já havia denunciado reiteradamente os abusos que sofreu do então bispo desde os anos 70. O fato é que nunca houve punição ao crime perpetrado por décadas pelo cardeal, senão o constrangimento público que o afastou de seu cargo. Seu sucessor em Viena, o cardeal Christoph Schönborn, cotado por muitos para ser o próximo papa, ao que tudo indica, sempre buscou - sem sucesso - uma punição exemplar ao antecessor, criticando a maneira como o caso foi tratado pela igreja. Em entrevista recente ao The Sunday Times, saiu em defesa do papa Bento XVI, dizendo que o conhece há 37 anos, e é testemunha de que, enquanto cardeal, Joseph Ratzinger fez todos os esforços possíveis para não acobertar o escândalo e investigá-lo amplamente, tendo sido barrado "pelo Vaticano", dando a entender que foi o papa João Paulo II que protegeu o cardeal Groër, bem como muitos outros sacerdotes pedófilos, já que a maioria dos casos - hoje conhecidos - aconteceram durante seu papado. Se por um lado a notícia melhora a reputação de Bento XVI, a celeuma lança dúvidas ao adiantado processo de canonização de João Paulo II, que, a julgar pelo andar da carruagem vaticana, corre o risco de ir para a geladeira, tal como aconteceu com muitos casos de pedofilia denunciados enquanto ele comandava a Igreja Católica.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Botox no bilau

A Folha de S. Paulo parece ter reservado o dia de hoje, sexta-feira, 23/04/10 para notícias estranhas sobre o pênis. Primeiro, informa que "Injeção de botox é usada para "esticar" pênis":

Uma nova técnica usa botox para amenizar o efeito de retração de um dos músculos do pênis. Essa retração encolhe o órgão sexual quando flácido e é comum em temperaturas mais baixas ou depois da prática de exercícios. Como a toxina botulínica relaxa o músculo, o pênis fica com uma aparência maior.

O procedimento foi feito em dez homens que se queixavam do tamanho reduzido do pênis flácido, em pesquisa da Universidade do Cairo, no Egito. Nos participantes do estudo, a retração muscular não tinha efeitos negativos na ereção.

Depois, na página de Esportes, noticia que "Flagrado no antidoping, atleta culpa droga para aumentar pênis":

O campeão olímpico dos 400 m em Pequim-2008, LaShawn Merritt, 23, foi suspenso preventivamente após três exames antidoping, feitos entre outubro e janeiro, darem positivo para DHEA (deidroepiandrosterona), um esteroide anabolizante.

Segundo Howard Jacobs, advogado do atleta americano, a substância proibida fazia parte da fórmula de um produto ingerido pelo velocista americano para "aumentar o tamanho de seu pênis."

O nome do produto, vendido sem prescrição médica, seria ExtenZe, medicamento que promete melhoria no desempenho sexual masculino.

"Nenhuma sanção vai disfarçar o embaraço e a humilhação que sinto", afirmou Merritt.

Eu fico imaginando a coragem que o sujeito tem pra injetar botox no bilau, sabendo que naquela agulha da seringa tem uma toxina botulínica (produzida por uma bactéria) pronta pra habitar seu símbolo máximo de masculinidade, só porque não quer tomar um banho frio na piscina ou no mar e sair com o dito cujo encolhido, nem ficar pelado em vestiário público. Isto me lembra a cena clássica do Seinfeld em que o George Costanza é surpreendido pela pretendente, já preocupado com o fato de que o pênis, com o frio e/ou a imersão em água, encolhe, e grita: "I was in the pool" ("eu estava na piscina"!). Depois ele pergunta a Elaine se as mulheres sabem sobre o "encolhimento", ao que ela responde: "da lavanderia"?, e, curiosa, pergunta de volta: "Aquilo encolhe?", e Seinfeld esclarece: "como uma tartaruga assustada". Pois os seus problemas acabaram...







Pelo menos há uma nota engraçada no meio dessa verdadeira fissura pró-aumento-de-pênis. É que em Papua-Nova Guiné, a polícia local pergunta aos candidatos à vaga se eles fizeram algum tipo de alongamento peniano, segundo noticia a agência Reuters. Se tiver feito, não é aprovado, já que as autoridades alegam que um pênis aumentado prejudicaria o treinamento dos novos policiais. Melhor não perguntar o porquê desta objeção...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sobre cabeças, caudas e falsos profetas

Estava vendo o noticiário Bom Dia Brasil da Globo hoje cedo, e vi uma matéria sobre empreendedorismo, que mostra o brasileiro como o segundo povo mais empreendedor do mundo. atrás apenas dos chineses. O que me chamou a atenção foi um dos entrevistados - que montou uma locadora de vídeo e teve que fechá-la 4 meses depois -, ter dito a seguinte frase:

“Não ser mais empregado, cauda, e sim ser cabeça, trabalhar nem que seja sábado, domingo, noite, mas ter o nosso próprio negócio, ser nossos próprios patrões, essa era a ideia”

É muito provável que o jovem empreendedor tenha sido seduzido pelo discurso fácil de alguns pregadores triunfalistas, que pinçam versículos da Bíblia para tentar justificar a sua teologia da prosperidade propagada aos 4 ventos. O problema (não dos pregadores, mas principalmente dos ouvintes) é que o discurso geralmente não consegue se replicar no mundo real. Funciona apenas na base do imediatismo, do oba-oba, do "vamos lá!", da motivação neurolinguística instantânea e inócua. O sonho do jovem entrevistado durou apenas 4 meses e ele voltou a ser empregado. Se ele tivesse estudado melhor o mercado, saberia que locação de vídeos e DVD's é uma atividade em extinção há muitos anos: primeiro, pela concorrência das grandes redes como a Blockbuster; segundo, pelo avanço da pirataria tanto nos camelôs como na internet. Entretanto, parece que nada disso foi suficiente para impedi-lo de embarcar na fantasia triunfalista de um pregador de ocasião. Este, por seu lado, está numa posição humanamente confortável. Se alguém acredita no seu discurso motivacional inconsequente e dá com os burros n'água, a culpa não é do pregador, mas de Deus, que assume - injustamente - o débito de alguém ter dito mentiras em Seu santo nome.

O texto surradamente usado por esses pregadores - "o Senhor te porá por cabeça e não por cauda" - está em Deuteronômio 28:13 e 44, no capítulo da Bíblia conhecido por listar uma série de bênçãos e maldições que cairiam sobre o POVO de Israel, coletivamente considerado como nação escolhida por Deus, se eles O seguissem ou desobedecessem, numa espécie de testamento dado a Moisés no momento em que o povo - depois de 40 anos de peregrinação no deserto - entraria na terra prometida, Canaã. Logo, soa estranho assumir como particular, próprio, uma promessa coletiva de Deus vinculada a um pacto com os descendentes de Jacó - a nação de Israel - retirados do Egito num momento histórico específico e com vistas a nortear o fato (também) político de que agora eles teriam um território para tomar e se estabelecer fisicamente, delimitando fronteiras e formando um sistema de governo teocrático. Não por acaso, portanto, quando o reino de Israel se desvia de Deus muitos séculos depois, Isaías relembra o pacto: "Pelo que o Senhor cortou de Israel a cabeça e a cauda, o ramo e o junco, num mesmo dia. O ancião e o varão de respeito, esse é a cabeça; e o profeta que ensina mentiras, esse é a cauda" (Isaías 9:14-15). Só que ninguém ouve esses versículos na boca dos pregadores da prosperidade, talvez por que eles se identificariam com a cauda...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Leonardo Boff diz que papa não serve para pastorear os católicos

Depois de Hans Küng, mais um teólogo católico punido pelo então cardeal Joseph Ratzinger resolve dar o troco agora que ele é papa. Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo de ontem, 20/04/10, Leonardo Boff afirma:


''Bento XVI não consegue deixar de ser professor e não alcança ser pastor''

José Maria Mayrink - O Estado de S.Paulo

ENTREVISTA
Leonardo Boff, teólogo

Crítico notório do atual papa, o ex-frade e teólogo brasileiro Leonardo Boff considera Bento XVI uma figura "de tensão e até de desunião". Leia suas opiniões na entrevista a seguir.

Como o sr. analisa o pontificado de Bento XVI?

Marcado por gestos de conflito e desunião: com os muçulmanos, com os judeus, com as Igrejas não católicas, com os seguidores de Lefebvre, com a introdução do latim na missa, com as mulheres, com os homossexuais e atualmente com o problema dos pedófilos. Quer dizer, cometeu vários erros de governo. Um professor como ele, de teologia acadêmica, numa universidade estatal da Alemanha, onde eu o escutei, não é talhado para dirigir, coordenar e animar uma comunidade de mais de 1 bilhão de pessoas. Ele não consegue deixar de ser professor e não alcança ser plenamente pastor. Falta-lhe quase tudo, especialmente carisma.

As denúncias de pedofilia causam um estrago irreparável para a imagem da Igreja?

A pedofilia sempre existiu entre o clero. Mas era tornada invisível. A Igreja apenas via o aspecto de pecado e não de delito. Nessa visão, apenas se vê o pecador. No delito se vê a vítima. Delito é crime que deve ser levado aos tribunais. Isso a Igreja sempre se negou a fazer, na falsa ideia de preservar seu bom nome. Isso é uma atitude farisaica e falta de misericórdia e justiça para com as vítimas. A opinião pública mundial e os vários processos nos EUA que puseram dioceses praticamente à falência levaram a Igreja a aceitar, muito a contragosto, a criminalização da pedofilia. Esse fato tem desmoralizado enormemente a instituição. Pouco vale o pedido de perdão e oferecimento de orações. Precisa-se fazer transformações profundas na disciplina e na formação dos candidatos ao sacerdócio.

Está correta a maneira de a Igreja, e particularmente o papa, encarar esse problema?

O Vaticano e os bispos em geral querem dissociar celibato de pedofilia. Ocorre que o problema de fundo é a sexualidade como é encarada nos seminários e na vida concreta dos padres. Sabemos que a sexualidade, como a mostraram Freud, Foucault e Ricoeur, possui uma natureza vulcânica. Não basta a razão intelectual para integrá-la no todo da vida humana. Ora, a pedofilia é um desvio de comportamento, portanto, ligado à sexualidade mal integrada. Isso é o que o Vaticano não quer, mas será obrigado a ver. Persiste em manter o celibato fora de discussão, mas não vai dar. Ela possui suas razões: celibato é um fator decisivo para o tipo de estrutura de Igreja que temos. Ela é uma sociedade religiosa total, autoritária, centralizadora e monossexual (só os homens contam entrar no serviço eclesial). Para ela é cômodo ter pessoas totalmente disponíveis que lhe entregam tudo, vida, afetos, família, para servir a seus propósitos, nem sempre os mais adequados para a maioria das pessoas sobre assuntos importantes como contraceptivos, aids e outros.

A onda de escândalos levaria a Igreja a mudar sua posição em relação esses assuntos?

Por mais escândalos que aconteçam, dificilmente a hierarquia da Igreja vai mudar. Ela é refém de uma doutrina que formulou sem qualquer diálogo com a comunidade cristã e sem maiores discussões com a comunidade científica. Pelo fato de a Igreja institucional ter colocado no centro de sua estruturação o poder sagrado (sacra potestas), sofre as consequências da lógica do poder, e este fecha as janelas e as portas para o amor, a solidariedade, a compreensão cordial e a compaixão. Não sem razão, o atual papa escreve uma encíclica sobre o amor sem mostrar qualquer amor.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Você é gay e/ou careca porque come frango

É o que garante Evo Morales, o sábio presidente boliviano, em mais uma de suas tiradas sensacionalistas, conforme noticia o site infobae. Culpando os produtos transgênicos por todos os males do mundo, e assegurando que tudo isso está cientificamente comprovado, Evo disse que, por causa dos hormônios femininos que os frangos consomem nas granjas, os homens têm "desvios em seu ser" e as meninas têm um "desenvolvimento prematuro dos seios". Além disso, o presidente boliviano profetizou que dentro de 50 anos todos os homens do mundo serão calvos se continuarem comendo alimentos transgênicos, já que a calvície não existe entre os indígenas dos Andes. Talvez a única coisa que ele acertou é que Coca-Cola serve para desentupir vasos sanitários. Portanto, se o seu cabelo está caindo, ou se você sente vibrações estranhas quando ouve Gloria Gaynor cantando "I Will Survive", tá na hora de parar de comer frango. Como presidente, esse Evo é um comediante razoável...

Toga perdida

Parece que hoje não é um bom dia para as juízas. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acaba de divulgar que a juíza Clarice Maria de Andrade, de Abaetetuba (PA), foi aposentada compulsoriamente naquele caso tristemente famoso da garota ainda adolescente que ficou 26 dias presa numa cela com 30 homens, sofrendo abusos de todo tipo, que já foi comentado neste blog no texto "Infância Perdida". Diz a matéria do site do CNJ:

A magistrada foi condenada por ter se omitido em relação à prisão da menor, que sofreu torturas e abusos sexuais no período em que ficou encarcerada irregularmente. A menina foi presa em 2007 por tentativa de furto, crime classificado como afiançável. Segundo Felipe Locke Cavalcanti, a juíza conhecia a situação do cárcere, já que havia visitado o local três dias antes, verificando a inexistência de separação entre homens e mulheres assim como as péssimas condições de higiene. "Ela não tomou nenhuma providência mesmo conhecendo a situação do cárcere", observou o relator. Também pesou contra a juíza, as provas de que ela teria adulterado um ofício encaminhado à Corregedoria Geral do Estado, que pedia a transferência da adolescente, após ter sido oficiada pela delegacia de polícia sobre o risco que a menor corria. "Ela retroagiu a data do ofício para tentar encobrir sua omissão", completou o relator.

Segundo Locke Cavalcanti, os dois fatos são gravíssimos e comprometem a permanência da juíza na magistratura. Por isso decidiu pela aposentadoria compulsória, que é a pena máxima no âmbito administrativo, além de encaminhar cópia dos autos ao Ministério Público do Pará para que seja verificada a possibilidade de proposição de uma ação civil pública. Caso seja ajuizada a ação civil pública, a magistrada poderá perder o cargo ou ter sua aposentadoria cassada. O conselheiro acrescentou ainda que o caso deixa mais evidente a necessidade da presença constante do Poder Judiciário no acompanhamento da execução penal.

Como se depreende do texto acima, embora aposentada compulsoriamente, a juíza continuará recebendo vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, a não ser que perca este direito em uma outra ação. As leis brasileiras deveriam ser mudadas para que os juízes e outros servidores públicos não tivessem este verdadeiro privilégio que é ser aposentado compulsoriamente, o que termina sendo um prêmio para eles. Infelizmente, ainda há juízes que se portam e comportam como se não recebessem altos salários pagos com dinheiro público, e se esquecem facilmente de sua condição de servidor público e DO público.

Você sabe com quem está falando?

A notícia abaixo (com vídeo ruim, mas audível) do Diário Catarinense mostra um exemplo clássico das famosas "carteiradas" que dividem cidadãos entre mais e menos poderosos. O diálogo-chave é o seguinte:

Mulher - Você sabe com quem está falando? Eu sou desembargadora do Tribunal de Justiça!
Policial - Pois a senhora devia dar um exemplo melhor..

Espera-se que o policial não seja perseguido por ter cumprido a lei e resistido aos privilégios que alguns julgam ter.

Confusão em blitz envolve policiais militares e desembargadora do Tribunal de Justiça

Fato ocorreu em Florianópolis quinta-feira à noite, quando PMs abordaram filho da magistrada

Diogo Vargas

Uma blitz de trânsito terminou em confusão entre policiais militares e uma desembargadora do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ), em Florianópolis. O caso envolve a desembargadora Rejane Andersen e a suposta tentativa dela em liberar o carro do filho apreendido por transitar com documentação vencida.

Um dos policiais gravou um vídeo no telefone celular em que a magistrada aparece exaltada e discutindo com os soldados.

O fato ocorreu às 22h12min de quinta-feira na Avenida Luiz Boiteux Piazza, em frente ao residencial Águas Claras, no bairro Cachoeira do Bom Jesus, Norte da Ilha.

Os policiais faziam barreira de trânsito quando abordaram um Celta de cor preta. Segundo os policiais, o motorista não possuía nenhum documento. Em consulta no sistema do Detran, a PM constatou que o veículo estava com débitos de 2009 e multas.

Os policiais afirmam que informaram ao condutor que o Celta seria apreendido. Foi quando ele teria telefonado para a mãe, que 15 minutos depois chegou ao local com outra pessoa em outro carro. Houve discussão e um dos policiais resolveu filmar com o telefone celular. A mãe do rapaz afirmou aos policiais que era desembargadora.

Na gravação do soldado, a desembargadora aparece nervosa e ressaltando a sua função que ocupa no TJ. Os policiais afirmam que ela queria a liberação do veículo e que para isso falaria com o chefe da Casa Militar.

O comando do 21º Batalhão da Polícia Militar (Norte da Ilha) foi acionado durante a discussão. O capitão Richard Westphal esteve no local. Procurado pela reportagem, ele disse que o veículo estava irregular e foi apreendido.

Segundo o capitão, a desembargadora não queria que o carro fosse levado para o guincho em que normalmente são levados os veículos irregulares, que fica em Palhoça, porque regularizaria a situação no dia seguinte.

De acordo com o capitão, os soldados afirmaram que ela teria se exaltado e tentado interferir na ação policial. No dia seguinte, os soldados fizeram um relatório da ocorrência e o encaminharam ao comandante do 21º BPM, major Marcos Aurélio Linhares. O Diário Catarinense apurou que os débitos do Celta foram pagos na sexta-feira e o carro liberado do local em que ficou apreendido.

O que diz a desembargadora Rejane Andersen

Procurada desde a sexta-feira pela reportagem, a desembargadora enviou por e-mail, no final da tarde desta segunda-feira, uma nota em que nega ter cometido abuso de autoridade. Confira a nota na íntegra:

"Relativamente a assuntos recentemente veiculados, esclarece-se que tratou-se tão somente de ausência momentânea de documentos de um veículo automotor, o que já foi sanado, não tendo, em absoluto, utilizado-se de abuso de autoridade, sendo, lamentavelmente, dado conotação diversa ao ocorrido, que sob a nossa ótica encontra-se encerrado."


Um produto revolucionário

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Jesus e a reputação online

Enquanto certos pregadores televisivos ficam dando piti por causa de blogueiros, consultores empresariais aconselham a não se preocupar com a sua reputação online, conforme o artigo abaixo, do jornal Valor Econômico de hoje, 19/04/10:


Jesus é a prova de que a reputação on-line não é importante


Lucy Kellaway

Não há mais sentido em tentar administrar sua reputação na internet. É tarde demais. Esqueletos estão saindo dos armários e em desvario pela internet, e qualquer pessoa pode dizer o que quiser sobre uma empresa ou uma pessoa sem medo de ser corrigida. Logo a coisa vai ficar ainda pior: um site dedicado a espinafrar pessoas será lançado no moldes do Yelp - que permite aos consumidores criticarem empresas sob o manto do anonimato -, de modo que haverá um lugar para que nós possamos ler todas aquelas coisas indecentes (e as menos indecentes) que uns tem a dizer sobre os outros.

Isso tem importância? Na verdade não, disse recentemente o editor do blog Tech Crunch. Ele afirmou que nossas reputações on-line podem ser bestas descontroladas, mas são bestas desdentadas: elas na verdade não podem nos machucar. Para conferir essa teoria, fiz algumas pesquisas sobre um homem que construiu uma reputação muito boa fora da internet: Jesus Cristo. Infelizmente, sua presença na rede contém muita coisa preocupante para seus consultores de relações públicas. Se você pesquisar " Jesus " no Google, o primeiro site que aparece é o Wikipedia, que nos diz que ele foi uma das figuras mais influentes da história e que há exatamente 1980 anos pode ter ressuscitado.

Mas depois disso, as coisas pioram. O próximo site da lista é " Jesus Dress Up! " (algo como " Vestindo Jesus " ), que mostra uma ilustração de um coelho pregado em uma cruz e convida você a vestí-lo com roupinhas elegantes que incluem botas roxas e cuecas cor de rosa.

Se você pular para a Twitter, verá que as coisas não melhoram. Jesus parece estar andando entre nós sob muitos disfarces, de Blackberry na mão e " twitando " , Jesus, JesusHChrist, Jesus_Christ e dezenas de variações com iniciais intermediárias diferentes, pontos e sublinhas, tudo isso fornecendo informações duvidosas sobre o filho de Deus. Ainda mais alarmante é o fato de " Palm Sunday " (Domingo de Ramos) ter sido um dos tópicos mais populares no Twitter recentemente, mas quando cliquei nele, me vi lançada em um mar de pornografia.

O que tudo isso representa para a reputação de Jesus? Eu acho que não afeta em nada. Trata-se de material aleatório, de baixo nível e eu ficaria surpresa se qualquer uma dessas informações afetassem o que as pessoas sentem por ele de uma maneira ou de outra.

A única coisa que a presença de Jesus na internet nos diz é que ele é muito famoso. Muitas pessoas se interessam por ele, embora nem tantas quanto as que se interessam por, digamos, Lady Gaga, que, no dia em que fiz meus testes, apareceu cinco vezes mais no Twitter.

Você poderia dizer que Jesus é um mau exemplo porque: a) sua reputação antecede a internet em cerca de 2 mil anos; b) as pessoas acreditam mais nele do que, digamos, em você ou em mim; c) ele está morto e tudo aconteceu há muito tempo. Mas mesmo para aqueles de nós que estamos vivos e não inspiramos sentimentos são fortes quanto Jesus, eu ainda acho que não devemos nos preocupar tanto com a presença on-line.

Há tantas indiscrições na internet que elas têm tanto valor quanto a moeda do Zimbábue. De fato, se os departamentos de recursos humanos das empresas prestarem atenção em fotografias de bêbados colocadas no Facebook, não restaria ninguém com menos de 30 anos para ser contratado. As observações negativas têm uma importância ainda menor. Todo mundo que obteve qualquer tipo de sucesso na escalada corporativa vai acabar encontrando coisas horríveis sobre si na internet, colocadas por anônimos. A primeira vez que li uma calúnia sobre mim fiquei furiosa. Mas então, percebi que a vida continuava como antes e que ninguém tinha visto nada. Na vez seguinte, dei menos importância. Com os adultos, camadas extras de pele parecem crescer, embora isso possivelmente não ocorra com os adolescentes.

Mas mesmo assim, as pessoas ainda parecem se importar mais com as coisas escritas na internet que fazem sentido. Na semana passada, enquanto alguns blogueiros afirmavam que a reputação estava morta, outros estavam agitados com a revelação aparentemente chocante de que alguns médicos estão buscando informações sobre seus pacientes no Google. Segundo um artigo publicado pela " Harvard Review of Psychiatry " , médicos estão pesquisando pacientes na internet por curiosidade, voyerismo e hábito, e os pacientes sentem que sua privacidade está sendo invadida.

Isso é muito estranho, pois, se algo está disponível para 1,7 bilhão de pessoas ao clique de um mouse, não se trata de algo absolutamente particular. Aquilo que na verdade seu médico pode ver de seu corpo é para mim algo bem mais íntimo do que qualquer coisa que eles eventualmente venham a encontrar na internet.

Isso não quer dizer que eu ficaria feliz se minha médica fizesse uma pesquisa sobre mim na internet. Eu ficaria furiosa. Como o tempo para marcar consultas no centro de saúde local onde vou é de cinco minutos, seria irritante se ela começasse a usar três desses minutos para ver o que poderia desenterrar sobre mim no Google.

Lucy Kellaway é colunista do " Financial Times " . Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira.

A fé dançarina


Resenha do livro "The Faith Instinct" ("O Instinto da Fé"), por Reinaldo José Lopes, publicado na Folha de S. Paulo de ontem, 18/04/10. Ainda que bastante crítico em relação às ideias lançadas no livro, a crítica, neste caso, é muito bem-vinda, já que o instinto religioso (ou moral), evolutivo ou não, é uma área do conhecimento ainda bastante incipiente, que engatinha atrás do instinto da linguagem, um pouco mais estudado, mas numa fase também inicial de investigação.


Dançando com os deuses

Religião foi favorecida pela seleção natural como forma de competição entre grupos humanos, diz novo livro

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Estava mais do que na hora de usar a lupa da psicologia evolutiva para elucidar as origens da religião. A fé, afinal, é um prato apropriado para o cardápio dos que tentam explicar a mente com base na teoria evolutiva. Ela parece ser um universal humano, ou seja, aquele tipo de comportamento presente em qualquer sociedade, no tempo e no espaço. E, se é um traço universal, provavelmente foi favorecido e mantido pela seleção natural. O raciocínio funciona. Mas o livro "The Faith Instinct" vai com sede demais a esse pote.


Que o leitor não entenda mal. A obra do britânico Nicholas Wade, jornalista de ciência do "New York Times", consegue alinhavar de forma clara as principais pesquisas sobre a origem do "instinto da fé" do título. O problema é que esse tipo de estudo ainda está engatinhando e, na ânsia de apresentar um cenário evolutivo "vencedor", que deixe claro por que a religião surgiu, Wade passa por cima das explicações alternativas, das nuances e do que não se encaixa em sua visão pré-fabricada do tema. O resultado são generalizações um bocado especulativas, que o autor martela capítulo após capítulo, na esperança de que o leitor acabe por aceitá-las.


Sacolejo


Conforme argumenta Wade, quando o comportamento humano moderno surge (entre 50 mil e 100 mil anos atrás), as manifestações religiosas parecem vir a reboque. As primeiras formas de arte e de ferramentas complexas aparecem lado a lado com coisas como funerais deliberados, incluindo "oferendas" (adornos e ossos de animais), e pinturas que retratam misteriosos seres metade pessoas e metade animais. Seriam indícios de uma crença no pós-vida e na capacidade mística de transitar entre os reinos humano, animal e espiritual, como ainda fazem os xamãs dos povos tradicionais de hoje.
São justamente esses povos, em especial os aborígines australianos e os san (ou bosquímanos) do sul da África, que inspiram o autor a dar seu passo seguinte. Como os rituais das tribos modernas de caçadores-coletores estão fortemente ligados a danças comunais, nas quais todo o grupo participa durante horas a fio, com resultados como transes e visões místicas, Wade propõe que a "religião ancestral" da humanidade era esse tipo de dança.


Aliás, para ele, música, dança, linguagem e religião teriam evoluído juntas, formando um complexo de comportamentos cuja principal função era garantir a coesão social de cada grupo, para que fosse possível superar outras tribos em combate. Os transes gerados pela dança exaustiva levariam à crença nas entidades sobrenaturais "vistas" durante o êxtase e, de quebra, produziriam um forte senso de união entre os participantes do sacolejo. Os grupos mais afinados com essa propensão ao transcendente teriam obtido uma considerável vantagem reprodutiva e de sobrevivência em relação às tribos menos extáticas, até a religião se propagar pela espécie.


A reconstrução da "religião dançarina" original até faz sentido diante dos (poucos) indícios disponíveis, mas Wade entra em terreno dúbio quando aposta, juntamente com uma minoria de biólogos evolutivos, que a seleção natural poderia atuar no nível de grupos, e não no de indivíduos, como diz a maior parte dos cientistas hoje.


O problema aqui é que grupos humanos -em especial tribos em guerra, como no cenário traçado pelo livro- não se reproduzem em bloco, mas como indivíduos. Supostas tendências genéticas "religiosas", que levariam ao sacrifício em batalha em nome do "bem maior", seriam simplesmente perdidas com a morte de seus possuidores. Desse ponto de vista, a seleção natural seria implacável contra os religiosos, e não a favor deles. De fato, os grupos com maior proporção de religiosos poderiam até obter mais sucesso na competição com outras tribos. Mas, paradoxalmente, as chances de multiplicação do "gene da fé" seriam muito baixas.


A rigor, seria perfeitamente possível traçar uma análise evolutiva com base nesse princípio: a religião, enquanto "unidade" cultural, é que estaria sendo selecionada nos confrontos, e não os corpos e genes de seus fiéis. Contudo, ao adotar um paradigma muito rígido, Wade nem chega a mencionar essa possibilidade.


Ele também quase não toma conhecimento da outra grande vertente das pesquisas sobre a evolução da religiosidade, que encara a crença no sobrenatural como um subproduto de outras capacidades mentais humanas as quais, essas sim, teriam sido moldadas pela seleção natural, tais como a propensão para detectar outras mentes no mundo circundante.


A análise que Wade faz da transformação das religiões no mundo pós-Idade da Pedra também é questionável. Ele associa, por exemplo, o "fim da dança" (ou seja, dos rituais comunais e igualitários dos caçadores-coletores) com o surgimento da agricultura e da desigualdade social. Nesse ponto, a ascensão de castas sacerdotais teria levado à monopolização do sagrado. O autor esquece, porém, que sociedades com considerável grau de hierarquização e complexidade, como a grega antiga, eram um bocado relaxadas quanto ao ofício sacerdotal -sem escrituras sagradas, rituais de ordenação ou mesmo monopólio dos sacrifícios de animais.


Apesar de tudo, a conclusão do livro talvez tenha alguma permanência: um apelo para que as religiões saibam incorporar o que a ciência descobriu sobre a natureza e a evolução do homem em suas próprias narrativas do sagrado.

LIVRO - "The Faith Instinct"
de Nicholas Wade; Penguin Press, 310 págs., US$ 25,95

domingo, 18 de abril de 2010

A igrejinha do Dunga


A coluna do Tostão na Folha de S. Paulo de hoje, 18/04/10, me fez pensar que o discurso de "apresentar resultados" no futebol se parece muito com aquele que ouvimos em certas pregações, que usam critérios de riqueza material para avaliar o "progresso" do crente:

A igrejinha de Dunga

A presença do auxiliar Jorginho e de vários atletas evangélicos e obedientes facilita o estilo rígido de Dunga

DUNGA DISSE novamente, dessa vez na Academia Brasileira de Letras, que, no futebol e na vida, o que importa é o resultado.

Fique tranquilo. Dunga foi apenas convidado. É um hábito da Academia chamar pessoas de destaque na sociedade para um encontro.

Dunga não é candidato ao cargo de imortal, mesmo se o Brasil for campeão e ele escrever mais um original livro sobre como ser um vencedor. Ricardo Teixeira faria o prefácio, e o auxiliar Jorginho, a orelha. Dunga só não pode publicar antes da Copa, como fez Parreira em 2006.

O que é ter resultados na vida, fora do futebol?

Se tornar um profissional vitorioso, rico e famoso, mesmo que seja por meios não muito legais e éticos? Aparecer e ser campeão no "Big Brother"?

Ou ser um homem simples e bom, sem nenhuma pretensão de ser herói?

Dunga e Jorginho formam uma boa dupla. Estão entrosados e já mostraram que têm bons conhecimentos técnicos e táticos. É a união do técnico mal-humorado, tosco, que não aceita críticas, com o auxiliar evangélico e tranquilo.

Se qualquer outro treinador dissesse que só interessa o resultado, ninguém se incomodaria, já que todos os times do mundo, de todas as épocas, entram em campo para vencer. Já Dunga dizendo isso, por seu habitual comportamento, gera outras leituras.

Depois de tantos bons resultados, a maioria concorda com o jeito pragmático de Dunga. Vivemos em uma sociedade consumista, competitiva, do espetáculo, em que a única coisa importante é a vitória, a glória e a fama. As pessoas não querem ser amadas. Querem ser vencedoras, admiradas e bajuladas.

Muitos acham ainda que, para dirigir uma seleção na Copa, é necessário, além de ser operatório e disciplinado, que o treinador seja rígido e nacionalista, uma mistura de um ditador com um Policarpo Quaresma. Para esses, com Dunga, não se repetiria o fracasso de 2006, quando Parreira foi chamado de bonzinho e frouxo por permitir tantas arruaças.

Dunga nunca vai entender por que a seleção de 1982, eliminada pela Itália, é mais elogiada que a de 1994, campeã do mundo.

Dunga passa a impressão de que a vitória lhe proporciona mais sofrimento que prazer e que ainda pode xingar os críticos, como fez em 1994, ao levantar a taça. Para ele, perder jogando bem deve ser muito pior que perder jogando mal. Sofre mais.

Apesar de não ter admiração pelo estilo de Dunga, reconheço sua eficiência no comando da seleção.

A maioria dos jogadores prefere técnicos rígidos e que tomam todas as decisões. É uma maneira de os jogadores transferirem para o técnico a responsabilidade pelas derrotas e pelas vitórias.

A presença de vários atletas evangélicos e obedientes na equipe facilita o trabalho do treinador. É a igrejinha de Dunga.

Se o Brasil ganhar ou perder, o motivo principal será Dunga. Isso já está decidido. É valorizar demais o treinador, seja quem fosse. É também uma maneira estreita de se analisar futebol, um esporte que, com frequência, é decidido, entre equipes do mesmo nível, pelo acaso e por fatores inusitados, que vão além da racionalidade doentia de Dunga.

Vulcão da Islândia é castigo de Deus para Obama

É o que garante Rush Limbaugh, radialista conservador norteamericano, responsável por um dos programas de maior audiência do país, em que invariavelmente defende as ideias republicanas mais radicais em contraste com os ataques aos democratas de Obama. Política americana é uma coisa um tanto quanto esquizofrênica, já que são todos capitalistas e protecionistas extremados, e a única diferença é a maior ou menor intervenção do Estado na economia e as limitações à iniciativa privada. No fundo, é uma questão de gradação da intervenção, mas isso é suficiente para os mais conservadores acusarem os mais liberais de socialistas, comunistas, etc. Outra distinção significativa é que os republicanos têm uma ligação com os setores mais fundamentalistas do evangelicalismo norteamericano, razão pela qual vemos o Pat Robertson (que já foi pré-candidato republicano à Presidência nas eleições de 1988) dizer que o terremoto foi castigo para o Haiti. Seguindo esta lógica obtusa, Pat Robertson não se magoaria, certamente, se as religiões nórdicas começassem a dizer que o cataclisma vulcânico é uma vingança de Odin contra os escandinavos (e europeus em geral) por terem abandonado sua mitologia ancestral. Rush Limbaugh se defenestra no mesmo abismo, ao dizer que o caos aéreo provocado pelo vulcão Eyjafjallajoekull na Islândia é castigo de Deus por Obama ter conseguido aprovar a reforma da saúde pública nos Estados Unidos, que universaliza o atendimento médico com enormes investimentos públicos, o que deixou os conservadores irados. Logo, Deus teria castigado Obama por ele ter permitido que pobres tivessem acesso à saúde. A declaração de Limbaugh, segundo o site Think Progress (com áudio incluso), é a seguinte:


Vocês sabem, alguns dias após a lei da reforma da saúde ter sido promulgada, o Obama saiu por todo o país dizendo, "Sabem, eu estou olhando em volta e a terra não se abriu, não tem Armagedom lá fora. Os pássaros ainda estão cantando". Já eu acho que a terra se abriu. Deus pode ter respondido. Este vulcão na Islândia colocou mais aviões no chão - e o espaço aéreo foi mais afetado - do que no 11 de setembro, por causa dessa coluna de fumaça, por causa dessa nuvem de cinzas sobre o Norte e o Oeste da Europa. No aeroporto de Paris, eles estão dizendo às pessoas para se dirigirem à estação e pegar trens pra fora da França, e quando as pessoas chegam à estação de trem, eles lhes comunicam, "Não há lugares vazios até 22 de abril, pelo menos", basicamente daqui a uma semana. Isto deixou todo mundo paralisado e sem rumo. A terra se abriu. Eu não sei se se trata de um renascimento ou do Armagedom. Espero que seja um renascimento, e que Deus esteja falando.


Curioso é verificar, conforme constata o jornal britânico The Guardian, que a última erupção do vulcão Eyjafjallajoekull, de 8 de junho de 1783 a meados de fevereiro de 1784, despejou lava e lançou cinzas na atmosfera de maneira que 1/4 da população islandesa morreu de fome nos anos seguintes, devastando não só a agricultura local como a da Europa como um todo. A catástrofe climática resultante teria sido um dos estopins da Revolução Francesa de 1789. O contraste não deixa de ser interessante, afinal toda a democracia moderna é tributária, de alguma forma, das conquistas políticas e de direitos humanos da Revolução Francesa, ou seja, naquele caso, o vulcão Eyjafjallajoekull teria sido uma bênção de Deus para a humanidade, e agora é uma maldição para o Obama. Vai entender...


Eu fico imaginando o que aconteceria se todos nós fizéssemos este mórbido exercício de ficar associando tudo quanto é desgraça e desastres naturais a um castigo preciso e pontual de Deus, ¿a quantas conclusões diferentes chegaríamos? Acho que pelo menos no caso do vulcão todos concordaríamos num aspecto: este nome Eyjafjallajoekull é um tanto quanto apocalíptico mesmo, né não?




aeroportos fechados em 18/04/10
checar no NYTimes

sábado, 17 de abril de 2010

Índios "cristãos" neonazistas? No Peru tem...

A notícia do site Operamundi bem que podia ser uma pegadinha de mau gosto ou um chiste de 1º de abril, mas infelizmente não é, pois no Peru, boa parte de indígenas descendentes dos incas são integrantes de um partido com a sigla INCA, que quer dizer (pasmem!) Igualdade Nacional Cristã Autônoma (!?!?), sendo, além de antisemita, antichileno, dadas as cicatrizes não curadas da Guerra do Pacífico (1879-1883), que envolveu Peru e Bolívia de um lado, e Chile do outro. Se há algum lado eventualmente bom nessa história relatada pelo artigo abaixo, deve ser mais um tormento pra Hitler no inferno, já que nem ossos o belzebu deixou pra se revirarem no túmulo:

Neonazismo no Peru: movimento racista poderá participar de eleições em 2011

Pouco mais de um ano antes das eleições gerais peruanas, um movimento político de inspiração neonazista foi inscrito no registro eleitoral nacional e estará apto para indicar candidatos a prefeito e governador em outubro de 2011.

O tribunal eleitoral peruano, chamado Jurado Nacional de Elecciones (JNE), inscreveu no dia 12 de março o INCA (Igualdade Nacional Cristã Autônoma) no Registro de Organizações Políticas. O líder do movimento é Ricardo de Spirito, conhecido por propagar ideais neonazistas por meio da internet e outros veículos de comunicação e que até 2007 vestia um uniforme idêntico ao usado pela tropa de assalto alemã nazista, a Sturmabteilung, ou SA.



O JNE explicou que a inscrição do INCA foi legal. A lei peruana não exige a apresentação de um estatuto para a inscrição de um movimento regional, só para os partidos políticos. No Peru, movimentos regionais são como pequenos partidos que só podem pleitear cargos menores, como prefeituras e governos estaduais.

Os único requisitos exigidos pelo JNE são um determinado número de assinaturas em apoio e a constituição de comitês partidários locais. Caso ninguém apresente queixas após a publicação da inscrição no Diário Oficial, o JNE registra a agrupação e conclui o trâmite.

Baseado na cidade de Tacna, na fronteira com Chile, o INCA tem como símbolo uma suástica, usada por De Spirito em uma agrupação prévia, a Fredeconsa (Frente de Defesa do Consumidor Contra a Agiotagem e Usura). Esse movimento, fundado em 2002, tinha uma premissa fortemente anti-semita e anti-chilena, especialmente contra bancos e outras entidades financeiras de origem judaica. De Spirito conduziu em 2005 um programa de rádio – Controvérsias – e entre 2003 e 2004, um jornal, El Nacionalista, ambos com temáticas neonazistas.

Para um setor da população peruana o argumento anti-chileno é atraente. Peru e Chile se enfrentaram em 1879 na Guerra do Pacífico e Santiago conquistou o departamento de Tarapacá e a província de Arica. Tacna é considerada uma região mais patriota, pois sofreu ocupação chilena depois da guerra, porém, com a assinatura do Tratado de Lima em 1929, o Chile aceitou que que voltasse a ser peruana. Atualmente os países mantêm uma disputa pelo limite marítimo no Tribunal de Haia.

Após o registro do INCA, De Spirito – que deseja concorrer ao governo de Tacna – recuou e disse não desejar mal à comunidade judaica ou usar símbolos nazistas. Segundo ele, as fotos em que aparece portando uma bandeira com a suástica são uma montagem. Além disso, o líder do INCA nega a autoria de diversos textos anti-semitas disseminados pela internet, com sua assinatura.

Reações

Em entrevista ao site peruano IDL-Reporteros, que revelou o caso no finald e março, o ex congressista Henry Pease – um dos autores da lei dos partidos políticos – lembrou que quando o projeto de lei foi debatido, entre 2002 e 2003, as exigências para os movimentos regionais foram menores do que para os partidos políticos. “Os movimentos regionais não podem apresentar candidatos para o Congresso ou presidência da República. Só podem concorrer a cargos de prefeito ou presidente regional (governo estadual)”, lembrou.

Para o cientista político Fernando Tuesta – presidente da ONPE (Organização Nacional de Processos Eleitorais) entre 2000 e 2004 – o JNE deveria reverter a inscrição do INCA.

Tuesta, que é um dos principais especialistas em temas eleitorais no país, explicou que o JNE pode não ter tido acesso a informações sobre De Spirito, "porém, após ter conhecimento do fato, o JNE não deveria se eximir de responsabilidade. Estou certo de se tivesse sido um grupo de fachada do Sendero Luminoso haveria maior reação e o tribunal teria anulado o registro. Porém, como a rejeição afeta poucos setores da sociedade peruana, deixaram o processo seguir”, opinou.

Antecedentes

De Spirito, 50 anos, foi militante do Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana), partido mais antigo do Peru e do qual faz parte o atual presidente peruano, Alan García. Entre as frases que publicou no site da Fredeconsa, há uma de clara orientação anti-semita. “Os juros são uma diabólica invenção judia. Os juros fazem com que o judeu não coma a partir do suor da própria testa, mas da testa dos outros”.

“Os piores governos do Peru são os democráticos e os melhores, os chamados de ditaduras”, disse De Spirito durante um programa da TV Panorama, em 2007. “Minha admiração por Benito Mussolini passa por uma questão histórica e pela minha herança familiar [o pai do peruano é italiano]. O marxismo e o comunismo foram paridos nas sinagogas”, acrescentou durante o programa.

De Spirito também afirmou que o Peru e a Bolívia “estão condenados a desaparecer da face da terra pelas mãos do sionismo chileno, que deseja se apropriar de quatro elementos fundamentais: água do Titicaca, gás de Camisea, ouro de Tacna e Puno e o mais importante, o lítio”.

Após o IDL-Reporteros reportar sobre o movimento, o blogDe Spirito apagou tais declarações e no lugar publicou uma mensagem de desculpas.

Detenções

Em janeiro de 2005 a revista peruana Caretas publicou a propaganda anti-semita e anti-chilena de De Spirito e revelou que o líder do INCA tinha na ficha policial uma acusação de delito contra a ordem pública (reprodução abaixo).



O futuro candidato ao governo de Tacna foi procurado pela justiça sete vezes entre 2000 e 2006 por chantagem, difamação e perturbação da ordem pública. Ficou na cadeia de Pocollay de novembro 2006 até agosto 2007 por um caso de difamação grave contra um pequeno empresário chileno.

A fé nas urnas

Em ano eleitoral, muitos líderes evangélicos estão movimentando seus rebanhos com vistas a emplacar algum candidato de sua denominação nas urnas de outubro, além dos acordos - alguns espúrios - com candidatos tanto ao legislativo como executivo, não necessariamente ligados às suas igrejas. Com o título "Eleição e Religião", o site da PUC-Rio tem um material bastante interessante sobre a influência do voto evangélico nas eleições, com dados e gráficos colecionados pelo jornalista Merval Pereira, com base em pesquisas efetuadas por Cesar Romero Jacob, Dora Rodrigues Hees, Philippe Waniez e Violette Brustlein. Ainda que esteja um tanto quanto desatualizado, por se referir às eleições de 2006 e ao censo de 2000, e tenha um olhar católico sobre o tema, vale a pena ler o artigo. Como é bastante extenso, selecionei alguns trechos:

Para se ganhar eleição no Brasil, o candidato depende de máquina eleitoral no grotão; dos evangélicos, na periferia em grande parte, e da Igreja Católica onde eventualmente existam movimentos sociais; e de um discurso competitivo nos grandes centros.

Os números que estão no estudo “Religião e sociedade em capitais brasileiras”, de Romero Jacob com os pesquisadores Dora Rodrigues Hees, Philippe Waniez e Violette Brustlein, mostram a existência do que chamam de “anéis pentecostais” nas periferias pobres de todas as regiões metropolitanas, fenômeno presente quer em Teresina, que é a cidade mais católica das 19 capitais pesquisadas, quanto em Goiânia, que é a menos católica.

Os evangélicos chegam a ser 30% nas três regiões metropolitanas mais importantes: Rio, São Paulo e Minas. Romero Jacob ressalta que Garotinho se deslocou do palanque para o púlpito, e Crivella fez o caminho inverso. Segundo ele, começa a haver sinais de disputas internas no mundo evangélico. Cerca de 50% dos evangélicos no Brasil são da Assembléia de Deus e, no Rio, ela é mais forte na periferia da periferia, como a periferia de Nova Iguaçu, por exemplo.

Nessa periferia mais pobre a Assembléia de Deus atua entre os muito pobres, mas, segundo ele, a Igreja Universal não está interessada nesse nicho porque, sendo partidários da teologia da prosperidade, estão interessados em pegar a baixa classe media, ávida do consumo e da ascensão social, que não está na periferia pobre

Constata-se, por exemplo, que a Igreja Católica, entre 1991 e 2000, perdeu, em nível nacional, quase tanta penetração quanto aumentou a dos pentecostais. Entre 19 capitais pesquisadas, o Rio de Janeiro, com 61% da população, só tem mais católicos que Goiânia, a capital com menor índice de católicos e maior de pentecostais. Na Região Metropolitana do Rio, o número de católicos cai para 48%, como também nas áreas mais pobres, como Santa Cruz e Campo Grande.

O crescimento dos pentecostais na periferia do Rio pode ser constatado ao comparar-se os censos de 1991 e 2000, e é quase na mesma proporção da redução do número de católicos. Segundo Romero Jacob, há uma série de indicações que mostram que as igrejas evangélicas trabalham de uma maneira coesa quando o candidato é um irmão. O ex-bispo Rodrigues falava com orgulho que o eleitorado era muito disciplinado: se os pastores mandassem votar num poste, eles votariam.

As três décadas de estagnação da economia brasileira, aliadas ao modelo urbano perverso - que segrega nas áreas distantes os mais carentes - produziram nos últimos anos um fenômeno recorrente em todas as principais capitais brasileiras: a formação de anéis evangélicos nas periferias, onde se concentram sobretudo os fiéis pentecostais, em número crescente.

Nas áreas centrais, mais abastadas, permanece, predominante, a população católica, que, no entanto, tem diminuído sistematicamente em todas as principais capitais: em 13 das 19 metrópoles estudadas, esse declínio ultrapassou os 10 pontos percentuais, entre os censos de 1991 e 2000.

A Igreja católica fez a opção preferencial pelos pobres, mas os pobres deslocados para as periferias fizeram a opção preferencial pela Igreja pentecostal - sintetiza o cientista político Cesar Romero Jacob, um dos autores do trabalho.

A geografia das principais religiões mantém as mesmas características em todos os principais centros urbanos do país. As regiões centrais e abastadas, com predominância da população branca, de alto nível de renda e escolaridade, são de ampla maioria católica.

Numa área intermediária, entre os bairros mais nobres e a periferia, estão as igrejas evangélicas de missão, como a presbiteriana, a luterana, a adventista e a metodista.

Também nessa área mais afastada, mas ainda não na periferia, situa-se a principal concentração da Igreja Universal do Reino de Deus - a segunda maior igreja pentecostal - que atrai sobretudo a baixa classe média suburbana, com a pregação da teologia da prosperidade, um caminho para quem aspira a ascensão social.

Na periferia concentram-se os fiéis da Assembléia de Deus, a mais numerosa das denominações pentecostais, e os que se dizem sem religião, em grande parte migrantes pobres que estão momentaneamente desvinculados de qualquer igreja. Costumam ser atraídos pelos pentecostais e, juntos, já sobrepujam os católicos nos redutos periféricos mais distantes.

Em São Paulo, embora o número total de evangélicos seja inferior ao do Rio, se somados aos que se declaram sem religião, eles perfazem metade da população. O mapa religioso da capital do Estado e da maioria dos municípios que compõem a Região Metropolitana é bem nítido: nas áreas mais centrais e abastadas da capital e nos principais núcleos urbanos dos municípios que constituem o ABC, de 70% a 75% da população são católicos.

Já os evangélicos pentecostais, que têm percentuais inferiores a 5% da população nos bairros elegantes, como os jardins, somam até 30% dos moradores nas áreas mais periféricas, principalmente na Zona Leste.

Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, na parte final do trabalho, observam que a estrutura da Igreja Católica tem se mostrado insuficiente para acompanhar o intenso crescimento da população nas áreas mais afastadas dos grandes centros. Assim, não seriam os fiéis que estariam abandonando a Igreja, mas, de certa forma, sendo abandonados.

Esse padrão de comportamento forma, em todas as regiões metropolitanas pesquisadas, o que os autores chamam de "anéis pentecostais": no centro estão os católicos brancos de alta renda e escolaridade, cercados, numa primeira borda, dos evangélicos tradicionais, classe média de menor escolaridade e renda. Na borda maior, que compreende Zona Oeste e periferia, estão os maiores percentuais de pobreza, baixa escolaridade, de negros, e de fiéis pentecostais. O mapa da votação na última eleição presidencial no Rio de Janeiro mostra que estavam nessas áreas o maior percentual de votos de Garotinho nas últimas eleições presidenciais. Na verdade, há coincidência, também, entre a sua votação nacional e a localização do fiel pentecostal no Brasil.

. "A entrada das denominações neopentecostais não representa maior pluralidade religiosa no país, mas apenas reforça a segregação", explica o professor Cesar Romero. "A ausência do estado faz com que o pobre da periferia esteja entregue ao narcotráfico, ao político clientelista e à igreja neopentecostal", diz ele.

O desmonte das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ordenado pelo papa João Paulo II no início dos anos 1980 é coincidente com o incremento das denominações neopentecostais no Brasil. A politização das CEBs, que serviam à Teologia da Libertação e eram resultado de um amplo processo de crescimento da esquerda católica iniciado na década de 1950 no Brasil, fez com que, pouco mais de duas décadas depois, a Igreja Católica tenha se afastado da sua opção pelos pobres e hoje, embora ainda majoritária no "maior país católico do mundo", esteja mais concentrada entre os brasileiros de alta renda, brancos e escolarizados, moradores das áreas mais nobres das capitais, enquanto pobres, negros e analfabetos, moradores das periferias, são a clientela religiosa preferencial dos neopentecostais.

A lenta mudança no perfil da fé, ao contrário de significar maior pluraridade religiosa, reforça a segregação sócio-econômica e mantém os mais carentes vulneráveis a grupos confessionais de baixa qualidade: as denominações neopentecostais são a que menos investem na formação de pastores e que, embora conquistem sua clientela com a promessa de uma rede de inserção social, não entregam o que oferecem. Ou seja, as redes que, nas áreas mais pobres, se apresentam como alternativa, são exatamente aquelas que agravam a segregação sócio-econômica.

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