sábado, 27 de setembro de 2008

O cristão imperfeito, segundo Calvino

5. A VIDA CRISTÃ NÃO IMPLICA PERFEIÇÃO, INATINGÍVEL NA PRESENTE CONDIÇÃO HUMANA, PORÉM RECLAMA ESFORÇO, DILIGENTE E CONTÍNUO, DE BUSCÁ-LA, DIA APÓS DIA, SEM DESFALECIMENTO

Não exijo que o viver do homem cristão nada exale senão o evangelho absoluto, o qual, no entanto, não se deve exatamente só almejar, mas também necessário se faz intentar. Contudo, não exijo perfeição evangélica em moldes tão estritos que não se possa reconhecer como cristão aquele que não a haja ainda atingido plenamente. Se esse fosse o caso, seriam todos excluídos da Igreja, uma vez que ninguém se acha que não esteja tão afastado dela por mais que haja adiantado, e contudo não há razão para que sejam rejeitados.

Então, o que fazer? Esteja fixado diante dos olhos este alvo, rumo ao qual se dirijam todas as nossas ações e rumo a ele lutemos e nos esforcemos até chegarmos. Pois não é lícito tentar partilhar com Deus dessas coisas que estão prescritas em sua Palavra, acatando parte delas, e de teu arbítrio desconsiderando outra parte. Ora, por toda parte ele recomenda, em primeiro lugar, a integridade como a parte capital de sua adoração [Gn 17.1; Sl 41.12], termo que significa a sincera candidez de espírito que careça de dolo e fingimento, à qual se contrapõe o coração dobre, como se estivesse dizendo que o princípio do bem viver é espiritual, quando o afeto interior do espírito se devota a Deus, sem fingimento, para cultivar-se a santidade e a justiça. Mas, uma vez que não sobeja a ninguém tanta força, neste cárcere terreno do corpo, que se possa avançar com a justa celeridade da corrida, ao contrário tão grande fraqueza oprime a grande maioria que, vacilando e claudicando, até mesmo rastejando no solo à frente se movem com dificuldade, avancemos, cada um segundo a medida de sua reduzida capacidade, e prossigamos a jornada iniciada. Ninguém vagueará tão desafortunadamente que não avance cada dia ao menos um pouco de caminho.

Portanto, não cessemos de progredir no caminho do Senhor, avançando incessantemente, não nos desesperando ante a insignificância de êxito alcançado. Ora, por mais que o êxito não corresponda ao desejo, contudo, o labor não foi perdido quando o dia de hoje supera o de ontem, contanto que, com sincera candidez, olhemos firmemente para nosso alvo e aspiremos alcançar nossa meta, não nos lisonjeando com adulação, nem condescendendo a nossas más disposições; ao contrário, em esforço contínuo proponhamo-nos a ser cada dia melhores até que alcancemos a perfeita bondade que devemos buscar toda nossa vida. Conquistaremos essa perfeição quando, despojados da debilidade de nossa carne, sejamos plenamente admitidos na companhia de Deus.

(CALVINO, João. As Institutas. Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 2. ed. vol. 3, pp. 159-160)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A maior riqueza do mundo

Em pouco tempo o dia se tornara noite. A chuva forte castigava a cidade, e juntamente com o barulho dos automóveis, abafava os pequenos sons produzidos ali, naquele momento. Havia um bom tempo que aquela cidade não recebia uma chuva tão forte, havia tempo que seus cidadãos não paravam para pensar sobre a força da natureza. Agora, eram obrigados, pois tudo que tinha vida naquela cidade poluída e fria, se escondia. Enquanto isto, a água limpava seus becos imundos, cancelava compromissos, aumentava aflições.
Nestas horas, pequenas coberturas se tornavam pequenos oásis às avessas. Não muito longe, em uma rua pouco movimentada, havia um destes. Ali, se encontrava um mendigo, que por não ter nem como se cobrir, estava encharcado. Estava completamente sozinho no momento, para não falar de sua fome, o que tornava sua situação mais desesperadora. Não é fácil ser mendigo em cidade grande. Principalmente um adulto. As pessoas costumam achar que mendigar é uma opção. Algumas, vendo seu estado lastimável, acreditam que ele antes de tudo é um bêbado. Mesmo que fosse, cinco reais para tomar sua pinga não chega aos cem reais, mínimo que alguns gastariam em uma noitada acompanhada de garrafas de uísque e mulheres. O que nos faz pensar que as pessoas devem acreditar que o mendigo não tem o direito à diversão, ou que mendigos devem prestar contas do dinheiro que recebem como doação, enquanto os próprios cidadãos não prestam contas do que fazem com seu dinheiro para seus patrões, aqueles que pagam seus salários.
Mas o grande problema é que há mesmo mendigos que fazem qualquer coisa com este dinheiro mesmo, até comprar drogas. Há pessoas que se disfarçam de mendigos. Realmente, não é fácil ser mendigo hoje em dia. Antigamente os mendigos eram mais verdadeiramente mendigos. Será que o mundo possui menos mendigos hoje, ou será que descobriram que são mendigos mesmo tendo uma situação melhor? Não se sabe, e isto não importa agora... Aquele mendigo não trabalhava não por preguiça, mas por que é realmente difícil encontrar emprego hoje em dia. Principalmente quando não se tem uma aparência boa, quando não se cheira bem, e quando não se tem nem um lar. Estas coisas custam dinheiro, e ele não tinha isto. Aquele mendigo estava em uma situação não muito boa... Estava encharcado, com frio, com fome, e agora, bastante sozinho. Talvez para fugir um pouco da realidade, ele fechava os olhos, e murmurava algo. Pelo menos ele tinha certa honra, já que alguns buscavam meios mais destrutivos para fugir desta realidade. Mas também é raro que algum mendigo tivesse algum estudo. Ele sabia ler e escrever, sabia falar bem e sabia que alguns meios de fugir desta realidade que parecia mentira não valia a pena.
Naquela hora, passava pela rua um senhor. Estava abrigado por um guarda-chuva, mas não conseguiu continuar por que a chuva tinha ficado mais forte. Resolveu parar na mesma cobertura onde aquele pobre mendigo se abrigara. O homem estava bem vestido, e tinha um ótimo comportamento. Na verdade, aquele homem poderia ser considerado facilmente como um dos maiores filantropos da cidade. Seu amor ao próximo era invejável. Sua cordialidade era insuperável. Seu amor ao próximo era tão grande, que não conseguia ver as pessoas sofrendo à sua volta. Foi por isto que há muitos anos atrás, abandonou suas crenças em um deus. Não conseguia imaginar como qualquer deus poderia deixar pessoas sofrerem. Decidiu que faria tudo o que estivesse à sua disposição para ajudar ao próximo.
E ali estava seu mais novo próximo. Molhado, faminto e com frio. Aquela situação deixou o senhor comovido. Imediatamente retirou seu casaco e o entregou ao mendigo:
- Por favor, meu bom homem, tome isto. Você precisa mais dele do que eu.
- Puxa, muito obrigado.
Enquanto vestia o casaco, meio sem-graça ainda por receber a ajuda daquele homem, chegava outra figura tentando se esconder da chuva. Rapidamente entrou para baixo da cobertura, e ficou em um canto, em silêncio. Parecia estar apressado, pois olhava para o seu relógio, depois olhava para o céu, como se quisesse anular a chuva com uma cara feia. Por fim, o mendigo terminou de vestir o casaco. Logo o senhor puxou assunto:
- E então, está um pouco melhor agora?
- Estou sim, obrigado.
- Olha, tudo o que tenho aqui são 50 reais. Quero que fique com eles. Assim que a chuva passar, você pode comprar alguma coisa para se aquecer, e comer também.
- Puxa, muito obrigado senhor. Nem sei como agradecer. Deus lhe pague.
O senhor hesitou um pouco em continuar. Mas logo continuou:
- Não se preocupe em me agradecer. É o mínimo que eu poderia fazer para ajudar.
- Olha, eu não posso dar nada em troca, mas eu tenho certeza que Deus há de dar muito mais para o senhor.
Ele poderia seguir ignorando o que o mendigo dizia. Ele não era um homem de discutir por pouca coisa. É verdade que já travou muitos debates em sua vida, mas ele não precisava discutir com aquele homem, que ao seu ver, precisava de atenção, não de refutação. Porém, achava importante mencionar seus pontos de vista, para que aquele homem entendesse que há crenças e crenças, e além delas, há a descrença. Um bom cidadão certamente tem consciência da liberdade das pessoas, e queria passar aquilo ao mendigo, como uma lição de vida.
- Bem, meu amigo, eu não acredito em deus. Aceito seus agradecimentos, não precisa se preocupar em retribuir-me.
Aquilo fez com que o mendigo interrompesse os agradecimentos. Passou a segurar o queixo, indicando claramente que estava refletindo no que lhe foi dito. O senhor intimamente tinha ficado feliz, pois obtivera o planejado. O outro homem que estava com eles finalmente olhou para os dois.
- Ah, desculpa, eu não sabia...
- Não tem problema...
O mendigo continuava a pensar sobre o que aconteceu. A curiosidade tomou conta dele, que não resistiu e perguntou:
- Senhor, por que o senhor não acredita em Deus?
- Meu bom homem, você mesmo é um exemplo do motivo pelo qual não acredito em deus. Veja seu estado. O que deus fez por você? Por que ele deixaria que você ficasse neste estado, sem ter o que comer, o que vestir, onde morar... Por que ele permitiu que você vivesse sem sua dignidade como ser humano, já que você é uma criatura dele, e ele deveria te amar? Sabe, eu não podia acreditar que um deus bondoso como pregam por aí, pudesse permitir tamanho sofrimento de pessoas como você. Deixei de acreditar em deus por isto. E agora, sou eu mesmo que tento ajudar as pessoas que encontro nesta situação. Não espero que deuses resolvam isto por mim.
Isto chamou a atenção do outro homem que estava com eles. Logo ele se aproximou, dizendo:
- A paz do Senhor para todos.
Os dois homens olharam para ele.
- Não pude deixar de ouvir a conversa dos dois. Eu sou bispo de uma pequena igreja aqui perto, e estava indo para lá quando fui pego pela chuva. Meu carro acabou parando por causa da água. Fiquei com medo de ficar lá dentro e alguma enchente o levar, por isto vim para cá. Bem, se estão falando de Deus e sobre as enfermidades, gostaria de conversar com vocês também. É um assunto que muito me interessa.
O senhor não estava disposto a discutir naquela hora... Muito menos com bispos de pequenas igrejas. Eles costumam ser inflexíveis, quando não dispostos ao ridículo.
- Não estamos exatamente conversando sobre algo, pelo menos não ainda.
- Bem, mas eu escutei você dizer que Deus não poderia permitir que tais pessoas sofressem, e ainda assim amá-las.
- Sim, foi o que eu disse.
- Bem, acho que a primeira coisa que eu deveria deixar claro é que todos os seres humanos possuem livre-arbítrio. Não só os seres humanos: seres angelicais também. Foi por isto que alguns anjos deixaram de servir ao Senhor, e passaram a agir contra ele. Estes são os demônios. Infelizmente eles querem nos prejudicar de todas as formas, por isto pessoas como este senhor aqui sofrem. São os encostos, e eles só abandonam a vida de uma pessoa em um ritual de libertação espiritual. Nossa igreja costuma ajudar muitas pessoas como ele, que entram com enfermidades espirituais graves, e saem de lá curadas. Hoje são pessoas muito prósperas, e dão seu testemunho de que Deus está cumprindo suas promessas.
- Ah, entendi... E prosperidade é sinônimo de bênçãos?
- Sim, claro. Ou você acha que o sofrimento destas pessoas é obra de Deus? Está claro que quem está agindo neste homem é Satanás.
- Então este homem aqui não é abençoado?
- Provavelmente não. O que não o impede de ser curado.
- Mas por que ele simplesmente não é abençoado? Por que deus tem que limitar estas bênçãos?
- Ora, por que a pessoa tem que querer. Isto é liberdade. E quando ela quiser, estamos de portas abertas. Além disto, se a pessoa é dizimista, ela pode exigir que Deus cumpra suas promessas. Pois quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação de cumprir Sua Palavra.
O senhor depois de raciocinar um pouco, respondeu então.
- Acho que estou te entendendo. Basicamente, você está me dizendo que seu deus só age por contrato, é isto? Você vai lá, paga o devido valor, então deus resolve te ajudar...
- Bem, não é exatamente desta forma...
- Ora, foi o que eu entendi. O engraçado disto tudo é que enquanto seu deus é obrigado a fazer o que você quiser, o diabo está livre para agir, atentando todo mundo. Aliás, ele tem muito tempo livre, não é? Ele não tem coisa melhor para fazer do que espumar pela boca, se debater e xingar a mãe do pastor não?
- Puxa, seu entendimento é lamentável. Para sua sorte, você deve ser uma pessoa que confia muito na força de seu trabalho. Por isto pode gozar de uma boa situação, mesmo sem Deus no coração...
A discussão se tornava cada vez mais intensa, enquanto o mendigo só observava. Pensava bastante sobre a situação que estava passando, e depois de algum tempo, começou a sorrir. O sorriso era tão sincero, que sua felicidade se destacou mais que a discussão que estava sendo travada ali. Por isto mesmo, os dois perceberam e por um momento deixaram de discutir. O senhor resolveu perguntar ao mendigo:
- Senhor, o que houve? Por que a alegria?
- Bem, eu estava pensando aqui... Senhor bispo, antes de tudo, gostaria de agradecer o senhor por tentar defender Deus. Talvez Ele nem precise, já que ele é o Todo-poderoso, além de saber até que teríamos esta discussão hoje. Se Ele deixa pessoas pensarem como este senhor aqui, é por que Ele já possui uma resposta na ponta da língua para eles. Ele com certeza é mais sábio que nós dois. E se isto for verdade, então não precisamos nem falar nada. Ele é melhor defensor que qualquer um de nós.
O bispo ficou calado, hesitante. O mendigo continuou...
- Sobre eu ser ou não abençoado, eu podia pensar qualquer coisa disto. Mas nada me tira da cabeça que tudo isto é inveja. Inveja por que nosso Senhor Jesus Cristo não veio ao nosso mundo como um bispo, mas veio como um pobre. Ele nasceu em uma manjedoura, por que não tinha lugar para ele e seus pais na estalagem. E quando foi adulto, era como eu, pois não tinha sequer lugar para reclinar a cabeça. Eu não acho que Nosso Senhor tinha encosto, ou não era abençoado, mesmo por que era Ele quem abençoava as pessoas, Ele quem expulsava demônios. Mas eu entendo, deve incomodar muito isto mesmo. Incomoda o fato que o Filho de Deus escolheu ser igual a mim, não igual às pessoas abençoadas na sua igreja. Talvez por isto eu já ouvi quando mendigava perto de suas igrejas, as mais variadas formas de se esconder a pobreza de Jesus. E pra falar a verdade, eu nunca ouvi falar que algum apóstolo de Cristo tenha morrido rico.
O bispo, ficou sem reação. Já o senhor do lado deles, sorria sarcasticamente... O mendigo, virou-se para este e continuou...
- Senhor, eu tenho que te devolver isto.
Pegou os 50 reais, e os devolveu junto com o casaco. O senhor então se assustou.
- Meu amigo, por que está me devolvendo isto. São para você. Não vai aceitar só por que sou ateu?
- Não, não é isto.
- Então? Por quê não fica com ele?
- Olha, senhor... O senhor me deu isto, por que achou que eu estava sofrendo. De fato, justamente quando o senhor chegou, eu perguntava a Deus se merecia tudo aquilo. Se merecia o frio, a fome... Quando eu perguntei ao senhor por quê o senhor não acreditava em Deus, e o senhor respondeu, eu comecei a pensar... Só os mendigos que sofrem? Só eu sou o exemplo de sofrimento? Então percebi que o senhor só poderia dizer que eu estava sofrendo, se acreditasse que o senhor não estava sofrendo. No fim das contas, o senhor me vê da mesma forma que o bispo.
- Mas eu não me considerei melhor que você. Eu ofereci ajuda, por que estou preocupado com você.
- E o bispo disse que a igreja dele está com as portas abertas a todos, oferecendo ajuda que julgam necessária a todos que precisam. Mudou apenas a forma de ajudar e o tipo de ajuda, não é? Agora, é muito fácil um desdenhar do tipo de ajuda que o outro oferece. Se o senhor achasse que a ajuda espiritual do bispo é a melhor ajuda, o senhor poderia ser bispo. Se ele achasse que a ajuda filantrópica fosse a melhor, ele poderia ser ateu.
O homem ficou calado.
- Quando pedi ajuda a Deus, pedi de coração. Talvez agora eu tenha uma resposta... Se me julgam pelos trapos que visto, com justiça me verão como um mendigo. Mas se não podem distinguir meus tesouros, como poderiam me chamar de rei?
Os dois se entreolharam.
- Tesouros?
- Sim, tesouros. A verdade mais sagrada é que ninguém neste mundo ficará eternamente com riquezas estas de metal e papel. Isto já poderia ser usado para provar que estas não são riquezas reais.
- Então, o que é seu tesouro? – Perguntou o bispo.
- Senhores, – disse levantando – muita gente por aí não se contenta apenas com um prato de arroz e feijão. Muita gente fica enjoada de comer a mesma coisa todo dia. Muita gente não consegue comer em determinado nível de restaurante. Muita gente não consegue comer certos tipos de comida. Eu não sou assim, meus amigos. Eu realmente passo fome, mas eu sei apreciar um simples pedaço de pão. Um prato de arroz e feijão nem precisa ter a mistura, para me dar grandes alegrias. Como em qualquer lugar, e aprecio qualquer companhia. Eu sei o valor real da comida.
Deu uma pausa e continuou.
- Da mesma forma, posso dizer com toda a certeza do mundo, que eu tenho maior facilidade em dizer se aqueles que se aproximam de mim são sinceros. Seja para me ajudar, seja para me criticar. Ninguém precisa fingir para mim, pois eu não tenho nada para lhes oferecer. Eles podem ter raiva, podem ter compaixão, eu geralmente posso dizer como eles se sentem. Vocês podem dizer isto? Podem dizer quem são seus verdadeiros amigos? Podem dizer quem é sincero com vocês? Talvez, mas eu tenho mais facilidade que vocês. Por que as pessoas que eu encontro, e que me oferecem comida, são as minhas melhores amigas. Eu tenho toda a certeza que elas se preocupam comigo, que elas só desejam o meu bem. Quando elas conversam comigo, elas conversam com a verdadeira intenção de me ajudar, e não de fingir que são minhas amigas, para depois me prejudicar em algo.
Mais uma pausa.
- Tenho doenças, tenho frio, tenho fome e às vezes me sinto sozinho. Mas de tudo isto consigo entender mais e mais, o valor da vida, da amizade, dos bens, melhor do que quando eu tinha dinheiro. Então, enquanto há ricaços por aí, esbanjando dinheiro para conseguir achar alguma coisa que o entretenha, eu me distraio com as coisas mais simples. Até as coisas mais pequenas são capazes de me dar alegrias. Os meus sonhos são os mais reais, pois geralmente são os mais simples. A minha vida é a mais valiosa, por que só tenho ela. Infelizmente, eu tive que perder tudo para entender isto.
Então, concluindo, disse o mendigo:
- É por isto que sou tão rico. Porque hoje encontrei a mim mesmo. Porque percebi significado nas mínimas coisas. Tudo me alegra, por que fui redimido. Sofremos? Sim, mas as melhores coisas são as que custam mais caro.
Deixou os dois parados na cobertura, enquanto corria pela chuva, de braços abertos, pulando de alegria, como jamais se viu antes. Aquela chuva que era dele também.

Gols inventados

Às vezes a bola não entra, mas é gol!

Watford 2 x 2 Reading, 2ª divisão da Inglaterra, 20.09.08

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

S.W.A.T. de pobre

Pra quem quiser saber como os nossos filmes (e o nosso país) são apresentados no exterior, segue o trailer do lançamento do filme "Elite Squad - Tropa de Elite" no circuito norte-americano:

Sobre o sentido da vida

Atualmente venho travando um debate com alguns ateus ou defensores do ateísmo, em um fórum que reúne ex-integrantes das Testemunhas de Jeová. O tema preferido destes é o conhecido problema do sofrimento. Confesso que desviei a discussão de seu tema, mas eu tinha meus motivos. Geralmente as pessoas que desafiam o cristão com este assunto, são pessoas que não fariam nada para mudar o que eles chamam de sofrimento. Dentre as várias respostas que surgiram, havia uma onde um texto ateu mostrava Deus como um ditador frio. Claro, o texto apelava para o lado emotivo dos leitores, quando a proposta era de se fazer uma análise racional. E já que se podia apelar para o lado emocional, citei alguns pontos onde o ateísmo não é uma boa alternativa emocional.

Entre estes pontos, citei a falta de "sentido da vida". Esta declaração minha criou um grande alvoroço entre os foristas, pois para todos, ateus possuem sentido para suas vidas sim. Ao meu ver, existem dois tipos de "sentido para a vida", que expliquei a todos. Uma forista me disse que ateus possuem os dois sentidos que enumerei, e disse que o segundo sentido (que explico adiante) para um ateu pode ser visto na sobrevivência. Respondi então:

Hum... Agora você colocou algo interessante. Pois em meu segundo significado para "sentido da vida", quando aponto para Deus ou uma inteligência, aponto para uma fonte externa ao ser, que dá um sentido a este ser. Esta fonte "espera algo" daquele ser. E agora sim, posso perceber que o ateu pode possuir uma fonte de sentido alheio a si, o que não muda o fato das consequências de sua cosmologia mostrar que sua vida é descartável a qualquer momento. Esta sim foi minha real crítica neste ponto. Como disse, poderíamos classificar os sentidos da vida em duas categorias básicas, que agora com os dados que você apresentou, divido melhor como originadas no próprio ser e originadas externamente ao ser. Sentidos originados no próprio ser são como objetivos pessoais, como estabelecer trabalhar em uma grande empresa, morar na beira da praia, etc... Os sentidos originados externamente ao ser são em grande maioria, atribuídos à deidades, mas você apontou também a sobrevivência em si. Eu estava com dúvidas se a maternidade e a paternidade poderia dar este sentido também, e acho agora que isto é possível. Os pais podem ter um objetivo para seus filhos, mesmo que estes não o desejem seguir (isto foi o que me deixou na dúvida se deveria colocar este ponto aqui). Você citou Romeu, e acho importante mencionar o que ele disse. Para ele, não há diferenças entre sentidos. Isto por que para ele, seja qual for o sentido, ele é originado internamente. Se você está dizendo que ele tem razão, então você continua se contradizendo. Você aponta um sentido externo, mas diz que Romeu que aponta apenas sentidos internos está correto. Ou você se decide por um ou por outro. Eu te digo que a resposta dele é a confirmação cabal do que eu disse. Que o ateu só verá o primeiro sentido, aquele que se origina internamente. Sinceramente, a posição do Romeu é simplória demais. Tanto que você foi capaz de refutá-lo, mesmo tentando me refutar. Os sentidos para a vida não podem ser originados apenas internamente. Não vivemos em uma bolha, escolhendo o que queremos. Alguém nos colocou neste mundo (mesmo que seja nossos pais). Minha crítica original não foi quanto à falta de sentido, mas quanto às implicações desta. Pode-se como você demonstrou, apontar para um segundo sentido naturalista, mas este segundo sentido acaba possuindo o mesmo problema de se possuir apenas o primeiro sentido. O problema do primeiro sentido, o interior, é que ele é temporário. Você só tem o objetivo de trabalhar em uma grande empresa enquanto não trabalha ali. Quando conseguir, você poderá até mudar seu sentido para se manter ali. Ele é temporário, por que você é temporário. Sua vontade é temporária. Suas condições são temporárias, e estão sempre se atualizando. Assim que você morre, morre a fonte deste sentido interno para a vida. Agora, se seu sentido para viver é apenas este, então este sentimento subsiste em petição de princípio. Esta vida se torna uma ilusão, que vai durar enquanto o ser quiser. E neste estado, morrer ou viver se torna duas alternativas igualmente atraentes. A alternativa que você propôs foi citar a sobrevivência como sentido exterior para a vida. Neste caso, em nome da sobrevivência, o ser não vê mais a morte como alternativa atraente. Eu diria que é o segundo sentido que mantém o ser com a vontade de viver. O segundo sentido é aquele que evita que seja normal uma pessoa ser suicida. De fato, a pessoa se torna suicida quando perde seu segundo sentido. Ninguém resolve se matar quando não consegue morar na praia. Alguém decide se matar quando não vê mais razão para querer qualquer coisa, inclusive morar na praia. Quando vê que sua morte não fará mais diferença para ninguém, nem para ele. Felizmente, ateus não são automaticamente suicidas, o que nos mostra que eles conseguem viver com seus sentidos temporários, sem se dar conta de que tudo se trata de uma ilusão. Ou apontam a sobrevivência como sentido exterior. E neste momento, eles deificam a sobrevivência, transformando-a em Sobrevivência. Não é a primeira vez que isto acontece. Ateus da Revolução Francesa já deificaram a Razão, o que nos leva a crer que mesmo de forma inconsciente, tenta-se colocar algo no lugar de Deus. Mas Sobrevivência não é uma boa fonte de sentido da vida. Assim como a vontade humana, Sobrevivência é algo temporário. Segundo a cosmologia naturalista, nem sempre houve Sobrevivência. E se uma catástrofe acontecer no planeta, Sobrevivência deixará de existir. Se é temporário, então ela acaba trazendo os mesmos problemas... Porém, é melhor que se basear apenas no sentido interior, pois ela é bem mais sutil. Além do mais, Sobrevivência apesar de ser deificada, não possui inteligência. Então, se o ser se dar conta de que Sobrevivência não se dará conta de que ele não existe mais, acabará chegando ao mesmo ponto descrito acima. E assim, se baseando em fontes temporárias de sentido para a vida, o ser se torna totalmente descartável. Esta foi minha crítica.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Humildade

Como prometi, a tradução do texto que postei em alemão.




Geralmente não escrevo sobre minha vida. Poderia dizer melhor que nunca escrevo. Escrever é trabalhoso e minha vida é muito chata. Ninguém quer saber sobre a vida regular de uma pessoa normal. Mas ontem foi diferente. E eu devo contar o que houve, pois me lembra de um sentimento humano, cujo nome eu esqueci.
Ontem como sempre, acordei às seis. Como sempre, tomei meu banho em 10 minutos. Como sempre, comi meu pão com geléia e tomei meu café açucarado. Pontualmente às 15 para 7, fui para o trabalho.
Ah, se eu pudesse simplesmente manter esta vida assim. Seria maravilhoso! Mas os problemas insistem em aparecer.
Por isto acabei furando meus novos pneus. E justamente quando ia para o trabalho. Eu não podia acreditar. Eu chegaria pela primeira vez na vida atrasado ao serviço. Mas nem tudo estava perdido. Diante de mim, havia uma borracharia.
Esta borracharia tinha algo de estranho. Ela já estava aberta às 10 para 7?Que tipo de borracheiro trabalha ali?
Um borracheiro, que acorda tão cedo, deve trabalhar tão bem quanto eu, pensei. Então não teria problemas, apesar de ser estranho. Então me decidir ir até a borracharia e pedir ajuda. Ao chegar, disse:
- Com licença, eu furei o pneu e precisava de ajuda...
A borracharia estava totalmente vazia...
- Tem alguém aí?
Niguém me respondeu. Ele poderia estar ocupado, pensei. Então continuei entrando.
- Com licença, eu furei...
- Ah, aí está você, Schröder!!! Te procurei por uma hora...
Eu não vi ninguém. Dei uma olhada ao redor, e infelizmente não vi ninguém ainda.
- Mas eu não sou Schröder. Meu nome é Pedro...
De repente, um monte de algo se levantou, o qual pensei ser um monte de trapos. Mas era um homem, o borracheiro.
- O quê? Ficou maluco, Schröder?
- Eu não sou Schröder!! Eu furei o pneu, e preciso de ajuda...
- Como você pode dizer que você não é o Schröder? Acho que você bebeu cerveja demais ontem...
- Cerveja??? Eu só tomo Coca-Cola!!
Eu não sabia, mas o borracheiro na minha frente deu uma festa no dia anterior. Schröder, o verdadeiro Schröder, sumiu. Ele bebeu muita cerveja, e acreditou que o caminhão, cujos pneus ele arrumou, era seu quarto... O motorista, que estava na festa, não o viu entrar na parte de trás do caminhão. Lá ele dormiu por 300 quilômetros, e o não tão bêbado motorista não o encontrou até aquele momento...
- Ha, ha... Achei muito engraçado, “Senhor” Schröder. Poderia vir aqui ou não?
Estava claro para mim, que o borracheiro estava bêbado. Não apenas seu estado denunciava isto, mas seu bafo de cerveja… E agora ele tinha a coragem de dizer que eu é quem bebi.
- Olha! Você bebeu demais. Eu sou Pedro, e furei o pneu. Eu quero ajuda, de preferência agora!
- Devo infelizmente te contradizer, Schröder!! Ontem eu te vi tomando pelo menos 10 garrafas de cerveja. Então é você, Schröder, que bebeu demais. E se você bebeu cerveja demais, então você não pode dizer se eu bebi ou não bebi também muita cerveja.
- Eu não sou Schröder!!!!
- Não estamos discutindo agora quem você é, Schröder. Disto nós já sabemos. A questão aqui é a seguinte: você bebeu ou não bebeu? Eu acredito que você bebeu cerveja, por que eu te vi bebendo pelo menos 10 garrafas! Agora, você diz que você não é você. Somente um bêbado faria isto. Ou talvez você tenha perdido algum parafuso.
Ele estava bêbado, e eu não tinha mais tempo para discutir com um bêbado. Eu deveria fazer alguma coisa...
- Escute. Eu não sou Schröder. Já que você não acredita em mim, veja minha identidade. O nome em minha identidade não é Schröder, mas Pedro, como eu te disse. E esta é minha foto. Viu?
Ele se aproximou e disse:
- Humm, este é um belo argumento. Um forte argumento, diria.
Depois de uma pausa, disse:
- Então, você tem uma identidade falsa, e acredita, que eu acreditaria em você sem provas? Você é engraçado, Schröder... Mas isto não foi bom. Se você trouxe uma identidade falsa, então você tinha a intenção de mentir. E isto é muito mal, Schröder... Eu não poderia confiar em uma pessoa assim... Você não tem mais argumentos? Está nervoso? Por que você fez isto? Eu não entendo isto...
Eu não tinha mais tempo... E a situação piorava cada vez mais... O que eu poderia fazer? Eu não sabia. O borracheiro estava totalmente bêbado, e não podia reconhecer mais a realidade. Minha única chance era jogar o mesmo jogo.
- Ok, ok... Eu sou Schröder... Eu só queria saber se você me reconheceria...
- Claro que eu te reconheceria. Você comeu grama ontem, quem se esqueceria disto?
Eu pensei na hora, que ele deveria estar fazendo isto de propósito. Como pode um homem falar tanta besteira?
- Ok, mas eu preciso agora de ajuda. Um cliente furou o pneu, e precisa de arrumar seu pneu. Você me ajuda?
- Claro que sim!
Assim consegui a ajuda dele. Ele reparou o meu pneu, e ficou feliz em me ajudar. Assim pude ir para meu trabalho. Durante o trajeto de volta, refleti sobre tudo que aconteceu. Algo me fez lembrar de um sentimento humano. Um sentimento onde você sabe de tudo, e somente você. Onde ninguém além de você pode falar ou ser ouvido. Este sentimento é como uma coroa, que faz de um homem o melhor homem do mundo.
Não, não é humildade. Humildade não embebeda as pessoas. Se ela pudesse embebedar, seria maravilhoso. Este sentimento é muito diferente da humildade. E ele embebeda as pessoas sim...
É engraçado quando você discute com um bêbado... O que ninguém sabe é que nós sempre discutimos com pessoas bêbadas. Eles são sempre iguais. Por exemplo, eu poderia ter contado sobre a discussão que eu tive com meu chefe, ao chegar no trabalho neste dia. Daria no mesmo. Só que não seria tão engraçado...
Eu ainda não sei como se chama este sentimento. Talvez vocês saibam?

Grandes filmes - 6

Assistir "A Queda" ("Der Untergang") significa receber um soco no estômago sem dó nem piedade, virtudes que foram cruelmente desprezadas na Segunda Guerra Mundial. 

O filme mostra os últimos dias de Hitler ("as últimas horas de Hitler" é o seu subtítulo), refugiado no seu bunker na Berlim sitiada pelos russos. 

Baseado nos relatos de Traudl Junge (interpretada pela excelente atriz romena Alexandra Maria Lara), que serviu como secretária pessoal do líder nazista por mais de dois anos, o filme mostra um Hitler acuado, delirante, movimentando exércitos imaginários no mapa de uma Alemanha destruída e esfacelada, e, mesmo assim, ainda encontrando uma obediência cega dos seus subordinados, algo que nem a derrota iminente conseguiu abalar. 

Talvez lutassem apenas por algumas horas ou dias de vida, ou soubessem que o julgamento dos inimigos (e principalmente da História) seria devastador contra eles. 

O filme causou bastante polêmica mundo afora, principalmente por supostamente mostrar uma face humana do monstro nazista, algo que se deve, sem dúvida, à brilhante interpretação de Bruno Ganz no papel principal. 

Entretanto, esta polêmica não se sustenta, porque os nazistas, gostemos ou não, eram tão humanos como qualquer um de nós, e, se elevaram o mal à sua enésima potência, isso não os reúne em outra subespécie, apenas demonstra como a maldade é inerente à condição humana. 

Uma cena do filme me chama a atenção em particular: o momento em que um dos generais resolve sugerir a Hitler uma rendição honrosa para salvar os alemães que morriam pelas ruas de Berlim. 

Hitler se descontrola, e, aos berros, diz que se o povo alemão não foi capaz de ganhar a guerra, merecia ser exterminado até o último homem. 

Guardadas as devidas proporções, obviamente, trata-se, a meu ver, de uma aplicação da teoria da seleção natural, de Darwin. 

Aliás, em sua monumental biografia de Hitler, Ian Kershaw dá especial ênfase ao "darwinismo social" que ele considera como a grande força motriz (o leitmotiv, portanto) da visão de mundo do Führer. 

Extrema a aplicação, é verdade, mas mostra a que ponto o cientificismo, sobretudo da segunda metade do século XIX, com a sua negação absoluta da religião, da moralidade e da fé, levou o mundo a uma catástrofe sem precedentes, menos de um século depois. 

Sem contar a influência da filosofia de Nietzche, e de seu Super-Homem (Übermensch), que é assunto para outro momento, mas quero me limitar à ciência, à filosofia (e ao cinema) por ora. 

É um filme que merece (e deve) ser assistido, com todos os cuidados e reservas, para que saibamos, pelo menos, identificar as raízes do mal, quando ele se nos apresenta. 

Ainda que o filme se restrinja a contar o final de uma catástrofe, lá estão, ainda, as causas que a originaram. 

Em resumo, "A Queda" não é só uma tragédia alemã, circunscrita a um determinado território e a alguns anos em meados do século XX. 

"A Queda" é - infelizmente - a miséria de todos nós.

Leia também meus comentários sobre o livro "Hitler", a biografia escrita por Ian Kershaw, clicando aqui.





terça-feira, 16 de setembro de 2008

Les misérables

Enquanto isso, na série
"Encontrando beleza em lugares improváveis",
um mendigo chileno canta Djavan...

Demut

Escrevi isto para treinar meu alemão...
(para ler a tradução para o português, clique aqui)







Eigentlich schreibe ich selten über mein Leben. Ich könnte besser sagen, dass ich nie schreibe. Schreiben ist zu mühsam und mein Leben ist zu langweilig. Niemand will etwas über das regelmäßige Leben eines normalen Menschen wissen. Aber gestern war es anders. Und ich muss das erzählen, weil es mich an ein menschliches Gefühl erinnert, dessen Name ich vergessen habe.
Gestern bin ich wie immer um sechs Uhr aufgestanden. Wie immer habe ich für zehn Minuten gebadet. Wie immer habe ich mein Brot mit Marmelade gegessen und meinen süßen Kaffee getrunken. Pünktlich um Viertel vor sieben, bin ich wie immer zur Arbeit gefahren.
Ach, könnte ich nur dieses Leben festhalten! Das wäre wunderbar. Aber manchmal drängen sich die Probleme einfach auf.
Deshalb hatte ich eine Reifenpanne. Und das genau während meiner Fahrt zur Arbeit. Ich konnte es fast nicht glauben. Ich würde zum ersten mal später zur Arbeit kommen. Aber nicht alles war verloren. Vor mir war eine Reifenwerkstatt.
Diese Reifenwerkstatt hatte etwas seltsames an sich. War sie schon um zehn vor sieben geoffnet? Was für einen Reifenflicker arbeitet da?
Ein Reifenflicker, der so früh arbeitet, muss so gut wie ich arbeiten, habe ich gedacht. Dann gäbe es keine Probleme, obwohl das so seltsam ist.. So habe ich entschieden, in die Reifenwerkstatt zu gehen und Hilfe zu hollen. Als ich ankam, sagte ich:
- Entschuldigen Sie, ich habe eine Reifenpanne um brauche Hilfe...
Die Reifenwerkstatt war total leer...
- Ist jemand da?
Niemand hat antwortete. Er könnte beschäftigt sein, habe ich gedacht. Dann bin ich weiter gegangen.
- Entschuldigen Sie, ich habe ein...
- Ach, da bist du Schröder!! Ich habe dich eine Stunde lang gesucht...
Ich habe niemanden gesehen. Dann habe ich mich umgesehen, aber leider fand ich immer noch niemanden.
- Aber ich bin nicht Schröder. Mein Name ist Peter...
Plotzlich ist ein Haufen etwas aufgestanden, den ich für einen Lappenhaufen gehalten hatte. Aber war es ein Mann, der Reifenflicker.
- Was? Bist du verrückt, Schröder?
- Ich bin nicht Schröder!! Ich habe eine Reifenpanne, und brauche Hilfe...
- Wie kannst du sagen, dass du nicht Schröder bist? Ich glaube dass du gestern zuviel Bier getrunken hast...
- Bier??? Ich trinke nur Cola!!
Ich wusste es nicht, aber der Reifenflicker vor mir hatte am Vorabend ein Party gemacht. Schröder, der echter Schröder, war vermisst. Er hatte zuviel Bier getrunken, und geglaubt, dass der Lastwagen, dessen Reifen er repariert hatte, sein Zimmer war... Der Fahrer, der auf der Party war, hatte ihn nicht gesehen, als er auf die Ladefläche des Lastwagens gestiegen war. Da hatte er 300 Kilometer lang geschlafen, und der nicht so betrunkene Fahrer hatte ihn noch nicht gefunden...
- Ha, ha... Ich finde dass sehr komisch, “Herr” Schröder. Könnten Sie hier herkommen, oder nicht?
Es war klar für mich, dass der Reifenflicker betrunken war. Nicht nur sein Zustand zeigte das an, sondern auch seiner Bierfahne… Und jetzt hatte er den Mut zu sagen, dass ich Bier getrunken hätte.
- Schau mal! Du hast zuviel getrunken. Ich bin Peter, und hatte eine Reifenpanne. Ich möchte Hilfe und zwar jetzt!
- Ich muss dir leider widersprechen, Schröder!! Gestern habe ich dich mindestens 10 Flaschen Bier trinken sehen. Dann bist du es, Schröder, der zuviel Bier getrunken hat. Und wenn du zuviel Bier getrunken hast, dann kannst du nicht sagen ob ich auch zuviel oder nicht zuviel Bier getrunken habe.
- Ich bin nicht Schröder!!!!
- Wir sprechen hier nicht darüber wer du bist, Schröder. Das wissen wir schon. Es geht hier um die Frage: hast du oder hast du nicht getrunken? Ich glaube dass du Bier getrunken hast, weil ich dich mindestens 10 Flasche Bier habe trinken sehen! Jetzt sagst du, dass du nicht du bist. Nur ein Betrunken würde das machen! Oder du hast nicht alle Tassen im Schrank.
Er war betrunken, und ich hatte keine Zeit, mit einem Betrunkenen zu diskutieren. Ich musste etwas machen...
- Hör mal. Ich bin nicht Schröder. Weil du mir nicht glauben willst, sieh in mein Personalausweis. Der Name in meinem Personalausweis ist nicht Schröder, sondern Peter, wie ich gesagt habe. Und das ist mein Foto. Siehst du?
Er näherre sich mir, und sagte:
- Humm, das ist ein schönes Argument. Ein starkes Argument, würde ich sagen.
Nach einer Pause, sagte:
- Also, du hast einen falschen Ausweis, und glaubst, dass ich das ohne Beweis glauben würde? Du bist komisch, Schröder... Aber, das war nicht gut. Wenn du ein falsche Ausweis trägst, dann hattest du die Absicht zu lügen. Und das ist zu schlecht, Schröder... Ich könnte kaum einer solchen Person vertrauen. Hast du kein Argument mehr? Bist du nervös? Warum hast du das gemacht? Ich verstehe das nicht...
Ich hatte keine Zeit mehr... Und die Situation wurde immer unerträglicher... Was konnte ich machen? Ich wusste es nicht. Der Reifenflicker war total betrunken, und konnte die Realität nicht mehr klar erkennen. Meine einzige Chance war, meine Rolle zu spielen.
- Ok, ok... Ich bin Schröder... Ich wollte wissen, ob du mich erkennen würdest...
- Natürlich würde ich dich erkennen. Du hast gestern Gras gegessen, wer würde das vergessen?
Ich dachte, dass er nur absichtlich gesagt hätte. Wie kann ein Mann nur so viel Quatsch sagen?
- Ok, aber ich brauche jetzt Hilfe. Ein Kunde hat eine Reifenpanne, und möchte seinen Reifen reparieren lassen. Hilfst du mir?
- Natürlich ja!
So erreichte ich, dass er mir half. Er reparierte meine Reifen und war glücklich, mir zu helfen. Dann konnte ich zur Arbeit fahren. Während der Fahrt habe ich über alles nachgedacht. Etwas hat mich an ein menschliches Gefül erinnert. Ein Gefül, wo ich allwissend bin, und nur ich. Wo niemand außer mir sprechen oder gehört werden kann. Dieses Gefül ist wie eine Krone, die einen Mann zum besten Mann in der Welt macht.
Nein, das ist nicht Demut. Demut berauscht nicht die Leute. Wenn sie sie berauschen könnte, das wäre wunderbar. Dieses Gefül ist anders als Demut. Und es berauscht die Leute...
Es ist komisch wenn jemand mit einem Betrunkenen diskutiert... Niemand weiß, dass wir immer mit betrunkenen Leuten diskutieren. Sie sind immer gleich. Zum Beispiel ich könnte von mein Diskussion mit meinem Chef erzählen, als ich später zur Arbeit kam. Es wäre dasselbe. Aber die war nicht so komisch...
Ich weiß noch nicht wie ich dieses Gefühl nennen könnte. Vielleicht kennen Sie?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Tempo oportuno



O tempo é um enigma que a humanidade vem tentando decifrar há milênios. 

Até Einstein, a ciência o considerava absoluto e imutável. 

A única alternativa era esperá-lo passar. 

Coube ao gênio da física inferir que, considerados à velocidade da luz, tempo e espaço eram grandezas relativas. 

Trazendo o tema para o campo da fé, Deus se revela no tempo e na história, e o modo pelo qual Ele faz isso não é absoluto, nem relativo, mas - em linguagem bíblica - oportuno

E é a Bíblia a melhor demonstração disso, contando a história do povo de Deus ao longo dos milênios. 

Afinal, Jesus veio ao mundo no tempo oportuno (Marcos 12:2; Lucas 20:10; 1ª Timóteo 2:6).

Já nós, humanos, somos seres que nascemos, atuamos, interagimos, e nos despedimos num determinado momento do tempo. 

Somos circunstanciais, enquanto Deus é eterno. 

Tiago (4:14) descreve a vida como um vapor que aparece por pouco tempo e logo se desvanece, mas, na nossa curta existência, o Senhor coloca dentro do nosso coração este desejo, este sentimento, este vislumbre da eternidade (Eclesiastes 3:11). 

No mesmo livro, onde diz que há tempo para tudo (3:1-8), o Pregador ressalta que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos (9:11); logo, aproveitar o tempo e todas as oportunidades que ele nos oferece é um conselho sábio de Paulo (Efésios 5:16, Colossenses 4:5). 

Temos sempre a oportunidade de fazer o bem, não só aos outros mas principalmente a nós mesmos (Gálatas 6:9-10, Filipenses 4:10), e há aqueles que, como aconteceu à enteada de Herodes, aproveitam a oportunidade para fazer o mal (Marcos 6:21), ou para manipular o bem que outros fizeram (2ª Coríntios 11:12). 

A oportunidade sempre aparece para que digamos a palavra certa no tempo adequado.

Podemos deixá-la passar, e assim nos tornarmos omissos, ou dizer a palavra fora de tempo (ou de propósito), correndo o sério risco de sermos inconvenientes. 

Salomão compara a palavra dita a seu tempo a maçãs de ouro em salvas de prata (Provérbios 25:11, ver também 15:23). 

Como o servo sofredor profetizado por Isaías, podemos pedir a Deus que saibamos dizer boa palavra ao cansado. 

"Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem" (Is. 50:4). 

Como cristãos, temos, mais que a obrigação, o prazer de aproveitar as oportunidades de dar testemunho da nossa fé (Lucas 21:13, 2ª Coríntios 5:12), enquanto aguardamos o tempo oportuno em que nosso Senhor e Rei se manifestará em glória (1ª Timóteo 6:15), sempre alertas, entretanto, porque o mal absoluto também aproveita as ocasiões de se manifestar (2ª Tessalonicenses 2:6), conforme a própria história da humanidade insiste em comprovar. 

C. S. Lewis teve oportunidade de observar isso, imaginando uma carta do Diabo a um aprendiz, em que o coisa-ruim dizia o seguinte:

Os seres humanos vivem no tempo. Porém o Inimigo os destinou à eternidade. É por isso, acredito, que ele quer que os homens atentem basicamente para duas coisas: a própria eternidade e aquele ponto do tempo que chamam de presente. O presente é o ponto em que o tempo toca a eternidade. É no momento presente, e nada mais do que no momento presente, que os seres humanos têm experiências semelhantes àquela experiência que o nosso Inimigo tem da realidade como um todo; é somente nele que lhe são oferecidas a liberdade e a realidade. É por isso que ele quer que os homens estejam constantemente ligados ou com a eternidade (o que significa mantê-lo em mente) ou com o presente – quer seja meditando sobre sua união eterna com ele ou separação dele, ou então, obedecendo à voz presente da consciência, carregando a cruz de hoje, recebendo a graça para hoje e dando graças pelo prazer no presente.

(transcrito de "Cartas do Diabo a seu Aprendiz", em "Um Ano com C. S. Lewis – Leituras Diárias de suas Obras Clássicas", Ed. Ultimato, 2005, p. 279)

Em suma, nós, cristãos, somos privilegiados porque recebemos, no nosso tempo finito – presente -, a visita do Deus infinito. 

Como lembra Paulo, fomos agraciados com "uma fé e um conhecimento que se fundamentam na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos. No devido tempo, ele trouxe à luz a sua palavra" (Tito 1:2-3), pela qual vivemos e experimentamos a doce invasão do Eterno nas nossas vidas passageiras neste mundo. 

Há momentos, entretanto, em que nossas mãos fraquejam, nossos pés escorregam, nossa vida, aparentemente, se esvai, e o tempo se torna um fardo pesado demais para carregar. 

É nessa hora em que todas essas verdades devem ser lembradas, para que façamos como aconselha o escritor de Hebreus (4:16): "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno". 

Afinal, como lembra o salmista, a natureza se alegra em Deus e espera dEle o seu sustento em tempo oportuno (Salmo 104:27). 

O maná que sustentou o povo de Israel no deserto por 40 anos, durava apenas um dia, com exceção da provisão dupla para o sábado, recebida na sexta-feira (Êxodo 16). 

Não adiantava guardar o maná para o dia seguinte, pois o tempo oportuno para comê-lo havia se esgotado. 

Entretanto, sempre caía maná no dia seguinte. 

Se hoje não é o tempo oportuno, não nos desesperemos, vamos com confiança ao trono da graça, lá há tempo e oportunidade, mas principalmente graça, sempre...

Pedágio? Enjoy!

O Brasil é mesmo um país bem original. Deve ser o único lugar no mundo onde concessionária de pedágio faz propaganda das suas rodovias. Considerando-se que publicidade na televisão não é de graça (pelo contrário, custa muito caro), somos obrigados a deduzir que sobra tanto dinheiro nas receitas provenientes dos valores abusivos dos pedágios no Estado de São Paulo, que a CCR (grupo que reúne as concessionárias das principais rodovias do RJ e de SP) se dá ao luxo de fazer propaganda das suas estradas, talvez preocupada com a crescente cobrança no sentido contrário, ou seja, muita gente simplesmente deixa de viajar, ou escolhe os raríssimos caminhos alternativos (onde há) para fugir da ânsia de lucro do grupo. Quem sabe, se a CCR destinasse o valor da publicidade para a diminuição do valor dos pedágios, trazendo-os a níveis civilizados, o resultado seria melhor para todos.

Veja também: Um basta! aos pedágios abusivos

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