sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Martin Scorsese lança filme sobre origens do cristianismo no Japão


Sobre o tema e o livro que inspirou o filme, já publicamos aqui no blog:



O artigo abaixo foi publicado no blog Carmadélio:

‘Silêncio’, o novo filme de Martin Scorsese sobre os cristãos perseguidos no Japão

Após uma acidentada rodagem, o diretor de formação católica, apresentará em dezembro o drama de dois jovens jesuítas que vão ao Japão em busca de um missionário que perdeu sua fé após sofrer inúmeras torturas.

O diretor de cinema Martin Scorsese, finalmente irá estrear, em dezembro, seu aguardado filme Silêncio. Um filme que está na mente do cineasta desde 2004 e que contará o drama dos cristãos perseguidos no Japão dos samurais

Scorsese, de formação católica, explica que a história será protagonizada por Liam Neeson, Adam Driver e Andrew Garfield, e tratará de dois jovens jesuítas que vão ao Japão em busca de um missionário que perdeu sua fé após sofrer inúmeras torturas. Ali viverão a experiência da perseguição.

O filme, produzido pela Paramount, viveu uma rodagem muito acidentada durante as 14 semanas de filmagens em Taiwan. Segundo conta Religión en Libertad, em janeiro de 2015, um teto caiu, causando a morte de um funcionário e ferindo outros três.

O diretor baseou o roteiro do seu filme no romance Silêncio, do escritor católico japonês Shusaku Endo (1913-1997). Uma história ambientada no Japão dos séculos XVI e XVII, e que se centra principalmente no choque de mentalidades entre a espiritualidade dos jesuítas espanhóis e portugueses e o pragmatismo materialista dos japoneses.

O autor escreveu este romance após anos de estudos da literatura cristã francesa e de autores como Paul Claudel ou Emmanuel Mounier.

A perseguição de cristãos no Japão

As primeiras perseguições de convertidos japoneses aconteceram em nível local, provocadas principalmente pelos protestantes ingleses e holandeses, pelo clero budista e a nobreza. Os ataques aconteceram até 1873, chegando a se expandir por todo o império

O romance conta como os jesuítas começam a pregar no país sob o assédio das autoridades. A perseguição fez os religiosos e o padre Sebastián Rodríguez, enviado ao Japão para consolar os que ali se encontravam e julgar um padre apóstata, se colocarem a questão de se realmente valia a pena sofrer tantas desgraças, inclusive quem é verdadeiramente Jesus e o papel de Deus.

Os missionários católicos chegaram ao Japão em 1549 e embora, em um princípio, a fé cristã parecesse não tocar a comunidade nipônica, finalmente se estabeleceu no país. Em 1600, já havia 95 jesuítas estrangeiros no país (57 portugueses, 20 espanhóis, 18 italianos) e ao menos 70 jesuítas nativos do Japão.

O auge do cristianismo provocou, em 1614, o início de uma perseguição sistemática contra os cristãos e que se proibisse os padres de continuarem sua pregação. Desse momento em diante, o cristianismo entrou na clandestinidade e, segundo os historiadores, pelo menos 18 jesuítas, sete franciscanos, sete dominicanos, um agostiniano, cinco sacerdotes seculares e um número desconhecido de jesuítas nativos foram descobertos e executados.

A perseguição provocou mil mártires diretos e milhares de cristãos leigos morreram por causa de doenças e da pobreza aos sofrerem o confisco dos seus bens.

Durante 240 anos o Japão permaneceu fechado ao mundo e embora algumas comunidades tenham tentado manter o cristianismo sem contato com o exterior e sem sacerdotes, o número de católicos diminuía e iam se afastando do cristianismo.

Fonte: Actuall



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Morre Carmem Silva, a cantora gospel do "Adeus, Solidão"

(1945 - 2016)

Nos últimos anos, ela era mais conhecida por sempre aparecer nos programas da rede de televisão de R. R. Soares.

Talvez, entretanto, será mais lembrada no futuro pelo seu grande sucesso do fim dos anos 1960, "Adeus, solidão" (vídeo abaixo), em que ainda tentava uma carreira no difícil e altamente competitivo mercado da música popular:


Uma linda voz de uma mulher guerreira que se apaga, mas a lembrança e as homenagens ficam para sempre. A triste notícia é do G1:

Carmen Silva, cantora de 'Adeus solidão',
morre aos 71 anos em SP

Cantora mineira teve hit em 1969 com 'Adeus solidão', e outros sucessos.
Últimos discos foram de música gospel; ela teve insuficiência cardíaca.

A cantora Carmen Silva morreu aos 71 anos, nesta segunda-feira (26), em São Paulo, informou a assessoria de imprensa do Hospital Presidente. Ela teve insuficiência cardíaca por conta de uma embolia pulmonar e estava internada desde o dia 14 de setembro, disse a assessoria.

Carmen Silva ficou conhecida pelo hit "Adeus solidão" de 1969. Este foi seu primeiro e maior sucesso, mas ela também teve mais canções populares nos anos 70 e 80, como "Meu velho pai", "Fofurinha", "Ser sua namorada" e "Sapequinha", "Espinho na cama", entre outras.

Carmen Sebastiana de Jesus (seu nome de batismo) nasceu em Veríssimo (MG). Ela lançou 17 álbuns pela gravadora RCA Victor, e depois pela RGE, entre as décadas de 70 e 90, segundo o dicionário musical Cravo Albin.

A partir de 2001, Carmen Silva três álbuns evangélicos pelo selo Graça Music. O úlitmo foi "Minhas canções na voz de Carmen SIlva", de 2008.

A Graça Music lamentou a morte da cantora em um comunicado na página da gravadora no Twitter: "Com pesar, comunicamos o falecimento da cantora Carmen Silva. Por anos, ela fez parte do nosso casting. Que o Senhor console a família. A filha da cantora está vindo dos Estados Unidos para o enterro da mãe."



terça-feira, 27 de setembro de 2016

O papel do perdão no processo de paz da Colômbia


Ontem, 26 de setembro de 2016, foi um dia de júbilo para a humanidade, para a América Latina em especial e para a linda Colômbia em particular.

Vestidos de branco, mais de 2 mil autoridades de todos as procedências do mundo presenciaram - em Cartagena de las Indias - a assinatura do tratado de paz entre o governo colombiano e as FARC, pondo fim a um conflito que durou 52 anos, dizimando mais de 260 mil pessoas.

No meio de tanta dor, é possível perdoar? Como fica o perdão tanto do ponto de vista individual como coletivo?

O processo de mediação e entendimento no caso colombiano pode ser replicado mundo afora?

O excelente artigo abaixo, publicado no Estadão de ontem, talvez nos ajude a procurar (e encontrar) as respostas:

‘Prefiro as Farc no Congresso do que causando dor'

Mulher de deputado morto pela guerrilha conta como foi ouvir pedido de perdão e pede apoio ao acordo de paz

"Prefiro ver as Farc no Congresso, transmitindo suas visões por meio de palavras e debates do que vê-las no campo atirando e causando mais dor." Essa é a opinião de Fabiola Perdomo, mulher de um dos 11 deputados de Valle de Cauca sequestrados pela guerrilha em 2002. Como parte do processo de paz, há duas semanas, as Farc pediram perdão pela primeira vez e assumiram total responsabilidade pela morte dos deputados, ações que levaram Fabíola a ter certeza de que a guerrilha mudou e a decidir fazer campanha pelo "sim" no plebiscito de 2 de outubro para saber se a população ratifica o acordo.

Em entrevista ao Estado por telefone, Fabíola relembra os cinco anos que lutou pela vida do marido, Juan Carlos Narváez, e como foi ouvir que ele estava morto. A seguir, a entrevista:

A senhora acreditava em um acordo de paz?

Sempre esperei isso. Sou desses colombianos que acreditavam que a única forma de solucionar o conflito interno era por meio de uma negociação política, do diálogo, pois temos certeza de que o que se consegue pela força, só se mantém pela força. Tivemos muitas dúvidas, principalmente nos anos de radicalização das Farc, quando sequestraram meu marido, tínhamos um governo que só via a guerrilha de forma intransigente e possível de combater militarmente. Quando o atual presidente começou a trabalhar nisso (negociações de paz), fiquei muito feliz de ver que poderia haver um caminho diferente. Aí não duvidava de que chegaríamos a uma saída.

Como foi ouvir o pedido de desculpas das Farc?

Muito doloroso, mas antes de nos pedirem perdão pudemos fazer o que queríamos havia muito tempo: transmitir nossa dor, reclamar por todo o mal que nos causaram e mostrar os danos que sofremos. Foi um encontro de mais de 3 horas e, antes de pedirem perdão, nos disseram a verdade, responderam às perguntas que tínhamos. Depois veio o pedido, o clamor por perdão por parte do secretariado das Farc às famílias dos deputados de Valle de Cauca. Foi um momento muito doloroso, de muitas lágrimas, que ficará gravado na nossa memória, mas que também foi de esclarecimento para as vítimas. Perdoar não é apenas perdoar os que fizeram o mal, é nos dar o direito, como vítimas, de tirar dúvidas, nos livrar do rancor, do ressentimento. Hoje posso dizer que estou trabalhando a dor, posso começar a fechar esse capítulo, o que não pude por 14 anos porque não tinha respostas.

Hoje a senhora pode dizer que finalmente conhece a verdade sobre tudo o que aconteceu?

Posso dizer que 90%. Faltam esclarecer questões que eles (Farc) ainda precisam explicar e, para isso, pediram uma nova reunião em algumas semanas para terem todas as informações. Mas só o fato de ter visto a mudança de atitude de uma guerrilha que deixou de ser arrogante e desumana, que sentiram vergonha diante de nós e suplicaram nosso perdão, para mim já é suficiente.

O que falta ser sanado?

Duas coisas. Nos encontramos com os comandantes do sequestro, mas queremos encontrar quem deu a ordem para disparar os tiros. Para reconstruir a memória de nossos parentes, queremos saber o que ocorreu, como eles viviam. Também pedimos para ter de volta qualquer pertence de nossos maridos que ainda estejam em posse das Farc, como diários, artefatos. Queremos fechar esse capítulo.

Como foi apertar a mão do homem que planejou o sequestro de seu marido?

Decidi fazer isso, principalmente, em homenagem ao meu marido, que foi um grande homem. E fiz isso contando a eles (Farc) quem foi esse homem que mataram, que tiraram de mim. Poder fazer isso foi uma forma de reivindicar o nome do meu marido e mantê-lo na memória de todos, pois quem é mantido na memória nunca morre. Depois das conversas, um padre nos convidou a rezar uma missa e nesse momento tomei a decisão de dar as mãos a Iván Márquez e Catatumbo, me coloquei no meio dos dois, e durante toda a oração eu entreguei as palavras ao meu marido. Todos os pedidos de perdão entreguei a ele, para ele descansar e eu me despedir. Foi doloroso ter a mão dada a quem ordenou a morte de nossos parentes, foi um momento mais do que simbólico, foi um momento de grande nível espiritual, que nos permitiu sentir de verdade o perdão.

A senhora os perdoou depois do encontro?

Acredito que já os havia perdoado, faltava terminar algo que estava inacabado, que é o sofrimento. A dor é inevitável, vou carregar por toda minha vida. Hoje não tenho raiva, ódio, rancor, só uma dor enorme.

Como foi o sequestro de seu marido?

Foi em 2002. Ele era presidente da Assembleia departamental. Naquele dia, 12 deputados chegaram mais cedo para a sessão e estavam trabalhando quando a guerrilha entrou, disfarçada de Exército, dizendo que precisava esvaziar o local porque havia uma bomba. Eles entraram em uma espécie de van, mas não era o Exército. Ficaram em cativeiro por cinco anos e dois meses. Lutamos por cinco anos pela vida deles, por sua liberdade. Minha filha tinha 2 anos quando levaram meu marido. Após cinco anos mataram meu marido, em uma confusão entre eles mesmo, um confronto entre duas frentes. Eles (Farc) assumem toda a responsabilidade, não só porque foram incapazes de protegê-los, mas também porque foi com balas da mesma guerrilha que os mataram.

A senhora recebia notícias de seu marido nesses cinco anos?

Sim. A cada seis meses, nos chegavam provas de sobrevivência. Eram sempre vídeos com cerca de dois minutos para cada deputado falar com a família. Era principalmente para mostrar que estavam vivos. Eles aproveitavam o espaço para nos fazer perguntas, declarar seu amor e, claro, pedir ao governo uma solução.

A senhora se lembra de como recebeu a notícia da morte de seu marido?

Sim. Estava dormindo quando um jornalista me ligou e perguntou 'já viu a notícia de Ancol (uma espécie de agência das Farc)?'. Disse que não e perguntei se havia mais provas de sobrevivência. Então ele me disse 'não, mataram 11 dos 12 deputados'. Eu lhe perguntei 'Juan Carlos está vivo?' e ele me disse que não. Nesse momento senti que meu chão se abria, que tudo estava perdido e os cinco anos de luta haviam sido inúteis.

Como contou para a sua filha?

Foi doloroso. Me fechei em um banheiro chorando e não sabia que ela estava me escutando. Há pouco ela contou que me escutou dizendo a parentes por telefone 'mataram Juan, mataram Juan'. Essas foram as palavras que minha filha se lembrará por toda vida.

O que a senhora pensa agora das Farc ingressarem na vida política?

Prefiro ver as Farc no Congresso, transmitindo suas visões por meio de palavras e debates do que vê-las nos campos atirando, causando mais dor, mais sofrimento, deixando mais órfãos e mutilados nesse país. Acho que devemos dar a eles essa oportunidade e merecemos isso como colombianos. O dano que nos causaram é tão grande que estamos dispostos a ceder à justiça em troca de que não repitam as ações. A não repetição é o melhor incentivo para que as vítimas apoiem esse processo de paz.

Hoje qual é a sensação de fazer campanha pelo sim no plebiscito?

Sentimos que há esperança, que mesmo as pessoas que não acreditavam no processo (de paz) e tinham muitos questionamentos começaram a acreditar, começaram a ver a mudança de atitude das Farc e entender que o processo foi construído milimetricamente, inclui muitos setores do país, desde as vítimas, passando pelos grupos étnicos, setores empresariais e militares. Acredito que seja um acordo sério, responsável e possível. Há uma grande esperança de que esse país mude e possamos virar a página da guerra, do terror, e começar a escrever uma nova página de esperança, perdão, acordo.



segunda-feira, 26 de setembro de 2016

STF quer julgar possibilidade de aborto em casos de zika até o fim do ano

A informação é da Agência Brasil:

STF pode julgar aborto para grávidas com zika este ano, diz Cármen Lúcia

Michèlle Canes

A possibilidade de aborto para mulheres infectadas pelo vírus Zika pode ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ainda este ano. A questão foi levada à Corte em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) da Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep), que questiona as políticas públicas do governo federal na assistência a crianças com microcefalia, malformção provocada pelo vírus.

A previsão de julgamento foi feita hoje (23) pela presidente do STF e relatora da ação, Cármen Lúcia, em conversa com jornalistas. “Chegou da procuradoria [Procuradoria-Geral da República] e agora tem a medida cautelar. Estou trabalhando nisso. Esse é um caso sério. Acho que dá [para julgar este ano], mas não sei. Ontem julgamos bem, julgamos oito processos, depende muito”, disse a ministra, referindo-se à pauta da Corte.

No começo de setembro, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF parecer favorável à autorização do aborto para gestantes com o vírus Zika, que pode causar microcefalia nos bebês.

“A continuidade forçada de gestação em que há certeza de infecção pelo vírus da zika representa, no atual contexto de desenvolvimento científico, risco certo à saúde psíquica da mulher. Ocorre violação do direito fundamental à saúde mental e à garantia constitucional de vida livre de tortura e agravos severos evitáveis”, escreveu Janot no parecer.

Em 2012, o STF julgou uma ação levada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS) sobre aborto em caso de anencefalia do feto. Por maioria dos votos, a Corte decidiu que a mulher pode interromper a gestação em caso de fetos anencéfalos.

Perguntada sobre semelhanças entre as ações sobre anencefalia e microcefalia, Cármen Lúcia disse que a discussão é muito diferente. “É outra coisa. É completamente diferente. Acho que é mais delicado até por causa do momento que estamos vivendo, em que aconteceu isso e que a sociedade quer participar”, disse.

Planos econômicos

Durante a conversa com os jornalistas, Cármen Lúcia também falou sobre a previsão de julgamento da ação que pede o pagamento da correção de planos econômicos da década de 1990. “Estou trabalhando na pauta agora. Primeiro limpando a pauta no sentido de ver o que realmente tem em cada tema e tentando juntar os temas. É claro que esse [correção dos planos] é um tema superimportante que tenho que considerar e estou tentando fazer isso junto com os relatores”, disse.

Peguntada sobre a presença de mulheres em altos postos do Judiciário, a presidente do STF disse que cada vez mais mulheres estão conquistando cargos importantes, em diversas áreas, e destacou a nomeação da nova ministra da Advocacia-Geral da União (AGU), Grace Maria Fernandes Mendonça, primeira no cargo.

“É a primeira vez que nós temos uma advogada-geral da União, no entanto, todos já viram a Grace nos últimos 16 anos assumir todas as grandes causas. É bacana ver isso, que ela chegou por mérito.”

Apesar de considerar que houve um avanço com relação às mulheres na sociedade, a ministra reconhece o problema da desigualdade de gênero. “O preconceito contra a mulher na sociedade ainda é muito forte, e eu acho que é uma pena, porque pessoas que podiam conviver e até notarem que as duas visões de mundo, feminina e masculina, se completam muito”.

Cármen Lúcia tomou posse como presidente do STF no último dia 12 e terá mandato de dois anos. Ela substituiu o ministro Ricardo Lewandowski.



domingo, 25 de setembro de 2016

A estranha associação de boa memória com colesterol alto no seu cérebro


Matéria intrigante publicada no El País:

Colesterol, a arma secreta do cérebro para preservar a memória

Cientistas espanhóis comprovam em ratos que essa molécula poderia prevenir os sintomas da demência e o Alzheimer

NUÑO DOMÍNGUEZ

Uma de cada três pessoas sofrerá de demência ao longo de sua vida. A perda progressiva da memória é uma das consequências mais frequentes do envelhecimento e se deve a uma longa relação de alterações que ocorrem no encéfalo e que se acumulam com o passar do tempo. Entre elas está a morte de neurônios causada pelo Alzheimer, a variante mais comum de demência, a mais difícil de combater e uma das maiores ameaças enfrentadas pela nossa civilização.

Um novo estudo de pesquisa básica acaba de descobrir uma outra possível causa para a perda da memória e aponta um aliado que poderia ser capaz de resgatá-la: o colesterol.

O excesso de colesterol ruim (LDL) no sangue faz aumentar o risco de infarto e outras doenças cardiovasculares fatais. Mas o cérebro produz o seu próprio colesterol, e, dentro desse órgão, ele é essencial para manter os neurônios vivos e saudáveis.

Cada vez que uma recordação é formada, os neurônios acionam determinados genes para fixá-la. Para isso, precisam ter colesterol o suficiente na parte exterior de sua membrana. Como um óleo que lubrifica uma máquina, o colesterol funciona como um transmissor dos sinais externos necessários para ativar os genes. A presença dessa molécula no encéfalo tende a diminuir com a idade, e as pessoas idosas, sejam saudáveis ou atingidas pelo Alzheimer, costumam apresentar taxas de colesterol cerebral inferiores ao normal.

Nesse novo estudo, publicado em Cell Reports, a equipe de Carlos Dottino, pesquisador do Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa, de Madri, demonstra o papel fundamental desempenhado por essa molécula para a manutenção da memória em bom estado. Os ratos mais velhos possuem taxas de colesterol baixas demais no hipocampo, uma área do cérebro relacionada à memória. Os cientistas demonstram que, quando se aplica uma substância que impede a perda de colesterol no encéfalo, a memória dos roedores mais velhos melhora significativamente. Isso poderia abrir um novo caminho para a melhora da memória em pessoas idosas.

“Acreditamos que essa descoberta pode avançar para a clínica”, explica Dotti ao EL PAÍS. “Normalmente, seriam necessários muitos estudos” sobre a substância utilizada no trabalho, mas, neste caso, “muitas delas já estão disponíveis, pois a droga em questão já foi aprovada, e se trata do voriconazol”. Esse medicamento, que leva o nome comercial de Vfend e é produzido pela Pfizer, é usado para combater infecções por fungos em pessoas com o sistema imunológico muito fragilizado, como as que acabam de receber um transplante ou que contraíram aids.

Por acaso, a equipe acabou por descobrir que essa substância também inibe uma enzima responsável pela eliminação do colesterol dentro do cérebro e cuja atividade é acelerada com o passar dos anos. Nos animais estudados, o medicamento inibe esse efeito negativo da idade e permite que todo o colesterol necessário seja preservado, e, com ele, a memória. O próximo passo, comenta Dotti, “seria testar o medicamento em animais mais parecidos com os humanos, cães ou macacos”, e comprovar se também nesses casos a capacidade cognitiva é resgatada.

O risco das estatinas

“Trata-se de um estudo em ratos. Por isso, é preciso vê-lo com cautela. Mas, de todo modo, é uma demonstração de que o colesterol não é o inimigo público número um”, avalia Félix Viñuela, coordenador do Grupo de Estudos de Neuropsicologia da Sociedade Espanhola de Neurologia. O pesquisador destaca a importância dos estudos de ciência básica com ratos, como neste caso. A grande maioria acaba não sendo reproduzível em humanos, admite ele, mas alguns são, como ficou evidenciado recentemente com um anticorpo que poderia combater o Alzheimer em pacientes e que começou a ser testado em ratos há vários anos.

Outro aspecto importante do estudo está relacionado a um tipo de medicamento que é consumido diariamente por milhões de pessoas na Espanha. Hoje em dia, os medicamentos mais utilizados para diminuir o chamado colesterol ruim são as estatinas. Esses compostos são eficazes, mas poderiam ser responsáveis também por efeitos colaterais não previsto inicialmente. Recentemente, a agência de medicamentos dos EUA alertou para o fato de que certos pacientes que ingerem estatinas podem sofrer perda de memória e uma deterioração cognitiva por razões desconhecidas.

“Existem estatinas que são capazes de passar da corrente sanguínea para o cérebro”, explica Dotti, destacando que é possível que essas drogas estejam diminuindo os níveis de colesterol normais no encéfalo e danificando, assim, a memória dos pacientes.

Viñuelas, que não participou diretamente do estudo, mas que irá coordenar um teste com o anticorpo experimental contra o Alzheimer no Hospital Universitário Virgem de Macarena, em Sevilha, concorda: “As estatinas salvaram vidas controlando o colesterol patológico, mas também podem ter um lado negativo”. “Talvez devêssemos nos colocar a possibilidade do uso de estatinas que não sejam capazes de cruzar a barreira de proteção hemato-encefálica”, sugere.



sábado, 24 de setembro de 2016

Vem aí seriado de TV sobre Jim Jones

Para quem quiser se informar melhor sobre quem foi o facínora Jim Jones, sugerimos a leitura dos seguintes artigos que já publicamos aqui:



A matéria abaixo foi publicada no UOL Entretenimento:

Criador de “Breaking Bad” fará série sobre líder de culto religioso suicida

Vince Gilligan resolveu sair de Albuquerque para outro interior dos Estados Unidos, contar mais uma saga de ascensão de uma figura sombria. Depois de firmar seu nome como autor da aclamada série Breaking Bad, universo em que ele ainda burilou por duas temporadas, na série filhote Better Call Saul, o produtor resolveu contar a história de uma das figuras mais controversas do século passado: o líder religioso Jim Jones.

De acordo com o site Deadline, a série, que terá um número limado de episódios, será produzida por Gilligan, sua parceira de Breaking Bad Michelle MacLaren e a atriz Octavia Spencer, dona dos direitos de adaptação do livro Raven: The Untold Story of Jim Jones and His People, escrito pelo jornalista Tim Reiterman, que sobreviveu ao massacre. Será a primeira produção de Gilligan na HBO, que MacLaren, que dirigirá a série, já conhece por ter dirigido episódios de Game of Thrones.

O norte-americano Jim Jones é um dos personagens mais sinistros da história dos cultos religiosos do século passado, mas sua personalidade sombria floresceu depois de começar como um carismático líder bem intencionado. Sua escalada para a fama começou com a criação de sua própria igreja, o Templo dos Povos, que começou sua história no estado de Indiana, migrou para São Francisco na Califórnia e finalmente para a Guiana, aqui na América do Sul, onde fundou sua própria colônia, Jonestown, que no final dos anos 70 foi palco para um macabro suicídio coletivo de quase 1000 pessoas, entre elas mais de 300 crianças, todos envenenados. Fica a dúvida se a série mostrará o tempo em que Jones passou pelo Brasil, no início dos anos 60, quando escolheu Belo Horizonte como a melhor cidade para fugir de um ataque nuclear, que ele estava certo que aconteceria naquela década, para depois mudar-se com seu culto para o Rio de Janeiro, onde atuou junto às comunidades das favelas cariocas.



sexta-feira, 23 de setembro de 2016

STF equipara paternidade afetiva à biológica

A matéria é da Agência Brasil:

STF decide que pais biológicos e afetivos têm as mesmas obrigações com filhos

André Richter

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu hoje (21) reconhecer que pais biológicos devem cumprir suas obrigações judiciais mesmo se os filhos forem criados pelos pais afetivos. Com a decisão, a Corte reconheceu a dupla paternidade de filhos e entendeu que pais biológicos a afetivos têm as mesmas obrigações.

No julgamento, por oito votos a dois, os ministros seguiram voto do relator, Luiz Fux. O ministro entendeu que é possível o reconhecimento de outro tipo de paternidade que não deriva do modelo tradicional de casamento.

Para Fux, o reconhecimento da paternidade biológica e afetiva, simultaneamente, somente poderia ser rejeitada no caso de abandono do pai biológico.

“A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, salvo nos casos de aferição judicial do abandono afetivo voluntário e inescusável dos filhos em relação aos pais”, disse o relator.

Durante o julgamento, o ministro Gilmar Mendes classificou a tentativa do pai biológico de se eximir das obrigações legais de "cinismo".

"A mim me parece que isso é um grande estímulo à ideia de paternidade irresponsável. A mim me parece que é a dose de cinismo manifesta", afirmou Mendes.

Para a presidente do STF, Carmen Lúcia, "amor não se impõe, mas cuidado, sim. Segundo a ministra, o direito ao cuidado é assegurado no casos de paternidade e maternidade.

"Alguém que cuidou com afeto, cuidou muito mais e foi muito mais pai, às vezes, do que este outro. No entanto, o que nós estamos decidindo aqui não é por um ou por outro, mas pelos deveres decorrentes da paternidade responsável", argumentou a ministra.

A decisão do Supremo afetará pelo menos 35 ações que tratam do mesmo assunto e aguardavam a manifestação da Corte para serem concluídos.

Edição: Armando Cardoso



quinta-feira, 22 de setembro de 2016

1/3 dos brasileiros acredita que mulher atraente provoca estupro

Confira o surpreendente resultado da pesquisa publicada no HuffPost Brasil:

Um em cada três brasileiros acredita que 'a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada'

A pesquisa Datafolha encomendada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e divulgada nesta quarta-feira (21) revelou que um em cada três brasileiros concorda com a afirmação de que "a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada".

O levantamento mostrou também que a porcentagem de concordância com a frase é a mesma entre homens e mulheres: 30%. Foram ouvidas 3.625 de pessoas com 16 anos ou mais, e a margem de erro é de dois pontos percentuais.

A percepção de que a mulher que usa "roupas provocativas" é culpada caso sofra um estupro é maior entre pessoas que têm apenas o ensino fundamental (41%), moradores de cidades de até 50 mil habitantes (37%) e pessoas acima dos 60 anos (44%).

Essa convicção tem menos apelo entre os que possuem ensino superior (16%) e têm até 34 anos (23%).

Outra frase apresentada aos entrevistados foi “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, com a qual 37% dos entrevistados concordaram. Nesse caso, o índice foi maior entre os homens (42%) do que entre as mulheres (32%).

A cada 11 minutos uma mulher é violentada no Brasil, apontam dados recolhidos pelo FBSP com as secretarias de segurança pública de todo o país. Elas correspondem a 94% das vítimas de estupro no Brasil, segundo dados do Ipea.

Não é à toa que a pesquisa também revelou que 85% das mulheres têm medo de serem estupradas. O índice sobe a 90% no Nordeste.



quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Família judia "adota" refugiado muçulmano em Berlim

Família Jellinek em Berlim:
o cachorro meio deslocado na foto
é só um detalhe...
Uma história real (e quase inacreditável nos dias de hoje) sobre amor, respeito, rejeição de valores desumanos atuais e herdados do passado obscuro, além de tolerância, publicada no Estadão de 11/09/16:

Família judia abriga refugiado sírio em Berlim

Filho e neto de nazistas, Chaim Jellinek e sua mulher, Kyra, apostam em colaborar com integração de imigrantes como solução para ‘crise’

Adriana Carranca

As cenas da massa que chegou à Europa por mar e atravessou suas fronteiras em trens lotados, a pé por trilhos e campos, dormindo ao relento, no último ano, compõem o retrato do maior êxodo desde a 2.ª Guerra. Essas duas pontas da História se encontraram agora no universo privado de um apartamento espaçoso no coração de Berlim. Ali, vivem o médico judeu alemão Chaim Jellinek, a mulher dele, Kyra, três dos quatro filhos do casal e, desde novembro, o jovem muçulmano Kinan, refugiado sírio que a família acolheu em casa.

Jellinek e Kyra, como Kinan hoje, tiveram suas vidas profundamente afetadas pela guerra. Mas vítimas de tragédias distintas. A família de Kyra sobreviveu ao Holocausto no gueto de Budapeste. Já o marido, Jellinek, nasceu e cresceu em uma família nazista, filho e neto de integrantes do Partido Nacional-socialista dos Trabalhadores Alemães, de Adolf Hitler. O pai lutou Operação Barbarossa, a invasão alemã da União Soviética na 2.ª Guerra.

Ele se converteu ao judaísmo e adotou novo nome quando a mulher engravidou do primeiro filho, após um longo período de revisão do próprio passado. “Perdi minha família muito tempo antes de conhecer Kyra. Chegamos a um ponto em que meu pai achava que eu deveria defender o nacional-socialismo. Ele nunca falou sobre a máquina industrial de matar pessoas montada por Hitler, não o ouvi defender o extermínio de judeus, esse não era um assunto em casa. Mas assim que passei a pensar por mim mesmo, comecei a indagar sobre o que sua geração e a do meu avô fizeram. E entendi que meu avô era, sim, um criminoso.”

Jellinek rompeu com a família e saiu de casa aos 20 anos. Quando conheceu Kyra, uma década depois, Jellinek tocava em uma banda punk e tinha se tornado um ativista antifascismo “sem nenhum pensamento religioso”. A gravidez do primeiro filho trouxe de volta fantasmas do passado. “Comecei a pensar no significado da família e no que gostaria de deixar para os filhos”, diz. Foi então que decidiu se converter à religião dela. “Porque o maior símbolo do judaísmo é a família”, diz.

Ele reencontrou o pai apenas uma vez, quando estava morrendo. “Mas já não havia mais conexão entre nós. Nada.” Ao olhar para trás, hoje, julga-o também como vítima. “Ele foi abusado psicologicamente e teve a juventude roubada pelo meu avô e pelos nazistas.”



terça-feira, 20 de setembro de 2016

Bastião do moralismo, Colégio Pedro II do RJ libera saias para garotos

A notícia foi publicada no Estadão de 19/09/16:

Colégio Pedro II, no Rio, libera saia para meninos

Colégio tradicional aboliu a distinção entre uniformes e já adota nome social na chamada

Clarissa Thomé

O tradicional Colégio Pedro II, escola federal fundada em 1837, não tem mais uniformes masculino e feminino. Na prática, o uso de saias está liberado para os meninos. Em 2014, estudantes fizeram um “saiato”, depois que uma aluna transexual vestiu a saia de uma colega e teve de trocar o uniforme. Desde maio deste ano, o Pedro II adota na lista de chamada o nome social escolhido por alunos e alunas transexuais.

Portaria publicada em 14 de setembro lista o uniforme, sem distinguir que peças são para uso masculino ou feminino. Anteriormente, as meninas deveriam usar saia e camisa branca com viés azul e os meninos, calça de brim e camisa totalmente branca.

“Não se trata de fazer ou não distinção de gênero. Trata-se de cumprir resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (órgão ligado ao Ministério da Justiça). Eu apenas descrevo as opções de uniforme; deixo propositalmente em aberto, para o uso de acordo com a identidade de gênero”, afirmou o reitor Oscar Halac.

Ele reconhece que a decisão pode “causar certo furor” pelo fato de o Pedro II estar entre as escolas mais tradicionais do País. “Tradição não é sinônimo de anacronia. Mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar”, disse.

De acordo com o reitor, a medida tem ainda o objetivo de “contribuir para que não haja sofrimento desnecessário” entre estudantes transexuais e levantar a discussão sobre tolerância e o respeito às diferenças. “A escola pública precisa sinalizar que é hora de parar de odiar por odiar.” Nesta segunda, não havia alunos de saia ou meninos e meninas que tenham trocado camisas nas unidades do Centro e zona sul. Halac disse acreditar que serão poucos os que adotarão saias. “Aqui dentro eles estão seguros. Lá fora, ainda não.”

Reações. De acordo com o reitor, não chegou à direção qualquer reação negativa de pais de alunos. O manobrista Afonso Marcelo, de 50 anos, pai de uma aluna de 12, no 6.º ano da unidade Centro, não gostou da mudança. “Saia? Pelo amor de Deus. Aí é demais”, comentou. Já a professora Ana Lúcia Pereira, de 49 anos, mãe de estudante também do 6.º ano, elogiou a medida. “Se o aluno se sente à vontade de saia ou de calça, não é isso que vai interferir na qualidade do ensino nem no caráter.”

As estudantes do 3.º ano Fabíola Lopes, de 19 anos, e Georgia Gusmão, de 17, elogiaram a mudança. “A quebra dessa distinção de uniforme para menino e para menina permite a inclusão das pessoas que não se identificam com esse ou aquele gênero”, disse Fabíola.

O Pedro II tem 13 mil alunos. De acordo com Iracema Cruz, integrante de uma das quatro comissões de pais e responsáveis, a edição da portaria foi feita depois de um longo processo. “Essa portaria atende a um anseio dos próprios alunos de poderem usar os uniformes com que se sentem à vontade.”



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Como os escoceses reagem ao haka do rugby neozelandês?


Veja na divertida propaganda abaixo:





domingo, 18 de setembro de 2016

"Gringo é a mãe!"


É o que diz o artigo abaixo, do ótimo repórter e correspondente da BBC no Brasil, Tim Vickery*, publicado - não por acaso - na BBC Brasil:

Tim Vickery: Está na hora de os brasileiros deixarem de usar a palavra 'gringo'

O jornalista sacudiu a cabeça num gesto de decepção. Belga de raízes indianas, ele estava no Rio, uma cidade onde já tinha morado, para cobrir os Jogos Olímpicos. "A imprensa aqui", ele me contou, "ainda usa a palavra 'gringo'."

"Pois é," respondi. "Isso foi parar na capa de uma revista importante. Na capa! Parece que nem sediando os megaeventos a ficha caiu."

Lembro-me de uma gravação que tocava no metrô do Rio durante a Copa do Mundo de 2014, nas estações de Copacabana. "Levanta a torcida brasileira!", gritava o infeliz, "levanta a torcida gringa!" Bem, se só havia dois lados na disputa, então o desempenho da seleção brasileira, que terminou em quarto, foi pior do que eu pensava.

Antigamente, eu achava que o jornalista que fazia uso da palavra "gringo" deveria ser banido da profissão. Hoje em dia, sob o efeito de cordialidade tropical, já pensei numa punição mais branda: o sujeito deveria ser condenado a assistir à cerimonia de abertura dos Jogos Olímpicos, repetindo e sem parar - mas somente aquela parte interminável quando os atletas do mundo todo desfilam no estádio.

A gravação só pararia quando ele finalmente deixasse de ser o idiota da aldeia e descobrisse que a humanidade é feita de diversidade, de mais de 200 nações, e que a realidade é muito mais complexa e gostosa do que uma simples divisão entre brasileiros e "não brasileiros".

Estou ciente de que muitos estrangeiros no Brasil se referem a si mesmos como "gringos". Se o desespero de se enturmar é tão grande que eles estão dispostos a abrir mão de uma identidade mais completa, só posso sentir pena.

Também estou ciente de que, na grande maioria das vezes, a palavra é empregada sem intenções pejorativas. Não adianta. Tem coisas que você pode lavar quantas vezes quiser, mas não vão ficar novas.

Um par de anos atrás eu fiz um programa de televisão com o grande jornalista Alberto Dines. Toquei nesse assunto - defendendo que a imprensa brasileira deveria parar de usar uma palavra que, além de não trazer informações específicas, estava manchada. Dines concordou e se ofereceu a escrever um artigo para um jornal que, infelizmente, não levou a proposta adiante.

A posição de Dines se baseava no conhecimento e na sua própria história. Filho de imigrantes, Dines me contou que a palavra "gringo" o fazia chorar quando criança. Fora dita contra ele num contexto xenófobo - porque, como tantas coisas no Brasil, a maneira como se usa a palavra tem suas raízes no fascismo da década de 30.

Um fascismo relativamente benigno, com um líder com cara de tio em vez de um demagogo agressivo gritando para as massas. Mas, ainda assim, um projeto de fascismo, que implicava um projeto de modernização conservador, uma tentativa de desenvolver o país sem mudar a estrutura social. Ou seja, um parque industrial avançado aliado a uma noção de hierarquia quase feudal. Embraer no país do elevador de serviço.

Como vender esse projeto de capitalismo sem conflito de classes? Como conseguir o pacto nacional necessário? Fácil. Evocar o inimigo externo - aqueles gringos, que só querem saber de explorar o Brasil!

É por isso que, mesmo saindo da boca mais suave, a palavra muitas vezes vem com um toque de hostilidade. O gozado aqui é que estamos falando de um país de imigração. Falar em "brasileiro" tem muito mas a ver com profissão do que com nacionalidade; trata-se de alguém que chegou aqui para explorar o pau-brasil. O que quer dizer que, com a exceção dos povos indígenas, gringos são sua mãe, sua avó, sua bisavó...

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick



sábado, 17 de setembro de 2016

Justiça paulista quer assegurar educação a crianças autistas


A informação é do próprio Tribunal de Justiça de São Paulo:

EM BUSCA DO PLENO ATENDIMENTO DOS DIREITOS DA CRIANÇA AUTISTA

Decisão da 6ª Vara da Fazenda Pública da Capital adota procedimento para resolver processos de execução de forma rápida e especializada

Decisão proferida pela juíza Alexandra Fuchs de Araujo, da 6ª Vara da Fazenda Pública da Capital, estabeleceu diretrizes para que as execuções contra a Fazenda do Estado de São Paulo (FESP) que pleiteiem matrícula de crianças autistas em escolas especiais tramitem de forma mais eficiente, levem em conta as peculiaridades de cada caso e sigam os parâmetros da legislação atual, que prevê a intersetorialidade no desenvolvimento das políticas voltadas para o atendimento da pessoa com transtorno do espectro autista e o estímulo à inserção no mercado de trabalho.

A decisão é oriunda da ação civil pública nº 0027139-65.2000.8.26.0053, que trata do atendimento de saúde, educacional e assistencial aos autistas, em 2001 proferida pelo juiz Fernando Figueiredo Bartoletti, da 6ª Vara da Fazenda Pública da Capital. “As adaptações realizadas na execução também têm como objetivo agilizar o atendimento aos autistas. A ideia é fazer uso de novos recursos previstos no novo Código de Processo Civil, como a possiblidade de autocomposição, e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejuscs)”, afirma a magistrada.

De acordo com a juíza, muitos exequentes, mesmo com o objetivo de proteger o autista, protocolam pedidos que podem estar em desacordo com as melhores práticas e a legislação moderna, seja para obter uma internação por prazo indeterminado, em violação ao disposto na Lei nº 10.216/01, ou para buscar uma escola especial, não inclusiva, quando ainda não foram esgotadas todas as possibilidades de inclusão, em violação ao disposto na Lei Federal nº 12.764/13.

Confira as diretrizes estabelecidas na decisão:

1) Uma vez formulado o pedido de execução, a Administração será intimada para, extrajudicialmente, e em prazo não superior a 60 dias, realizar laudo do autista por uma equipe interdisciplinar, suspendendo-se a execução;

2) Após, no prazo de 10 dias, a Administração irá propor um perfil de atendimento ao autista, de acordo com o seu caso específico; se o laudo indicar a necessidade de prestação do serviço municipal, o ente público municipal será intimado, também, para se manifestar e compor a oferta de atendimento junto com o Estado, de acordo com os recursos disponíveis na rede; caso haja aceitação, a oferta será homologada, extinguindo-se a execução.

3) Em caso de rejeição da oferta de atendimento, o autista ou seu responsável se manifestará, no prazo de 10 dias. Após, a FESP será intimada para impugnação da obrigação de fazer, prosseguindo-se judicialmente com a execução.

Alexandra Fuchs explica em sua decisão que, “para se garantir a celeridade processual, preservando-se as possibilidades de autocomposição, com o atendimento do cidadão diretamente pelo Poder Público, o ideal é que, antes de se intimar a Fazenda do Estado para que ofereça uma vaga, o Estado tenha a oportunidade de conhecer o autista, avaliá-lo e verificar qual o melhor estabelecimento para acolhê-lo, próximo à sua residência”.

De acordo com a promotora de Justiça Sandra Lucia Garcia Massud, assessora do Centro de Apoio de Direitos Humanos e Sociais do Ministério Público do Estado de São Paulo, a decisão ajuda na triagem dos casos em que realmente é necessária a matrícula em uma escola especial. “A inclusão da criança com deficiência em escola regular é fundamental para o desenvolvimento não só da própria criança em questão, mas também de todas as outras com quem ela conviver. A escola é um espaço não somente de aprendizagem formal, mas também de convivência e trocas de experiências ricas e importantes para um crescimento saudável.”

O TJSP tem atuado juntamente com os demais poderes na fiscalização e orientação das políticas públicas voltadas para os jovens autistas. Já foram realizadas audiências públicas e reuniões – a mais recente reunião para debater o assunto aconteceu no início de setembro e contou com a presença da juíza Alexandra; da promotora Sandra; dos juízes assessores da Corregedoria Geral da Justiça Ana Rita de Figueiredo Nery e Gabriel Pires de Campos Sormani; do procurador do Estado coordenador judicial da Saúde Pública, Luiz Duarte de Oliveira; e de representantes das Secretarias de Estado da Saúde, Educação e Desenvolvimento Social. Foram debatidos os rumos, dificuldades e perspectivas do tema. “A rede estadual conta com equipes especializadas para a inclusão e muitos agentes trabalham muito bem a esse favor”, afirma Sandra Massud.

O objetivo final é garantir que o autista tenha todos seus direitos respeitados, inclusive o de integrar a sociedade como cidadão. “O coração da decisão é a determinação de atendimento adequado ao autista”, explica Alexandra Fuchs de Araujo.

N.R.: texto originalmente publicado no DJE em 14/9/16.

Comunicação Social TJSP – GA (texto)



sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Aumenta o número de pastores candidatos nas eleições de 2016


A matéria é do G1:

Número de candidatos pastores cresce 25% em quatro anos

O número de candidatos que usam o título de pastor no nome de urna cresceu 25% em comparação com as últimas eleições municipais, em 2012, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em 2016, 2.759 candidatos utilizam a palavra “pastor” no nome de campanha, 557, “pastora” e 15 usam variações como “pastorzinho” e “pastorzão”. Outros 39 candidatos utilizam nome em referência a outro pastor, como por exemplo “Raquel do Pastor João”.

Também estão concorrendo 2.186 candidatos registrados como “irmão” e 841 como “irmã”. Existem 150 candidatos que utilizam o termo "padre" antes do nome e 44 políticos que utilizam algum padre como referência no nome da urna.




Há ainda 63 "pais", 37 "mães", seis "freis" e 62 "bispos", totalizando mais de 6.600 nomes com referências religiosas diretas.

O levantamento leva em conta apenas palavras que não fazem parte do nome ou do sobrenome de registro do candidato.

Por João Quero



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