domingo, 30 de setembro de 2012

Riobaldo e o ateísmo


"Mire veja: um casal, no Rio do Borá, daqui longe, só porque marido e mulher eram primos carnais, os quatro meninos deles vieram nascendo com a pior transformação que há: sem braços e sem pernas, só os tocos... Arre, nem posso figurar minha idéia nisso!Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Araçuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencama, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, senão tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos – não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução do senhor..."

(Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, 19ª ed., Nova Fronteira, 2001, p. 76)



sábado, 29 de setembro de 2012

Assassinado pastor defensor dos sem-terra de Honduras

Antonio Trejo era um advogado e pastor evangélico hondurenho. Era, porque caiu vítima de 5 tiros no último sábado, quando celebrava um casamento na Iglesia Torre Fuerte, na Colonia América de Comayagüela, cidade conurbada à capital Tegucigalpa, da qual se separa pelo rio Choluteca.

Nesses dias conturbados em que muitos pastores evangélicos são mais conhecidos por sua pregação da teologia da prosperidade e pela busca incessante das riquezas materiais, soa estranho que um pastor tenha sido morto por defender camponeses.

Até não muito tempo atrás, esse papel era costumeiramente desenvolvido por padres católicos ligados à teologia da libertação, dos quais também restam poucos que compartilhem das lutas dos mais pobres por acesso à terra e a oportunidades de crescimento.

Era este o caso do pastor Antonio Trejo, advogado que assumia as causas jurídicas das cooperativas camponesas de Honduras, combatendo árdua e pacificamente na Justiça do país para que se devolvessem as suas terras tomadas 18 anos atrás por alguns latifundiários, o que finalmente ocorreu no último dia 29 de junho.

Como costuma acontecer em outros países latinoamericanos, os latifundiários interpuseram um recurso extemporâneo para reverter a decisão, e os camponeses, liderados pelo pastor Trejo, foram se manifestar na frente da Corte Suprema de Justiça, onde foram violentamente reprimidos.

Como se percebe, nada muito diferente do que ocorre em outras paragens tropicais, onde o Poder Judiciário é extremamente dócil com quem tem poder e dinheiro, mas descarrega sua fúria contra os pobres que ousam questioná-lo.

No caso hondurenho, o próprio Ministério Público local também quis incriminar os manifestantes, mas não conseguiu provar seu envolvimento na audiência inicial nos dias 19 e 20 de setembro de 2012, e uma resposta do juiz é aguardada para o dia 5 de outubro.

Antonio Trejo acusou as autoridades repressoras de prevaricação e abuso de autoridade, mas o seu destino já estava tristemente selado.

No sábado, 22 de setembro de 2012, as primeiras versões dizem que, enquanto oficiava um casamento na igreja evangélica Torre Forte, foi chamado para fora por causa de um suposto telefonema, momento em que foi atingido por 5 tiros.

O pastor Antonio Trejo ti escolheu lutar (pacificamente, é sempre bom lembrar) no lado dos mais fracos contra os poderosos.

A exemplo do bispo Oscar Romero, mártir católico do país vizinho de El Salvador, pagou com a própria vida por ter tido essa ousadia.

Fonte: El Mercurio Digital



sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Estátua budista feita de meteorito estava com nazistas

Que os nazistas fizeram expedições à Ásia em busca de suas fantasiosas "raízes arianas", isso já era suficientemente sabido.

A Ahnenerbe (Ahnenerbe Forschungs- und Lehrgemeinschaft - "Comunidade para a Investigação e Ensino sobre a Herança Ancestral") foi a organização por trás dessas pesquisas esotéricas e místicas.

De qualquer maneira, a notícia abaixo, do Terra, é daquelas esquisitonas que misturas alhos com bugalhos, budismo com meteorito e nazismo, que parece até 1º de abril, mas aparentemente não é:

Estátua de nazistas foi esculpida em meteorito de 15 mil anos

Uma estátua budista levada do Tibet para a Alemanha em 1938 por uma equipe enviada por nazistas para buscar "as raízes da raça ariana" foi esculpida há mil anos em um pedaço de meteorito, revelaram os cientistas encarregados de sua análise.

A estátua batizada de "O homem de ferro" pesa mais de 10 kg e mede 24 cm de altura. Acredita-se que representa o deus Vaisravana, uma importante figura do budismo. Em 1938, uma expedição de cientistas alemães enviadas pelo governo nazista para descobrir a origem da chamada "raça ariana" descobriu esta estátua, que tem uma cruz suástica no ventre, e a levou para a Alemanha.

Uma equipe do Instituto de Estudos dos Planetas da Universidade de Stuttgart, dirigida por Elmar Buchner, analisou a estátua e descobriu que foi esculpida em um bloco proveniente de uma ataxita, um tipo pouco comum de meteorito ferroso, segundo estudo publicado na revista Meteoritics and Planetary Science. Esse meteorito teria caído na fronteira entre Mongólia e a Sibéria há cerca de 15 mil anos anos.

Não se pôde datar com exatidão a escultura, mas seu estilo leva a pensar que teria vínculos com a cultura Bon, anterior ao budismo, no século XI.



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Bilionário chinês rifa filha sapatão

Que nos perdoem os mais puristas o título politicamente incorreto acima, mas a notícia que vem do UOL é daquelas que merecem capa de jornais sensacionalistas. Só pode ser gozação...

E aí, você que está endividado, chegou a solução para os seus problemas. Vai encarar?

Bilionário chinês oferece R$ 132 milhões para homem que seduzir filha lésbica

Um dos mais conhecidos bilionários de Hong Kong está oferecendo um prêmio equivalente a R$ 132 milhões para qualquer homem que consiga seduzir sua filha lésbica e convencê-la a se casar.

O magnata Cecil Chao, de 76 anos, que fez sua fortuna no setor imobiliário e em transportes de carga, prometeu publicamente a recompensa após relatos de que a filha, Gigi Chao, teria formalizado uma união na França com a namorada de longa data.

O bilionário, que nunca foi casado, afirmou à BBC que a filha ainda é solteira e precisa de "um bom marido".

A homossexualidade foi descriminalizada em Hong Kong somente em 1991, e as uniões de parceiros do mesmo sexo não são reconhecidas.

Candidatos

Gigi, uma empresária formada pela Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, teria formalizado uma parceria civil na França com sua namorada, Sean Eav, com quem se relaciona há sete anos, segundo relatos publicados na mídia de Hong Kong.

Mas seu pai insiste que a informação é falsa e afirma que sua oferta generosa já gerou várias respostas de possíveis candidatos.

"É um incentivo para atrair alguém que tenha talento, mas não o capital para iniciar seu próprio negócio", afirmou Chao.

"Não me importa que ele seja rico ou pobre. O importante é que ele seja generoso e de bom coração", explicou.

"Gigi é uma mulher boa, com talento e beleza. Ela é dedicada aos pais, é generosa e faz trabalho voluntário", disse.

Vida social agitada

Apesar da busca pública por um marido para a filha, Chao diz que não tentará forçará Gigi a se casar contra sua vontade.

Gigi Chao disse ter achado a polêmica campanha feita pelo pai "divertida" e afirmou que não pensará mais no assunto até um candidato apto se apresentar.

Cecil Chao é conhecido em Hong Kong por sua vida social agitada e comumente aparece nas colunas sociais ao lado de belas mulheres jovens.

Segundo o diário South China Morning Post, ele já se vangloriou uma vez de ter se relacionado com mais de 10 mil mulheres.



Neymar aparece crucificado em capa de revista

Admitamos que se trata de uma montagem mal feita, mas a revista Placar do mês de outubro (chega às bancas amanhã) traz ninguém mais ninguém menos do que Neymar crucificado na capa (foto abaixo).

Provavelmente, Placar quis pegar carona na onda da profanação religiosa que pulula mundo afora, e não se sabe se Neymar - conhecido por se dizer evangélico apesar das baladas - autorizou o uso de sua imagem dessa maneira jocosa.

Seja como for, qualquer foto de Neymar seminu já seria de extremo mau gosto, mas nada como uma boa controvérsia para vender nas bancas, não é mesmo?

Como sempre acontece nesses casos, não fica muito claro qual seria o propósito de recorrer ao uso da imagem religiosa, a não ser conseguir propaganda grátis e desencalhar mais exemplares.

A "ideia" que a revista - supostamente - quer passar é a de que o jogador do Santos, muito criticado pelo seu "cai-cai", na verdade está sendo crucificado injustamente pelo seu talento desperdiçado no meio de um bando de brucutus que jogam bola no Brasil.

Desta maneira, Neymar seria o "bode expiatório" do futebol brasileiro.

Polêmica à vista!





Depois de se tornar pastor, Cabo Bruno é assassinado em SP

Trinta e quatro dias depois de sair da cadeia e três dias após se tornar pastor da Igreja Pentecostal Refúgio em Cristo (vídeo abaixo), em Taubaté (SP), o Cabo Bruno foi morto ontem ali perto, em Pindamonhangaba, segundo noticia o Estadão:

Cabo Bruno é morto no interior de SP

Líder de um grupo de extermínio na década de 1980, Florisvaldo de Oliveira havia deixado a prisão há 34 dias; ele tinha sido condenado a 120 anos de cadeia

SÃO PAULO - Trinta e quatro dias depois de sair da prisão, o ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, o cabo Bruno, foi morto a tiros no final da noite de quarta-feira, 26, na porta da casa onde morava, no bairro Quadra Coberta, em Pindamonhangaba (SP), no Vale do Paraíba.O cabo ficou conhecido por liderar um grupo de extermínio na década de 1980 na capital paulista e havia se tornado pastor evangélico ao sair da cadeia.

O crime ocorreu às 23h45. Acompanhado de parentes, ele voltava de um culto em Aparecida, município vizinho, e foi surpreendido pelos criminosos em frente à residência da família, na Rua Inácio Henrique Moreira.

"Segundo testemunhas, eram dois homens que chegaram a pé e atiraram somente contra ele (Florisvaldo). Não foi anunciado assalto", afirmou o tenente Mário Tonini, da 2ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar. "Havia um carro próximo ao local, possivelmente utilizado pelos atiradores na fuga. Não temos pistas ainda sobre a autoria. Provavelmente foi um crime de execução".

O cabo Bruno não chegou a ser socorrido e morreu no local. Segundo a polícia, nada foi levado dele ou dos familiares. A perícia esteve no local do crime e recolheu algumas cápsulas de pistola ponto 40 - mesmo calibre utilizado pela Polícia Militar - e outras calibre 380. Florisvaldo de Oliveira havia deixado a penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, a P-2, de Tremembé, no interior paulista, após cumprir 27 anos de prisão.

Os crimes

Ele foi condenado por participação em mais de 50 assassinatos na década de 1980 na capital paulista, quando integrava um esquadrão da morte. Nos anos de cárcere, converteu-se ao cristianismo, tornou-se pastor evangélico e se casou com uma cantora gospel.

Condenado a 120 anos de prisão, o cabo foi beneficiando com o indulto pleno da pena no dia 23 de agosto, por bom comportamento. O assassinato foi registrado no Distrito Policial Central de Pindamonhangaba, onde será investigado.




quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Alegre-se: você é único!

O salmo 139 é o mais belo hino bíblico sobre o cuidado de Deus na formação de cada ser humano, "entretecido" (v. 13) e "esmeradamente tecido" (v. 15) no ventre da mãe.

Aquilo que a Bíblia já dizia 3.000 anos atrás, agora é confirmado pela ciência, conforme você pode ler na interessante matéria abaixo, publicada na revista Galileu:

Por que somos seres únicos?

por Caroline Williams, da New Scientist

DNA é só o começo. Veja como o jeito de andar ou o formato da orelha são diferentes em cada um de nós e inspiram novas tecnologias de reconhecimento

Olhe ao redor e vai perceber como todas as pessoas são diferentes. Rostos, corpos, comportamentos e personalidades, todos parecem únicos e especiais. Agora pense na humanidade como um todo. Somos cerca de 7 bilhões, mas estimativas sugerem que 100 bilhões de pessoas viveram e morreram nos últimos 50 mil anos. Até onde sabemos, todas elas são, ou foram, totalmente únicas. O mesmo se aplica a todos os seres humanos que ainda estão por nascer.

Há na nossa espécie uma quantidade incrível de variação. Quanto mais buscamos tecnologias para confirmar identidades, mais descobrimos qualidades que tornam cada um de nós especial. Algumas, como DNA e digitais, são óbvias. Outras, nem tanto. Então, sim, sua mãe estava certa: você é muito, muito especial. Mas não confie apenas na palavra dela. Veja abaixo 10 traços que, de acordo com a ciência, são seus e de mais ninguém.

1 DNA

Uma parcela de apenas 0,5% do DNA dos humanos é distinto entre as pessoas e seria responsável pela infinidade de diferenças que vemos. Mas tão pouco seria suficiente para explicar todas as variações que encontramos? Na teoria, sim. E muito. Nosso genoma contém cerca de 3,2 bilhões de letras de código de DNA; 0,5% disso seria 16 milhões de letras. O código possui quatro letras, então o número de combinações possíveis é igual ao número 4 elevado a 16 milhões. O gigantesco resultado dá um número de possíveis genomas muitas e muitas vezes o suficiente para que todas as pessoas que já existiram tenham DNAs diferentes.

Assim, probabilidade de alguém ter exatamente o mesmo genoma que você é zero. Isso vale até para gêmeos idênticos. Apesar de serem 100% iguais no momento da concepção, os genomas dos gêmeos se diferenciam logo em seguida, fruto de pequenas mudanças e mutações aleatórias que ocorrem sempre que o DNA é copiado. E quanto mais velhos os gêmeos, mais diferentes eles são.

2 Digitais

O tamanho e formato delas são determinados, em grande parte, pelos genes. Mas a formação de impressões digitais no feto também é influenciada por fatores sutis, como a pressão das paredes uterinas e até os movimentos do fluido amniótico.

Assim, as digitais de gêmeos idênticos podem ser bastante parecidas, mas as diferenças são grandes o suficiente para serem detectadas. Na datiloscopia, essas distinções são conhecidas como “minúcias” e incluem variações como a bifurcação ligeiramente deslocada de uma linha em cada gêmeo ou uma presilha (um dos traços formados pela impressão) mais fechada. O mesmo vale para as marcas nos dedos dos pés.

Ninguém sabe para que as digitais servem. Estudos mostram que, ao contrário do que diz o senso comum, elas não tornam os dedos mais aderentes, pois reduzem a fricção em vez de aumentá-la. Independentemente de seu propósito, elas claramente não são essenciais para a sobrevivência. O único problema conhecido por pessoas com mutações que as faz nascer sem as impressões é passar pelo controle de imigração.

3 Modo de andar

Desde que nossos ancestrais ficaram de pé 1,5 milhão de anos atrás, os seres humanos sempre caminharam mais ou menos do mesmo jeito: um pé na frente do outro, gingando os quadris, encostando no chão primeiro o calcanhar e depois os dedos. O incrível é que, apesar da semelhança, todos nós andamos pelo planeta com um estilo ligeiramente diferente.

Estudos realizados desde a década de 1970 demonstram que as diferenças nos estilos é grande o suficiente para que reconheçamos as pessoas apenas pelo modo como andam no mínimo em 90% das vezes. Quando paramos de crescer, as diferenças no comprimento das nossas pernas e na largura dos quadris, combinadas com fatores ambientais como os músculos gerados pelo exercício físico, acabam gerando um estilo próprio.

É algo difícil de explicar, mas fácil de identificar, explica Mark Nixon, da Universidade de Southampton, Inglaterra. Computadores demarcam linhas traçadas pelos braços e pernas e transformam seus movimentos em número. Outra maneira de mensurar o modo de andar é fazer com que o indivíduo caminhe sobre um sensor de pressão e registrar suas passadas individuais. Sistemas desse tipo, desenvolvidos pelo grupo do pesquisador Todd Pataky na Universidade Shinshu do Japão, poderiam ser utilizados para acelerar o processo de check-in nos aeroportos.

Ainda há a ideia, em estágio inicial, de usar sensores de movimento semelhantes aos contidos em smartphones. Presos à perna, tais sensores poderiam medir a velocidade, aceleração e rotação. A técnica poderia ser usada como recurso de segurança em telefones celulares, de modo que os aparelhos não funcionariam quando fossem transportados por estranhos.

4 Batimentos cardíacos

Esqueça as músicas românticas dizendo que dois corações podem bater em uníssono. A realidade é que dois batimentos cardíacos nunca são iguais. Ninguém notaria a diferença encostando a orelha contra o peito, mas é possível diferenciá-los pelos seus impulsos elétricos.

Um eletrocardiograma registra 3 picos: a onda P, que é o impulso que contrai as câmaras superiores; o complexo QRS, que é a contração mais forte das câmaras inferiores; e a onda T, muito menor, que ocorre quando o coração relaxa.

Todo coração varia em termos de forma e tamanho, então a altura, largura e espaçamento dos picos varia entre os indivíduos. É verdade que o espaçamento entre esses marcadores muda com a aceleração dos batimentos em momentos de estresse ou durante exercícios, mas ainda assim é possível determinar uma assinatura individual.

Como os batimentos cardíacos não são controlados de forma consciente, são praticamente à prova de falsificação. Algumas empresas especializadas em biometria estão desenvolvendo aparelhos que usam essa característica para verificar identidades. A Apple também está trabalhando no uso dos nossos batimentos cardíacos como senha para proteção de informações privadas. E aonde a Apple vai, outros com certeza vão atrás.

5 Voz

A voz é a soma de muitas partes: o barulho do ar quando vibra pela laringe, o modo como interage com a boca e o nariz e a maneira como é moldada pelo palato, língua, lábios e bochechas.

Como é altamente improvável que duas pessoas tenham a mesma laringe, boca, nariz, dentes e músculos, com os mesmíssimos tamanhos e formatos, as vozes são especiais e fáceis de reconhecer.

Mas, ao contrário de outras características, temos a capacidade de alterar nossas vozes conscientemente, mexendo com o jeito que usamos os músculos do rosto e da laringe para mudar o volume, a altura e o tom. De acordo com Sophie Scott, neurocientista do University College de Londres, isso significa que a maioria das pessoas pode mudar sua voz quando quer e até quando não quer (reagindo a situações sociais sem que se dê conta).

Sophie estuda como imitadores produzem vozes tão parecidas com as de outras pessoas. O que se sabe é que os melhores profissionais têm excelentes habilidades para emular com perfeição trejeitos alheios, não apenas a voz. Por causa disso não existe uma maneira confiável de identificar uma voz apenas pela comparação das ondas de áudio ou por altura e tom. Até há sistemas que usam reconhecimento de voz, mas eles são combinados com outras senhas para se proteger de imitadores.

6 Cheiro

Os cães sempre souberam e agora a ciência comprova: não existem duas pessoas com o mesmo cheiro. Mas será que a variação é suficiente para que 7 bilhões tenham cheiros diferentes? “Com certeza”, diz George Preti, do Monell Chemical Senses Center, nos EUA. “Só a axila tem pelo menos algumas dúzias de odorantes, talvez mais, e as concentrações e quantidades relativas podem variar bastante.”

Nós não temos apenas um cheiro, é claro, mas vários. Cada pedacinho do nosso corpo possui diferentes tipos e quantidades de secreções e hospeda diferentes tipos de bactérias, que por sua vez transformam nossas secreções, geralmente inodoras, em um cheiro.

Uma análise recente de compostos orgânicos voláteis do suor de 200 voluntários austríacos demonstrou que dessa mistura de quase 5.000 ácidos, álcoois, cetonas e aldeídos, 44 deles variam o suficiente para produzir um perfil químico capaz de ser lido da mesma forma que uma digital. Preti diz que os compostos podem influenciar a maneira como identificamos uns aos outros. Não há ainda como capturar o cheiro total de um indivíduo e usar os dados para identificá-lo, mas há rumores de que o governo dos EUA está interessado numa tecnologia do tipo e Preti diz já estar trabalhando na ideia.

7 Microbioma

Essa característica especial nasce de 100 trilhões de bactérias que vivem dentro e fora do seu corpo. Há 10 bactérias para cada célula do seu corpo e, em termos genéticos, elas são ainda mais dominantes: os micróbios representam 3,3 milhões de genes, comparados com os meros 23 mil do seu corpo. “Você é apenas 0,7% humano”, brinca Jeremy Nicholson, bioquímico do Imperial College London.

Das mais de mil espécies de bactérias que costumam viver dentro e fora do corpo humano, cada um de nós hospeda apenas cerca de 150, a maioria delas dentro do intestino. O elenco dessa população microscópica é diferente em cada um dos seres humanos.

As bactérias da pele também variam de uma pessoa para a outra. Um estudo recente publicado na prestigiada revista científica Proceedings of the National Academy (PNAS) descobriu que uma impressão digital bacteriana única e exclusiva é transferida pelos nossos dedos para os objetos nos quais encostamos, como mouses e teclados, e permanece nessas superfícies por cerca de duas semanas. Mesmo os gêmeos idênticos, difíceis de diferenciar com testes de DNA, são identificados com facilidade quando analisamos os traços que são deixados por seus companheiros microscópicos.

8 Olhos

A íris de cada olho é especial o suficiente para que diversos países, como Reino Unido, Canadá e EUA aceitem uma imagem digital dela como prova de identidade. Mas a aparência das íris é hereditária. Então, como olhos que são iguais aos de toda a família podem, ao mesmo tempo, serem totalmente únicos?

A resposta está na complexidade da estrutura da íris, uma grande mistura de músculos, tendões, vasos sanguíneos e células pigmentadas que produzem cor, profundidade, sulcos, cristas e manchas. A cor e a textura geral da íris é determinada geneticamente, o que explica as semelhanças hereditárias. Mas o reconhecimento de íris usado em aeroportos ignora a cor e concentra-se nos detalhes dos sulcos, cristas e pintas. Essas características dependem da localização exata dos tendões, músculos e células pigmentadas à medida que a íris se desenvolve antes do nascimento, fatores aleatórios e não são controlados pelos genes.

9 Orelhas

Se olhar no espelho e puxar suas orelhas, vai perceber que uma é ligeiramente diferente da outra. Mais do que isso, cada uma delas é diferente das orelhas de todas as outras pessoas.

A orelha humana se desenvolve a partir de 6 calombos minúsculos que surgem na lateral da cabeça cerca de 5 semanas após a concepção e se fundem gradualmente. A genética define a forma geral, mas o ambiente dentro do útero, incluindo a posição do feto, influencia o resultado final. Depois de formadas, as orelhas praticamente não mudam de formato.

Pesquisadores desenvolvem maneiras de reconhecer indivíduos pelo formato de suas orelhas. Uma análise feita pela Notre Dame University, nos EUA, mostra que a identificação pela orelha pode ser tão precisa quanto o reconhecimento facial. Tanto que pessoas já chegaram a ser condenadas com base em “impressões auriculares” deixadas na cena do crime nos EUA e na Holanda. Mas isso ainda é controverso porque a impressão deixada pode mudar de acordo com a pressão exercida sobre a orelha. Nos EUA, pelo menos um suspeito foi libertado após tribunais rejeitarem a confiabilidade desse tipo de análise.

10 Ondas cerebrais

Os seres humanos nascem com grande quantidade de neurônios, mas nossos cérebros podam 50% deles durante a infância. O que sobra desse processo, motivado pela experiência, deixa cada um com um cérebro único que realiza as mesmas tarefas de forma ligeiramente diferente. É possível enxergar essas diferenças sutis quando medimos a atividade elétrica do órgão.

Em 2001, um estudo da Universidade de Regina, no Canadá, descobriu que as atividades cerebrais chamadas ondas alfa têm diferenças suficientes em um grupo de 40 pessoas para que identifiquemos cada uma delas. Outro estudo mostrou que a força de um tipo diferente de onda cerebral, as oscilações gama, também varia.

Será que as diferenças cerebrais explicam por que cada um de nós possui personalidades diferentes? É possível, mas ainda não sabemos se as ondas elétricas de cada indivíduo seriam reconhecíveis caso fossem mensuradas em dias diferentes ou depois de alguns anos. Sem isso, é impossível saber se os traços são únicos e especiais apenas na medição de certo instante.

Fomos ao Centro de São Paulo e perguntamos para as pessoas que passavam: o que te torna único?

O resultado foi um vídeo quase poético. Assista!





terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mark Driscoll diz que Ester era prostituta antes de se tornar rainha

Mark Driscoll só pensa naquilo...

Depois de ter dito não existe nada mais puro do que dois homens seminus lutando MMA num octógono e que masturbação é uma forma de homossexualismo, o pastor da igreja de Mars Hill resolveu avançar um pouco mais no seu, digamos, “evangelho da testosterona”.

A vítima da vez, além da boa interpretação bíblica, é Ester, personagem do livro homônimo do Velho Testamento, uma moça judia virtuosa que se casa com Assuero, rei da Pérsia, e salva seu povo da aniquilação.

Faz cerca de 3.000 anos que Ester anda bem na fita, com a sua reputação ilibada ao longo de centenas de gerações de bons intérpretes judaicos e cristãos. Bem, estava, porque finalmente alguém diz que "descobriu" os seus segredos de alcova.

É que o pastor Mark Driscoll não consegue se conformar com a doce simplicidade e beleza desse roteiro épico. Na sua página na internet, não sem antes dizer que “a história de Ester tem sido muito mal interpretada”, ele a resume da seguinte maneira:
Ela cresceu numa família muito religiosa como uma órfã criada pelo seu primo. Bonita, ela permite que os homens se rendam às suas necessidades e faz as suas decisões. O comportamento dela é pecaminoso e ela passa cerca de um ano no spa sendo "embonecada" para perder sua virgindade com o rei pagão, assim como faziam centenas de outras mulheres. O desempenho dela é tão bom que ele a escolhe como sua favorita. Hoje, a sua história seria a de uma linda jovem que mora na cidade grande e permite aos homens que satisfaçam suas necessidades, passa por vários tratamentos de beleza para ficar ainda mais bela, e vai ao programa “The Bachelor” (“O Solteirão”) concorrer para uma noite maravilhosa na cama com um cara muito rico. Ela é simplesmente uma pessoa sem nenhum caráter até que o seu próprio pescoço esteja ameaçado, e então ela se levanta para salvar a vida do seu povo, momento em que ela se converte para uma fé real em Deus.
No popular, Mark Driscoll está dizendo que Ester era uma prostituta antes de se casar com o rei. E, ao afirmar que ele é o primeiro a descobrir isso, ele está se mostrando portador de uma revelação especial, o que faz dele - mesmo que contra a sua vontade - uma espécie de adepto do gnosticismo, alguém tão iluminado que só ele é capaz de decifrar o "segredo"  escondido em um texto por três milênios.

Além disso, a referência que Driscoll faz a um programa da TV americana deixa claro, ainda que inadvertidamente, como seu "evangelho" é influenciado pelo show business e pelo consumismo midiático. 

Assim, uma história bíblica pura e singela precisa ser "apimentada" com pinceladas eróticas e esqueletos no armário para que seja mais, digamos, "vendável" e palatável a um público ávido por detalhes sórdidos. 

Dando ainda vazão às suas paixões machistas, Driscoll acrescenta:
As feministas têm tentado mostrar a vida de Ester como um conto trágico de dominação masculina e liberação feminina. Muitos evangélicos têm ignorado os pecados sexuais dela e o seu comportamento ímpio para transformá-la numa figura do tipo de Daniel, o que é inapropriado. Alguns têm inclusive tentado modernizar a sua história comparando-a com o atual tráfico de escravas sexuais, mesma condição em que ela foi entregue ao rei poderoso como parte do seu harém.
Como você percebe, Driscoll tem uma fixação mórbida com detalhes sexuais de personagens e situações bíblicas e mundanas. No popular, isso também tem nome: fetiche. Ele bem que podia cuidar disso em privado e não tornar públicas as suas aberrações e fofocas supostamente "iluminadas".

E quando um líder evangélico de destaque – como ele é – começa a dar palpites sobre condições morais e sexuais de quem quer que seja na base da metralhadora giratória e do chutômetro, o resultado costuma ser desastroso.



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Arquidiocese do RJ impede uso do nome M.I.S.S.A. em baladas

Confesso que não entendo bem o que leva um sujeito a ir ou organizar uma balada com símbolos religiosos, seja para promovê-los ou profaná-los. Vai entender a natureza humana...

A notícia é da Arquidiocese do Rio de Janeiro:

Acordo judicial derruba festa "M.I.S.S.A."

A Associação Arquidiocesana Tarde com Maria conseguiu celebrar acordo judicial com a Cinco Entretenimentos, grupo que realizava as festas denominadas “M.I.S.S.A.”. A partir de agora, o substantivo “missa” não pode ser usado nos eventos produzidos, assim como não pode haver a utilização de indumentária e símbolos católicos nas citadas festas.

Conforme o acordo, a Cinco Entretenimentos “obriga-se, definitivamente, a nunca mais promover, nesta cidade ou em qualquer outro ponto do território nacional, qualquer evento que se identifique pelo substantivo “missa”, ou no qual se utilize essa palavra, de modo a associar o espetáculo à principal celebração da liturgia da Igreja Católica Apostólica Romana”.

Em eventos, materiais publicitários ou shows “qualquer indumentária, dístico, palavra ou verso, símbolo, letra, coreografias, foto, músicas ou outro elemento de qualquer natureza, que possa de algum modo associar a ação à mesma Igreja ou a seus sacerdotes, templos, livros, objetos de culto, ritos ou liturgia” também não será permitida.

A empresa continuará a utilizar a sua denominação “Movimento dos Interessados em Sacudir a Sua Alma”, não podendo dispor das iniciais para compor o substantivo em questão.



domingo, 23 de setembro de 2012

In-sermão-nação artificial


Um pouquinho de humor judaico para variar (e relaxar):
Numa grande cidade da Flórida, o rabino local desenvolveu uma ótima reputação pelos seus sermões, tanto que toda a comunidade se reunia aos sábados para ouvi-lo.

Infelizmente, num fim de semana um membro da congregação teve que ir a Long Island para o Bar Mitzvah de seu sobrinho.

Só que ele não queria perder o sermão do rabino. Então ele decidiu contratar um goy [não-judeu ou gentio] para ir à sinagoga e gravar o sermão para que ele pudesse ouvi-lo quando voltasse.

Outros membros da comunidade viram o que estava acontecendo e decidiram também contratar "goyim" [plural de goy] para gravar o sermão, de maneira que eles poderiam jogar golfe em vez de ir à sinagoga.

Depois de algumas semanas havia cerca de 500 gentios na sinagoga gravando o rabino. Percebendo isso, ele resolveu dar o troco.

Nos sábados seguintes, ele - também - contratou um goy que trouxe um aparelho para reproduzir o seu sermão pré-gravado.

Testemunhas dizem que este foi o primeiro caso na história de "in-sermão-nação artificial".
E se a moda pega?



sábado, 22 de setembro de 2012

Novo arcebispo de Teresina diz que celibato pode acabar

O novo arcebispo piauiense já chegou causando, ainda que falando sobre temas que são mais polêmicos fora da Igreja Católica do que dentro dela. A notícia é da Folha de S. Paulo:

Novo arcebispo diz que papa não é infalível e que padre deveria casar

SERGIO FONTENELE

Recém-nomeado arcebispo de Teresina (PI), dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho, 65, diz que o discurso do papa "não é infalível". E, segundo o religioso, "o fato de que, para ser padre, precisa ser também celibatário, é uma disciplina da Igreja [Católica] que pode mudar".

A opinião se choca com recentes declarações de Bento 16 a sacerdotes reformistas que desejam tanto a ordenação de mulheres como o fim da proibição do casamento de religiosos. O papa se refere ao celibato como "imprescindível" e, a essa ala contrária, como "desobediente".

"O papa não é infalível quando fala tudo. A Igreja tem a convicção de que ele é infalível quando fala de fé e moral", afirma dom Jacinto.

Para ele, a mudança de opinião em relação ao celibato é alimentada por vários segmentos da Igreja. "Isso é um desejo de muitos bispos."

"O espírito vai soprar na Igreja, e o papa tomará uma decisão oficial, conjunta, de dar as duas alternativas para o Ocidente", diz, sobre a opção de ser ou não celibatário.

O arcebispo lembra que há padres casados na Igreja. "No Oriente cristão católico há padres casados. Isso não é estranho. A Igreja sempre teve padres casados."

O arcebispo de Teresina diz que "recentemente o papa Bento 16 acolheu padres que saíram da Igreja Anglicana, com suas famílias, e se tornaram católicos". E afirma que existe espaço para que essa mudança seja aceita.

Ligado à Teologia da Libertação, linha que nos anos 80 ligava o catolicismo ao marxismo, dom Jacinto se considera um religioso que defende uma renovação de ideias.



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A religião do facebook

Internamente, o facebook funciona como uma religião, segundo uma ex-empregada. E para o público externo, será que já chegou a esse patamar? A matéria (com detalhes interessantíssimos sobre a privacidade online) é do caderno Link do Estadão:

Reino de engenheiros

No Facebook o importante é a evolução a qualquer preço, diz ex-funcionária

Diogo Antonio Rodriguez

SÃO PAULO – Em 2005, o Facebook não era mais do que um amontoado de mesas e computadores em um endereço comercial em Palo Alto, Califórnia. Os usuários ainda se resumiam a algumas dezenas de milhões e o ambiente tinha de uma certa precariedade.

Funcionária número 51 da empresa, Katherine Losse e todos os seus colegas usavam a mesma senha para administrar o site – algo impensável hoje, com centenas de milhões de perfis e ações em jogo na bolsa de valores.

Os bastidores desse ambiente estão no livro escrito por Katherine Losse e lançado no fim de junho dos EUA. Em The Boy Kings: A Journey into the Heart of the Social Network (Os meninos-reis: uma jornada ao coração da rede social, ainda inédito no Brasil), a história do Facebook é contada pela perspectiva de Losse, uma mulher formada em letras no meio de homens meio meninos fascinados por engenharia.

A primeira função de Losse, em 2005, foi responder a e-mails de usuários. Quando saiu, em 2010, sua função era redigir os textos assinados por Zuckerberg.

Ela viu o Facebook passar de um pequeno escritório a um império na internet. Sua contribuição foi coordenar a tradução para línguas, como japonês, italiano e espanhol.

O tempo lhe mostrou as peculiaridades de Mark Zuckerberg. Não demorou até que percebesse que havia um caminho mais fácil para conseguir respeito e sucesso. “Minhas preocupações no começo tinham a ver a com o fato de que era difícil para alguém progredir no Facebook se não fosse engenheiro”, disse em entrevista ao Link.

Esta era também a filosofia de negócios: “Na visão de Mark e de alguns engenheiros, o crescimento rápido e irrestrito da plataforma era bom porque provava que, no Facebook, o desenvolvimento técnico, e não os desejos do marketing ou dos usuários, era o rei”, afirma no livro.

O feed de notícias, por exemplo, foi incorporado sem aviso. Milhões viram expostos seus relacionamentos, fotos e curtidas. Katherine leu milhares de e-mails raivosos. Mais importante era evoluir a qualquer preço.

Losse observa: “Mark tem sido claro em suas declarações públicas. Ele acredita que o mundo vai na direção de ser um lugar mais ‘aberto’ e menos privado, e ele quer que o Facebook participe desse movimento”. A ambição de Zuckerberg é criar uma enorme “lista telefônica” mundial, queiram as pessoas estar nela ou não.

Os perfis “obscuros” – de pessoas que não estavam no Facebook, mas eram marcadas por amigos em fotos – são prova disso. No livro, Losse conta que a ferramenta foi criada em 2006 porque os funcionários da empresa “estavam convencidos de que o Facebook era algo que todos deveriam ter”. E os perfis ficavam escondidos.

A ideia de alguém que não quisesse estar na rede era estranha para eles. “O Facebook era nossa religião e acreditávamos que todos deveriam ser usuários, mesmo que ainda não tivessem consentido”, escreve ela.

As primeiras cobaias das novidades eram justamente os funcionários, que faziam testes em seus próprios perfis: “A ideia de trabalhar no Facebook era participar da construção desse mundo social virtual, então testar o produto era parte disso. Não havia muitas fronteiras entre a vida pessoal e o trabalho”, diz Losse.

Em relação à privacidade, a mensagem é clara: “se você espera que o Facebook continue muito privado, talvez tenha uma expectativa errada a respeito do site”, avisa.

Fora da empresa desde 2010, ela diz que tem boas lembranças daquela época, apesar de “não sentir saudades”. Seu único vínculo com o ex-patrão é, claro, um perfil no Facebook.



Arte do Vaticano começa a ser exibida hoje em SP


Se você mora em São Paulo ou estará de passagem pela capital paulista nos próximos meses, não pode deixar de visitar a mostra "Esplendores do Vaticano" na Oca do Parque do Ibirapuera.

A exposição começa hoje e está programada para durar 6 meses, sendo que nos 4 meses seguintes deverá brindar o público carioca no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro.

Serão exibidas várias obras de arte da coleção do Vaticano, muitas desconhecidas até pelos turistas que vão a Roma, com direito a conhecer um pouco mais de Michelangelo.

O preço do ingresso é salgado (44 reais), mas não deixa de ser um ótimo programa para quem quer investigar como arte e cristianismo se imbricaram ao longo da história.

Mais detalhes você confere na página dos "Esplendores do Vaticano"



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Os profetas mineiros que a Inquisição matou

Eita terrinha que tem profetas como Minas Gerais, viu.... a tradição vem de longe, segundo informa o blog História Viva:

De Minas para a morte

Dois profetas saídos das Gerais não conseguiram se livrar da execução, mesmo com previsões otimistas para Portugal

Adriana Romeiro

Lugar de riquezas minerais, Minas Gerais foi também um solo especialmente fértil para as profecias. Lá surgiram dois profetas que pagariam com a própria vida o preço de suas convicções religiosas nada comuns. O primeiro deles foi o padre Manuel Lopes de Carvalho, que nasceu na Bahia em 1682, mas acabou se transferindo para Minas em 1717, quando virou pároco da pequena Vila do Ouro Branco. O outro foi o português Pedro de Rates Henequim, que chegou às Gerais por volta de 1702 e lá permaneceu por quase vinte anos, vivendo em Sabará, Vila Rica e Itacambira.

Lopes de Carvalho percorreria um longo caminho até se transformar no profeta furioso que assombraria Lisboa. Durante anos ele frequentou o Colégio da Companhia de Jesus em Salvador, entrando em contato com os debates que agitavam os discípulos e adversários do padre Antônio Vieira. Enquanto muitos compartilhavam apaixonadamente das teses proféticas do célebre pregador, divulgando-as em obras manuscritas, outros contestavam a validade delas, acusando-o de interpretar livremente o sentido das Escrituras. E não faltaram mesmo aqueles que se determinaram a escrever a própria obra profética, propondo novas interpretações. Mas um episódio em particular o marcaria para o resto da vida: a aparição nos céus da Bahia, em fevereiro de 1698, de um “fatal cometa.” Seu professor, o jesuíta e astrônomo morávio Valentim Estancel (1621-1705), deu ao cometa a forma de uma baleia.

O evento levou Lopes de Carvalho a estudar Astronomia e a computação dos tempos, que o estimularam a realizar “várias experiências pelos mares, e pelas luas, consultando, no mesmo tempo, homens práticos marítimos”. Seus estudos levaram-no à conclusão de que a conta dos tempos estava errada, e que era preciso retornar à Igreja Primitiva. O retorno à Igreja Primitiva esteve durante séculos no centro dos movimentos religiosos que se opuseram à Igreja romana, considerada por seus seguidores uma distorção dos verdadeiros valores pregados por Cristo, que antecedera o Concílio Niceno, ocorrido no ano 325, cuja revogação permitiu a integração da Igreja oriental, do judaísmo e do cristianismo numa única religião.

Mas foi nas Minas Gerais, em 1717, que suas tendências místico-proféticas ganharam força, estimuladas pelo contato com os círculos milenaristas locais. Ao que tudo indica, ali viviam letrados especialmente interessados em profecias e vaticínios, entre os quais estavam judeus familiarizados com a cabala e com as correntes messiânicas em voga na Europa. Uma obra em especial teve um impacto profundo sobre ele: o pequeno tratado De Regno Christi in terris consummato, do jesuíta Mateus Faletti, sobre as ideias desenvolvidas por Vieira na Clavis Prophetarum. Convencido de que o final dos tempos se aproximava, o padre baiano foi para o Rio de Janeiro e embarcou para Lisboa, disposto a anunciar a todos a boa-nova sobre o advento do Quinto Império. Antes, porém, era preciso denunciar os erros da Igreja Católica, preparando o mundo para a chegada do Messias. Ele pretendia falar com o rei D. João V (1689-1750) e se encontrar com o papa.

A chegada à Corte de um padre determinado a emendar a conta dos tempos causou assombro. As profecias de Lopes de Carvalho atraíam um círculo de admiradores e letrados que incluía o cosmógrafo-mor Manuel Serrão Pimentel – o maior estudioso da geografia e da navegação da época. A Inquisição de Lisboa, que até então ignorara as denúncias, começou a se preocupar com a repercussão das ideias do visionário.

Para não ter que prender um padre nos cárceres do Santo Ofício, o que causaria escândalo e comoção, a Inquisição fez de tudo para obter a retratação de Lopes de Carvalho, apostando que ele abandonaria suas heresias em respeito à Igreja e ao rei. Teólogos e juízes foram chamados para convencê-lo dos seus erros, mas os dias iam se passando e nada parecia surtir efeito. De profeta ele passou a se apresentar como o Messias anunciado no Antigo Testamento, defendendo o judaísmo como a única e verdadeira religião. Sua missão era libertar o povo de Israel e destruir a Igreja Católica. Ao mesmo tempo, afirmava ser o filho de Nossa Senhora, e prometia a D. João V a realização de todas as promessas de Vieira, segundo as quais Portugal viveria glórias superiores às de Salomão, rei de Israel. Vencidos, os inquisidores o jogaram nos cárceres secretos do Santo Ofício.

O processo contra Lopes começou a se arrastar, mas diante da inabalável obstinação do réu, a Inquisição decidiu condená-lo à morte pelo fogo. Finalmente, em 1726, Lisboa se preparou para assistir ao auto de fé mais concorrido de todos os tempos, protagonizado por um padre judaizante. No último instante, quando já saía em procissão, o rei em pessoa dignou-se a visitá-lo, numa tentativa desesperada de evitar o escândalo. Ofereceu proteção e uma pensão em troca de sua abjuração. Convicto, o padre recusou tudo. Mas o pior ainda estava por vir. De passagem por Lisboa, o naturalista francês Charles de Merveilleux assistiu àquele fatídico auto de fé.

De acordo com seu relato, o réu foi torturado antes de morrer, tendo a pele dos dedos arrancada, em castigo por tocar com eles a Bíblia. Do alto da fogueira, cheio de ódio, amaldiçoou Portugal, exclamando: “É uma grande infâmia e uma enorme vergonha tratar deste modo a um homem que morre por afirmar que há um Deus verdadeiro. Deus vos castigará, desgraçados, por de tal maneira o ofenderdes.” 

Não tardaria para que outro profeta saído das Minas percorresse uma trajetória muito parecida com a do profeta baiano. Homem de origens modestas, mas alfabetizado, Pedro de Rates Henequim se dedicou totalmente à mineração e ao estudo das Sagradas Escrituras. Os longos anos de estudo e o contato, nas Minas, com a erudição da cultura hebraica transformariam Henequim num visionário e cabalista sofisticado, absorvido por um projeto ambicioso: a redação de um tratado, que versaria sobre a iminência do Quinto Império, a localização do Paraíso Terrestre e as teses milenaristas do padre Antônio Vieira.

Em 1722, depois de concluir o tratado intitulado Paraíso Restaurado, Lenho da vida descoberto, ele regressou a Portugal para divulgar suas profecias sobre o final dos tempos. Durante anos perambulou pelas ruas de Lisboa, espalhando suas ideias entre homens analfabetos e letrados, todos fascinados com a eloquência com que expunha sua visão de mundo. Com o crescimento do número de curiosos que o seguiam por todos os lugares, a Inquisição farejou em suas profecias a marca da heresia e da apostasia, isto é, a renúncia à fé católica. Acabou ficando quase quatro anos preso nos cárceres do Santo Ofício, submetido a interrogatórios constantes. No fim, recebeu a sentença de morte na fogueira, acusado de ser um novo criador de heresias. Na última hora, porém, retratou-se de parte de suas crenças, e a pena foi “atenuada”. Em 21 de junho de 1744, Henequim foi estrangulado em praça pública, teve o corpo queimado e os restos jogados no Rio Tejo.

Mais perturbadora do que o seu destino trágico é a visão de mundo que Henequim elaborou a partir de múltiplas referências eruditas e populares. Influenciado pela obra do padre Vieira, profetizou que o Quinto Império teria como palco não Portugal, mas o interior do Brasil, onde, junto a umas serranias, estaria localizado o Paraíso Terrestre. Retomando os antigos mitos edênicos, dizia que Adão havia sido criado no Brasil, e que os índios americanos, vermelhos como ele, eram seus descendentes. Afirmava ainda que a árvore da vida e a árvore da ciência – mencionadas no livro do Gênesis – eram, na verdade, bananeiras, em cujas folhas Adão havia escrito mensagens aos homens. Quanto aos rios do Paraíso, ele os identificava como os rios São Francisco e Amazonas.

As profecias de Henequim também anunciavam um longo período de prosperidade para os lusitanos que viviam na América. O ano de 1734 inauguraria os novos tempos, quando, segundo ele, as tribos perdidas de Israel, que andavam espalhadas por toda a América, se reencontrariam. Para ocupar o trono do último Império de Cristo, Henequim escolheu o infante D. Manuel (1697-1766), irmão mais novo de D. João V, a quem tentou convencer a vir para o Brasil, onde seria aclamado imperador da América Meridional.

A trajetória desses dois homens teve um final trágico, mas põe em evidência o deslocamento, para Minas Gerais, do vasto acervo de articulações milenaristas que prometiam a Portugal um Quinto Império de glória e sucesso, quando se realizariam os velhos vaticínios que impregnavam a cultura ibérica. Para muitos, a descoberta do ouro, no final do século XVII, assinalava o início de um novo tempo para os portugueses. Nas Minas, esse acervo de tradições profético-milenaristas conheceria uma releitura radicalmente nova, transformando homens comuns como Manuel Lopes de Carvalho e Pedro de Rates Henequim em verdadeiros profetas.

Adriana Romeiro é professora da Universidade Federal de Minas Gerais e autora de Um visionário na corte de D. João V – revolta e milenarismo nas Minas Gerais (UFMG, 2001).

Saiba Mais - Bibliografia

CANTEL, Raymond. Prophétisme et messianisme dans l’oeuvre d’Antônio Vieira. Paris: Hispano-Americanas, 1960.
GOMES, Plínio Freire. Um herege vai ao paraíso – cosmologia de um ex-colono condenado pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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