sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Humildade

Como prometi, a tradução do texto que postei em alemão.




Geralmente não escrevo sobre minha vida. Poderia dizer melhor que nunca escrevo. Escrever é trabalhoso e minha vida é muito chata. Ninguém quer saber sobre a vida regular de uma pessoa normal. Mas ontem foi diferente. E eu devo contar o que houve, pois me lembra de um sentimento humano, cujo nome eu esqueci.
Ontem como sempre, acordei às seis. Como sempre, tomei meu banho em 10 minutos. Como sempre, comi meu pão com geléia e tomei meu café açucarado. Pontualmente às 15 para 7, fui para o trabalho.
Ah, se eu pudesse simplesmente manter esta vida assim. Seria maravilhoso! Mas os problemas insistem em aparecer.
Por isto acabei furando meus novos pneus. E justamente quando ia para o trabalho. Eu não podia acreditar. Eu chegaria pela primeira vez na vida atrasado ao serviço. Mas nem tudo estava perdido. Diante de mim, havia uma borracharia.
Esta borracharia tinha algo de estranho. Ela já estava aberta às 10 para 7?Que tipo de borracheiro trabalha ali?
Um borracheiro, que acorda tão cedo, deve trabalhar tão bem quanto eu, pensei. Então não teria problemas, apesar de ser estranho. Então me decidir ir até a borracharia e pedir ajuda. Ao chegar, disse:
- Com licença, eu furei o pneu e precisava de ajuda...
A borracharia estava totalmente vazia...
- Tem alguém aí?
Niguém me respondeu. Ele poderia estar ocupado, pensei. Então continuei entrando.
- Com licença, eu furei...
- Ah, aí está você, Schröder!!! Te procurei por uma hora...
Eu não vi ninguém. Dei uma olhada ao redor, e infelizmente não vi ninguém ainda.
- Mas eu não sou Schröder. Meu nome é Pedro...
De repente, um monte de algo se levantou, o qual pensei ser um monte de trapos. Mas era um homem, o borracheiro.
- O quê? Ficou maluco, Schröder?
- Eu não sou Schröder!! Eu furei o pneu, e preciso de ajuda...
- Como você pode dizer que você não é o Schröder? Acho que você bebeu cerveja demais ontem...
- Cerveja??? Eu só tomo Coca-Cola!!
Eu não sabia, mas o borracheiro na minha frente deu uma festa no dia anterior. Schröder, o verdadeiro Schröder, sumiu. Ele bebeu muita cerveja, e acreditou que o caminhão, cujos pneus ele arrumou, era seu quarto... O motorista, que estava na festa, não o viu entrar na parte de trás do caminhão. Lá ele dormiu por 300 quilômetros, e o não tão bêbado motorista não o encontrou até aquele momento...
- Ha, ha... Achei muito engraçado, “Senhor” Schröder. Poderia vir aqui ou não?
Estava claro para mim, que o borracheiro estava bêbado. Não apenas seu estado denunciava isto, mas seu bafo de cerveja… E agora ele tinha a coragem de dizer que eu é quem bebi.
- Olha! Você bebeu demais. Eu sou Pedro, e furei o pneu. Eu quero ajuda, de preferência agora!
- Devo infelizmente te contradizer, Schröder!! Ontem eu te vi tomando pelo menos 10 garrafas de cerveja. Então é você, Schröder, que bebeu demais. E se você bebeu cerveja demais, então você não pode dizer se eu bebi ou não bebi também muita cerveja.
- Eu não sou Schröder!!!!
- Não estamos discutindo agora quem você é, Schröder. Disto nós já sabemos. A questão aqui é a seguinte: você bebeu ou não bebeu? Eu acredito que você bebeu cerveja, por que eu te vi bebendo pelo menos 10 garrafas! Agora, você diz que você não é você. Somente um bêbado faria isto. Ou talvez você tenha perdido algum parafuso.
Ele estava bêbado, e eu não tinha mais tempo para discutir com um bêbado. Eu deveria fazer alguma coisa...
- Escute. Eu não sou Schröder. Já que você não acredita em mim, veja minha identidade. O nome em minha identidade não é Schröder, mas Pedro, como eu te disse. E esta é minha foto. Viu?
Ele se aproximou e disse:
- Humm, este é um belo argumento. Um forte argumento, diria.
Depois de uma pausa, disse:
- Então, você tem uma identidade falsa, e acredita, que eu acreditaria em você sem provas? Você é engraçado, Schröder... Mas isto não foi bom. Se você trouxe uma identidade falsa, então você tinha a intenção de mentir. E isto é muito mal, Schröder... Eu não poderia confiar em uma pessoa assim... Você não tem mais argumentos? Está nervoso? Por que você fez isto? Eu não entendo isto...
Eu não tinha mais tempo... E a situação piorava cada vez mais... O que eu poderia fazer? Eu não sabia. O borracheiro estava totalmente bêbado, e não podia reconhecer mais a realidade. Minha única chance era jogar o mesmo jogo.
- Ok, ok... Eu sou Schröder... Eu só queria saber se você me reconheceria...
- Claro que eu te reconheceria. Você comeu grama ontem, quem se esqueceria disto?
Eu pensei na hora, que ele deveria estar fazendo isto de propósito. Como pode um homem falar tanta besteira?
- Ok, mas eu preciso agora de ajuda. Um cliente furou o pneu, e precisa de arrumar seu pneu. Você me ajuda?
- Claro que sim!
Assim consegui a ajuda dele. Ele reparou o meu pneu, e ficou feliz em me ajudar. Assim pude ir para meu trabalho. Durante o trajeto de volta, refleti sobre tudo que aconteceu. Algo me fez lembrar de um sentimento humano. Um sentimento onde você sabe de tudo, e somente você. Onde ninguém além de você pode falar ou ser ouvido. Este sentimento é como uma coroa, que faz de um homem o melhor homem do mundo.
Não, não é humildade. Humildade não embebeda as pessoas. Se ela pudesse embebedar, seria maravilhoso. Este sentimento é muito diferente da humildade. E ele embebeda as pessoas sim...
É engraçado quando você discute com um bêbado... O que ninguém sabe é que nós sempre discutimos com pessoas bêbadas. Eles são sempre iguais. Por exemplo, eu poderia ter contado sobre a discussão que eu tive com meu chefe, ao chegar no trabalho neste dia. Daria no mesmo. Só que não seria tão engraçado...
Eu ainda não sei como se chama este sentimento. Talvez vocês saibam?

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